Levados pela correnteza, mergulhamos num mar perigoso, de
mil promessas. Descontos aparentes, mas na fria matemática o lucro sorrateiro, embutido, escondido, que não mostra a cara.
Aliás, nem face tem. É um ser diáfano que se alça às alturas com aparência de
rasteira criatura. É, isso sim, um reles ser. Um ser enganoso, dissimulado, mas
fatal.
Traz consigo uma corrente de ofertas, promoções, serviços, novos
modelos, novidades e outros que tais. Estamos, graças a ele, também à mercê de
produtos não mais confiáveis, embora alguns tenham a idade da Terra, de tão
velhos e conhecidos.
É a “dança das cadeiras” dos executivos de organismos
internacionais que deveriam nos proteger da nocividade de tantos alimentos
industrializados, mas que trocam de assento com executivos de grandes
multinacionais que visam, exclusivamente, ao lucro.
E a macacada de Darwin continua ainda, ao que parece, no
mesmo patamar de origem.
Acredito, porém, que somos bem mais do que isso. Somos seres
pensantes e, portanto, é nossa obrigação estarmos atentos e vigilantes aos
predadores da nossa saúde. O desequilíbrio do planeta, o exaurimento das nossas
fontes de riqueza, a deterioração de culturas, a miserabilidade que grassa,
historicamente, por regiões sabidamente férteis, são sinais de que tais povos
são vistos como o lixo do mundo, servindo apenas como massa de manobra para
objetivos sempre escusos. Mesmo aos melhores aquinhoados, falta-lhes cultura
para perceber quão venenosa é a manipulação, ainda que subliminar. Esses seres,
despreparados pela falta de educação e conhecimento, são incapazes de avaliar
os aspectos positivos e negativos das novas tecnologias, adquirindo, com
sofreguidão, todo e qualquer equipamento que surja no mercado. Tudo bem ao
gosto de quem criou a obsolescência programada com o objetivo único de auferir
constantes lucros às empresas que fornecem todo o tipo de consumo, dos úteis aos
meramente ditos “da hora”.
É sempre desejável uma modernização constante nas áreas
científica e tecnológica, pois trarão melhores condições de vida, saúde, moradia,
educação e cultura para o povo. Ofertas de emprego e segurança decorrerão de
políticas públicas que visem apoio a ações que impulsionem tais objetivos.
Agora, criar um aplicativo, embutido em um novo celular
recentemente lançado no Brasil, para ler mil palavras em um minuto, é coisa
para macaco “treinado”. O tal usuário lerá todas as palavras que se irão
somando, podendo, inclusive ler, segundo a proposta da nova ferramenta, um
romance de 300 páginas em pouco mais de uma hora.
E a compreensão? Onde ficará?
Ah! Esqueci que ninguém está preocupado com isso. O negócio
é vender o tal aplicativo, através de um novo celular.
Segundo a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em
Linguística Aplicada da Unisinos, Rove Luiza de Oliveira Chishman:
“Ler é mais do que
decodificar letras e palavras, envolve dar significado, fazer conexões”.
Concordo, plenamente. Será impossível ter uma boa
compreensão do que foi lido, se esse leitor levar apenas um minuto para ler mil
palavras. Além do que, cada leitor terá, pessoalmente, uma compreensão
semântica diferenciada em relação a cada palavra.
Isso, porém, não interessa. Afinal, a macacada de Darwin
precisa ser apenas treinada para um desempenho similar a uma máquina. Nada que
precise pensar, fazer analogias, compreender o que subjaz ao texto...
Mas o que é isso?
Para a macacada vai interessar apenas a competição de quem
lê mais rápido. E para os criadores do aplicativo, isso já está de bom tamanho.
É! Para aqueles que já se aperceberam disso, só mesmo
fazendo blague!
Para os outros tantos, podem comemorar esse dia 1º de abril.
Um dia para chamar de seu é o que resta.
Comemoremos todos ao som de A CASA, que se localiza na Rua
dos Bobos, número zero, e que não tem teto e nem parede, construída que está
sobre o nada.
Torçamos para que a Educação nos tire dessa casa inexistente
para outra que repouse sobre os pilares sólidos do conhecimento.
A Casa – Toquinho