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segunda-feira, 16 de julho de 2018

“ESTE” TEM HISTÓRIA



Quem diria!

Ele é que, com seu canto, nos anuncia o início de um novo dia, depois de uma noite de trevas. Ele nos desperta anunciando que a escuridão acabou, pois a luz fez-se novamente. Ele é, para algumas culturas, o símbolo da ressurreição solar e espiritual.

Diante dessa constatação, só nos resta saudá-lo, após o placar que o reconheceu como suficientemente capaz de vencer o adversário e, portanto, estar à altura do título.

Já tinha assim ocorrido em 1998, quando a mascote Footix, já referida na crônica NO MUNDO DOS ANIMAIS, publicada em 5 de julho de 2018, venceu o pobre Canarinho por 3 a 0 em pleno Stade de France, na cidade de Saint-Denis. Lá, o Galo conquistou a sua 1ª Copa do Mundo, tornando-se campeão pela primeira vez.

Na realidade, a história desse Galo é bastante antiga e remonta aos tempos em que a França fazia parte da Gália e os gauleses o povo então dominante. Na época, os romanos davam as cartas. Tudo aconteceu por conta da semelhança do termo latino gallus que significa galo, como registra o Dicionário Escolar Latino-Português do Prof. Ernesto Faria, 4ª edição, 1967, pág. 422 que, também, refere o item 2, descrito abaixo:
1- Gallus= galo

Gallus in sterquilinio suo plurimum potest= O galo é soberano no seu galinheiro (Sên.Apoc.405)

2- Gallus= um gaulês, habitante da Gália. Para os franceses, Gaulois.

Agora, o tal “galo” foi, durante a Revolução Francesa, um símbolo de vigilância e valentia.

Já para os chineses o Galo está associado ao conceito de Yang, isto é, aquele que traz calor, luz e vida ao Universo.

Toda esta simbologia está atrelada a uma lenda chinesa que explica como a Terra, recém-criada, vivia sob seis sóis. Isto tornava inviável o cultivo dos campos semeados, pois eram totalmente queimados.

Houve a tentativa de destruição desses seis sóis. Mas foi tudo em vão. Até que um arqueiro, vendo estes sóis refletidos em um lago, alvejou-os de forma certeira, fazendo-os desaparecerem. Um deles, porém, escondeu-se atrás de uma montanha.

No dia seguinte, a escuridão era total. Os camponeses desesperados tentaram, então, assustá-lo com um rugido de tigre, para que ele saísse do esconderijo. Não funcionou, porém.

Tentaram, após, o mugido de uma vaca. Nada conseguiram. O Sol recusava-se a aparecer. Estava muito assustado.

Daí, como última tentativa, um galo foi trazido por um camponês.

E o galo cantou. E o Sol, maravilhado, saiu detrás da montanha. E brilhou para sempre.

O galo, por sua vez, recebeu como prêmio uma coroa vermelha.

Desde então, este nosso Sol maravilhoso é acordado pelo canto do galo.

E as qualidades desse galo estendem-se por várias culturas, em especial, a chinesa e a japonesa.

Agora, não nos esqueçamos da tradição cristã da Missa do Galo. Este cantar, após o nascimento de Jesus, anuncia o nascimento de uma nova luz para o mundo e de uma esperança renovada para a Humanidade.

Poder-se-ia ficar ainda, por muito tempo, refletindo sobre a simbologia do que representa o galo em algumas passagens bíblicas. Não é este, porém, o objeto desta crônica.

Hoje, o galo, animal, com toda a sua retrospectiva histórica superou aqueles 3 leopardos ferozes que foram anestesiados pelo canto pleno de tons maiores e menores. Numa partitura que teve pausas e acelerações. Uma pauta recheada de legatos e staccatos.

