quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

ESPIANDO...




Um querer ver e um ver para crer. Um misto de ansiedade e de expectativa ainda não confirmada.

Se Aninha, ao acordar, tivesse certeza do que a esperava naquela manhã, teria levantado daquela cama que nem um foguete.

Achava que tinha se comportado direitinho, que tinha feito o seu melhor. Pairava a dúvida, porém.

Permaneceu por algum tempo deitada, tentando visualizar por entre a cortina, que separava o quarto da sala e que balançava levemente ao sabor do vento, alguma possível imagem que lhe desse a certeza de que lá estaria aquilo que pedira àquele visitante tão esperado. Aquele que carrega tantos pedidos que, digo eu, deve ter uma organização a lhe dar a devida retaguarda.

Quando sentiu que já era tempo suficiente para aquele velhinho ter deixado o seu pedido depositado na poltrona da sala, levantou-se e espiou por entre as dobras da cortina. E lá estava Joãozinho, o boneco tão sonhado e que a acompanhou por muitos e muitos anos.


Este trecho de um conto fez lembrar-me de que a retrospectiva, sob o olhar infantil, é quase sempre positiva. Todos se comportam ao longo do ano e, portanto, merecem os presentes pedidos.

Já a retrospectiva deste ano, apresentada ao vivo e a cores pelos nossos meios de comunicação, só nos traz apreensão.

Por isso, fiquei espiando, espiando e tentando vislumbrar o que levaríamos de presente daquele saco que Papai Noel carrega e que dali pode saltar quase tudo.

Para começar, ele resolveu inovar. Este ano fez uso de uma mala. Talvez seja para não prejudicar tanto a coluna. Interessante que os presentes eram todos iguais, de um mesmo tamanho, embora de valores diversos: uns valendo mais, outros menos.

A sua morada não é mais no Polo Norte. Pasmem! É no Brasil. E a condição, para sermos merecedores de seus presentes, é não sermos obedientes às boas regras de conduta. E dessa forma e nessa escala foram distribuídos tais presentes.

Meus olhos, um tanto quanto ainda infantis, jamais assistiram a tais cenas de distribuição.

Por isso, diante desse quadro e com as derivações que o meu olhar adulto, hoje, prospecta, aguardei por mais tempo, até a primeira quinzena deste novo ano, para imaginar o que nos espera.

Ainda não me atrevi a ultrapassar a cortina. Continuo a espiar do meu canto, saboreando um bom chimarrão para colocar as ideias em ordem.

Os presentes de Natal, aqueles já referidos, foram distribuídos para os que não se comportaram.

Agora, o verdadeiro bom velhinho, quero crer, continua povoando a mente das crianças: o que é muito bom. Talvez, ele não desça mais pela chaminé, mas seja possível encontrá-lo comodamente sentado nos shoppings das cidades. O reino da fantasia precisa continuar existindo. Aquele reino que alimenta o olhar de uma criança.

Quanto a nós todos, os que cumpriram as regras da boa convivência, da lealdade, da integridade moral, da correção nas atitudes, resta continuarmos observando a evolução dos acontecimentos.

Oxalá tenhamos a oportunidade de imprimir novos rumos à sociedade em que estamos inseridos. Aquela que, verdadeiramente, queremos. Aquela que guarda no olhar a expectativa do reconhecimento pelo bom comportamento.

Daí, vai valer ultrapassar a cortina.

Por enquanto, eu continuo espiando este novo ano, de longe, sem vislumbrar nitidamente o que existe a nos aguardar.

Claro, que o exercício de espiar é também bastante excitante.

Acho que vou levantar-me e achegar-me para mais próximo da cortina. Quem sabe terei uma boa surpresa.

Meu olhar, por vezes ainda de criança, é criativo. Por isso, tenho quase certeza que construirei com imaginação, esperança e fé em mim própria e nos que me cercam uma história de realizações e sucesso neste ano de 2018.

E para quem ainda não entendeu que deve mudar, segue o poema abaixo.





Tudo isso para substituir aquela palavra que definiu o país no ano de 2017.

ESTAMOS DE OLHO!



 Bem-Te-Vi - Renato Terra







domingo, 24 de dezembro de 2017

É TEMPO...



As horas contadas no silêncio são mais longas e podem ser muito mais criativas.

Para quem pensa sobre o ontem, durante o hoje que se esvai e que nos leva para o amanhã, que será hoje quando lá chegar, é necessário estabelecer regras para entendê-lo.

Existirá tempo de plantar e de colher para nós humanos? Ou, nos tempos atuais, as coisas serão diferentes?

