sábado, 12 de abril de 2014

A RECOMPENSA


 
Para mim, uma leiga e simples observadora, a coisa mais visível da passagem do tempo, quase instantânea, é a mudança, com o piscar dos olhos, no desenho das nuvens no céu. As bordas das nuvens se redesenham em milésimos de segundo. É o instante que não perdura.

E o que é o instante?

É uma porção brevíssima de tempo?

Segundo um grupo de cientistas alemães e espanhóis, que tratou desse assunto, o tempo de duração de um instante é de 320 attosegundos. E um attosegundo corresponde ao trilionésimo de segundo.

Que coisa mais difícil de imaginar!

Os primeiros raios de luz da manhã, seguidos da luminosidade intensa ao longo do dia, dá-nos a possibilidade de acompanhar o tempo que vai seguindo o seu curso até o anoitecer, completando-se com a total escuridão que recai sobre nós a cada fim de dia.

O passar dos dias, meses e anos também possibilita a percepção desse senhor implacável chamado Tempo.

Mas quando o tempo dura um piscar de olhos, essa percepção torna-se assombrosa. 

Mario Quintana, em seu Caderno H, escreveu sobre o Tempo: 

"Coisa que acaba de deixar a querida leitora um pouco mais velha ao chegar ao fim desta linha".

E o tempo continua a fluir, imperceptível, a partir daquela linha referida. 

O interessante, porém, é que aquele trecho lido continuará lá, no mundo dos livros, embora venham a se passar 200 anos. 

O ser humano, por outro lado, dura tão pouco frente às obras construídas por ele próprio.

As pirâmides estão lá e a Acrópole de Atenas também resiste ao tempo. 

As águas do rio fluem, sempre sendo diferentes a cada fluir, assim como somos também diferentes a cada instante. Heráclito já explicara, há muito tempo atrás, essa condição nossa e da natureza. Nós, humanos, estamos em desvantagem, porém. 

A nós não é dado esse privilégio de acompanhar as obras, produto nosso, pelos séculos afora. 

Claro que, se assim ocorresse, o globo terrestre não suportaria tamanha quantidade de gente, considerando-se a natalidade permanente. Há que se abrir espaço para outros que vão chegando. 

Agora, um rio, embora diferente a cada instante, estará sempre ao nosso alcance: ontem, hoje e até quando possamos dele usufruir. Que isso não nos cause pressa, porque ele estará lá a nossa espera. 

Ainda segundo Quintana, o segredo da eternidade repousa na seguinte assertiva: 

"Naquele seu ímpeto ascendente e embora retombe a cada instante, ninguém, nem ele mesmo o sabe: o repuxo é o eterno recém-nascido". 

O que significa que esse rio estará lá presente a cada repuxo, perpetuando-se. 

E nós? Onde estaremos? 

Estaremos representados na figura do nosso filho? 

Mas, se cada um de nós é insubstituível, como sair desse dilema? 

Sobra a nós apenas a lembrança do ancestral, através da sua própria imagem ou de suas obras. Essas são as que permanecem para serem vistas, reverenciadas ou até execradas, dependendo do valor positivo ou negativo que encerrem. 

Nada, portanto, é tão passageiro quanto a condição de ser humano ou de pertencer ao reino dos seres vivos. 

Assim, calma, Coimbra! 

O rio Guaíba continua no mesmo lugar, talvez algumas margens tenham se estreitado ou se alongado, mas suas águas continuam correndo. E para algum lugar correm, com certeza. 

E nós? 

Temos ainda tempo de acompanhá-lo, porque ele se renova a cada repuxo. Ele é para os séculos.

Quanto a nós? 

Cuidemos das nossas atitudes, nossas ações e obras, porque é o que deixaremos. E que, com certeza, não durarão séculos. Apenas uns poucos anos até que caiam no esquecimento.

A menos que nos enquadremos na galeria dos grandes luminares da Humanidade. O que, a essas alturas, acho que não faz grande diferença. Pela simples razão de que do outro lado, se é como dizem, o que contará serão os gestos de amor, solidariedade e fraternidade com os próximos a nós e com aqueles que vierem até nós. 

O que se leva e vale é o AMOR, já diz a letra da música O QUE SE LEVA de Guilherme Arantes. 

E o céu estará garantido. 