Tudo para que, ao final, o Hino soasse como a vitória final da competência de jogadores, imigrantes ou filhos de imigrantes em sua maioria, sobre o invejável esforço e garra da equipe adversária. Uma competidora que passou para a história do futebol como uma equipe aguerrida, que demonstrou ser capaz de, quem sabe, erguer a Taça tão cobiçada na próxima Copa do Mundo. Aliás, Luka Modric foi eleito o melhor jogador desta Copa de 2018.

À bicampeã, os aplausos merecidos.

Ah! Este GALO não foi zebra.

Ele tem “História”!










sexta-feira, 17 de junho de 2016

MAIOR DO QUE “AQUILO”: SÓ O GLU-GLU-GLU!











Há uma quadra de Fernando Pessoa, entre tantas quadras ao gosto popular por ele escritas, que diz:
 

Pois, a propósito do último verso desta estrofe, espera-se que o mesmo não se confirme.
Aliás, para quem leu a crônica BICAR? FOI IMPOSSÍVEL!, publicada em 17 de julho de 2014, a compreensão do que segue ficará mais facilitada.

Lá atrás, mas não tão atrás assim, um salvador apareceu. Dunga era seu nome. Lembrado como um dos Sete Anões, reconhecido pelas crianças de outrora, muito brincalhão, que surgia para resolver todos os problemas que se apresentavam à época. E eram tantos! Eram muitos.

Acredita-se, hoje, que foi um personagem que nada teve de brincalhão e que também nada resolveu. Até porque uma andorinha sozinha não faz verão. Cada vez mais qualquer empreendimento vai precisar do espírito coletivo do grupo para alcançar os requisitos necessários à conquista do sucesso. E, além disso, que cada um dê o melhor de si para o conjunto.

O gosto da laranja mecânica, à época dos 3x0, não foi possível experimentar. Nem uma bicadinha foi permitida. Alguma coisa que amenizasse a derrota avassaladora, anteriormente sofrida. Nada aconteceu. As tão decantadas aves canoras não voaram o suficiente para adentrar àquele estonteante carrossel. Deram-se por satisfeitas em, pelo menos, não atingir um escore tão vergonhoso quanto o anterior.

Pois quem chegou para resolver o problema, também não resolveu.

Depois de tanto tropeço, chegou-se, finalmente, ao tempo das onomatopeias.

De gorjeios tão melodiosos, de piu-pius tão canoros, encontram-se tais aves afugentadas, presentemente, pelos glu-glu-glus ameaçadores que selaram mais uma derrota.

Assim, ficou claro que maior do que o ocorrido em 2014: só o glu-glu-glu.

E, novamente, outro gaúcho, não da fronteira, mas da serra, colocará em ordem as coisas lá pela Seleção Brasileira.

Carisma? Ele tem. Competência? Também. Além do espírito agregador que tem demonstrado na sua trajetória de vida.

Interessante observar que o nome do time formado por ele e amigos, para curtirem as folgas em Caxias, chama-se Carrossel. Aquele legendário grupo de jogadores da Holanda que formavam o conhecido Carrossel Holandês, vencedores da Copa de 1974.

Esperamos que, agora, a Seleção redescubra o seu potencial. Que seja possível reverter o vexame da última Copa do Mundo e que, principalmente, Tite consiga nos fazer esquecer daquele ensurdecedor glu-glu-glu com que fomos mandados embora da Copa América.

O canário trancou o bico. Coisa que ninguém imaginava acontecer. Aconteceu, porém.

Voltaram para dentro da gaiola. Que horror!

Agora, sabe-se que não é só tempo de mesóclises. As onomatopeias estão em voga, também.

Xô, glu-glu-glu!

Pobres canários!

Aliás, o falar estará se aprimorando nos últimos tempos?

Repeliremos, com veemência, qualquer insinuação desse tipo. Os canários voltarão a voar e cantar.

Outra novidade é este futuro do presente, usado por uma conhecida autoridade da nação.

Acontece, porém, que um futuro do presente não é capaz de apagar um passado...

