SELECIONE O CARDÁPIO
Seu encontro com as nuvens é quase diário. Ao entardecer, do janelão de seu prédio, acompanha com o olhar, quase sem piscar, o movimento delas, que se sucedem nos mais diversos desenhos, seguindo para não sei onde, num desfile constante, parando, por vezes, para cumprimentá-la.
Tão absorta fica que quase não percebe alguém que, lentamente, se achega. Imponente, mais majestosa no andar, caminha lentamente sem se importar com o vento que quase sempre existe. Vez por outra, some, não por gosto, por ação da ventania que traz mais nuvens para cobri-la. Mas que, logo, desaparecem. E lá fica ela, toda branca, toda desnuda, toda oferecida aos olhares alheios. Olhar de quem suspende o momento para vê-la por mais tempo. Que colírio aos olhos nos oferece a Natureza. Ela é pródiga em ofertar momentos únicos, momentos de rara beleza a quem se detém a observá-la. Um pôr do sol no horizonte ou até mesmo seus raios passeando por entre as árvores, num fim de tarde, é tudo de bom. Árvores, praças, nossas ruas, quantas delas sob o formato de túneis verdes que nos convidam à contemplação, que nos aproximam do Divino e acabam por nos ajudar a decifrar a própria alma.
Ofereça aos olhos belas imagens. Que eles se inundem pela beleza da imagem e não pela crueza, violência, agressividade e tragédia que grassam por aí. Um olhar limpo devolve ao grupo mais luminosidade, mais segurança e menos desesperança. Há que se cultivar olhares mais limpos. Só assim poderemos transformar o entorno com um olhar mais benevolente e sensível às transformações que se impõem. A sociedade como um todo ganhará. Será uma resistência cidadã aos malfeitos.
Olhares dessa natureza, com certeza, não irão apenas olhar por olhar. Por serem treinados ao belo, captarão da tragédia lições iluminadas de como manter-se equilibrados e esperançosos, apesar de tudo. Mas, também, atentos e atuantes.
Não maculemos nossos olhos com filmes em que é apresentada a violência pela violência. Não assistamos programas nos quais cenas de violência, assaltos, dramas familiares, crimes reconstituídos, são apresentados à exaustão. Tudo veiculado na mídia televisiva como programas cotidianos da emissora. Sabemos que imagens têm uma grande força. Mas, apenas, imagens não colaboram em nada.
Ao invés, porque não levar ao ar programas que apresentem esses episódios sob a análise de especialistas na matéria, o que seria bem mais instrutivo para os telespectadores na formação de uma opinião crítica.
A proposta não é de alienação. Ao contrário, é de seleção.
Para quem é um leitor de jornal, sabe ele, diariamente, de todas as mazelas que acomete a sociedade. A comunidade ganharia muito mais se houvesse debates sobre tais eventos e não apenas recebesse a enxurrada de imagens que a nada leva. Telespectadores passivos, inertes, sentados frente à televisão na hora do almoço, da janta ou do descanso, a assistirem sessões de violência de todo o tipo.
Trabalhemos para elevar o nível de qualidade da programação da nossa televisão. Não vivamos de BBB. Que haja mais programas de debates, a exemplo do conhecido Conversas Cruzadas. Que existam mais programas de entrevistas, a exemplo do Mãos e Mentes, ambos da TVCOM, canal 36. Programas como Frente a Frente, apresentado pela TVE, canal 7, ou como Roda Viva, Provocações, Café Filosófico, todos esses, programas apresentados pela TV Cultura, canal 9. Por que não acessar a TV Assembleia, canal 16, que apresenta, igualmente, bons programas, inclusive shows. Isso sem falar no programa Leituras, apresentado pelo Jornalista Maurício Melo Júnior, em que se analisa e se divulga a Literatura Brasileira, dando-se oportunidade a novos escritores, bem como Conversa de Músico, um encanto para os ouvidos, apresentado pelo Maestro Lincoln Andrade, no canal 17, TV Senado, onde não existem apenas as retransmissões das Sessões Plenárias.
Isso sem falar nos shows musicais. Continua não havendo publicidade do Festival Internacional de Chamamé, já em sua 23ª Edição, em retransmissão direta, da cidade de Corrientes, Argentina, pela nossa TVE. Um Festival que congrega participantes (músicos, dançarinos, cantores, declamadores) de quatro países da América Latina, a saber: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Do Brasil, seguem, anualmente, grupos oriundos do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e, inclusive, São Paulo. Todos os anos, no mês de Janeiro, os países citados apresentam a riqueza de uma cultura que os irmana.
Ainda, lembremos dos Programas Nativistas, apresentados pela TVE e TVCOM, Galpão Nativo e Galpão Crioulo, respectivamente.
Está mais do que na hora de começarmos a repensar a qualidade da nossa televisão.
Iluminemos nosso olhar com tudo o que a Natureza nos oferece ao derredor. Mas não só ela. Nosso irmão atirado num vão de escada, também deve deter nosso olhar. Que, sendo esse iluminado, possa vislumbrar medidas concretas, ações comunitárias, pedido de providências em prol da solução para problemas tão graves.
Que a Educação seja aprimorada formando cidadãos cônscios de seus direitos, deveres e responsabilidades. Que não sejam pessoas facilmente manipuláveis, que se satisfazem com cenas violentas como diversão (filmes), ou mesmo como informação (programas televisivos). Que sejam verdadeiros cidadãos a exigirem medidas efetivas dos eleitos, que o foram através do seu voto.
Ah, o voto!
Parece não valer para mais nada!
Que o comunicador, a exemplo do moderno professor, torne-se um mediador na abordagem de temas relevantes. Que o público seja capacitado a fazer conexões, tornando-se apto a transformar-se em autor do seu próprio futuro na comunidade.
É disso que se está necessitando com urgência.
Há muito que fazer para quem mantém os olhos iluminados, prontos para o desafio da mudança.
Olhos iluminados, com certeza, acham caminhos.