Quem diria! Os cabelos e a roupa completamente sujos de ovos e farinha. Isso é uma comemoração de aniversário em uma escola da Capital. Um ritual de passagem, quase tribal. Coitado do aniversariante!
Vestia-se aquilo que se tinha de melhor na data do aniversário.
Esse detalhe não tem a menor importância hoje. Isso foi assim em outro século.
Ser um vencedor, não apenas sentir-se um, também é coisa do
passado.
Hoje, basta sentar-se em frente a uma tela. Com os olhos
brilhando de ansiedade, jogar-se na cadeira e comandar com as mãos,
freneticamente, o avançar de posições, o ultrapassar o concorrente, evitando a
derrapagem, para, finalmente, atingir, em primeiro lugar, o marco de chegada.
Quem sabe, em segundo. Ou, talvez, em terceiro, mesmo. É a falácia de que eu
venci, portanto sou um vencedor.
O máximo que isso, talvez, propicie seja uma maior
habilidade para dirigir, o que, em última análise, contribui para a desova dos
milhares de automóveis que superlotam o pátio das montadoras. E apenas isso.
Quantos adolescentes, hoje, têm o hábito da leitura? E será
que compreendem o que leem?
Quantos são capazes de elaborar um texto com introdução,
desenvolvimento, argumentação e conclusão, atendo-se ao tema proposto?
E os bons programas de televisão, e eles existem, serão
assistidos por eles?
E os filmes? Serão apenas os violentos aqueles que os
motivam?
Cinema/Arte? Isso também é coisa do século passado.
E seus ouvidos conseguirão ainda captar algum som abaixo de
100 decibéis? Se conseguirem, avisa-se que, as coisas seguindo esse rumo, daqui
a alguns anos não mais terão essa capacidade.
É claro que nada será como antes.
Mas precisava ser tão ruim?
Será que o abraço virtual, mandado via facebook, substitui
aquele outro verdadeiro, real, que aconchega o aniversariante, parabenizando-o?
Será que o abraço tornou-se virtual? Será que tudo é virtual hoje?
Claro que a tecnologia veio para auxiliar, para
disponibilizar um mundo de possibilidades nunca dantes imaginado.
Aninha, por exemplo, esteve assistindo ao Campeonato Master
de Atletismo e lá encontrou uma senhora mexicana, de 67 anos, muito simpática,
de nome Maria de Jesus Lopez. Iniciaram, a propósito da cuia de chimarrão que
Ana portava, uma conversa bastante agradável que, com certeza, terá desdobramentos,
pois trocaram os e.mails pessoais. Isso é maravilhoso! Despediram-se, ao final
do encontro, num contato bem conhecido por ambas: o contato humano do abraço.
Ambas são de outra geração, é claro.
Mas estamos em 2013. E o abraço virtual, ao que parece, tem
substituído o único e verdadeiro: aquele que aproxima corações, literalmente
falando.
Como se explica um pai ou uma mãe mandarem, via facebook,
morando na mesma cidade, um abraço virtual a um filho aniversariante?
São os tempos atuais a transformar o nosso dia a dia em algo
extremamente solitário, embora haja multidões conectadas entre si.
O ser humano, porém, é bem mais do que isso: uma massa de
manobra, virtual, disponível.
Ao que se saiba não há ainda uma geração virtual em que bata
um coração. Tampouco artérias e veias em que circule o sangue, herança de
nossos antepassados, herança Dele.
A letra da música COMO
UMA ONDA expressa a realidade com correção. Nada é exatamente igual no
instante seguinte ao de sua origem. No que concerne ao ser humano, embora
modificado pelo tempo, mantém ele as características da espécie humana que são
ainda a dependência no início e fim da existência, as necessidades de amor,
carinho, proteção, bons exemplos que vão desaguar num indivíduo ético, idôneo e
responsável. O coletivo dos dias atuais deveria superar as hordas dos
primórdios.
Em que direção estamos indo?
Aninha ainda tem esperança. Aquela tão bem expressa na
poesia de Mario Quintana, que segue.
Ou naquela outra esperança, descrita em poesia por Carlos
Drummond de Andrade, chamada CORTAR O
TEMPO, abaixo transcrita.