Acho, sinceramente, que essa será a melhor recompensa

Os séculos que se passem, então. Tal como Marcel Proust, Henri Bergson, Walter Benjamin também passaram com suas importantes teorias sobre o Tempo, os quais, considerados por muitos, foram grandes luminares do pensamento. 
 
 
 
 
E eu, de repente, dou com os olhos na ampulheta, no quadro em frente a mim. 

Ela está por sobre livros em cima de uma mesa. Não há movimento algum. Acho que o tempo parou! 

Desvio o olhar depressa para o céu em busca delas, as nuvens. Essas continuam a fornecer dados visíveis do fluir do tempo. E acho que é bom vê-lo passar, pois assim acompanhamos o processo contínuo de seu movimento. E isso é pura energia. 

E é disso que precisamos.
 

 
 
 
 
 
O Que Se Leva  - (Temor ao Tempo) – Guilherme Arantes



Oração ao Tempo – Caetano Veloso




 
 
 

Trechos:
 








 

sábado, 5 de abril de 2014

PARA OS ANAIS DOS ESPETÁCULOS DE PORTO ALEGRE



Para quem foi acostumada a conviver entre duas cores reverenciadas, uma pelo pai e outra pelo único tio que tive, assistir, muito atenta, à reinauguração do Estádio Beira-Rio foi bastante gratificante. Meu pai teria gostado de estar presente. Sua filha acredita que o representou, de forma emocionada, na festa/espetáculo desse dia 5 de abril de 2014. E ela assistiu à festa, comodamente instalada em sua sala. Mesmo assim, pôde constatar a grandeza do evento.
O conjunto da produção do espetáculo mereceu todos os aplausos, que ressoaram para além do estádio. Foram duas horas e meia de uma apresentação de pura paixão e emoção. A produção musical, a cargo do maestro Dudu Trentin, demonstrou perfeita sincronia entre os músicos da orquestra Unisinos/Anchieta, o coral de 200 vozes e as bandas que se iam sucedendo durante o espetáculo. Ele compôs todas as trilhas, cabendo ao maestro Evandro Matté a regência da imensa orquestra e coral. Participaram da festa 1500 pessoas em cena, entre atores, orquestra, bandas e bailarinos. Foram usados 3000 figurinos. A plasticidade das cenas aliada à tecnologia, que lhe serviu de suporte, apresentou ao público a parte histórica do clube ao longo do tempo. O barco singrando as águas do rio foi emblemático acerca das dificuldades enfrentadas com a localização do estádio. Nada, porém, que não pudesse ser solucionado com o passar do tempo e com os esforços de todos os que se empenharam na construção de um sonho, destacando-se a campanha de doação de tijolos que movimentou 35 famílias voluntárias.
A narração, como background, com textos de conhecidos cronistas gaúchos e os telões repassando os diversos momentos históricos do clube, foram carregados de luz, tal qual o golo de Elias Figueroa, chamado por ele próprio de o golo iluminado. Graças a esse único golo, feito aos 12 minutos do 2º tempo, o Internacional conseguiu o seu primeiro título brasileiro em 1975, jogando contra o Cruzeiro de Minas Gerais.
E as décadas iam-se somando sob os acordes da 9ª Sinfonia de Beethoven e a encenação de obras reconhecidas de Leonardo Da Vinci, Picasso, Salvador Dali. Tudo sincronizado, tal qual o voo de Dadá Maravilha, no ano de 1976, quando o Internacional venceu o Corinthians por 2 a 0 no Beira-Rio, sagrando-se bicampeão brasileiro.
O ano de 1989 ficou nos anais do clube, pois aconteceu o chamado Grenal do Século, o de nº 297, vencido pelo Internacional por 2 a 1, disputado no Beira-Rio e que teve o maior público de Grenais em Campeonatos Brasileiros. Foram 78.083 pagantes. A década de 80 foi de conquistas, com 14 títulos no total.
Momentos difíceis e momentos de glória foram relembrados.
Com muito trabalho e confiança no plantel, os feitos recomeçaram a partir do século XXI. E Adriano Gabiru seria o grande nome, com a ajuda dos demais companheiros, na conquista do Mundial de Clubes da FIFA, em 17 de dezembro de 2006, no Japão. No mesmo ano, pela primeira vez, o clube já conquistara, em 16 de agosto, a Taça Libertadores da América. O que se repetiria em 2010, tornando-o bicampeão do mesmo certame.
Quanta história desde 1909! São 105 anos de vida e 45 anos da reinauguração do estádio Beira-Rio, aberto oficialmente em 6 de abril de 1969, cuja construção iniciou-se em 1959.
Esses fatos todos fazem parte da história da cidade de Porto Alegre.
Fico feliz em ter assistido a um espetáculo tão bonito, o que demonstra a capacidade de trabalho, o empenho de tantos interessados, o aporte considerável de recursos na concretização das obras e do espetáculo.
O mesmo ocorreu com a outra agremiação, tão cara aos gaúchos, quando da sua inauguração em 2012.
Assistimos, na oportunidade, a um espetáculo e a uma plateia merecedora do aplauso da sociedade porto-alegrense como um todo.
Para os amantes do futebol, como esporte de massa, é um orgulho termos um gigante e uma arena representando o Estado para fora dos seus limites. Para um mundo globalizado, serão ambos os estádios uma vitrine da cidade que se diz alegre.
Portanto, está de parabéns o diretor artístico Edison Erdmann, responsável pela organização de todo o espetáculo da reinauguração do Estádio Beira-Rio.
O vermelho pelo espelho, finalmente, passou.
O azul do mar, há algum tempo, já chegou.
 