Filósofos, cientistas, sociólogos, todos já falaram sobre o tempo. Ao que parece, nada de relevante ao cidadão mediano serviram tantos conceitos emitidos por tais autoridades.

Agora, o tempo de tosquia é algo bem palpável e deve ser observado sob pena de o rebanho sofrer grave prejuízo em seu desenvolvimento.

O tempo de semeadura e o da colheita são momentos únicos para quem pretende ver o fruto acabado dessa laboriosa atividade. Claro, pronto para a comercialização e consumo.

É tempo de olhar para o ontem e ver-se no colo do pai, para que o olhar pudesse enxergar a estrela de cinco pontas a enfeitar a árvore de Natal, tal era a altura das árvores natalinas de antigamente. Todas, é claro, pinheiros verdadeiros cujo limite de altura era o teto da casa. Plantava-se ali, à época, a esperança de momentos felizes, aguardando-se as bênçãos do Criador pelas preces invocadas. Seu filho, logo abaixo, numa manjedoura, representava o tempo renovado, o futuro abençoado por sua presença.

O tempo, intangível, continua o mesmo. É o tempo do amor renovado, das renovadas promessas, do olhar que busca a mesma estrela de cinco pontas que ainda enfeita a já, agora, pequena árvore de Natal. As cinco pontas que nos lembram as quatro energias formadoras do planeta, isto é, ar, água, terra e fogo, acrescidas do espírito. Os nossos cinco sentidos, mas, também, os nossos quatro membros mais a cabeça. Também, os chamados cinco estágios da vida do homem, a saber: nascimento, infância, maturidade, velhice e o último estágio que é, na verdade, um novo início.

Quanta simbologia que nos acompanha pelos tempos afora...

A minha arvorezinha permanece comigo, renovada a cada ano. Como adorno há sempre uma estrela de cinco pontas, com uma das pontas voltada para o alto, para as alturas, a nos lembrar de que nosso tempo é infinito, pois sempre terá um fim e um recomeço.

Portanto, a esperança permanece. Aquela que nos faz refletir e melhorar a cada etapa da caminhada.

Há três mil atrás, naquele berço simples, nascia alguém que nos embala e nos impulsiona até hoje. Uma estrela, a Estrela de Belém, à época, iluminou os céus anunciando sua chegada. E com ELE a esperança de salvação para seres terrenos, frágeis e carentes.



Lembre-mo-nos de que nossa bandeira também carrega várias estrelas, todas de cinco pontas e de mesma importância, embora de tamanhos diversos.

É tempo de nos perguntarmos se podemos transmudar as tantas estrelas que nos representam em nossa bandeira, para que sirvam de anunciação de que novos e melhores tempos virão para tantos que aqui aguardam solução para seus problemas terrenos.

Para o depois, para um novo reinício? Temos AQUELE, que é o nosso salvo-conduto, para uma passagem iluminada e redentora.

Que o nosso Natal permaneça iluminado pela chama que nos habita há tantos mil anos. Que nossa fraqueza encontre força e apoio na crença de que não estamos aqui por acaso.

Que toda a inspiração e criatividade dos poetas e escritores se transformem em mensagens de esperança para um amanhã mais promissor.

Que as artes e a música, linguagens universais, façam parceria em busca do mesmo objetivo.

Que, neste Natal, busquemos a compreensão, a solidariedade, a generosidade e o amor como parceiros.

Quanto às inúmeras estrelas que representam cada Unidade da Federação é o nosso desejo de que passem a iluminar com seu brilho os caminhos percorridos por tantos sofredores.

É tempo de Natal. É tempo de uma esperança renovada nessas estrelas que compõem nosso território. Que seus dirigentes percebam que o tempo escoa: o tempo terreno, aquele que é passageiro. Quanto ao outro, o eterno, saibam que a dívida permanecerá.

Enquanto aguardamos mudanças, ouçamos conhecidas músicas natalinas ao som de um cavaquinho, bem ao gosto dos brasileiros espalhados por tantas estrelas que pavimentam nossa bandeira.

UM FELIZ NATAL A TODOS!



Músicas de Natal ao som de cavaquinho





 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

PROCURA-SE...



A bala, que Amanda ainda se lembra, não é a mesma da qual se fala hoje. Nem mais existe aquela que era um sucesso entre os mais jovens.

Os campos, pelos quais Amanda se deslocava até a escola, não mais existem. E os que ainda restam, afastem-se deles por precaução.

As portas e janelas, sempre receptivas a quem chegava ou passava por elas, não mais se deixam cumprimentar, pois trancadas sempre estão.

