domingo, 23 de novembro de 2014

A RECEITA











Nestes tempos conturbados, difíceis, em que o corpo padece, muitas vezes, pela inércia do espírito, nada melhor do que recuar, silenciar e montar estratégias diante da avalanche de negatividade que se avoluma a cada dia.



Alguns caminhos avistam-se. Não há, porém, uma única receita salvadora. E não se está a falar de problemas de ordem econômica, social ou política. O que se busca, aqui, é salvaguardar o ânimo, a paixão, a iniciativa, o persistir, o seduzir, o amar.


São estes gatilhos que movem o ser humano. E paixão, é bom lembrar, é aquela chama que deve irromper a cada amanhecer para que nos mantenhamos vivos e atuantes pelos anos afora.

Como conservá-la acesa?

Dirigindo o olhar para tudo e todos que acrescentem, que surpreendam, que encantem a partir do nosso próprio empenho para que tal aconteça.

Perceber-se a si e ao outro como seres cativantes, portanto, prontos ao sorriso, à conversa, ao encontro, ao convívio. Com tais ingredientes o espírito dará uma resposta positiva que impulsionará o corpo para variadas atividades. Assim, trabalho poderá significar prazer.

E este é o plano. Transformar uma atividade laborativa em algo prazeroso, com uma resposta que afague o eu, que lhe dê retorno positivo no plano das emoções. Ações motivadas e gratificantes garantem sucesso como resultado de qualquer empreendimento. E, na esfera do puro prazer, a gama de situações e possibilidades é imensa para quem se aventura a tais delírios, como os poetas que concebem versos delirantes, tal como propõe Manoel de Barros em UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO, VII, onde descreve:





E delírio pressupõe um clima prévio de sedução. E o mesmo Manoel de Barros, em GORJEIOS, dá a receita:



Já Mário Quintana vai além quando, em POESIA E MAGIA, assegura:

A poesia de um verso não está no que diz, mas no poder encantatório das palavras que diz: um verso é uma fórmula mágica.

Como mágico deve ser o encontro entre DOIS AMANTES de Pablo Neruda, poema extraído da compilação Cem Sonetos de Amor (XLVIII-Meio-Dia), que diz:




Eternidade que a poesia persegue na reflexão de Mário Quintana sobre a palavra CRÔNICA, quando diz:

Ah, essas pequenas coisas, tão quotidianas, tão prosaicas às vezes, de que se compõe meticulosamente a tessitura de um poema... Talvez a poesia não passe de um gênero de crônica, apenas: uma espécie de crônica da eternidade.


Com certeza, todos nós buscamos ser felizes. Se não for pedir muito, quem sabe, sermos lembrados, pois o perene nos fascina, nos instiga, nos faz melhores.

Por ora, dê um tempo no tempo e viva com entusiasmo e alegria o presente. Afinal ele te prepara para o amanhã: que é logo aí.

Esta é a receita que nos fará melhores. 

Claro, tudo dependendo do nosso empenho.


E nesta busca por felicidade parceria melhor não há do que somar música e poesia. Juntas criam o cenário perfeito para o encontro amoroso: aquele que mistura o choro e o riso, que se ilumina, que não fica, nem vai, como diz a letra da música ESTADO DE POESIA de Chico César, na voz de Maria Bethânia. Aquele cenário em que a epifania do instante se eterniza: um cenário que é o próprio estado de poesia.




Estado de Poesia – Maria Bethânia 






domingo, 16 de novembro de 2014

CONSUMA... SEM MODERAÇÃO!


Encante-se com as nuanças das cores que brincam entre as nuvens. Elas escondem um sol sonolento que já dá sinais de exaustão depois de um dia escaldante. E nada melhor do que um bom descanso.

Acompanhe a aproximação do papagaio galanteador que se achega à parceira, sussurra algo e, juntos, bebem a água que se deposita na gateira próxima ao telhado, para voarem, logo após, ao refúgio noturno. E só eles sabem onde fica.

Exercite o ouvido com os mais diversos sons, ruídos e sussurros. Eles podem nos alegrar, nos alertar ou nos trazer cálidas lembranças. Precisamos muito delas. Elas nos alimentam, muitas vezes, mais do que um alimento próprio para tal.

Veja o que o vento enraivecido causa à árvore da esquina. E o que a leve brisa faz com as flores, recém-desabrochadas, daquele pé de jasmineiro.