Uma última palavra àqueles que esperam o mesmo espetáculo, assistido no último dia 5 de abril, para:
- a reinauguração, com nível de excelência, de um grande hospital;
- a construção de centenas de UPAs, dentro das normas técnicas, com um quadro médico e técnico pronto a prestar os primeiros socorros, incluindo-se medicamentos básicos e material compatível com as necessidades do eventual paciente;
- a implantação, nos colégios, de infraestrutura condizente com as necessidades do ensino-aprendizagem;
- a despoluição de nossos arroios e riachos;
- um substancial melhoramento no transporte coletivo;
- o saneamento básico, ainda deficitário, em algumas comunidades;
- uma segurança mais presente no dia a dia e não apenas em grandes eventos;
- uma gestão honesta e eficiente de pessoal e recursos nos serviços prestados à comunidade pelo poder público.
 
Tudo, claro, com o padrão FIFA, porque os botocudos já sabem, agora, o que é o tal padrão. Sem desmerecer o povo indígena, já extinto, que habitava regiões do país. Referimo-nos a nós próprios, esse pessoal rude e grosseiro que não conhece o que são as benesses de uma vida de qualidade. Todos nós aguardamos, de ora em diante, um padrão FIFA de serviços. É o grande desejo de toda a sociedade brasileira.
E o impostômetro? Pelo controle digital, desde o primeiro dia de 2014 até esse exato momento, dia 7 de abril, às 19 horas e 30 minutos, a arrecadação está na cifra de R$ 469 bilhões, 246 milhões e..., já superando a marca atingida na mesma época do ano passado. Impossível acompanhar tal voracidade e rapidez... No ano de 2013, ao que parece, a marca atingida foi de um trilhão e 700 bilhões de reais.
 
 
Para os colorados fica a certeza de que com a ajuda inicial daqueles tijolos construiu-se um sonho e dele fez-se não um castelo de areia na beira de um rio, mas um gigante da própria história.
 
Fiquem, agora, com a beleza de O AMANHÃ COLORIDO e NUVEM PASSAGEIRA, duas joias, compostas por gaúchos reconhecidos, que abrilhantaram a festa de reinauguração.
 
 
 

 
 
 

 
O Amanhã Colorido - Pouca Vogal
 
 
Nuvem Passageira - Hermes Aquino
 
 