Aguardemos as esperadas mudanças!

Xi! Olha aí um Presente do Subjuntivo, tempo que denota a existência ou não existência do fato como uma coisa incerta, duvidosa, eventual ou, mesmo, irreal.

Será que ficaremos sem as mudanças tão necessárias?


 
Branca de Neve e os Sete Anões





segunda-feira, 30 de maio de 2016

CUIDADO! SE CONTINUAR, LEVÁ-LO-ÃO EMBORA!



Foram três meses de puro desrespeito com quem tem direito ao descanso durante a noite. Beatriz foi testemunha auditiva das investidas a qualquer hora do dia ou da noite.

Diferentemente daquele seu irmão, o EPA, que teve sua triste história contada em 20/08/14, na crônica do sugestivo título UMA MANHÃ PARA ESQUECER, este nem nome tem e não vive num rincão distante.

Este, na verdade, está mais para aquele transgressor de Copacabana que sofreu um processo e teve que cumprir uma decisão prolatada pelo 4º Juizado Especial Criminal do Rio de Janeiro que determinou sua prisão durante o horário entre às 22 horas e às 6 horas da manhã.

Pelo que Beatriz tem ouvido, estão tentando mandá-lo embora, para ir cantar noutra freguesia. Já faz alguns dias que não dá o ar da graça. Até então, era, dia e noite, aquela cantoria a plenos pulmões. Não só quando anoitecia, mas durante a noite. E, claro, pela manhã afora. Não queria nem saber. Quando dava na telha, abria o bico. Até elas, moradoras do mesmo chão, já não aguentam mais. Embora sempre em maioria, não têm voz ativa para detê-lo. Elas, que também cantam, assumem com este proceder a autoria de um ato sublime: a possibilidade de gerarem um novo ser. E este anúncio, geralmente, acontece em pleno dia.

Beatriz, sem querer ser feminista, porque politicamente incorreto, acredita que este galináceo já se excedeu. É um macho muito metido, pensa que é grande coisa. Aliás, Beatriz soube por elas, que residem no terreiro, que há outros machos que poderiam tomar este lugar com folga de popularidade. Porque um cargo de mando, assim, precisa de competência e de capacidade de agregar. Afinal, ser competente é vital. Convenhamos, há espaço para todos, desde que cisquem cada um no seu quadrado.

Na verdade, elas não aguentam mais aquela história de “daqui não saio, daqui ninguém me tira”. E continuam fazendo comparações com outros que circulam pelo mesmo terreiro. Há outro, muito conhecido, que não perturba à noite. Vive às claras. Não faz conchavos.

Pois, vejam vocês, Beatriz e os demais vizinhos não sabiam disto. Só quem está mesmo no galinheiro é que pode chegar a estas constatações. Somente vivendo ali o dia a dia, para saber desses detalhes.

Parece que a incompetência é tamanha do tal ser que elas e os outros poucos, que existem por ali, levá-lo-ão para fora do cercado, de qualquer maneira. Se não for à custa de muita conversa e de aconselhamento, será por força de alguma medida do “dono” do cercado, ou de quem o represente: em caso de impedimento. 

O fato é que os vizinhos das redondezas do cercado poderão, acredita-se, em curto prazo, voltar a dormir em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo.

Talvez, uma ordem judicial apresente-se como solução. De qualquer maneira, aquele “galo” de Copacabana e este de um bairro bem próximo ao centro da Capital, terão seus comportamentos corrigidos ou, pelo menos, disciplinados para o bem de todos.



Viva o galo EPA! Aquele do nosso rincão.

Quanto aos outros, cuidem-se dos maus procederes. A enxurrada poderá levá-los de roldão. Ou ela, a enxurrada, LEVÁ-LOS-Á de roldão, uma mesóclise tão ao gosto do momento.



