UM OLHAR...
UM OLHARTE...
Mergulhe o olhar no muro. Extraia dali o que vê e bem mais:
o que sente.
Depois da inundação, nada será como antes. Desaparecerão
todos. Restará apenas concreto e muita água. Água sem vida: nem dentro, nem no
entorno. Nem as lendas e histórias sobreviverão sem seu principal personagem: o
rio. Um rio sem mais identidade. Um rio que terá morrido. Sobrará apenas uma
imensa quantidade de água amorfa, sem saliências, declives, sombras. Suas
margens não servirão mais para descanso de conhecidos frequentadores, nem suas
entranhas tomadas por parceiros que nele transitam há muito tempo. Séculos de
convivência respeitosa, entre o rio e aqueles ditos “selvagens”, é o que existiu.
E agora? Para onde irão?
O muro está lindo. Fica nos fundos da Escola Estadual
Presidente Roosevelt, local que servia de dormitório para moradores de rua.
Ainda há restos de pertences deles por lá. Talvez, à noite, voltem a dormir por
ali. Afinal, o lugar está mais bonito. E esses já são civilizados. Não são
selvagens, mas precisam também daquele rio, ali retratado, pelo bem do
ecossistema do país. Aliás, necessitam, bem antes, de um lugar para dormir. E
esse ficou bem mais agradável. No silêncio da madrugada, talvez ouçam o canto
de algum pássaro que se perdeu muro adentro, levado pelo som da floresta, ali
evocada, que só ele consegue ouvir.
Toda arte é rica ao ponto de sensibilizar, fazer pensar,
desnudar, questionar. E essa, de rua, mais ainda. Ela esbarra direto no
cidadão, sem precisar esperar que ele a visite. Ela está ali, numa esquina
qualquer.
Pois é, um rio sempre impressiona. São suas águas que nos
atraem. Afinal, vivemos por um período em águas calmas, aconchegantes, um
verdadeiro fluido denso onde nos abrigamos até despertarmos para o mundo. Nós
próprios somos constituídos de aproximadamente setenta e cinco por cento de
água.
Por isso o muro nos impacta. E esse rio, de nome Xingu,
parece pedir socorro.
Já que não podemos tê-lo junto a nós, mergulhemos o olhar
nessa imagem virtual. Precisamos dela.
É claro que, com a revitalização do Cais Mauá, conseguiremos
desfrutar desse encanto, bem mais próximo, em bares ou no próprio píer.
Aqueles, porém, que usarem a avenida como trajeto diário,
têm o direito de, pelo menos virtualmente, sentirem-se acompanhados por tão
ilustre criatura.
Aliás, o Criador o que estará pensando das suas obras?
Do Xingu, do Guaíba...
E da Belo Monte?
Bem, essa não é obra sua. Deve ser do Outro.
E como na história bíblica, o Outro deve ser controlado,
combatido, para que não prospere.
O que o leitor acha?
Parabéns aos autores do Coletivo, os artistas/grafiteiros
Emir Sarmento, Cusco Rebel, Lidia Brancher, Seilá Pax e Pablo Etchepare.
Parabéns, igualmente, ao artista plástico Leandro Selister que,
de forma virtual, interveio na paisagem nos relembrando a beleza do lugar onde
moramos.
Parabéns à idealizadora, ao curador do projeto, aos patrocinadores e aos demais artistas que participam do Artemosfera, edição 2011.
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*Segue abaixo a manifestação dos artistas sobre a publicação acima:
"puxa sonia! que legal!!!
muuuuito obrigado de coração!
realmente nossa mensagem foi passada com amor.
tudo de bom pra ti!!!
keep strong!!!"
Cusco Rebel - Alexandre Cravo
"Oi Sonia
Te agradeço muito o email e o texto também. Esse trabalho foi
especial para mim.
Coloquei no meu Facebook, o link para o teu Blog.
Um grande abraço"
Leandro Selister