Os coletivos onde os corpos se deixavam descansar, em que até um cochilo poderia acontecer, é ocorrência improvável, hoje, pelo pisca sempre alerta.

O som do telefone que toca não pode ser atendido de pronto, a menos que se possa saber de onde provém. Ah! Nunca pronunciar a palavra “sim”?

Em compras no supermercado, carregar os pertences pessoais na mão ou no braço. Nem pensar em deixá-los descansando no carrinho de compras.

Marcar lugar no restaurante? Apenas uma chave ou algo sem importância. Bolsas na cadeira? Abandone a ideia.

Entrar em qualquer site? Sai da frente! O perigo ronda durante o tempo inteiro.

Assistir a um espetáculo ao ar livre ou em ambiente fechado, à noite? E a volta pra casa?


Mas o olhar do Snoopy, um cãozinho Shitsu, muito querido, continua o mesmo. Não mudou.

E o sabiá cantando na janela? Permanece fazendo a sua visita diária.

O sol que ilumina nossos dias ainda é o mesmo.

As nuvens continuam esbanjando criatividade em desenhos que se perdem nos tempos.

A lua ainda aparece em noites marcantes para quem se detém a admirá-la ou, sob sua luz, acercar-se com mais paixão da pessoa amada.

Os cantos das aves matutinas e vespertinas ainda estão presentes em nossos dias.

Este é um país pródigo em riquezas naturais e pleno de pessoas que o amam e que trabalham, incessantemente, pela sobrevivência em condições dignas.

E o sorriso do filho, há poucos meses parido, é a certeza de que o amanhã existe.

E o cumprimento do vizinho é a confirmação de que não estamos sós.

PROCURA-SE alguém que atenda às expectativas de que balas se tornem balas para consumo humano novamente; de que drogas voltem às farmácias como produtos usados para debelar doenças, salvando vidas; de que armas sejam restritas a quem delas tem competência para uso e dever de ofício para usá-las, quando necessário; que possamos ir com a certeza de que voltaremos.

Terras existem e os minerais mais valiosos do planeta aqui se encontram, como o nióbio. Água também não nos falta, bem como milhões de trabalhadores em todos os segmentos da sociedade: nossa maior riqueza.

PROCURA-SE alguém que não dissimule, que não minta, que não trapaceie, que não desvie indevidamente: que não roube.

Àqueles que estão envolvidos em todos os tipos de crimes, que se encontrem os mecanismos para pôr fim a este estado de desintegração moral e social em que nos debatemos.

Que os trabalhadores, letrados ou não, se apercebam da importância de observar-se um comportamento correto de cidadão para cidadão. Isto irá refletir-se na capacidade de melhor escolher quem irá dirigir esta sociedade, que a todos deve incluir.

Que a palavra, escrita ou falada, carregue o refrão da solidariedade, da responsabilidade, do respeito, da empatia e do desejo e empenho por construir uma nação digna para os que aqui estão e para os que virão. A todo aquele que aqui nascer, a exemplo do refrão de um conhecido samba, possa:
“Amar a liberdade, só cantar em Tom Maior e ter a felicidade de ver um Brasil melhor”.

PROCURA-SE esse alguém...

E a esperança é que nos alimenta nesses dias incertos.





 Tom Maior ao Vivo







sexta-feira, 22 de setembro de 2017

ERA PRIMAVERA...




Abri a cortina e, com surpresa, no peitoril da janela, entre o vidro e a grade, encontrei algo inusitado.

Num dos vasos ali colocados, em meio à ramagem, um presente da Natureza tinha escolhido refúgio para a vida comemorar.

A grade não foi empecilho, nem, tampouco, o espaço pequeno foi obstáculo para que três novas vidas ali se desenvolvessem. Um ninho ali se instalara. E a sabiá depositaria três ovos.

Quando poderia imaginar que acompanharia a evolução e o nascimento de três novos seres, cujo canto “me encanta”.

Pacientemente, dia após dia, ali ficava a mãe zelosa a cuidar de seus filhotes.

Passados alguns dias, que não sei precisar, avistei um novo ser que viera ao mundo. Depois de algum tempo, outro e mais outro.

Não me contive e comecei a fotografar o desenrolar dos dias e a dedicação da mãe e do pai, acredito eu, em trazer o alimento para aquelas três bocas famintas. Aliás, estavam quase sempre abertas, pedindo mais e mais comida.

Fotografei o cuidado com o ninho e com a aproximação até ele. Faziam uma espécie de reconhecimento prévio.

Era primavera e eu estava feliz.

Tinham escolhido minha janela para vivenciarem este ato que a todos nós une, independentemente de que espécie esteja a se falar.