Perceba o outro que perdeu o olhar no nada e nem lhe enxerga.

Atente que o hoje, às vezes, se parece com o ontem. Projete, se assim lhe aprouver, o hoje no amanhã. Ou o contrário. Você pode tudo.

Invente, reinvente, ressignifique, crie seu próprio dialeto para um mundo que se transforma a todo o instante. Assim, será mais fácil compreendê-lo e internalizá-lo do seu jeito. Afinal, somos individualidades pensantes. Precisamos apenas adocicar o nosso pensar, tornando palatáveis os novos comportamentos e atitudes.

Precisamos de muito açúcar para enfrentar o dia a dia com um renovado estoque de otimismo. Não aquele, o vilão da saúde, mas aqueloutro. Aquele que o poeta das insignificâncias, Manoel de Barros, chamava de mel das palavras: a poesia. Use dela em abundância. Ela reveste as palavras de significados diversos do habitual. Sendo assim, uma enseada, isto é, um aspecto da geografia do terreno, pôde se transformar na imagem de uma cobra de vidro mole que fazia a volta atrás da casa do poeta. E isto era para todos, que por ali moravam, apenas uma volta que o rio dava atrás da casa do poeta. Para ele, muito mais do que isto. Era a imagem de um animal vivo a circundar a sua propriedade. Nele era comum a coisificação do humano ou do animal e a humanização das coisas.

Como, por exemplo, em:


Borboleta é uma cor que avoa.

Para encontrar o azul eu uso pássaros.

Vi a manhã de pernas abertas para o Sol.



Poesia para ele “era a armação de palavras com um canto dentro, um gorjeio: daí a harmonia”.

Segundo ele a razão é a última coisa que deve entrar na poesia. Ela não serve para descrever, senão para descobrir e para ser incorporada através da imaginação que transvê o mundo.

O poeta, com sua sensibilidade, decodifica o que o olho simplesmente vê, a lembrança revê e ele com a imaginação, que lhe é peculiar, vai transver o mundo através das palavras. Seu único objetivo é produzir encantamento. Quem sabe, chegando ao grau de brinquedo retirado lá da infância, pois é lá, segundo Manoel de Barros, onde se encontra a melhor fonte de poesia que existe. Na verdade, porque troca o sentido das coisas. Talvez, por isso, se classificasse como o poeta das insignificâncias do mundo e das coisas.

Claro que o seu humor, sua ironia, por vezes, e o seu jeito de transver o mundo alçaram sua poesia, quer tenha querido ou não, a um patamar superior.

São suas estas palavras:


O poeta não tem compromisso com a verdade.

Senão que, talvez, com a verossimilhança.

Quem descreve não é dono do assunto.

Quem inventa é.


E quão importante foi como criador de palavras, desvirtuando-lhes o sentido original, fazendo uma artesania, como dizia, própria para revelar imagens através de palavras que se mostravam carentes para tanto. Daí a necessidade de criá-las incessantemente, através da percepção de imagens do cotidiano. De imagens das coisas menos significativas, das pequenas coisas que, no seu exercício de transver, transformavam-se em grandiosas e surpreendentes.

Deixou ele uma obra de um verdadeiro poeta. Aquele ser cuja natureza pensa por imagens e que aguça o olhar pela cosmovisão, como dizia ele próprio. E que foi capaz de afirmar:

Só as coisas rasteiras me celestam.


Com certeza, só um verdadeiro esticador de horizontes e um abridor de amanheceres pode nos adocicar e nos preparar para o enfrentamento diário com esta coisa rasteira que são os nossos problemas cotidianos: destituídos de qualquer encantamento para nós que não somos poetas.

Guardemos um tempo do dia para sorvermos um pouco deste mel que nos traz satisfação pessoal, encantamento e a descoberta da importância do leitor para a obra poética e do quanto de poesia existe em cada um de nós. Coisa que o nosso poeta Mário Quintana lança como alerta a nós todos no poema que segue:




Para lembrar o poeta Manoel de Barros que se foi para além do azul, onde continuará sua nobre missão de transver aquilo que daqui levou e que, com certeza, receberá novos olhares e interpretações, destacamos alguns poemas e frases que, entre nós, continuarão a oferecer o mel para seus ávidos leitores.










Viagem – Emílio Santiago 



domingo, 9 de novembro de 2014

O NOSSO TSUNAMI











Ouça o barulho do silêncio. Ele é saudável. Ele é um bálsamo. Ele reorganiza o nosso interior. 

