Para quem foi acostumada a conviver entre duas cores
reverenciadas, uma pelo pai e outra pelo único tio que tive, assistir, muito
atenta, à reinauguração do Estádio Beira-Rio foi bastante gratificante. Meu pai
teria gostado de estar presente. Sua filha acredita que o representou, de forma
emocionada, na festa/espetáculo desse dia 5 de abril de 2014. E ela assistiu à festa,
comodamente instalada em sua sala. Mesmo assim, pôde constatar a grandeza do
evento.
O conjunto da produção do espetáculo mereceu todos os
aplausos, que ressoaram para além do estádio. Foram duas horas e meia de uma
apresentação de pura paixão e emoção. A produção musical, a cargo do maestro
Dudu Trentin, demonstrou perfeita sincronia entre os músicos da orquestra
Unisinos/Anchieta, o coral de 200 vozes e as bandas que se iam sucedendo
durante o espetáculo. Ele compôs todas as trilhas, cabendo ao maestro Evandro
Matté a regência da imensa orquestra e coral. Participaram da festa 1500
pessoas em cena, entre atores, orquestra, bandas e bailarinos. Foram usados
3000 figurinos. A plasticidade das cenas aliada à tecnologia, que lhe serviu de
suporte, apresentou ao público a parte histórica do clube ao longo do tempo. O
barco singrando as águas do rio foi emblemático acerca das dificuldades
enfrentadas com a localização do estádio. Nada, porém, que não pudesse ser
solucionado com o passar do tempo e com os esforços de todos os que se
empenharam na construção de um sonho, destacando-se a campanha de doação de
tijolos que movimentou 35 famílias voluntárias.
A narração, como background, com textos de conhecidos
cronistas gaúchos e os telões repassando os diversos momentos históricos do
clube, foram carregados de luz, tal qual o golo de Elias Figueroa, chamado por
ele próprio de o golo iluminado. Graças a esse único golo, feito aos 12 minutos
do 2º tempo, o Internacional conseguiu o seu primeiro título brasileiro em
1975, jogando contra o Cruzeiro de Minas Gerais.
E as décadas iam-se somando sob os acordes da 9ª Sinfonia de
Beethoven e a encenação de obras reconhecidas de Leonardo Da Vinci, Picasso,
Salvador Dali. Tudo sincronizado, tal qual o voo de Dadá Maravilha, no ano de
1976, quando o Internacional venceu o Corinthians por 2 a 0 no Beira-Rio,
sagrando-se bicampeão brasileiro.
O ano de 1989 ficou nos anais do clube, pois aconteceu o
chamado Grenal do Século, o de nº 297, vencido pelo Internacional por 2 a 1, disputado
no Beira-Rio e que teve o maior público de Grenais em Campeonatos Brasileiros.
Foram 78.083 pagantes. A década de 80 foi de conquistas, com 14 títulos no
total.
Momentos difíceis e momentos de glória foram relembrados.
Com muito trabalho e confiança no plantel, os feitos
recomeçaram a partir do século XXI. E Adriano Gabiru seria o grande nome, com a
ajuda dos demais companheiros, na conquista do Mundial de Clubes da FIFA, em 17
de dezembro de 2006, no Japão. No mesmo ano, pela primeira vez, o clube já
conquistara, em 16 de agosto, a Taça Libertadores da América. O que se
repetiria em 2010, tornando-o bicampeão do mesmo certame.
Quanta história desde 1909! São 105 anos de vida e 45 anos
da reinauguração do estádio Beira-Rio, aberto oficialmente em 6 de abril de
1969, cuja construção iniciou-se em 1959.
Esses fatos todos fazem parte da história da cidade de Porto
Alegre.
Fico feliz em ter assistido a um espetáculo tão bonito, o
que demonstra a capacidade de trabalho, o empenho de tantos interessados, o
aporte considerável de recursos na concretização das obras e do espetáculo.
O mesmo ocorreu com a
outra agremiação, tão cara aos gaúchos, quando da sua inauguração em 2012.
Assistimos, na oportunidade, a um espetáculo e a uma plateia
merecedora do aplauso da sociedade porto-alegrense como um todo.
Para os amantes do futebol, como esporte de massa, é um
orgulho termos um gigante e uma arena representando o Estado para fora
dos seus limites. Para um mundo globalizado, serão ambos os estádios uma
vitrine da cidade que se diz alegre.
Portanto, está de parabéns o diretor artístico Edison
Erdmann, responsável pela organização de todo o espetáculo da reinauguração do
Estádio Beira-Rio.
O vermelho pelo espelho, finalmente, passou.
O azul do mar, há
algum tempo, já chegou.
Uma última palavra àqueles que esperam o mesmo espetáculo,
assistido no último dia 5 de abril, para:
- a reinauguração, com nível de excelência, de um grande
hospital;
- a construção de centenas de UPAs, dentro das normas
técnicas, com um quadro médico e técnico pronto a prestar os primeiros socorros,
incluindo-se medicamentos básicos e material compatível com as necessidades do
eventual paciente;
- a implantação, nos colégios, de infraestrutura condizente
com as necessidades do ensino-aprendizagem;
- a despoluição de nossos arroios e riachos;
- um substancial melhoramento no transporte coletivo;
- o saneamento básico, ainda deficitário, em algumas
comunidades;
- uma segurança mais presente no dia a dia e não apenas em grandes
eventos;
- uma gestão honesta e eficiente de pessoal e recursos nos serviços
prestados à comunidade pelo poder público.
Tudo, claro, com o padrão FIFA, porque os botocudos já
sabem, agora, o que é o tal padrão. Sem desmerecer o povo indígena, já extinto,
que habitava regiões do país. Referimo-nos a nós próprios, esse pessoal rude e
grosseiro que não conhece o que são as benesses de uma vida de qualidade. Todos
nós aguardamos, de ora em diante, um padrão FIFA de serviços. É o grande desejo
de toda a sociedade brasileira.
E o impostômetro? Pelo controle digital, desde o primeiro
dia de 2014 até esse exato momento, dia 7 de abril, às 19 horas e 30 minutos, a
arrecadação está na cifra de R$ 469 bilhões, 246 milhões e..., já superando a
marca atingida na mesma época do ano passado. Impossível acompanhar tal
voracidade e rapidez... No ano de 2013, ao que parece, a marca atingida foi de
um trilhão e 700 bilhões de reais.
Para os colorados fica a certeza de que com a ajuda inicial
daqueles tijolos construiu-se um sonho e dele fez-se não um castelo de areia na beira de um rio, mas um gigante
da própria história.
Fiquem, agora, com a beleza de O AMANHÃ COLORIDO e NUVEM
PASSAGEIRA, duas joias, compostas por gaúchos reconhecidos, que abrilhantaram a
festa de reinauguração.
O Amanhã Colorido - Pouca Vogal
Nuvem Passageira - Hermes Aquino