Agora, galo bom é aquele que se junta a outros tantos galos e todos juntos vão tecendo o alvorecer de uma nova época, de uma nova manhã livre de armação. Uma manhã que se eleve por si numa luz balão, numa luz que a todos ilumine. Uma manhã tecida ao canto dos galos e poeticamente captada pelo nosso grande poeta João Cabral de Melo Neto. (trecho extraído e adaptado do poema – Tecendo a Manhã)








TECENDO A MANHÃ – poema de João Cabral de Melo Neto













quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O PLANO











Lá se vão os pezinhos sobre o cascalho. Logo, estarão ultrapassando o portão do pátio do avô. Soltaram o guri e lá se foi ele. O caminho já era conhecido. Lugar bom aquele! Lá era sempre recebido com abraços e guloseimas. Tomara que, no próximo domingo, pudesse voltar.

O pote com água adocicada está ali para atraí-lo. E ele vai se chegando, aos poucos. Brevemente, fará este trajeto todos os dias. Espera sempre encontrar aquele presente.

Pois, um novo professor chegou. E, desta vez, Marcelinho conseguiu entender a explicação sobre as orações coordenadas e subordinadas, matéria que jamais tinha aprendido. Que professor legal! Tomara que ele permaneça com a turma do Marcelinho por muito tempo.

Com o reforço que o time recebeu, seus integrantes acreditam que irão obter melhores resultados nos certames vindouros.

As muitas horas em que Marina debruçou-se sobre aqueles tantos livros e o seu visível esforço para vencer o exame que está por vir, dá-lhe a esperança de conquistar uma boa classificação naquele concurso tão concorrido.

Aquela palavra do médico, que José aguardava há tanto tempo, foi motivo de grande alegria. Esperara por longos meses, mas valera a pena.

A embalagem, pendurada no galho mais baixo da árvore, sinaliza que, como das vezes anteriores, hoje também terá um reforço ou, dependendo do dia, apenas essa sobra para alimentar-se. Mantém a esperança diária de ali encontrar o que os olhos, lá da esquina, antecipam e que irá acalmar aquela incômoda e constante carência. Poeticamente, a imagem comove. A realidade, mais ainda. O caminho para a solução desta necessidade não é, porém, o de apenas recolher o que se encontra à mão. O caminho é bem outro.

Em todas as situações descritas subjaz aquele desejo de que se cumpram nossas expectativas.

Claro que um olhar de esperança sobre o que nos cerca é alimentar a possibilidade de que os sonhos são possíveis de serem concretizados.

O plano é este. Mas não apenas este.

Caberá a quem detiver em mãos as rédeas do poder constituído fazer o dever de casa com competência e honradez. Criar uma política de inserção social, através do trabalho, de indivíduos plenamente capazes para o exercício de atividades produtivas as mais diversas: esta a meta principal.

Todo o sonho carece de ação para que se torne realidade. A força do trabalho é que dará esperança de melhores dias. Benesses não nos levam a lugar algum. Pelo contrário!

Estudo e trabalho são o binômio capaz de inserir os indivíduos num patamar digno de uma sociedade que se quer evoluída e democrática.

Como dizem os versos da poesia O SONHO E A ESPERANÇA, de Luiz Coronel, transcrita abaixo na íntegra, entre o sonho e a esperança existem sutis fronteiras. A esperança traz encomendas, enquanto o sonho indaga respostas. Então, a esperança monta o palco do espetáculo, afia as lanças, ilumina os edifícios e desperta os homens com seus clarins solidários.

A citação que abre o referido poema, na publicação original, é uma homenagem de Luiz Coronel ao poeta modernista norte-americano Wallace Stevens que escreveu:

“O sonho é a mente reagindo à pressão da realidade”.

O plano é reagir ao status quo, movido por sonhos carregados de esperança por dias melhores.

Perseverar nas melhores ideias frente às inúmeras existentes, mantendo-se aberto ao diálogo e ao caráter ecumênico das relações, também é desejável.