terça-feira, 1 de abril de 2014

UM DIA PARA CHAMAR DE SEU


Levados pela correnteza, mergulhamos num mar perigoso, de mil promessas. Descontos aparentes, mas na fria matemática o lucro sorrateiro, embutido, escondido, que não mostra a cara. Aliás, nem face tem. É um ser diáfano que se alça às alturas com aparência de rasteira criatura. É, isso sim, um reles ser. Um ser enganoso, dissimulado, mas fatal.
Traz consigo uma corrente de ofertas, promoções, serviços, novos modelos, novidades e outros que tais. Estamos, graças a ele, também à mercê de produtos não mais confiáveis, embora alguns tenham a idade da Terra, de tão velhos e conhecidos.
É a “dança das cadeiras” dos executivos de organismos internacionais que deveriam nos proteger da nocividade de tantos alimentos industrializados, mas que trocam de assento com executivos de grandes multinacionais que visam, exclusivamente, ao lucro.
E a macacada de Darwin continua ainda, ao que parece, no mesmo patamar de origem.
Acredito, porém, que somos bem mais do que isso. Somos seres pensantes e, portanto, é nossa obrigação estarmos atentos e vigilantes aos predadores da nossa saúde. O desequilíbrio do planeta, o exaurimento das nossas fontes de riqueza, a deterioração de culturas, a miserabilidade que grassa, historicamente, por regiões sabidamente férteis, são sinais de que tais povos são vistos como o lixo do mundo, servindo apenas como massa de manobra para objetivos sempre escusos. Mesmo aos melhores aquinhoados, falta-lhes cultura para perceber quão venenosa é a manipulação, ainda que subliminar. Esses seres, despreparados pela falta de educação e conhecimento, são incapazes de avaliar os aspectos positivos e negativos das novas tecnologias, adquirindo, com sofreguidão, todo e qualquer equipamento que surja no mercado. Tudo bem ao gosto de quem criou a obsolescência programada com o objetivo único de auferir constantes lucros às empresas que fornecem todo o tipo de consumo, dos úteis aos meramente ditos “da hora”.
É sempre desejável uma modernização constante nas áreas científica e tecnológica, pois trarão melhores condições de vida, saúde, moradia, educação e cultura para o povo. Ofertas de emprego e segurança decorrerão de políticas públicas que visem apoio a ações que impulsionem tais objetivos.
Agora, criar um aplicativo, embutido em um novo celular recentemente lançado no Brasil, para ler mil palavras em um minuto, é coisa para macaco “treinado”. O tal usuário lerá todas as palavras que se irão somando, podendo, inclusive ler, segundo a proposta da nova ferramenta, um romance de 300 páginas em pouco mais de uma hora.
E a compreensão? Onde ficará?
Ah! Esqueci que ninguém está preocupado com isso. O negócio é vender o tal aplicativo, através de um novo celular.
Segundo a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos, Rove Luiza de Oliveira Chishman:
“Ler é mais do que decodificar letras e palavras, envolve dar significado, fazer conexões”.
Concordo, plenamente. Será impossível ter uma boa compreensão do que foi lido, se esse leitor levar apenas um minuto para ler mil palavras. Além do que, cada leitor terá, pessoalmente, uma compreensão semântica diferenciada em relação a cada palavra.
Isso, porém, não interessa. Afinal, a macacada de Darwin precisa ser apenas treinada para um desempenho similar a uma máquina. Nada que precise pensar, fazer analogias, compreender o que subjaz ao texto...
Mas o que é isso?
Para a macacada vai interessar apenas a competição de quem lê mais rápido. E para os criadores do aplicativo, isso já está de bom tamanho.
 
É! Para aqueles que já se aperceberam disso, só mesmo fazendo blague!
Para os outros tantos, podem comemorar esse dia 1º de abril. Um dia para chamar de seu é o que resta.
Comemoremos todos ao som de A CASA, que se localiza na Rua dos Bobos, número zero, e que não tem teto e nem parede, construída que está sobre o nada.
Torçamos para que a Educação nos tire dessa casa inexistente para outra que repouse sobre os pilares sólidos do conhecimento.
 
 
 
A Casa – Toquinho
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 25 de março de 2014

UMA BUSCA DIÁRIA


 
São as águas de março fechando o verão...
 
Tristeza não tem fim
Felicidade, sim...
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor.
Brilha tranquila
Depois de leve oscila.
E cai como uma lágrima de amor.
 
Quanta poesia!
 
E de quanta alegria é feita uma cidade que carrega em seu nome esse adjetivo?
 
