O BRILHO NOS OLHOS
Olhar, todos olham. Enxergar, alguns poucos conseguem. É
desses que se vai falar.
Nada de estranhamento com o outro. O outro sou eu. Se eu o
enxergo assim, será bem mais fácil entendê-lo e me fazer entender.
Quem tem essa capacidade, já ganhou a metade do caminho da
empreitada. Estamos a falar do ato de ensinar ou da troca de conhecimento, num
sentido mais amplo, atitude moderna e condizente com a figura do professor.
Principalmente, do professor dos dias atuais.
E a outra metade?
Pois essa é a metade mais difícil. Porém, embora difícil,
observa-se que muitos a possuem. Ela requer criatividade, jogo de cintura,
performances diferenciadas, uma mise-en-scène digna de um bom ator. E isso nem
sempre requer recursos tecnológicos, tão escassos, porque não dizer
inexistentes, em nossas escolas públicas estaduais. Precisa-se, sim, de muita
criatividade e de um componente que completa essa outra metade. Precisa-se
sentir amor no fazer, paixão no executar, entusiasmo no criar e alto desempenho
na entrega do produto. O produto, aqui referido, é o saber.
Hoje, mais do que nunca, um saber compartilhado. Diante de um grande desempenho, os aplausos
da plateia vêm ao natural. A emoção despertada revela o objetivo alcançado. O brilho nos olhos tem que ser comum a
todos os participantes do ensino-aprendizagem. A época do professor sentado
em uma mesa, colocada em um degrau acima do nível da sala, terminou.
Aqueles antigos professores não eram ruins. Pelo contrário,
tive excelentes mestres que relembro com carinho e admiração pelos conteúdos
que me ensinaram. Porém, os tempos são outros e a tecnologia à disposição
desses alunos, em casa, por exemplo, exigem do professor um desempenho
diferenciado, atualizado e o mais próximo possível desse aluno. Sua tarefa é levá-lo,
usando das ferramentas atuais, a refletir sobre o seu uso, visando à construção
de conceitos. Lembremos que tão-somente a máquina não é suficiente no
ensino-aprendizagem. Ainda temos, pelo menos por ora, a figura do professor
como elemento necessário, não dispensável. A máquina ainda somente serve: não
substitui.
Lembro com saudade de Arlindo Heinen, Miguel Lamela Nogueira
(Professores de Língua Portuguesa), Lázaro Moraes de Andrade (Professor de
Matemática), João Maria Day Peixoto (Professor de Geografia), Marlene Cândida
S. T. Segóvia (Professora de História), Arno Antonio Lise (Professor de
Ciências), Enéas Augusto de Aguiar Almeida (Professor de Língua Inglesa),
Lorena Soeiro (Professora de Língua Francesa), Yolanda Maria Rosa (Professora
de Educação Física). Esses são apenas alguns deles. A todos eles meu tardio
agradecimento.
Ainda, muito tempo após esses primeiros mestres, o Professor
Carlos Jorge Appel, Professor de Literatura, no Curso de Pós-Graduação, também
foi importante. Quando lia alguns textos literários, percebia-o, por vezes,
visivelmente emocionado.
Agora, como um professor/ator não posso deixar de mencionar
o Professor Édison de Oliveira, excelente professor de Gramática e Literatura,
no saudoso Curso Pré-Vestibular Mauá. Esse professor foi decisivo para mim. Um
modelo a ser seguido. Um modelo, inclusive, para os dias atuais. Criativo,
envolvente, carismático, cheio de humor e, antes de tudo, um profissional
competente na sua área de atuação.
Como se vê, a tarefa de um professor é árdua, mas é bela. Eu
diria que é sublime.
Pena que nossos governantes não coloquem essa profissão, a
de professor, no topo das carreiras bem remuneradas. Afinal são eles que
preparam, ao longo dos anos, alunos para as mais diversas profissões e para
ocupantes, inclusive, das carreiras de Estado. A Educação formal está nas mãos
desse profissional. Daí sua importância. A sua formação deveria ser um
compromisso do Estado Brasileiro. A partir daí, a ascensão na carreira
dar-se-ia pelo desempenho constatado por avaliadores comprometidos com as
questões educacionais. A fiscalização impor-se-ia aos seus membros como a
outros de qualquer carreira. Se os professores tivessem esse respaldo, essa
distinção no tratamento, teríamos, com certeza, por extensão, condições de
trabalho adequadas a esse nobre mister.
Utopia? Pode ser que seja.
Segundo Eduardo Galeano, conhecido escritor e jornalista
uruguaio, ela serve exatamente para que nós não deixemos de caminhar. Eu
acrescentaria que ela existe para que não deixemos de caminhar em busca da
excelência do ser e do fazer.
E o brilho nos olhos?
Por enquanto é o que se tem. Que aqueles que o possuem,
persistam na profissão.
O olhar do aluno iluminando-se, quando o professor fala, é,
por ora, a melhor recompensa – e única.
Minha homenagem a eles
nesse Dia dos Professores.
Assistam, abaixo, dois vídeos que apresentam professores de
Escolas Públicas Estaduais em seu trabalho cotidiano. Percebe-se neles,
claramente, o sentido da expressão “fazer com amor”.
1-
Andreo Luis Bolwerk – Professor de Geografia
2- Dilson Correa – Professor de Artes