Era Primavera.

Lembro-me que um poema dali surgiu e que dizia um pouco com estes novos seres que vieram ao mundo para voar.








Não sei bem porque usei a expressão “além-mar”. Acho que por influência do nosso Gonçalves Dias, quando do seu “exílio” físico e geográfico, pois cursava Direito em Coimbra, à época, e a saudade era imensa. Estava além-mar, mas queria retornar para ver, novamente, as palmeiras onde cantava o sabiá.

Pois este meu sabiá cantou bem próximo a minha janela e serviu de inspiração para um novo retomar.

Afinal, era Primavera!

Há, porém, aquela outra imagem de outro passarinho que não quis adentrar às grades. Achegava-se, mas ficava voando, num convite a segui-lo. Este convite tornou-se a última estrofe do poema O PASSARINHO

“Sim, és um convite para o despertar.

Não te queres enclausurar.

Por isso, não te permites adentrar.

Assim, cabe a mim te imitar... e voar...”


É! A Primavera tem este condão de nos despertar para o novo, para a vida que se renova tal como o nascimento dos meus três inquilinos que aqui estiveram por um breve tempo.

Serviram, porém, de inspiração para novos rumos tomar.

É novamente Primavera!

Aproveitemos esta aura de magia que a todos envolve.

Pois, segundo Fernando Pessoa:

“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.












 Maria Lucia Godoy – Sabiá


A Majestade o Sabiá – Jair Rodrigues




 



sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O GRANDE CÍRCULO



Impossível prendê-lo, nem segurá-lo. E é devastador!

Parte das entranhas da Terra. E de lá surge com diversas denominações. São primos e mais primos que podem surgir, inesperadamente, e levar a todos e tudo de roldão.

Há, porém, aquele outro desconhecido, imaterial, invisível, que surge não se sabe de onde, do Universo infinito, tão devastador quanto os primeiros. A diferença é que surge, normalmente, mais lentamente, sem atropelos, sem a força aparente de um cataclismo.

É com ele que lidamos desde o abrir de olhos, encerrando-se seu ciclo sem saber-se a hora e nem as circunstâncias.

Sobre os primeiros, talvez, tenhamos uma chance maior de evitá-los.

Sobre o último, nenhuma chance.

Assim, tudo que é passível de movimentação, ruído, calor, frio, dá-nos a possibilidade de preparação e, quem sabe, salvar-se de seus estragos.

Aquilo que flui, porém, não se sabendo de onde vem e nem a quem atingirá: é profundamente imprevisível.

E, quando atinge o seu alvo, tudo termina.

Terminará?

Não há ruído que o anuncie. Não há ruído pelo qual se consiga percebê-lo. Mas há um ritmo indelével, vindo de não sei onde, que nos convida a desfrutá-lo, reconhecendo seu encantamento e bailando num ritmo que nos abriga num grande círculo: o círculo da vida.

É por demais voluntarioso e nos tira do sério quando algum de nós é retirado deste círculo, descompassando a nossa dança das horas.

Aqueles primeiros aparecem quando as condições do planeta os favorecem.

E aquele segundo, chamado Tempo, aparece a qualquer momento, sob qualquer circunstância, ao alvedrio de quem tudo rege, eliminando dançarinos que já não comungam do mesmo ritmo. Aquele ritmo inaudível por todos nós.

Como todos são excelentes dançarinos, mesmo aqueles que se arrastam pelas calçadas da vida, acredita-se: todos irão mudar apenas de círculo.

Com certeza, haverá um círculo mais abrangente e bem mais sereno, pois estarão todos sob o manto de uma eterna proteção e de uma placidez, também, eterna.

Portanto, nos preocupemos com os desastres naturais, porque em parte previsíveis.

Desfrutemos, porém, do tempo que dispomos para iluminarmos o olhar, aguçarmos os ouvidos, sonharmos com uma paz que nos envolva a todos num grande círculo amoroso. Tudo ao ritmo imperceptível do Criador.

Afinal, nosso tempo é diferente do tempo de um furacão.

O nosso se propaga por ondas mais sutis, impossível ouvi-las e prever o seu desfecho.

Ah! Ia esquecendo...

E assim fica difícil de gravá-las para, depois, usá-las como argumento contra outros componentes deste grande círculo, ou a nosso favor, no ato marcado para o Dia Final, aquele da Prestação de Contas.

Aliás, convenhamos, recurso desnecessário frente ÀQUELE que tudo sabe, tudo ouve, tudo percebe.



 Oração ao Tempo - Caetano Veloso, 1979