 
São várias as datas significativas reunidas num pequeno par de dias do mês de março.
Como reuni-las e escrever sobre elas?
Pois, pensando bem, todas se encontram interligadas.
Selecionando uma delas como fonte para as outras, talvez, consigamos entendê-las no seu conjunto.
Destaquemos, então, aquela que se convencionou comemorar no dia 20 de março: a tão desejada FELICIDADE.
Ela que é breve como as nuvens, que se desfazem e se refazem a todo o instante. Mantê-la requer a capacidade de somar momentos ao longo do dia. Instantes em que o olhar acompanha, ao entardecer, um sol entre nuvens, que empresta nuances quase indescritíveis, tal a grandeza da beleza. Um poeta, porém, sabe captá-las. E isso é poesia. E é, também, desfrutar instantes de encantamento. Ou, ainda, quando os acordes daquela canção fazem-nos sonhar acordados. Quem sabe, quando sorvemos um bom chimarrão e nos perdemos em pensamentos durante minutos enriquecedores. E isso também um poeta reconhece como possibilidade criativa.
E aqueles outros instantes em que a água, escorrendo pelo corpo, propicia imagens de puro desapego, deixando deslizar pelo ralo tudo o que é além de nós. E o perfume do sabonete? E logo, logo, aquela toalha felpuda nos envolvendo, que passará a sensação de aconchego e proteção. Esses também são momentos ricos, que se somam a tantos outros, e que acontecem cotidianamente.
E que tal o abraço de um filho? Ou de um parceiro querido?
E quem sabe assistir ao pôr do sol, tão decantado, da nossa Porto Alegre?
Talvez, uma boa conversa com os amigos?
Ir somando esses momentos é a receita para a tal felicidade.
Claro que ter saúde é fundamental, bem como usufruir daquela que é a fonte de vida: a água benfazeja. Ela que nos acompanha desde a concepção e que é essencial à nossa sobrevivência.
A estação que se aproxima, o Outono, a exemplo do que ocorre com o nosso banho diário, traz um espetáculo de desapego da natureza. O tapete de folhas que cobre os parques nos dá esse sinal de renovação.
E renovação é uma palavra chave para a felicidade. Essa tal felicidade tem que ter instantes renovados, para que se mantenha constante. Ela permeia todo o nosso cotidiano. Observar o que de bom existe, ter emoção e paixão pela vida: é não perdê-la. Esse cultivo de enriquecedores instantes transformará o dia para além do trivial, embora esse aspecto  contenha elementos significativos na busca de instantes em que a felicidade pode ser, também, ali encontrada.
É! A felicidade aparece e desaparece que nem as marés, de forma constante. O que importa é captá-la. E se o engenho e arte forem bagagem criativa desse observador, transformá-la em pura poesia será seu mister.
Quanto a nossa mui leal e valerosa cidade de Porto Alegre, espero que ela se mantenha com seu sorriso estampado para sempre, porque ele é tudo para mim.
Esse sorriso é como uma bússola que me guia, diariamente, quando percorro os caminhos dessa cidade em busca da tal FELICIDADE.
Brindemos às datas, que se juntaram numa ode à manutenção do essencial à vida: SER FELIZ.
 
Uma saudação especial ao:
Dia da Felicidade, 20 de março;
Início do Outono, 20 de março;
Dia da Poesia, 21 de março;
Dia Mundial da Água, 22 de março;
Ao Aniversário de 242 anos da nossa cidade de Porto Alegre, 26 de março.
 
Diferentemente do refrão da letra de A Felicidade, música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, a tal FELICIDADE pode também não ter fim. Basta que saibamos cultivá-la.
E quanto ao sorriso de Porto Alegre, os ex-integrantes do TNT, uma das mais clássicas bandas de rock do Rio Grande do Sul, na canção Do Teu Sorriso Vou Lembrar, Porto Alegre, souberam muito bem musicá-lo, em uma homenagem aos 240 anos de Porto Alegre.
Boa audição!


A Felicidade – Tom Jobim
 
  



Do Teu Sorriso Vou Lembrar, Porto Alegre – Banda TNT
 
 
 

segunda-feira, 17 de março de 2014

O PRAZER DO TOQUE, A FORÇA DAS IMAGENS, UM SABOR DE QUERO MAIS...


