sexta-feira, 26 de abril de 2013

DESPLUGUE!

Aproveite a semana a eles dedicada e conecte-se aos dois. Inebrie os ouvidos, os olhos, todo o ser num contato mais íntimo com eles. Tenho certeza de que você sairá ganhando. Faz bem para a alma, faz bem ao espírito e um bem enorme ao corpo. Um corpo cujos ouvidos e olhos são, diariamente, tão massacrados por tantas poluições. Não aguarde para descansar apenas quando o sono se instala e o leito chama.
 
Desplugue, ainda, durante algum momento do dia. Quem sabe, ao entardecer. Leia ao som de uma boa música. Ou melhor, primeiro leia, depois ouça a boa música. Epa! Não se assuste. Não precisa ser algo hermético. Um bom conto, uma poesia, uma crônica, uma reportagem que o faça refletir: seria já um bom começo.
 
Sim, porque o prazer no ato exige que você se desconecte por um tempo da lide diária, mas não exige que você se desconecte da sua capacidade intelectiva. Essa, pelo contrário, deverá sair dessa prática mais capaz de encontrar, através do entendimento, que se construiu naquele breve distanciamento, a resolução para os embates diários: com muito mais clareza e criatividade.
 
Ah! Quanto à música, há quem consiga tê-la como pano de fundo para uma boa leitura. Há, porém, quem, absolutamente, não consiga misturá-la à leitura. Tudo dependerá do grau de envolvimento que uma e outra ensejam a você. Se a adesão ao som e suas nuances, seus acordes maiores e menores forem tão absorventes do seu ser, restrinja-se a um e depois outro. Quem sabe, a música depois da leitura. Afinal, ela apazigua todo e qualquer ressaibo de indignação que, porventura, a leitura tenha ocasionado. Por exemplo, ouçamos do nosso cancioneiro o conhecido Choro ou o popular “Chorinho”. Talvez, nessa hora, não devamos ouvir a lindíssima e magistral Overture “1812”, Opus 49, de Peter Ilich Tchaikovsky (com os canhões, inclusive). Esta audição caberá em outro momento.
 
 
Por ora, nesse dia 23 de abril, Dia Nacional do Choro, deleitemo-nos com a malemolência oriunda do Lundu, que fez tão popular entre nós o Chorinho. Heitor Villa-Lobos, o conhecido autor clássico das Bachianas Brasileiras compôs inúmeros choros e serestas. Aliás, participou da Semana de Arte Moderna, contribuindo com sua música extremamente inovadora e revolucionária para os padrões da época.
 
No meio popular, tivemos choros clássicos compostos por reconhecidos compositores e instrumentistas, como Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Jacob do Bandolim e tantos outros.
 
Agora, como também se comemora, neste dia 22 de abril, o Dia Internacional do Livro, repouse o olhar sobre obras-primas ou, quem sabe, excertos de conhecidas obras, porque assim, aos poucos, vai-se sorvendo e absorvendo idéias inovadoras, à época, mas ainda pertinentes nos dias atuais, porque universais no seu conteúdo, na sua essência.
 
Comece, quem sabe, por algum conto de Machado de Assis, ou trechos da obra Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. Ou, do nosso atual e festejado escritor Milton Hatoum, a Cidade Ilhada. Temos, também, As Seis Propostas para o Próximo Milênio, de Ítalo Calvino. E a lista seria interminável, acrescentando-se Jorge Luis Borges, Jorge Mario Vargas Llosa, Gabriel José García Márquez, José de Sousa Saramago, Julio Cortázar, J.M.Coetzee, Mia Couto e por aí afora. Ainda, por aqui, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Érico Verissimo, João Simões Lopes Neto, Moacyr Scliar, Ferreira Gullar, Millôr Fernandes, e tantos mais. Talvez, melhor seja mesmo começar pelas crônicas de Luis Fernando Verissimo, pela poética de Mário Quintana e por incontáveis outros escritores gaúchos e nacionais de excelente qualidade.
 
Vá a uma livraria de porte e se embrenhe por seus corredores cobertos de livros. Escolha um, busque uma poltrona e se transporte a um mundo paralelo ao seu, que se movimenta ao toque da mão que vira a página seguinte. E outra..., e mais outra.
 
E para não sair de mãos abanando, escolha um e o leve para casa. Reserve um tempo para lê-lo, para senti-lo, para dialogar com ele. Ele não fala, mas se desnuda a cada página que é lida e adora ser tocado. É a sua forma de comunicar-se. Procure desvesti-lo com carinho, demorando-se na análise de cada parágrafo. O autor a essa cena gostaria de estar presente. Seria um deleite para ele, com certeza. E para você, leitor, protagonista maior desse ato de amor pelo livro, garanto-lhe que a emoção de sorver página a página é muito compensadora.
 
Experimente esse prazer. Ele é solitário no ato, porém dá frutos que o ajudará no convívio com os demais semelhantes.
 
Então, depois dessa transa com o livro, um bom descanso com a música é aconselhável.
 
Daí, então, refeito, plugue-se novamente.
 
Chega de ócio: esse ócio criativo que faz tão bem.
 
 
 
Então, quem sabe, para começar a entender esse tal de ócio criativo, leia o trecho a seguir, extraído do livro O Ócio Criativo do conhecido sociólogo Domenico De Masi:
 
“Educar para o ócio significa ensinar a escolher um filme, uma peça de teatro, um livro. Ensinar como se pode estar bem sozinho, consigo mesmo, significa também habituar-se às atividades domésticas e à produção autônoma de muitas coisas que até o momento comprávamos prontas. Ensinar o prazer do convívio, da introspecção, do jogo e da beleza. Inculcar a alegria.
 
A pedagogia do ócio também tem sua própria ética, sua estética, sua dinâmica e suas técnicas. E tudo isso deve ser ensinado. O ócio requer uma escolha atenta dos lugares justos: para se repousar, para se distrair e para se divertir. Portanto, é preciso ensinar aos jovens não só como se virar nos meandros do trabalho, mas também pelos meandros dos vários possíveis lazeres. Significa educar para a solidão e para o convívio, para a solidariedade e o voluntariado. Significa ensinar como evitar a alienação que pode ser provocada pelo tempo livre, tão perigosa quanto à alienação derivada do trabalho. Há muito o que ensinar!”(in verbis, páginas 313 e 314, 2ª edição, Editora Sextante)
 
 
 
Agora, dê uma olhada nas sugestões que seguem.
 
Boa leitura e boa audição.

 

 A) LITERATURA


Milton Hatoum: A literatura exige uma entrega passional


Luis Fernando Verissimo: Exigências da Vida Moderna


Mário Quintana:

Os Arroios



Pé ante Pé




Passeio Suburbano





B) MÚSICA
 
 
Choro Típico nº 1 – de Heitor Villa-Lobos
 
 

Bachianas Brasileiras nº 5 – Heitor Villa-Lobos – Canallondres Música Brasileira em Londres

 
  Izaías e seus Chorões – Pedacinho do Céu (Waldir Azevedo)

 
Brejeiro (Ernesto Nazareth) – Conjunto Época de Ouro

 
Apanhei-te Cavaquinho – Conjunto Época de Ouro 

 
Roda de Choro – Noites Cariocas (Jacob do Bandolim)
 

Roda de Choro - Chorinho na Gafieira (Astor Silva)
 
 
Altamiro Carrilho – Pedacinho do Céu/Delicado/Brasileirinho (Waldir Azevedo) 


 Altamiro Carrilho – Urubu Malandro (Loro)





 
 
 
 
  

quinta-feira, 18 de abril de 2013





VOAR...
            NAVEGAR...
                               VIVER...

A imaginação voa e vai construindo pontes, elevadas, adentrando, por vezes, chão abaixo, para sair logo adiante, lépida e faceira, pronta para novas rasantes.

Voar? Sim, voar é preciso.

Na imaginação, Adalberto já vestiu sua cidade de tudo o que dela espera.

De repente, vê-se num barco, navegando de lá pra cá, daqui pra lá, num vaivém contínuo, com as pequenas ondas a balançar o cansaço de mais um dia de trabalho, com a brisa acariciando-lhe o rosto, num retorno mais relaxante e mais rápido ao lar que o aguarda.

Adalberto acabou de pintar o quadro de um porto hospitaleiro que recebe e devolve, diariamente, seus trabalhadores aos seus lares.

Navegar? Sim, navegar é preciso.
 


Uma buzina estridente, contínua, devolve Adalberto à realidade. Espremido, não divisa qualquer movimento, nem o fim dessa peregrinação diária, estafante. Não sabe nem a que horas chegará ao seu destino. Seu sonho de consumo tornou-se um pesadelo, que se repete a cada dia, inclusive nos fins de semana, quando, eventualmente, sai a passear.
 
Seu veículo parado, no meio de outros milhares, todos parados, aguardando o fluxo que se arrasta.

Viver?

Não, isso não é viver. 

Segundo a Presidente da Petrobras, um engarrafamento é uma coisa “linda”.
O que é uma coisa linda? Algo que desperte prazer, na sua ampla acepção.
Ela confirma, então, que sente prazer em ver milhares de carros, todos congestionados em uma rodovia.
Que maravilha! Atesta-se, aqui, o total desprezo ao outro. Claro que faz a ressalva de que a mobilidade nas cidades dependerá dos planos diretores, para que esses orientem o fluxo dos carros a favor da sociedade. Foi uma frase extremamente infeliz.
Os planos diretores das cidades esbarrarão na falta de verbas para a construção de tudo aquilo com que Adalberto sonha: a mobilidade por terra e água.
Mais carros, mais carros...
Isso é viver? Não, isso não é viver.
Mas viver é preciso!
 
 
A expressão “Navegar é preciso, viver não é preciso” coube à época de sua criação. Segundo  historiadores, sua origem remonta ao ano 70 a.C. O general romano Pompeu teria sido incumbido de uma missão: escoltar a frota que iria transportar trigo das províncias para a cidade de Roma, que passava por séria crise de abastecimento de gêneros alimentícios, por conta de uma greve de escravos.
A viagem era arriscada em face das condições do clima em alto mar, ocasionando riscos à navegação, bem como o ataque de piratas, freqüente à época.
Diante da necessidade de enfrentamento do drama por que passava a população de Roma, ele teria proferido essa famosa frase, quando o comandante da frota antevira uma tempestade, sugerindo, então, que adiassem a partida.
Ao que se sabe, a viagem foi bem sucedida. O militar, em face da empreitada exitosa, foi guindado ao posto de cônsul com apoio da população romana. Posteriormente, acaba integrando o Primeiro Triunvirato que governou todo o território romano.
Afora a questão histórica, Fernando Pessoa, celebrado poeta português, também usou a mesma expressão, no seu poema “NAVEGAR É PRECISO”.
Há algumas interpretações possíveis para o poema. O próprio autor escreve que “viver não é necessário; o que é necessário é criar.” Outra, também possível, seria a necessária precisão no ato de navegar, deixando à vida a imprecisão, por ser ela imprecisa, por natureza.
Abstraindo-se essa digressão histórico-literária, cabe a nós refutar a afirmação de que um congestionamento é algo lindo de se olhar, porque isso não traz ao cidadão felicidade alguma. O ideal é que esse cidadão possa se locomover, ou através de transporte de massa, de superfície ou não, ou de barco pelo nosso Guaíba e seus afluentes.
Soa como um deboche a afirmação de que um congestionamento é lindo de se ver.
Viver dessa maneira, sim, não é preciso. Viver assim não é viver.
Esse viver é aquele a que Fernando Pessoa se referia. É o viver por viver.
Para ele o necessário era criar algo, tornar essa vida grande para toda a humanidade.
No caso presente, tornar esse viver produtivo, criativo, em prol da comunidade. Com planejamento, torná-lo menos impreciso. Num esforço conjunto, visando ao bem comum, todos contribuiriam na busca de melhoramentos das condições ambientais que cercam essa comunidade. Dentre elas, a mobilidade de seus cidadãos.
Portanto, continue voando em sonhos, navegando nas águas serenas, tão próximas de nós, indo e vindo de forma sustentável, menos estressante, e, sobretudo,aja sempre no sentido de obter melhorias para si e para a comunidade em que está inserido.
 
VIVER É ISSO!
E VIVER É PRECISO!


 
Agora, enquanto isso, da próxima vez que pintar um congestionamento, Adalberto já decidiu: ele abrirá a porta do carro e os seus potentes alto-falantes explodirão numa batida frenética. E ele pulará para fora do carro e gritará “CON LOS TERRORISTAS” e “DO THE HARLEM SHAKE”, contorcendo-se de mil maneiras.
Tem certeza de que seus companheiros de estrada, pelo menos os mais próximos, sairão de seus carros e todos, juntos, dançarão o Harlem Shake. Assim, extravasarão todo o stress e a raiva contida através daquele meme já tão globalizado, já tão nosso também.
Só pra sacanear, para virar hit.
Só para mostrar, para o mundo todo, como é lindo um congestionamento!




Entrevista publicada no jornal Zero Hora de 14 de abril de 2013:

"Então, que maravilha! Acho lindo engarrafamento! Meu negócio é vender combustível. Só entendo que deveríamos ter sempre planos diretores para orientar o fluxo de carros a favor da sociedade. Acho lindo carro na rua, estou faturando..."

- Maria das Graças Silva Foster, Presidente da Petrobras

 
Navegar é Preciso - Fernando Pessoa
  
Não Deixe de Sonhar – Chimarruts. Clique aqui para ver a letra
 
Harlem Shake: batida eletrônica começa na Internet e vira febre no  mundo todo.




















sexta-feira, 12 de abril de 2013











SIM, TUDO CERTO...

Foquemos as imagens que seguem:
 

Luana, seu nome verdadeiro, 28 anos, de cor preta, mãe de quatro filhos, atirada no meio-fio da calçada, na Avenida Getúlio Vargas, no bairro de nome de santo;

Pelé, apelido, de cor preta, aparentando 30 anos, atirado na calçada de outra rua do mesmo bairro;

Paulinho, nome fictício, 15 anos, deitado na calçada, sob uma marquise, em outra rua do mesmo bairro;

Beatriz, indiazinha de 14 anos, com um nenê no colo, seu filho, sentada na calçada da Rua José Bonifácio, pedindo esmolas. Junto a ela, mais uma criança de 3 anos, filha de uma outra jovem índia de 17 anos;

As quatro cenas registram o que o nosso olhar, teimosamente, finge não enxergar. Aparentemente, pelo simples fato de que não nos afeta o bolso, nem o nosso direito de ir e vir. Poluímos o olhar, é verdade. Mas desviamos daquele incômodo e vamos em frente.

Por acreditar que essa situação de abandono não nos diz respeito, ignoramos seus protagonistas. Mas eles se avolumam dia a dia.

O que nos cerca é assombroso. Corpos imundos, atirados, sobre calçadas também, muitas vezes, sujas. Varrer as calçadas: não é o bastante. Há que se dar um destino correto ao “chamado lixo”. Há que se reciclar a ambos. Um, pela destinação correta dos resíduos. Outro, por políticas públicas adequadas à faixa etária de quem lá se encontra jogado. Casas de Passagem, Albergues, Instituições Públicas que ofereçam Educação Formal, Educação Profissionalizante, encaminhamento para empregos: são alguns caminhos possíveis para tentar reverter esse quadro. Paralelamente a isso, a desintoxicação daqueles já dependentes químicos. Investimento nas crianças, filhos desses moradores das calçadas, para que essa prole não venha a se somar aos que já se encontram nessa situação trágica.

Essa será uma conta que teremos que pagar pelo não enfrentamento da questão.
 

Continuando nessa caminhada do assombro, encontramos as seguintes cenas:

Marcos chegou feliz em casa. Comprara um ventilador de teto. Marisa, sua mulher, preparava a janta na nova cozinha, que ainda estava por completar a mobília. Não entendia ela como poderia fixar a pia, definitivamente, no lugar previsto sem furar a parede para colocação dos canos. A construtora avisara que não poderiam furar paredes. Em todo o caso, Marcos dissera que ia dar um jeito. O barulho da furadeira já se ouvia da cozinha. Era Marcos furando o teto para fixar o ventilador.

De repente, batidas na porta de entrada fizeram Marisa ir atender a quem batia. Era a vizinha do apartamento de cima que, com olhos arregalados, vinha anunciar que acabara de quase ver atingido seu pé esquerdo pela ponteira de uma furadeira.

E o barulho viera debaixo. Pode me explicar o que está acontecendo?

Marcos, já sentado no sofá da sala, entre surpreso, apavorado e indignado, gritou de lá: furei a sala da vizinha.

Ah! Minha Casa, Minha Vida!

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

Agora, queridos leitores, decidi:

- Para não ficar muito cansativo vou agora ensinar a fazer um belo miojo.

Não! Desisti. Não sou muito chegada a esse tipo de comida.

Deixo isso para o nosso candidato ao exame do ENEM.

Poderia, quem sabe, descrever as façanhas do Tricolor (Até a pé nós iremos...) ou do nosso Inter (Glória do desporto nacional...).

Também disso desisto.

Vou deixar essas duas pérolas para o outro candidato ao exame do ENEM, aquele torcedor do Palmeiras.

Pergunta-se:

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

Pois, mesmo fardada, uma policial militar foi assaltada em frente ao prédio da Secretaria Estadual de Segurança, no horário das 18h30min, tendo o ladrão roubado o revólver calibre38, que a policial portava.

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

Levantamento revela que 101 postos de combustíveis da Capital foram assaltados no período de 1º de janeiro de 2013 a 04 de abril desse ano, conforme estatística da Brigada Militar.

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

E Vladimir Dias, pai de Luiz Marcelo, chora a morte do filho por falta de atendimento adequado a quem estava em estado de emergência, lutando pela vida, apresentando um quadro gravíssimo, com dores lancinantes. As emergências de todos os hospitais procurados não o acolheram como determina a sua condição de cidadão. É o caos da superlotação. (matéria publicada em Zero Hora de 10 de abril de 2013)

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

E o que fará a Professora Rosinha com aqueles seus seis alunos que não venceram todos os conteúdos da série anterior, mas já cursando a série seguinte? Lá estão juntos com todos aqueles outros, que foram aprovados, mas que por suas individualidades, aprendem, também, em ritmos diferentes e, portanto, exigem da Professora Rosinha um atendimento diferenciado. Terá, então, ela que prestar esse atendimento, diferenciado, ministrando os novos conteúdos compatíveis à série, aos alunos que foram aprovados. Correto? Aos seis alunos, que não venceram todos os conteúdos da série anterior, deverá a Professora Rosinha prestar atendimento individualizado, objetivando a que atinjam o resultado deles desejado, à época, quando cursavam aquela série. Acrescido esse atendimento individualizado a outro, também individualizado, onde ministrará conteúdos da nova série. Claro está que esses alunos sentirão mais dificuldades do que os que venceram anteriormente tais conteúdos. Complicado? Por demais.

Tentando esquematizar, para melhor entendimento:


Aluno A (aprovado na série anterior)

Conteúdo: novo (série atual)

Atendimento: constante

Aluno B (parcialmente aprovado na série anterior)

Conteúdo: novo (série atual), acrescido do antigo (da série anterior)

Atendimento: constante e personalizado (quanto aos conteúdos da série anterior, bem como quanto aos conteúdos da série atual).

OBS: A dificuldade, nesse caso, quanto aos conteúdos da série atual será maior, pois esses seis alunos não terão como base os conteúdos da série anterior.

E a Professora Rosinha? E seus trinta e tantos alunos? Sem comentários.

A Professora Rosinha precisa, com urgência, de uma colega que, pelo menos, lhe ajude a atender esses seis alunos. Quem sabe, um atendimento em horário inverso ao das aulas?

Caso contrário, todos sairão prejudicados, porque ninguém será bem atendido.

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...
 

E para não se dizer que não se falou dos gaúchos e sua cultura, até para fazer jus ao nome do blog, verifica-se a introdução de um famoso uísque nas comemorações da Semana Farroupilha de 2012. Com galpão armado, “prendas pilchadas” e uma garrafa do dito destilado em cima da mesa onde se preparava um prato, acredita-se que típico da culinária campeira. O piquete do tal destilado promoveu uma “harmonização” do conhecido uísque com o churrasco. E a nossa cachaça?

É possível isso?

Está certo isso?

Sim, tudo certo...

Mas bah!

Que cansaço!

A essa última cena os patrões dos diversos CTGs e o próprio Movimento Tradicionalista Gaúcho, todos esses organismos voltados às tradições gaúchas têm de estar atentos, para que não se desvirtuem os verdadeiros valores da cultura gaúcha e de seu povo.  
 

Quanto às cenas anteriores, cabe lembrar que nós, sul-rio-grandenses e brasileiros que somos, pagamos a maior carga tributária do planeta e, portanto, cabe aos governos constituídos resolverem as questões acima referidas. Essas são, fundamentalmente, questões de Estado nas esferas federal, estadual e municipal, e não de governo.
 

Assim, diferentemente da música Dois e Dois, de Caetano Veloso, que era um grito camuflado contra a opressão, existente à época da sua criação, esse grito hoje é para que se alertem todos que, ainda, temos a liberdade para modificar os quadros apresentados. O problema é agirmos com relativa rapidez, ordem, ética e honestidade. Precisamos, com urgência, da tão desejável e necessária integridade moral.

Por ora, cabe apenas completar a última frase do mote:

SIM, TUDO CERTO... COMO DOIS E DOIS SÃO CINCO.




Caetano Veloso – Como dois e dois









quarta-feira, 3 de abril de 2013



CERIMÔNIA ANTECIPADA


Geralmente, prepara-se com antecedência o objeto que sofrerá as penas infligidas a quem traiu o Salvador.

Há notícias de que esse ritual data de antes de Cristo e que dizia respeito às colheitas. Primitivamente, afastaria os maus espíritos das culturas agrárias.

Há relatos, porém, que esse ritual simbolizaria a perseguição aos judeus na Idade Média, época da Inquisição. Também há quem afirme que essa manifestação remontaria às festas pagãs, na época dos romanos.

Ao que se sabe, essa cerimônia ingressou na América Latina nos primeiros séculos de colonização europeia. E, no Brasil, foi trazida pelos povos da Península Ibérica.

O fato é que aqui se instalou e até hoje, principalmente em cidades do Interior, é prática usual no Sábado de Aleluia. Trata-se da conhecida Malhação de Judas. Cerimônia, em que gente do povo, previamente, constrói um boneco do tamanho de um homem, enchendo-o de trapos, serragem, jornal, pedaços de galhos, possibilitando deixá-lo com a aparência de um indivíduo. Então, no Sábado, véspera da Páscoa, moradores levam-no para a praça pública. Lá, ele será apedrejado, tripudiado, rasgado, destruído até virar frangalhos. Por fim, ateia-se fogo, inclusive.

Isso tudo representaria o revide dos filhos de Deus contra a traição de Judas Iscariotes, um dos discípulos, a Jesus Cristo, guia deles e nosso.

A cena lembra os primitivos tempos da barbárie em que o homem esteve submerso. Algo que, em nossos dias, ao que parece, perde força. Pelo menos, falando-se dessas encenações em nossas capitais. Um parêntese: Não nos esqueçamos dos apedrejamentos das mulheres na Arábia Saudita, prática ainda usual. Isso demonstra ainda estarmos, em alguns lugares do Planeta, vivendo situações da barbárie, ainda existente.

Voltando a nossa realidade, há, com certeza, porém, cidades que ainda mantêm viva a tradição como, por exemplo, a cidade de Itu, no interior do Estado de São Paulo. O boneco deles é de tamanho avantajado, porque a tradição manda que tudo seja grande por lá. Também, ateiam fogo. Porém, há quem informe que, inclusive, colocam dinamite para promover o Estouro de Judas.

De algum tempo para cá, políticos, que caem no desagrado popular, veem estampadas suas fisionomias no Judas, para sofrerem agressões físicas e serem ridicularizados, tudo o que a cerimônia permite. Isso também ocorre com quaisquer outras personalidades, todas as que não sejam bem-vistas pela população.

Aqui pelo Rio Grande do Sul, em algumas cidades, também ocorrem essas cerimônias. Até mesmo em Porto Alegre, em alguns redutos, é tradição esse ritual.



Pois esse ano, um grupo de moradores, imbuídos do espírito da Páscoa, de renovação, resolveu antecipar a cerimônia para dois dias antes da tradicional data.
 

E o que se viu foi uma Malhação de Judas contra um patrimônio histórico, de valor inestimável à cidade.

Será que a ideia era destruir para, depois, renovar?

Se era essa a ideia, conseguiram. E nós, todos nós, porto-alegrenses, teremos que pagar pelos estragos deixados pelos participantes da cerimônia de Malhação contra o prédio da Prefeitura de Porto Alegre. Um prédio cuja pedra fundamental data de 05 de abril de 1898; de construção iniciada em 28 de setembro de 1898 e concluída em abril de 1901.

Numa autêntica Malhação de Judas, manifestantes munidos de paus, taquaras, pedras, bolas de gude e tinta, dirigiram-se ao Paço Municipal e lá, ensandecidos, protagonizaram cenas semelhantes ao antigo ritual.

Será que também o Paço os terá traído como fez Judas a Cristo? Ou melhor, será que o Chefe do Paço os terá traído?

Se assim ocorreu, no entendimento desses manifestantes, não podemos voltar à barbárie e destruir, a paus e pedras, o prédio que abriga o Chefe e, muito menos, por óbvio, o próprio Representante do Paço e seus colaboradores.

As regras de urbanidade, a busca pelos foros adequados, o diálogo e o espírito de renovação da Páscoa, indicam outros caminhos.

O caminho não é esse. Aprendamos a lutar com armas mais sutis. Sejamos mais inteligentes, mais criativos, mais colaborativos, mais civilizados.

Há que lutar por soluções pacíficas.

Há que lutar pela não violência.

Há que lutar pela PAZ.



E isso, absolutamente, não significa que sejamos pusilânimes no enfrentamento das questões que envolvem a comunidade por melhores condições de vida.

Continuemos a reivindicar nossos direitos a um melhor transporte público, a uma segurança pública efetiva, a uma educação e saúde, também públicas, de qualidade.

Mantenhamos, porém, a ordem.

Esse é nosso dever como cidadãos.





Recital a la Paz – Dante Ramon Ledesma



 
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 26 de março de 2013


ENTRE O VISÍVEL E O DESEJÁVEL

O sorriso anda meio amarelado. Não te vejo, nem te sinto mais tão feliz, tão leve quanto eras.

Tu que a tudo assistias ao sopé do morro, de nome de Santa. Lá, embaixo, eras plateia. Eu encenava e contracenava. Tu, já eras pura exibição. E acompanhavas meus devaneios, sussurros e juras.

Não te punhas enciumada, pois a ti, de há muito, já me entregara. Ao outro, apenas no tempo certo me entregaria. De ti já era amante, apaixonada, desde sempre.

Desde quando, na ponta dos pés, espiava pela janela o movimento e o som buliçoso que de tuas artérias ouvia. Foste para mim um desafio a conquistar, desde quando buscava, no armazém da esquina, os saborosos docinhos de leite condensado.

Aos poucos, fui contigo formando um par indissolúvel. Fiz de ti minha morada. Casei contigo e com o outro. Tu, dada a tua natureza, não te importaste. Pelo contrário. É tua missão acolher mais e mais pessoas sob esse manto hospitaleiro.

Vivendo em ti, com o outro procriei e uma nova estrela veio juntar-se a tua já tão grande constelação.

Sinto-te perene, mas confesso que ando preocupada. Sei que a tudo assistes. Silenciosa, às vezes. Esfuziante, em outras. Tu és minha deusa à beira de um rio, reverenciada a cada entardecer pelo mais belo pôr do sol.

Agora, teus filhos andam meio desleixados contigo. Por vezes, para chamar a atenção, aproveitando-se da companheira chuva, esparramas tuas lágrimas para além dos limites desejáveis. Só para “inticar”. Só para mostrar que a coisa não anda bem.

Por outro lado, teus cartões de apresentação, igualmente, não têm tido os reparos necessários, para que consigas sorrir por inteiro.

Ah! O teu parque mais antigo e famoso, que eu amo tanto, sabes bem quanto precisa de um constante olhar protetor.

Tuas artérias, antes buliçosas com o calor humano, estão esgotadas por tantas máquinas potentes que trafegam espremidas que nem bois no brete.

Teus mais lindos enfeites, as árvores, que te tornam verdejante, fértil e bela, andam assustadas. Afinal, as espécies têm diminuído e a quantidade como um todo, ao que parece, também. E como vamos respirar?

Será isso um desvario?

Será apenas uma reacomodação?

Ando preocupada com a minha amada!

Quero vê-la sempre bem, sempre feliz, sorridente. E o que ando vendo não é mais esta expressão de felicidade.

É bom que acendamos o amarelo piscante. Que ele permaneça aceso a nos lembrar da responsabilidade desses filhos e dos filhos de seus filhos para com esse chão que nos acolhe.

E tudo, como se sabe, passa pelo grau de prioridade que se deposita como objetivo maior a ser alcançado pela comunidade.

É necessário priorizar as condições de sustentabilidade da nossa cidade, para que ela abrigue cidadãos satisfeitos com as condições ambientais proporcionadas a eles, no seu dia a dia. É o que todos nós, sinceramente, desejamos.

Para tanto, as forças vivas da comunidade, em mutirão, deverão empenhar-se na solução dos problemas que a todos afligem.

Não é para qualquer um manter esse cognome de CIDADE SORRISO.

Já que adotamos essa marca, temos a responsabilidade de cinzelar, em nossa identidade, a ferro e fogo, como se faz no gado, metaforicamente falando, um sorriso estampado no semblante de nossa amada cidade.

Oxalá, possa ela, com a nossa ajuda, recuperar o seu autêntico sorriso de felicidade.


Feliz Aniversário, Porto Alegre!

Parabéns pelos teus 241 anos de existência!





Porto Alegre é meu porto – Kledir/ Ramil


Porto Alegre, Porto Alegre – Hermes Aquino


Ramilonga – Vitor Ramil
 
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 20 de março de 2013

A PRESENÇA DELA
                                 É GARANTIA DE VIDA
 
O berço cálido, de um colorido especial, convida a um espreguiçar-se para melhor acomodar-se. Já está, por bom tempo, imerso em meio líquido.

Um dia, porém, verte suas primeiras lágrimas, frente ao estranhamento pela chegada de um novo tempo. Junto às suas unem-se outras, plenas de emoção, daquela mulher maravilhada pela imagem viva a debater-se, produto de seu ventre.

Nos momentos de grande sofrimento, de profunda alegria, de rara emoção, de êxtase, lá estará ela presente. Ela está sempre pronta a marejar nossos olhos, porque a sua fonte existe em nós desde sempre. Essa fonte é quem nos sustenta desde a concepção até o último suspiro. E nossa mãe sabe disso. Cuida para que ela não nos falte. Afinal, mais de 70% do nosso corpo é constituído por ela.

Mas e aquela outra que jorra, incansavelmente, das profundezas de seu ventre, essa dádiva essencial à nossa sobrevivência, vem tendo um olhar agradecido, um olhar cuidador, um olhar que todos os filhos, já adultos, deveriam ter para com suas mães?

Antes, não cuidávamos porque a fonte parecia inesgotável. Na verdade, ela até seria. Hoje, sabemos que, senão a cuidarmos, tornar-se-á absolutamente proibida ao uso que dela fazemos, tendendo ao exaurimento. Isso significa que as próprias culturas, criações, nossos alimentos, parte da energia existente, tudo estará seriamente comprometido.

Essa mãe, fecunda e pródiga no jorro desse alimento insubstituível, tal qual o leite materno, precisa de ajuda. Com a grande diferença de que esse alimento é necessário durante todos os dias de nossa vida e não apenas nos primeiros tempos.

Quando foi instituído pela ONU, em 1992, o Dia Mundial da Água, a Mãe-Terra agradeceu. Mas, isso representou, já à época, um sinal de alerta, porque, invariavelmente, quando se cria um dia para homenagear alguém ou algo, é sinal de que é absolutamente necessário e urgente que modifiquemos a nossa visão e atuação sobre tal assunto.

Sabemos que o Planeta Terra é composto, aproximadamente, de 70% de água. Desse percentual, 97,5% concentram-se nos oceanos, 2% nas geleiras e calotas polares e 1% destina-se ao consumo. Esses 97,5% são de água salgada. Apenas 2,5% são de água doce, distribuída da seguinte forma: 29,7% nos aquíferos, 68,9% nas calotas polares, 0,5% nos rios e lagos e 0,9% em outros reservatórios (nuvens, vapor d’água). Todos esses são dados aproximados.

O Brasil detém 53% do manancial de água doce na América do Sul e o maior rio do Planeta: o Amazonas. Desse manancial 72% estão na Região Amazônica, 27% na Região Centro-Sul e 1% na Região Nordeste.

Temos ainda vasto lençol freático, também chamado de Aquífero Guarani, localizado no subsolo do Centro-Sudoeste do Brasil, com 1.2 milhões de km2, estendendo-se o restante pelo Nordeste da Argentina, Noroeste do Uruguai, Sudeste do Paraguai e nas bacias do Rio Paraná e do Chaco-Paraná.

Temos ainda o Aquífero Alter do Chão, localizado sob os Estados do Pará, Amazonas e Amapá. São reservas de importância incalculável.

Mas de nada adiantará tais reservas, se não aprendermos a cuidar da água de que dispomos. A continuar essa marcha desenfreada de poluição, estarão também poluídas as reservas quando dela necessitarmos.

O que causa estupefação é que mesmo os mais poderosos, donos das maiores fontes de poluição, não se dão conta de que os efeitos, já presentemente nocivos em regiões de maior pobreza, um dia, fatalmente, atingirão comunidades mais abastadas, onde esses melhor aquinhoados se encontram.

Ou quem sabe, pensem que isso não os atingirá, esquecendo-se dos filhos, netos, bisnetos, e por aí.

Ou quem sabe, pretendam mudar-se para outro planeta. Já estão sendo feitas incursões nesse sentido.

Ou quem sabe, esperem dos cientistas fórmulas milagrosas que despoluam, por completo, as águas dos rios, lagos e mares.

Ou quem sabe, só se interessem por si mesmos, no aqui e o agora, enquanto por aqui estiverem. O depois, a eles não interessa.

Ou quem sabe, a ganância tornou-os cegos e surdos à evidência dos fatos que estão a ocorrer. E continuam a discursar em cima do engodo, da mentira, da desfaçatez.

Ou, melhor ainda, até não discursam. Apenas agem nos subterrâneos malcheirosos de organizações ditas de desenvolvimento.

De qualquer sorte, o meu Guaíba pede socorro, o nosso Sinos, o nosso Gravataí e outros tantos.

Quem sabe ainda possamos sonhar com a despoluição de alguns conhecidos e importantes rios do nosso Brasil.

A poluição hídrica é um fato gravíssimo. Somente através de muita conscientização e mobilização da sociedade é que se poderá reverter esse quadro devastador de despejo nos mananciais hídricos de esgotos domésticos, efluentes industriais, resíduos hospitalares, agrotóxicos, etc.

Que esse dia 22 de março nos leve à reflexão e à cobrança efetiva por medidas de estancamento do despejo de contaminantes em nossas águas. Que os cidadãos comecem a exercer, já tardiamente, o papel que lhes compete, que é: cobrar das autoridades constituídas tais medidas.

Não esqueçamos que ÁGUA É VIDA, DESDE QUE ESTEJA SAUDÁVEL.

 

Agora, o fato incontestável é que essa dádiva, que nos alimenta desde sempre, serve de tema para inúmeras e belas músicas, cujas letras falando dela, da água, são pura poesia. Cassiano Ricardo, Membro da Academia Brasileira de Letras (cadeira nº 31, 1937), definia Poesia “como sendo uma ilha cercada de palavras por todos os lados”. Seria como afirmar que Poesia é o fenômeno criador, presente aí a figura do poeta, que transforma em linguagem as emoções, os impulsos ou suas reações frente a uma determinada realidade.

Segundo definição de Antônio Soares Amora, historiador literário brasileiro, “o poema é a fixação material da poesia, é a decantação formal do “estado lírico”. São as palavras, os versos e as estrofes que se dizem e se escrevem, e assim fixam e transmitem o “estado lírico” do poeta.
Então, quem sabe, um dia, possamos nos apropriar da água que nos cerca e fazê-la um verdadeiro poema, visível aos olhos, transformada, pelas ações corretas do homem, em pura poesia.

Assim como as ÁGUAS DE MARÇO que fecham nossos verões, bela canção interpretada pela saudosa dupla Tom Jobim e Elis Regina, que, também, é pura poesia.



Assista ao vídeo abaixo. Obtemos, através dele, um retrato da situação atual da água no planeta e seus prováveis e terríveis desdobramentos, se acaso medidas não forem urgentemente tomadas.



Documentário Ouro Azul: A Guerra Mundial pela Água.
 
 
Águas de Março - Tom Jobim e Elis Regina
 
 
Planeta Água - Suzy Noronha
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 12 de março de 2013












É TEMPO DEMAIS!

Passaram-se séculos.

 
Um dia, o chefe da família retornou do trabalho e encontrou: uma mesa posta e uma carta.

Seu reinado acabara.

Ana, por alguns anos, ainda ouviria aquela voz que ecoava pelos labirintos de seus sonhos. Ou melhor, de seus pesadelos: sombrios, arroxeados, a lembrar as marcas deixadas em sua mãe.

                                                                             (trecho final do conto O CHEFE DA FAMÍLIA, de minha autoria)
 
 
Primeiras, ainda tímidas, reações das mulheres ao jugo machista. E já estávamos no último quartel do século XX, em pleno país chamado Brasil. E isso continuava acontecendo.

E isso continua acontecendo.

Como comemorar uma data que, em tese, não deveria existir?

Por acaso comemora-se o Dia Internacional do Homem? Ou o Dia do Homem?


A tragédia da época, ocorrida em Nova Iorque, em 08/03/1857, serviu como motivo para fixação de uma data que relembrasse o sacrifício das trabalhadoras mortas naquele incêndio, em número de 130, que não se pode afirmar tenha sido premeditado. Há quem afirme que tenha havido confusão com outra tragédia, ocorrida na fábrica Triangle Shirtwaist Company, em 25/03/1911, na mesma cidade, onde morreram, também em um incêndio, 150 mulheres. Essa seria efetivamente a tragédia que teria dado origem ao Dia Internacional da Mulher.

O fato é que a origem, na verdade, remete a greves de trabalhadoras de fábricas têxteis, onde a violência da repressão policial aos atos era desmedida. Mulheres que, à época, reivindicavam melhorias, pois trabalhavam até 16 horas diárias com salários em até 60% inferiores aos dos homens, além de sofrerem agressões físicas e sexuais.

A verdade é que, ainda hoje, tenta se minimizar os efeitos destrutivos de relações baseadas no poder de mando do homem sobre a mulher.

Só bem recentemente, as reações observadas são dignas de mudanças efetivas.

Mas lá se vão séculos. E estamos falando das populações que vivem no Ocidente.

E as pobres, infelizes, que “sobrevivem” às crueldades perpetradas contra elas em terras do Oriente Médio?

E que ninguém se levante para invocar o aspecto cultural como fator abonatório para tais atrocidades sabidamente praticadas contra mulheres.

Por quantos séculos ainda persistirão atos de extrema violência contra aquelas mulheres? Será justo “espiar” o mundo através de dois buracos, abertos no tecido, onde um par de olhos busca o inexplicável?

Do lado de cá, os avanços têm sido significativos em favor dos direitos fundamentais da pessoa, incluindo-se as mulheres, parte quantitativamente maior, porém mais negligenciada em seus direitos.

Por aqui, no Rio Grande do Sul, apenas em novembro de 1973 é nomeada a 1ª mulher, a Dra. Maria Berenice Dias, para o cargo de Juíza, ingressando no Poder Judiciário do Estado. Exatamente após 100 anos da criação do Poder Judiciário, que teve seu início datado de 03/02/1874, é que pôde uma mulher ter acesso à magistratura, conseguindo adentrar nessa esfera de Poder.

Até então, o Judiciário não homologava inscrição de mulheres para as provas da magistratura.

Somente após denúncia, junto à imprensa, da discriminação para com as mulheres candidatas, foi que o Tribunal julgou a questão favoravelmente. Porém, como as provas eram identificadas, as concorrentes às vagas exigiram que fossem retirados seus nomes dos documentos. De um número de 60 mulheres, naquele primeiro concurso, apenas 04 lograram êxito, passando no concurso para juiz.

Diante de tantos fatos entristecedores e de conquistas arduamente conseguidas, acredita-se que não haja muito a comemorar.

Pelo contrário, há ainda muita batalha pela frente.

Coragem, Mulheres!



Mas isso não impede que mantenhamos nossa sensibilidade à flor da pele, nosso olhar amoroso ao ser envolto em panos, fruto do nosso ventre, e que sigamos em frente, embora tendo ao lado aquele que escolhermos para um convívio mais íntimo, tão íntimo quanto o choro derramado em momentos de solidão.

Mas, ainda assim, uma mulher com a individualidade preservada, capaz de novos voos, com os limites próprios de uma sociedade fraterna para com todos os gêneros da espécie.




 

 
 
 
HIMNO A LA MUJER