Descanse o olhar no céu. Siga as nuvens, namore com a lua, assista ao nascer e ao pôr do sol. São colírios gratuitos e eficazes contra a imundície que se espalha pelas ruas, pelos viadutos, pelos muros, pelas praças e parques.

Àqueles que afirmam que os dramas presenciados por diversão, todas as noites, frente à telinha, são a expressão do que se passa na sociedade, conteste através da seleção por melhores programas.

A avalanche de notícias ruins virou um verdadeiro tsunami. E todas elas com forte probabilidade de serem verídicas e relativamente fáceis de serem provadas, surgindo de todos os lados, com os mais diversos atores e cuja plateia a assistir: somos nós, o povo.

Globalizando o olhar, não há grandes diferenças em outros tantos lugares do Planeta. A miséria humana da fome, da moral e dos princípios éticos grassa em grande parte desta imensa aldeia. Raras são as exceções.

Ainda bem que existem algumas ilhas de civilização espalhadas, aqui e acolá, que nos permitem ainda crer no ser humano. Isto é muito pouco, porém.

Considerando o que está próximo a nós, é desalentador perceber um desvirtuamento dos objetivos que conduziriam a sociedade a um patamar de desenvolvimento coletivo ascendente.

Valores éticos e morais aprendidos no seio familiar somados a uma educação qualificada oferecida pelas escolas públicas, visando uma oportunidade de acesso a cursos superiores ou a cursos profissionalizantes, dependendo das capacidades individuais, seria o caminho para um real desenvolvimento. E isto ao dispor de todo e qualquer cidadão que demonstre esforço e disciplina nesta busca. 

Cabe ao Estado oferecer tais oportunidades. Um investimento maciço na Escola Pública resolveria a maior parte dos problemas. Todos com iguais oportunidades. Com valores morais e éticos e uma educação pública qualificada constrói-se uma sociedade justa, onde a esmola não se tornará o apanágio de grupos absolutamente desinteressados na elevação cultural do povo, e sim na manutenção do status quo rasteiro: degradante, por vezes. Com Família e Educação andando juntas surgiriam os frutos necessários para que o desenvolvimento social e econômico se instalasse, naturalmente. E isto vale para qualquer nação. O arcabouço jurídico serviria para regular as relações societárias de forma justa e com medidas rígidas previstas para casos extremos. 

Seria cansativo e desnecessário arrolar todos os elementos desagregadores, todos os desmandos que imperam ao nosso redor, todas as medidas inócuas criadas para aparentar um regramento efetivo para situações já fora de controle. Nossos olhos não merecem mais este sacrifício que seria sua leitura. Diante de tantas ideologias e crenças, aparentemente opostas, a constatação é a de que a sanha pelo poder subtrai qualquer possibilidade de que se extraia delas o bem comum.

Raríssimas comunidades têm o privilégio de viverem com relativo equilíbrio de forças entre a representação instalada e os cidadãos que a elegeram. Nestes locais, a sociedade desfruta de um bem-estar amparado pelo desenvolvimento econômico e social.

O que dizer àquelas outras tantas sociedades imersas no caos de guerras, de perseguições, de fome intensa, de abandono, de poluição do ar em níveis intoleráveis? Como poder transmitir uma mensagem de alento, de perspectiva de futuro?



Outras há, porém, em que ainda o ato de respirar não exige um tapa-nariz. Onde olhar para a lua é ainda um ato romântico, não se temendo assistir a algum rastro deixado por um míssil. Onde o silêncio traz a paz interior e não a espera de um sobressalto possível e constante de um próximo bombardeio. Onde tufões e cataclismos não sejam habituais. Acredito que nos incluamos nesta última categoria. Portanto, ainda há esperança, ainda uma luz no fundo do túnel persiste. O nosso tsunami pode tornar-se não tão devastador quanto aquele advindo da natureza em fúria.

Usemos o silêncio para nos reabastecer, a música para nos alimentar, as imagens da natureza, que nos rodeia, para criar novos caminhos por onde podemos e devemos trilhar. Não nos omitamos, porém, nem nos alienemos. Estarmos atentos é imprescindível. Aprendamos a escolher, a avaliar, a exigir, bem como a cumprir com as normas estabelecidas, porque assim se comporta uma sociedade desenvolvida.