 
Todos ao redor queriam tocá-lo. Sua dona surpreendeu-se com o interesse despertado. Queriam saber onde ela tinha adquirido aquele exemplar.
Os colegas, já adolescentes, cercaram-na para melhor poder visualizar aquele belo livro. Tinha ele, inclusive, a assinatura do seu autor na capa. Uma edição especial, preparada pela tradicional agência de publicidade MPM, para a Editora Record, na quantia numerada de 0001 a 11000 livros. E aquele era o exemplar de nº 1061. Tal livro tinha sido solicitado pela Professora de Português, para leitura programada ao longo do ano.
O primeiro impacto foi fornecido pelo olhar, seguido pelo toque, pelo folhear, pelo manuseio do livro com suas letras bastante graúdas a cada início de capítulo, acompanhadas por desenhos ilustrativos referentes ao texto que, aos poucos, ia se compondo. Uma obra impressa com cuidado e carinho, como merecia seu autor, o baiano Jorge Amado.
No ano de 2012, comemorou-se o centenário desse reconhecido autor. Portanto,  vale muito a pena ter em mãos uma obra, impressa em 1981, para comemorar os 50 anos de um fenômeno literário que, à época, já fizera 70 anos de vida.
E o livro escolhido foi O MENINO GRAPIÚNA de Jorge Amado, um livro de memórias, uma autobiografia, com ilustrações de Floriano Teixeira e o retrato do autor por Carlos Bastos. A importância dessa obra revela-se com a sua leitura, pois ali estão presentes todas as influências do meio onde o autor nasceu e desenvolveu-se e da grande contribuição que recebeu do Padre Luiz Gonzaga Cabral, Professor de Português, no colégio dos jesuítas, onde Jorge Amado esteve internado por dois anos.
É importante a leitura desse livro, pois nos auxilia a entender a extensa obra de Jorge Amado, toda ela fundamentada nas suas primeiras impressões, quando ainda criança, passando por uma adolescência entre jagunços, aventureiros, jogadores e recheada por sensações experimentadas junto às casas de “mulheres da vida”, como ele próprio relata. Foi lá onde, segundo o autor, acalentaram seus sonhos, protegeram sua indócil esperança, deram-lhe a medida da resistência à dor e à solidão, alimentaram-no de poesia.
Revela, a certa altura, que:
“Na literatura e na vida, sinto-me cada vez mais distante dos líderes e dos heróis, mais perto daqueles que todos os regimes e todas as sociedades desprezam, repelem e condenam.” (páginas 57 e 58)
Vale transcrever o capítulo 9, páginas 61e 62, em que o autor afirma:
“Os líderes e os heróis são vazios, tolos, prepotentes, odiosos e maléficos. Mentem quando se dizem intérpretes do povo e pretendem falar em seu nome, pois a bandeira que empunham é a da morte, para subsistir necessitam da opressão e da violência. Em qualquer posição que assumam, em qualquer sistema de governo ou tipo de sociedade, o líder e o herói exigirão obediência e culto. Não podem suportar a liberdade, a invenção e o sonho, têm horror ao indivíduo, colocam-se acima do povo, o mundo que constroem é feio e triste. Assim tem sido sempre, quem consegue distinguir entre o herói e o assassino, entre o líder e o tirano?
O humanismo nasce daqueles que não possuem carisma e não detém qualquer parcela de poder. Se pensarmos em Pasteur e em Chaplin, como admirar e estimar Napoleão?”
 
O caráter universal de sua obra faz-se dos relatos de miséria, ambição e poder que desconstroem a liberdade, bem como daqueles em que o bem, a doçura e o humanismo fazem-se presentes. São tipos humanos que perpassam pelas obras a demonstrar, por vezes, um profundo humanismo e, por outras, a face obscura de que muitos são construídos. Isso é bem entendido por todos que o leem, não importando a que parte do mundo pertençam. Seus livros foram traduzidos em 55 países e para 49 idiomas.
Sua obra inicial tratava dos problemas sociais, das injustiças, da política, das crenças e tradições de parte do Brasil e da sensualidade de seu povo.
A partir de 1959, com GABRIELA, CRAVO E CANELA, sua produção literária ateve-se não tanto mais aos temas sociais, pendendo para um enfoque na crônica de costumes, nos tipos populares, nos poderosos coronéis, nas mulheres sensuais e nas prostitutas.
Em seguimento, passaram seus personagens a retratarem características bem brasileiras, como a contradição entre a seriedade e a irresponsabilidade, o prazer e o dever, a regra e o famoso jeitinho.
Jorge Amado nasceu em Ferradas, povoado do município de Itabuna, ao sul da Bahia, a chamada terra grapiúna. Sofreu essa várias transformações, tendo passado pelo ciclo da cana-de-açúcar e, por último, pela opulência do ciclo do cacau. Uma região, desde sempre, habitada pelos seus nativos e por toda a sorte de desbravadores e comerciantes, gente de fora e de outras regiões do país (sírios, libaneses, sergipanos, suíços, capixabas), num caldo de cultura perfeito para um “escritor” que desabrochava aos 11 anos, segundo o Padre Cabral.
Quando lhe deram como tarefa escolar a descrição tendo o mar como tema, o mar de Ilhéus foi o seu escolhido. Na aula seguinte, vejam o que o Padre Cabral anunciou, conforme palavras do próprio autor às fls. 118:
“Na aula seguinte, entre risonho e solene, anunciou a existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Pediu que escutassem com atenção o dever que ia ler. Tinha certeza, afirmou, que o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido. Não regateou elogios. Eu acabara de completar onze anos.”
 
Daí em diante, o menino Jorge Amado, graças aos livros da estante pessoal do Padre Cabral, pôde conhecer “As Viagens de Gulliver”, por primeiro, depois os clássicos portugueses, ingleses e franceses.
Origina-se dessas experiências de leitura seu amor aos livros, o que forneceu substrato à sua própria criação literária.
Para conhecer esse autor, nada melhor do que estudá-lo com mais profundidade. E nisso o acerto da Professora Neide ao indicar essa obra em especial, pois ela, pela própria voz do autor, revela as bases de tão profícuo escritor.
Como o autor relata, às páginas 112 e 113, o Padre Cabral não se importava com a pura análise gramatical do poema OS LUSÍADAS. Ele se detinha, para deleite e encantamento dos alunos, no poder da declamação, da força do verso e da prosa, despertando a sensibilidade “para a sedução da literatura feita de palavras vivas e atuantes.”
 
Agora, além disso, o que a nós, também, interessa nessa crônica é demonstrar a importância da apresentação daquilo que se vai ler, para que se aprenda a gostar de ler. E, igualmente, de quem vai motivar e de que maneira fará isso. Esses adolescentes são leitores em potencial, mas que não aprenderam, ainda, a gostar de ler. Essa tarefa é árdua, mas vale muito a pena abraçá-la.
Ter em mãos um livro e poder lê-lo em um lugar escolhido, aconchegante, folheá-lo, fazer anotações, quando se fizer necessário, é vivenciá-lo de forma profundamente íntima, tão íntima quanto às anotações que o leitor vai sobrepondo às ideias do autor e que revelam, muitas vezes, a importância de determinadas passagens à sensibilidade de quem está lendo.
Ler um livro é também tocá-lo, senti-lo, encantar-se com as imagens. E quando tudo isso se junta a um texto de traços universais, a leitura deixa, com certeza, um sabor de quero mais.
Parabéns ao Centenário de Jorge Amado!
Parabéns à Professora Neidi que escolheu a obra O MENINO GRAPIÚNA!
 
Todos nós, no fundo, temos um tanto desse menino, pois ele tem traços universais de rebeldia, encantamento, imaginação, lembranças, medo, audácia, esperanças, aventura, curiosidade, inquietude, solidão, tristeza, alegria e muitos sonhos. Sonhos que acalentava e que deixa claro, já como escritor, no último parágrafo do capítulo 16, página 108, do citado livro.
 
“Sonho com uma revolução sem ideologia, onde o destino do ser humano, seu direito a comer, a trabalhar, a amar, a viver a vida plenamente não esteja condicionado ao conceito expresso e imposto por uma ideologia seja ela qual for. Um sonho absurdo? Não possuímos direito maior e mais inalienável do que o direito ao sonho. O único que nenhum ditador pode reduzir ou exterminar.”
 
E para demonstrar a versatilidade do escritor, ouçam a música É DOCE MORRER NO MAR, composta em parceria com Dorival Caymmi.
 
 

 

PS: As últimas informações dão conta de que o livro vem sendo emprestado aos colegas por ordem de chegada do pedido.
        Sua dona anda arrasando...

 
 
 
É Doce Morrer no Mar – Cesária Évora e Marisa Monte