Como escreveu Mário Quintana em seu CADERNO H, recheado de epigramas, sobre as IDEIAS quintanou:

“Não sou desses que um dia pensam uma coisa e no outro dia pensam outra coisa muito diferente. Eu penso as duas coisas ao mesmo tempo. Duas ou mais. Não tenho culpa de ser ecumênico”.

Agora, segundo Quintana, o provérbio, que diz que a esperança é a última que morre, não está correto. Escreveu, na página 146 do seu CADERNO H, o seguinte:

“Não, o provérbio não está bem certo. O raio é que enquanto há esperança, há vida. Jamais foi encontrado no bolso de um suicida um bilhete de loteria que estivesse para correr no dia seguinte...” (A Esperança)

Portanto, o plano é manter a vida porque, em ela havendo, haverá esperança. Sem ela não restará esperança.

O plano é viver para assistir às mudanças sonhadas tornarem-se concretas, através de muito estudo, trabalho e de uma consciência cidadã.

Aliás, Martinho da Vila, no samba O PEQUENO BURGUÊS, seu primeiro sucesso nacional, descreve muito bem o que é necessário para se chegar à condição de um ser considerado privilegiado. Ao final do samba, afirma que quem quiser ser como ele, o protagonista da letra, terá que penar um bocado.

Com certeza, sacrifícios serão necessários. Dizem que aqui não se chega para passear. Ou melhor, também para passear quando as condições financeiras já permitirem.

É! O plano é desafiador!

Compensador, porém, para quem o enfrenta com as armas corretas, a saber: educação e trabalho.






O Pequeno Burguês - Martinho da Vila





terça-feira, 3 de junho de 2014

DRIBLANDO...







Tenho para mim que ele buscou melhorar suas condições de vida. Nada mais justo. E suas dimensões pequenas foram um facilitador. Foi criativo o seu agir e não teve preguiça. Acabou num SPA, conforme disse o biólogo Ricardo Freitas do Instituto Jacaré.

O problema é que depois que chegou ao SPA, mais precisamente ao Lago da Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio, a vida no lago não foi mais a mesma. Eram aves e peixes pulando pra todos os lados, tentando escapar da sanha do Robinho, um jacaré-de-papo-amarelo, macho, medindo 1 m e 26 cm e pesando 4 kg e 260 gramas. 

O pânico instalou-se entre aqueles que costumavam passear de pedalinho pelo tranquilo lago.

E Robinho lá dentro, sem concorrente, solito no más, nadando em água quentinha e tirando, vez por outra, uma soneca em pequenas grutas existentes.

Que maravilha!

Diga-se de passagem, não se pode culpá-lo por essa fuga do Parque Chico Mendes. Segundo relatos, as coisas não andam mais como antigamente por lá. A fauna, não mais diversificada como no passado, o isolamento do próprio parque dificultando o fluxo gênico, o assoreamento e poluição da Lagoinha, isso tudo explicaria as escapadas dos jacarés para fora dos limites do parque.

Então, foi em busca de mais alimento, liberdade e emoção. Dessa maneira, adentrou pelas galerias de águas pluviais da região, indo parar no Lago da Quinta da Boa Vista. A felicidade, porém, durou pouco. Durante 72 horas fez o que pôde, driblou com competência todos os seus marcadores. Por isso, foi apelidado de Robinho, nosso conhecido jogador. Finalmente, refugiado dentro de uma gruta, foi capturado. Segundo o biólogo, a captura foi no laço, manualmente. Nada sofreu. Foi devolvido ao Parque Chico Mendes novamente.

Os frequentadores do Lago deram graças a Deus, pois estiveram, por um tempo, mais a perigo que minhoca em galinheiro.

De qualquer sorte, provou ele a sua capacidade de driblar não só aos seus captores, confirmando a “tese” de que é possível migrar, quando se quer verdadeiramente, para outras paragens, para qualquer outro mundo, considerando-se aqui uma nova visão no mundo das ideias, ou no das relações societárias, ou no do seu “eu” consigo próprio. Tudo em prol de uma melhoria nas condições de vida pessoal e em sociedade.

