EL SAPUCAY
O dedo escorrega, por acaso, sobre o botão do controle
remoto. E eis que surge uma grata surpresa: um festival. Um festival
transmitido, ao vivo, pela Televisão Educativa do Estado do Rio Grande do Sul.
Mais precisamente o 22º Festival de Chamamé e o 8º Festival do Mercosur, em
Corrientes, que reuniu, este ano, os três países que cultuam este ritmo
latino-americano: Argentina (Corrientes), Brasil e Paraguai.
Foram várias noites de apresentações. No palco, as mais
diversas expressões artísticas. Um desfile de cantores, músicos, bailarinos,
todos dando o melhor de si para representar o país de origem. E o Brasil esteve
bem representado com grupos aqui do Sul e, também, de Mato Grosso do Sul.
Que o chamamé seja por nós, gaúchos, apreciado não é
novidade. Que, agora, também lá para as bandas de Mato Grosso seja tocado, já é
algo mais novo. Promovem eles, inclusive, um festival regional do chamamé. Pois
até São Paulo tem um grupo que toca chamamé, o conhecido Barra da Saia,
composto por belas mulheres que se apresentam tocando e cantando chamamés.
Agora, a novidade seria mesmo se houvesse a divulgação na
mídia de evento cultural do porte desse Festival.
Isso realmente seria uma grande novidade. Mas, parece,
estamos longe disso.
Deveríamos festejar esse congraçamento de raças, costumes,
culturas, países, todos irmanados em torno de um ritmo, uma poesia, um sapucay
forte a unir a América Latina.
Com certo enfado ou, digamos mesmo, nojo de assistir a
tantos programas de baixo nível, que prestam um desserviço à educação e à
cultura como um todo, deslizei o dedo e descobri, por acaso, que ainda sobra
alguma coisa de útil para se assistir, sozinho ou em família.
Claro que a Televisão Educativa cumpre seu papel ao
retransmitir esse tipo de programa.
E as demais emissoras cumprem que papel? Informar, dirão
muitos. Isso é correto. Na maior parte das vezes, porém, apresentam programas
que visam manter seus assistentes cativos de cenas e malfeitos que já fazem
parte de seu cotidiano.
Assim, contribuem
para tornar seus assistentes mais ignorantes do que já são. Uma massa de
manobra, sem capacidade de crítica, é o que almejam?
Então, é isso! Para que divulgar programas que acrescentam
valores, como os de irmandade, congraçamento, união, respeito!
Carecemos de uma diversão saudável, sim.
Por que continuar reforçando, através de programas televisivos,
os elementos mais sombrios de que é composto o ser humano. Todas as suas
fraquezas, todo um viés de atitudes negativas, que perpassam o ser humano, são
reforçadas, diariamente, através de novelas e de programas os mais diversos.
Fique claro que não se pretende a alienação, a fuga, o
desconhecimento das mazelas dos indivíduos e da sociedade como um todo. Basta
acompanhar o noticiário para se ter uma visão clara do que ocorre.
A função da informação é exatamente essa: informar. Agora,
por que tenho que transpor para a tela todas essas mazelas dando uma feição, o
que é pior, de algo glamoroso, algo compensador. Isso traz um reforço constante
da falta de valores éticos e morais de que a sociedade deveria envergonhar-se.
Nada justifica essa realimentação diária. E aqui não estamos a falar de
programas humorísticos. Esses debocham, escancaram as ações mais torpes com
escárnio, com ironia, com humor. Porém, não as glamorizam, não as tornam
passíveis do desejo de uma massa deseducada e falha de valores. Também não
estamos falando de moralismo.
Os meios de comunicação têm um papel primordial no reforço
de valores positivos, criados e cultivados na família e sedimentados através de
uma educação formal de qualidade.
Está na hora de dar uma espiada, “uma espiadinha”, em
programas que elevam o nível cultural do cidadão. Temos aqui incluídos as
entrevistas, os programas de debates sobre os mais diversos temas, todos
atuais, as audições de grupos, bandas, as releituras de livros, etc. Um
verdadeiro arsenal de matérias e uma plêiade de profissionais a expor ideias,
conceitos, tendências. Tudo visando ao aprimoramento do conhecimento do cidadão
comum.
Isso não dá IBOPE?
Os profissionais da comunicação sabem que isso dá IBOPE,
sim. Temos como exemplo próximo o Programa Conversas Cruzadas que obteve o
prêmio de Melhor Programa da Televisão, no ano de 2011, no Estado (Prêmio
Press). Isso se deveu, em parte, pela grande audiência, constante, que os
telespectadores dispensam ao programa.
Agora, cabe aos detentores dos meios de comunicação atentar
para isso. Mas parece que não há interesse num novo modelo que busque aprimorar
o gosto do telespectador.
Enquanto isso não ocorre, soltemos um sapucay de revolta,
que anda preso na garganta. Um sapucay que ecoava entre os índios guaranis,
demonstrando um chamamento a uma postura guerreira. Hoje, ainda audível, nas
apresentações de chamamés.
Que esse sapucay de chamamento alerte para o perigoso
caminho de uma sociedade desprovida de referenciais positivos. Restando a ela
apenas a dissimulação, a mentira, a falsidade, o engodo, a vantagem levada às
últimas consequências. Tudo regado a muito álcool. E o sucesso, ao final, do(a)
concorrente mais... Deixa pra lá...
Tudo na telinha, ano após ano.
Apertura del Festival
de Chamamé – 2012
Festival de Chamamé
2012
Chamamecero – Neto
Fagundes
Soy El Chamamé –
Canto da Terra
Alma Serrana –
Pot-pourri de chamamé
Chamamé – Merceditas
– Gicela Mendez Ribeiro y Barra da Saia ao vivo em São Leopoldo
Soy El Chamamé –
Shana Müller
Buenas e M’Espalho – Eco do Sapucay
Galpão Nativo –
Entrando no M’bororé – Elton Saldanha
Sapecando um
Chamamé/Baile da Minha Terra – Dante Ramon
Textos infomativos: