No poema AUSÊNCIA, que segue, Carlos Drummond de Andrade constata, finalmente, que “uma ausência assimilada” não é mais de nós tirada, “ninguém mais a rouba”, como ele diz.
Se assim é, ela torna-se presença constante. E não é o que
acontece quando citamos frases, lembramo-nos de situações ou repetimos gestos
de pessoas queridas que já se foram? E, às vezes, nem tão queridas assim?
Tudo o que passou e não deixou marcas, boas ou ruins, não
fazem parte desse universo de recordações que nos acompanha por toda a vida.
De certa maneira, vamos sendo construídos, ao longo da
existência, com a nossa presença viva, a dos que nos cercam e a daqueles que já se foram. Esses últimos constituindo uma
presença constante pela ausência assimilada, que fica registrada em nós.
Portanto, Drummond dá-nos certo alívio porque conseguimos,
assimilando a ausência, nos sentirmos permanentemente junto ao ausente. Essa
sensação nos traz um convívio constante. Se tal recordação for
negativa, teremos que trabalhá-la para que a transformemos em algo passível de
perdão. Se, ao contrário, for positiva, resta desfrutar das gratas lembranças.
Assim, um dia apenas é pouco para lembrar-se dos que já se
foram. Somente um dia para pranteá-los, como por aqui se faz? Ou dois, como no
México, para comemorar com guloseimas, festas, máscaras, quase um carnaval de
tanta alegria?
Na verdade, essa lembrança é constante. Como também o é a
ideia da morte.
Mario Quintana, no poema PROJETO DE PREFÁCIO, atribui ao
poeta uma missão. Vejam, abaixo, qual seria ela.
Mais adiante, Mario Quintana escreve MINHA MORTE NASCEU para
o amigo Moysés Vellinho, quando se encontrava esse às portas da morte. Vejam:
Essa forma leve, terna, suave de dizer as coisas é que o fez
um poeta maior: um poeta que sentia ao olhar. Grande observador da vida e dos
seus convivas, certo dia, escreveu:
E, ainda:
Pensamentos leves, viagens transcendentais como essas visões
do poema VIVER, dão-nos a certeza de que não podemos reverenciar ou festejar,
como no México, apenas por um dia, alijando os nossos antepassados pelos outros
364 dias. Não!
Vamos trazê-los para o convívio diário. E não apenas nesse
dia 2 de novembro.
Por que não? Afinal, quem nos garante que não caminhamos
juntos?
Siga a letra de Noel Rosa no famoso samba FITA AMARELA, e
não a deixe perder a cor.
Vamos trazê-los para a roda de samba, porque o bom é sambar.
E o choro?
Só o da flauta, do violão e do cavaquinho, como diz a letra
do tal samba.
Orquestra Imperial – Fita Amarela