Basta que saibamos encontrar as alternativas melhores e corretas (não os arranjos chicaneiros), driblando com competência as dificuldades que se impõem a quem resolve enfrentá-las.

Segundo Charles Watson, professor na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro:

“A preguiça bloqueia a criatividade”.

Acrescenta, mais adiante:

“Todo mundo tem ideias. Quando você tem uma ideia que acha muito especial, pode contar com o fato de que outras 250 mil pessoas tiveram essa ideia. A diferença está em quem decide concretizá-la e isso envolve intenso trabalho”.

(Fonte: ZH de 31/05/14 – p.23)

Exemplo incontestável traz a reportagem, também de Zero Hora, de 1°/06/14, p.46, que leva o título de A Formatura do Ano, conforme link abaixo.

Nela fica demonstrado que a falta de dinheiro e de apoio da família para estudar não foram obstáculos suficientes que impedissem a jovem vietnamita Tay Thi, de 20 anos, de ser a primeira pessoa de sua comunidade a ter formação universitária. Vale a pena a leitura dessa reportagem.

Então, valendo-me do já famoso “Robinho”, cujo drible foi exitoso, pelo menos por um tempo, dispenso, de propósito, o aspecto do acaso. Não foi por acaso que caiu ele nas galerias de águas pluviais. Saiu, isso sim, em busca de mais alimento. Foi à luta.

Pois é! Quando indago de um jovem sentado no meio-fio da Avenida Getúlio Vargas, por que ele não arranja um trabalho, ele confessa, pausadamente, que não quer trabalhar. Prefere ficar sentado onde está, recebendo moedas, que não lhe darão futuro algum. Moedas dadas para acalmar a consciência de quem se condói com a cena.

Errado ele, pobre mendigo. Errados nós, que não cobramos do Estado soluções concretas, viáveis e aplicáveis a todos os que perambulam pelas esquinas, se avolumam embaixo de marquises, viadutos e pontes ou, displicentemente, sentam-se em frente a estabelecimentos bancários e restaurantes, aguardando que do céu caiam benesses que só com o trabalho é possível tê-las. Consegui-las de outro jeito, sabe-se, ou é mendicância, e aí deve o Estado direcionar políticas para resgatar esses indivíduos da rua, capacitando-os para o trabalho, ou é crime e merece uma legislação repressiva e extensiva a todos os que incorrerem nessa prática. Sempre atenta, porém, à ressocialização desse indivíduo, que é o objetivo último.

Portanto, drible bom mesmo é aquele dado por quem, frente a dificuldades de toda a ordem, busca o melhor caminho para atingir seus objetivos. Sempre, é claro, dentro da ética, do respeito e do bom senso. Aquilo que, antigamente, chamava-se de “bom caráter”.



Por ora, a partir de 12 de junho, esperam-se muitos dribles dados pelos nossos jogadores, para que consiga a Seleção Brasileira atingir o seu objetivo maior que é a conquista do Hexacampeonato Mundial de Futebol.

Torçamos para que haja muitos dribles e que, pelo menos alguns desses dribles, sejam contra o goleiro, atingindo a rede adversária com sucesso. Qualquer coisa, a gente convoca o jacaré Robinho, que é bom de drible.

A bola vai rolar...

Depois da festa?

Bem, vencedores ou não, está mais do que na hora de mudarmos o paradigma do famoso “jeitinho brasileiro”. Isso não é driblar dificuldades. Isso só nos atrasa e nos deprecia frente aos outros e a nós mesmos.

Mais foco, determinação e disciplina, palavras-chave de conhecido empresário brasileiro, com o qual concordo plenamente, resultarão em objetivos alcançados. Claro, tudo com muito trabalho.





Desejando que a Seleção Brasileira faça muitos gols, lembremos, agora, da música que consagrou o espetacular gol marcado por Fio Maravilha, jogador do Flamengo, em partida contra o Benfica em janeiro de 1972, assistida pelo flamenguista Jorge Ben Jor e que resultou na música Fio Maravilha, gravada no mesmo ano, que entrou para a História da Música Popular Brasileira. Seguem, abaixo, dois vídeos que reproduzem a canção Fio Maravilha. A primeira apresentação traz apenas o áudio da música, ainda com sua letra original. O segundo vídeo, ao vivo, Jorge Ben Jor, por razões de direito autoral, em ação movida pelo jogador João Batista Sales, o Fio Maravilha, contra ele, modifica a letra trocando as palavras Fio para Filho e Galera para Magnética. Isso deixou um tanto quanto estranha a letra, não perdendo, porém, a batida que consagrou a música.










Fio Maravilha - Jorge Ben Jor (letra original)




Filho Maravilha - Jorge Ben Jor












sábado, 23 de novembro de 2013

GRADES INVISÍVEIS

 
 
Você é prisioneiro e nem suspeita. E o mais aterrador é exatamente isso: não se dar por conta.
Você está diuturnamente ligado. Até quando dorme, o seu entorno mantém-se conectado. Há quem diga que seus dedos, em pleno sono, são, por vezes, vistos a deslizar sobre o lençol na busca incessante da conexão. Há quem já esteja próximo do ser “autômato”, aquele descrito por George Orwell.
E o pior é que essa contínua conexão, que começa precocemente, prima pela pura diversão, pelo simples entretenimento.
Como esse ser irá adquirir cultura, aquele ingrediente que o tornará diferenciado e não apenas uma mera reprodução do coletivo de que faz parte em número, porém, não necessariamente em pensamento, em virtudes, em sensibilidade, em imaginação?
Como se pode adquirir cultura sem ler uma obra literária?
Como aguçar a sensibilidade para a música sem apreciá-la? Será que é suficiente, para tanto, ouvi-la como fundo de uma conversa pelo facebook, que, por sua vez, usa uma linguagem quase criptográfica?
Reflexão é coisa que se adquire após um tempo suficiente de amadurecimento obtido através de leituras e não em bate-papos pelo face.
Qual o futuro de um jovem que permanece sete horas em frente a uma tela, apenas divertindo-se, jogando, digitando letras desconexas que expressam sentimentos de alegria, prazer, raiva, descontentamento?
Há que ter presente a indiscutível importância da tecnologia da informação como ferramenta auxiliar do conhecimento. Nunca, porém, como base para uma sólida formação. Isso, claro, se estivermos interessados em capacitar os jovens a assumirem o papel que lhes cabe, qual seja o de transformar, para melhor, as sociedades as quais pertencem.
Agora, se esse não for o propósito, acredito que essa tecnologia poderá estar a serviço da criação de hordas de seres que absolutamente não pensariam, pois o pensar, ato que distingue o ser humano dos demais, estaria totalmente refém do inconsciente. Essa é a chamada sociedade Ingsoc, vislumbrada por Orwell em seu livro 1984, onde sistemas sofisticados, aparentemente não totalitários, poderão conduzir-nos a perdas de conquistas humanas que levaram séculos para se constituírem. Aliás, um livro escrito em 1948 e profundamente atual.
Qual de nós não pensa na linguagem da Internet ao se deparar com o vocabulário da Novilíngua?
Quem não se enxerga no duplipensar, quando vê mudanças repentinas de posições ideologicamente contrárias e que a nós passam a tornarem-se legítimas, tão legítimas que podemos adotá-las, conforme as conveniências do momento, de uma forma ou de outra?
Quem não se assusta ao ver os “Proles” de 1984 serem, hoje, uma expressiva fatia da humanidade, cujas opiniões ou a ausência delas é absolutamente indiferente para o “establishment”?
Há sempre o risco de esses usuários tornarem-se tão despreparados, tão vulneráveis à realidade que exige conhecimento, competência, espírito crítico nas escolhas, que ao abrir-se a porta dessa grade que os aprisiona, não consigam por ela escapar. Permanecendo, portanto, presos ao comodismo, a uma parca sobrevivência, pois não terão possibilidades de um pleno desenvolvimento da sua individualidade. Essa perder-se-á nos estereótipos do grupo, da turma, do coletivo massificado.
 
Agora, para descontrair, leia O PASSARINHO ENGAIOLADO de Rubem Alves que demonstra bem essa possibilidade de desistência da liberdade até para um animalzinho que só sabe viver voando, livre, capaz de, pelo instinto, safar-se dos perigos.
Por outro lado, Martinho da Vila traz, para compensar, uma passarinha bem mais corajosa que sai em busca de companheiro e que não deixaria, com certeza, as pimentinhas do conto de Rubem Alves intactas. Acompanhe a letra do samba GAIOLAS ABERTAS na voz de um de seus autores. O outro é João Donato. Bom divertimento!
Ah! Não se esqueça de conviver mais, conversar mais, ouvir mais, enxergar mais. Tudo ao vivo e em cores.
E, por favor, desligue o tablet na hora do almoço!









Martinho da Vila – Gaiolas Abertas





quinta-feira, 20 de setembro de 2012




ENCILHANDO...

Gira, para e retorna o giro, freneticamente. Para um lado, para o outro, para frente, para trás, rodopiando em direção ao golo. Por vezes, até cai. Mas, num piscar de olhos, já está de volta, na posição que o mantém dono da situação. É quase inacreditável vê-los, todos, em seus corcéis mecânicos, a buscar o objetivo último: a marcação de um golo. São muito bons no que fazem. São os times de cadeirantes que jogam basquete e o futebol 7. Não interessam os motivos pelos quais se tornaram cadeirantes. O que a nós interessa apreciar são as suas habilidades como atletas de nível olímpico. São mais do que cadeirantes. São ginetes competentes no uso de suas cadeiras de rodas. Aventuram-se, encilhados, em giros e mais giros, buscando, num campo restrito, o objetivo maior: um golo marcado para a sua equipe. A extensão de seus corpos lhes ajuda a vencer desafios. Ela é, na verdade, uma amiga sempre pronta a lhes carregar. Tanto faz que seja nesses pequenos campos, onde buscam a excelência no desempenho, quanto pela vida afora. Uma caminhada em campo descoberto e cheio de desafios.
 
A apresentação de um cavalo de ferro, mecânico, na Cerimônia de Encerramento dos Jogos Paraolímpicos, bem como a profusão de alegorias em metal e ferro, remete-nos, provavelmente, salvo outras interpretações, a uma caracterização da dureza, da obstinação e dos desafios que tais atletas devem enfrentar e vencer a cada dia em suas vidas. Com certeza, eles foram a expressão da capacidade e do enfrentamento que os movem.

Saudemos, aqui, a todos os atletas paraolímpicos, nas mais diversas modalidades apresentadas. Em especial, aos nossos medalhistas. Foi um belo espetáculo que apresentaram. Deixaram um exemplo a ser seguido e a marca da presença de um Brasil mais competitivo.  

Agora, aqui pelos pagos, a cada 20 de setembro, encilhamos nossas tradições, para que não se percam por aí. Muito mais que nossas cavalgadas, muito mais que a figura do cavalo e seu ginete, estão o amor pelo nosso chão, pelas nossas raízes, pela nossa cultura, pelo nosso povo.

Continuemos nossa jornada encilhando sonhos, num trote largo ou num trotezito, quando assim for conveniente.  

Eu, por ora, continuo encilhando o mate. E isso já exige certa competência.







Paraolimpíadas 2012 – Delegação do Brasil faz festa



Detalhando – Encilha do Cavalo