O olhar pousado no infinito. Por detrás da janela gradeada de um quarto de orfanato da Capital, percebo o olhar daquele menino. Passava eu em frente à Instituição naquele exato momento: o momento da imersão. E aquele olhar, naquele instante, captava mais pela imaginação do que pelos olhos. Os olhos eram um acessório. Aquele olhar, com certeza, transcendia o espaço colocado à sua frente. Era mais um olhar/pensamento, um olhar que buscava o que já se encontra dentro.
Aquele jovenzinho, porém, ainda não sabe disso.
Certamente o ato de ler conseguirá lhe trazer a
possibilidade maior de cultivar a imaginação. Como lembra a raposa de O PEQUENO
PRÍNCIPE, “o essencial é invisível aos
olhos, só se vê bem com o coração”.
Imaginar é fundamental no ato de ler. A palavra escrita
trará a magia para o texto, se acrescida de imaginação.
Essa é uma verdade para todos os que leem. Tanto para
aqueles que com os olhos acompanham o cortejo das palavras, que se vão somando,
quanto para os que com o tato perseguem as palavras com invejável precisão.
E isso nos faz iguais.
Leiam, agora, o poema LENDO de autoria da deficiente visual
Ivanes Fátima Nunes Cavalheiro, estudante de Letras da UniRitter, que demonstra
a importância do ato de ler com imaginação.
Esse ler, revelado pela poetisa, é, também, aplicado a todos
nós.
Agora, curtam a poesia escrita por uma jovem de 16
anos, deficiente visual, chamada Francieli Portela, cursando, à época, a 8ª
série, sob a orientação da Profª Dilene Ávila Lunardi, da Escola Estadual Telmo
Motta (CIEP) do Município de Giruá.
Nesse exato momento, cabem elogios, aplausos e um incentivo
ao Projeto Poesia Inclusiva, do qual faz parte, como integrante, a já referida
poetisa Ivanes, e cuja idealizadora e coordenadora é a poetisa e contadora de
histórias Roselaine Funari. Esse projeto, iniciado em 2010, é realizado com
deficientes visuais em escolas e entidades e inclui Oficinas de Criação Poética
e Saraus, onde os trabalhos, realizados pelos deficientes, são apresentados
pelos próprios. Participa, também, ativamente desse trabalho, prestando
assessoria, Patrícia Cruz, formada em Educação Especial e Arteterapia.
Uma amostra desse belo trabalho ocorreu no dia 10 de
novembro, na Sala Bridge do Palácio do Comércio, fazendo parte das inúmeras
atividades paralelas que acontecem nessa 59ª Feira do Livro de Porto Alegre.
Na oportunidade, a apresentação dos poetas deficientes
visuais foi abrilhantada pelo músico harpista Daniel Uchoa, também deficiente
visual, e pelo Grupo de Danças Gaúchas Peleando pela Inclusão, idealizado e
coordenado pelo casal Gelson Casser Timotheo e Lisi Silveira. O grupo é
composto por pessoas com e sem deficiência visual.
Também se apresentou a Banda Fagy do Grupo Além da Visão,
cujos participantes, igualmente deficientes visuais, são alunos da Escola
Estadual Barão do Cerro Largo, do Município de Rio Grande.
Ainda, numa perfeita integração, tivemos a performance do
Grupo Vivapalavra, momento em que as participantes, todas poetisas, leram
poemas seus e dos poetas deficientes visuais.
Portanto, perceber que é possível essa integração de artes
diversas com pessoas tão diversas fez parte do nosso encantamento com o
momento. Treinemos nossa imaginação com o que vem por aí. Imaginar não apenas
para sonhar, mas também para criar possibilidades de realizações concretas.
Imaginar como John Lennon imaginou e ir além. O vídeo abaixo
é um exemplo dessa concretização do,
aparentemente, inimaginável: a perfeita sincronia entre todos os participantes,
deficientes ou não.
Saudemos, portanto, a 59ª Feira do Livro que nos trouxe
momentos dessa importância. Cabe a nós desfrutarmos desses encontros onde o
fazer literário firma-se na figura do livro, reverenciado e motivo de constante
dedicação por todos aqueles comprometidos com a sua difusão. E nós, leitores,
fazemos parte desse compromisso, também.
Castro Alves, em seu poema O LIVRO E A AMÉRICA, cujo excerto
é transcrito abaixo, clama, com justa razão, pela sua inserção entre o povo.
Aliás, é o que se percebe na nossa Feira do Livro, que se agiganta a cada ano.
Parabéns a todos os participantes!
Parabéns a nós todos!
Ah! Pretendo doar alguns livros à Instituição daquele
jovenzinho, o da janela. Talvez, consiga fazê-lo pousar o olhar em LIVROS... livros às mãos-cheias..., digo
eu, porque é disso que o povo necessita, como premissa fundamental para a
conscientização de seus direitos e garantias.
Aliás, ler é poder.
E Daí? Reggae da Inclusão - Ivo Dias
Glee Imagine Official Music Vídeo
Projeto Poesia Inclusiva/Realização: Roselaine
Funari
Poesia Inclusiva – a poesia em ação social
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