O caminho para que cheguemos a alcançar este desiderato passa pela educação e pelos valores morais e éticos. A paz, o convívio harmônico e o desenvolvimento entre os diversos segmentos da sociedade é o que se busca. Assim, constrói-se uma nação. Tudo o resto é consequência.



Por ora, rezemos para que não se chegue, em nível global, ao que Mário Quintana poetou em O HOMEM DO BOTÃO. Principalmente no que nos caracteriza como seres humanos: o livre-arbítrio.

Será que O HOMEM DO BOTÃO tinha razão?

O instinto puramente animal é privilégio apenas das espécies inferiores?

Mas eles, os animais, ao que se sabe, não se perdem a olhar a lua.

Afinal, também isto repousa no livre-arbítrio. O admirar e o destruir passam pela escolha humana.

Será que o Deus descrito pelo poeta criaria um novo homem sem este chamado livre-arbítrio?

Na verdade, somos bem mais do que os animais.

Está na hora de provarmos o reverso do poema.






Depende de Nós – Ivan Lins





domingo, 2 de novembro de 2014

O DIA DA SAUDADE











A percepção do primeiro canto de algum passarinho, o cheiro do doce de abóbora, o gosto da massa crua, que restava na vasilha, do bolo que ia ao forno, o passeio pelo parque, o olhar sobre aquelas luzes, que teimavam em piscar sem parar, naquela árvore bem verdinha todos os Natais: estes são momentos que permanecem na minha retina e, quem sabe, também, na de outros tantos de nós.

Uma trajetória faz-se com uma superposição de imagens. Muitas restarão no emaranhado invisível do nosso interior. Outras permanecerão sempre prontas a emergir, vindo à tona, não importando serem acolhedoras ou devastadoras. Tudo dependerá das circunstâncias e do momento em que foram captadas.

Aquelas imagens que nos trazem a beleza, a emoção, o encantamento, o carinho, o convívio, a surpresa agradável, todas estarão junto a nós, lembrando-nos de quem conosco participou desses momentos. A memória é a soma de pensamentos que criarão as pontes necessárias para a travessia que estamos a empreender desde o nascer até a derradeira hora.

Lembranças que continuarão a enfeitar o caminho que cada um irá trilhar. Elas serão renovadas a cada evento em que haja similitude de momentos. E todas aquelas pessoas que participaram daqueles instantes estarão presentes como se vivas estivessem. Será como uma repetição de cenas que nos fizeram tanto bem há tempos atrás.

Assim, também, permanecerão vivas aquelas imagens que nos marcaram de forma negativa e que não são esquecidas. Estão em nossa bagagem e devem servir de reflexão, para que não se repitam conosco e nem com os de nosso convívio. Nesses episódios negativos, pessoas participaram, gerando conflitos ou sofrendo suas consequências.

Sendo assim, os registros que nos acompanham, desde tenra idade, são por demais importantes ao longo da caminhada.

Na medida em que foram bons, nós e os que já se foram estaremos juntos numa saudade boa de curtir. E isto é o que acredito deva ser lembrado a cada dia de Finados. 

Quanto aos maus momentos deixados por quem os ocasionou: que sirvam de alerta a todos nós. Cuidemos dos bons momentos de convívio, pois serão eles que deverão ficar na memória dos que aqui permanecerem. E, com certeza, aqueles que propiciaram tais instantes serão lembrados com amor por cada um de nós.



Nós, que somos A MORADA DOS AUSENTES, dedicamos este dois de novembro para homenageá-los. Não esquecendo, porém, que eles nos acompanham no dia a dia. Sem eles não existiríamos. Sem eles lições não teriam sido aprendidas. Eles guiaram nossos passos e ainda caminham conosco nesta jornada pautada pelas boas e más lembranças.

Pela importância do que a memória representa, busquemos cultivar momentos agradáveis junto aos próximos a nós. As boas lembranças nascerão dos bons registros que deixarmos.

O nosso conhecido poeta Luiz Coronel, no poema A MORADA DOS AUSENTES, transcrito abaixo, chama de saudade a este espaço das lembranças boas que nos acompanham desde a nossa infância, sempre de mãos dadas com os ausentes a quem devotamos amor.



Boas lembranças a todos neste Dia da Saudade.

Uma homenagem especial à minha mãe, através da música MÃE, de Caetano Veloso. Particularmente nos versos que dizem:

“Eu sou um homem tão sozinho,

Mas brilhas no que sou”.





A Morada dos Ausentes - Poema de Luiz Coronel



Mãe – Caetano Veloso





domingo, 26 de outubro de 2014

ATÉ A PRÓXIMA...











É bom retornar, de tempos em tempos, a um lugar que traz boas recordações. Embora o tempo lá passado tenha sido curto, as lembranças guardadas perduram até hoje.


Caminhando para os cem anos de existência, o referido lugar foi visitado por Regina no ano de 2008. A professora estagiária daquele estabelecimento de ensino, nos idos de 1974, pôde constatar a situação de abandono em que se encontrava a escola que completava, naquela oportunidade, 90 anos de existência.

Da visita nasceu a crônica SAMBA DE UMA NOTA SÓ, publicada em 04/09/08.

De lá para cá, algumas melhorias no entorno aconteceram. Não mais visitou o auditório. Tampouco sabe se o piano Essenfelder ainda lá se encontra. Talvez, os cupins tenham terminado o seu serviço, que já estava bastante adiantado.

Regina passa em frente ao prédio com frequência, pois a rua onde ele se encontra faz parte do trajeto de caminhada semanal.

É um lugar onde se preparam jovens para o futuro. Novas ideias, criatividade, habilidades, emoções, desejos e sonhos são ali incentivados e didaticamente explorados para que frutifiquem.

A tarefa é desafiadora e o lugar é o espaço onde o ser, o aprender e o fazer andam juntos na tarefa de aprimorar os indivíduos envolvidos nesta aprendizagem diária.

Os cidadãos que dali se lançarem pelos caminhos da vida, compondo os mais diversos segmentos da sociedade, deverão apresentar, ao longo da caminhada, claros traços de conduta irretocável e de operosidade manifesta. É o que uma educação de qualidade busca alcançar. E é o que uma escola, pública ou privada, deveria oferecer. Descontados os desvios de conduta, sempre existentes, estes deveriam ser, porém, exceção.

Agora, sem bons exemplos e com a impunidade que grassa, fica difícil construir uma sociedade justa e democrática.


Nesta volta, hoje, ao local de tantas lembranças, vejo, como de vezes anteriores, cidadãos comparecerem às urnas eleitorais ali instaladas, para celebrarem o seu direito inalienável de escolha de seus representantes.

Se os candidatos oferecidos à escolha não são os melhores, cabe aos cidadãos aprimorarem sua capacidade de crítica, para aprenderem a eleger nomes que concentrem honradez, honestidade, ética e trabalho como qualidades indispensáveis ao exercício de qualquer mandato. Candidatos que concorrem a mandatos municipais, estaduais ou federais são, todos, elementos chave na engrenagem que poderá alçá-los a futuros representantes daqueles que neles depositaram o seu voto. Com o tempo, inclusive, ao cargo máximo de chefe da nação. Daí a importância da boa escolha de nomes, independentemente da abrangência de atuação do parlamentar.


Foi bom ver algumas fisionomias que só encontramos em dia de eleição! O importante é que se mantenha este hábito saudável de participação popular, pois sem ela não sobra muito, depois, para exigir a devida contraprestação.

Por isso, a escola é fundamental no ato de capacitação do indivíduo para o exercício do pensar, comparar, avaliar, ler nas entrelinhas e, por fim, escolher o caminho que lhe pareça o mais correto. 

A melhor escolha é o que se busca.

Tomara que se consiga este objetivo!

Agora, talvez se tenha que aprender a SAMBAR DOBRADO! Ou quem sabe, uma vez mais, venhamos a curtir a letra de SOMOS TODOS IGUAIS! Assistam aos vídeos! 


Até a próxima visita, escola querida!

Até lá!



Samba Dobrado – Djavan


Somos Todos Iguais Nesta Noite – Ivan Lins






quarta-feira, 15 de outubro de 2014

COM A MÃO NA MASSA... COM A EMOÇÃO À FLOR DA PELE...












O ingrediente principal, para que o esforço físico somado à emoção possa prosperar e transformar-se na única receita capaz de melhorar o mundo, é juntar um bocado de gente feliz. Para tanto, urge que se coloque cada um exercendo sua tarefa principal, num ambiente adequado, com uma infraestrutura compatível com os avanços tecnológicos, onde todos se conheçam, se estimem, criem laços, trabalhem e estudem, convivam e, consequentemente, cresçam.

O poema ESCOLA, do reconhecido e saudoso educador Paulo Freire, transcrito abaixo, aponta todos os ingredientes necessários para que este lugar torne-se o celeiro de futuros indivíduos úteis à sociedade, aptos a exercerem as mais diversas profissões, capazes, segundo ele, de melhorarem o mundo.

De toda esta gente feliz, citada pelo educador no poema, credito às figuras do professor e aluno a importância maior.

Imbuído do desejo de fazer, de dar e receber, de escutar, de transformar, reprogramando, quando for necessário, caminhando junto com o seu aluno, só assim atingirá as metas propostas, os objetivos últimos, a recompensa pelo esforço despendido.

Com plateias diversificadas e conteúdos diferenciados, o melhor professor é aquele que tem um tanto de ator. 

Aquele cujo gesto surpreenda, cujo movimento gere expectativa, este será o melhor entre outros tantos. Um olhar que instigue e uma emoção que, transbordante, sacuda o “aluno/espectador”, serão bem-vindos.

Uma apresentação que encante, uma palavra que ilumine, que abra perspectivas e caminhos, acarretará admiração.

Assim, conquistam-se plateias.

Alguns dirão que certos conteúdos da área das ciências exatas não se adequariam a estas performances. Engana-se quem assim pensa. Tudo depende de quem expõe e de como é exposta a matéria.

Tudo dependerá da dose de encantamento possível de gerar. O estopim deverá permanecer nas hábeis mãos de um professor. A tecnologia fará, então, o resto. E o resto é de grande importância, quando o interesse já foi despertado e o desafio instalado.


Com o raciocínio, com a inteligência, com a dita massa cinzenta colocada a trabalhar pelas mãos de um professor que, previamente colocou a mão na massa, desejoso de transformação, o êxito será mais do que provável. É garantia de uma educação de qualidade, respeitando-se as capacidades individuais, portanto diferenciadas.

Um bom professor é alguém possível de substituir a máquina, porque com ela não se confunde, porque é capaz de superá-la, salvando todos os dados armazenados que, porventura, tenham sumido nas nuvens, perdendo-se no infinito.

Um bom professor é o próprio backup ambulante, com a vantagem de guardar e transferir todo o conhecimento com emoção. O que, convenhamos, estamos a precisar.

Nós, humanos, somos os detentores de todas as capacidades necessárias para criarmos máquinas ainda mais sofisticadas. Portanto, somos mais do que elas, pois são elas apenas nossas auxiliares.

E um professor é quem trabalhará as inteligências existentes, para que o gênero humano continue a alçar voo. Claro, com a emoção à flor da pele que deve ser o seu diferencial.

Salve o Dia do Professor!


Bah! Esqueci-me de um dado RELEVANTE.

É tão relevante que passou a ser de somenos importância. Aliás, como todos os relevantes assuntos que por aqui, com o passar do tempo, tornam-se insignificantes e ninguém mais se detém a questioná-los. A não ser em momentos especiais como este, que estamos vivendo nestes últimos dias. Sobra a esperança, sempre, de que alguma cabeça bem-intencionada consiga fazer a nação acordar para a importância da figura do professor.

Uma nação que aposta na Educação para alavancar suas riquezas, visando a constituir um Estado justo e democrático, sabe que é fundamental preparar uma massa crítica, capaz e soberana, para o ato de escolha de seus representantes.


Ah! Uma vez mais...

Salve o Dia do Professor!







Dia do Professor – Belíssima Canção







sexta-feira, 10 de outubro de 2014

UMA SOMA VALIOSA











Uma parede de hortênsias adornava a janela do quarto. Cobria a outra, a parede da casa, e de sobra, só pra enfeitar, depositava ali, ao longo de praticamente o ano inteiro, suas flores azuladas. Tudo para contrastar com a cor da parede verde-musgo e com uma janela de cor verde-claro, parecendo mar. Vez por outra, apareciam algumas florzinhas cor-de-rosa, para ainda mais bonito ficar o conjunto. 

Uma imagem fotografada pelo olhar ao longo dos anos. Registrada para sempre ficou. Tornou-se repetida em desenhos com paisagens que Aninha reproduzia, quando solicitada pela Professora nas aulas de desenho. Seus desenhos de céus e morros verdejantes primavam pelos azuis e verdes intensos, embora as hortênsias não aparecessem. Restara apenas a combinação de cores e a sua intensidade.

Aninha e a Natureza sempre dialogaram muito bem. Embora citadina, a sensibilidade para o movimento seu e de outros seres a sua volta sempre esteve presente. Os sentidos aguçados sempre tiveram lugar na primeira classe de suas observações e sensações.

Como explicar o ouvido tão apurado a ponto de ouvir uma folha seca bater de encontro ao chão? 

E os barulhos e sons, facilmente percebidos e diferenciados por ouvidos tão despertos?

E o cheiro de terra molhada a prenunciar chuva próxima, detectado a tempo de correr a recolher as bonecas para lugar seguro?

E o constante colocar-se na ponta dos pés como se uma dança estivesse por iniciar-se a qualquer momento? O pediatra reconhecera, à época, que a tal menina seria uma boa dançarina, tranquilizando a mãe preocupada com este gesto habitual da filha. Tal ritmo à flor da pele seria fundamental nas aulas de música, que se sucederiam anos após.

E o que dizer da Mindinha?

Entre frutas, hortaliças e galinhas, ela, a Mindinha, sobressaía como a preferida da menina. De tão velhinha, um dia desapareceu. Ao que parece, foi entregue a uma vizinha para que não fosse sacrificada pela família de Aninha. Lá, deve ter se transformado em um suculento prato.

As emoções iam-se somando e capacitando Aninha ao enfrentamento com o inesperado.

E a Isabel, vizinha de cerca, com quem trocava aneizinhos que acompanhavam as balas azedinhas da época? 

E a colmeia de abelhas, bem no fundo do pátio? Aquele zumbido que Aninha respeitava, não chegando próximo por cautela?

E o canto do galo junto à cerca do vizinho? Altissonante, esbanjando charme, com aquela crista bem vermelha, não deixando dúvidas de quem era o mandachuva por ali? Parecido com alguns humanos. Aninha até lembrou-se daquela música chamada Bicho Gente, do CD Arca de Noé, de Kleiton e Kledir, que diz:

“Todo mundo é um pouco bicho, todo bicho é um pouco gente, tem olho, tem nariz, tem dente, tem pai e mãe e até parente, tem amor que nem a geeente!” 

E o que dizer da habilidade de andar de bicicleta de duas rodas pelo pátio, em meio a tudo isso?

E o jardim com rosas plantadas, que abrigava uma gruta com a imagem de Nossa Sra. Aparecida?

E a mãozinha que sentia a aspereza do salpique de cimento que revestia o poço?

E a figueira, que dava figo de verdade todos os anos, com um balanço bem ao lado que oferecia colo para Aninha, enquanto ela dava o seu para a boneca Mariazinha nanar bem devagarzinho?



Imagens, sons, cheiros, sensações: um universo real que se tornava lúdico a cada amanhecer.

Experiências que sedimentam lembranças, permitindo manter olhares sempre renovados sobre o que nos cerca. Tudo, a cada dia, será novo se o lúdico permanecer em nós. Ao que parece, a interação entre Aninha e todo o universo ao seu alcance continua capaz de fazê-la alçar voos para aquele outro, não visível, mas que a acompanha durante o sono daquela criança, que ainda persiste.

Emocionar-se com a melodia de uma sinfonia, ou com uma nuvem que desliza ao sabor do vento, é produto de sensibilidade despertada bem antes, ainda na época em que o olhar se detinha nas imagens oferecidas no seu entorno.

Neste conjunto de vivências, caberá aos pais fornecerem orientação sobre justiça, caráter, honestidade e demais valores necessários ao bem coletivo. 

Daí a importância de que às crianças sejam fornecidos meios e situações vivenciais que, juntos, formarão uma soma valiosa, capaz de propiciar elementos de qualidade para o futuro que a elas pertence.

A rua poderá tornar-se menos perigosa se conseguirmos buscar no lastro de qualidade, cultivado na infância, os passos corretos para encontros que valham a pena.

Quanto aos elementos modernos de comunicação, caberá, novamente, aos pais a dosagem adequada, pois a interação pessoa/pessoa deverá priorizar o diálogo à frieza e ao automatismo das máquinas. Ainda não se inventou nada melhor do que o homem. Devemos continuar apostando em seu potencial humano, para que se torne mais humanizado a cada dia.

Um Feliz Dia das Crianças para nós todos que ainda conseguimos manter um espírito brincalhão: apesar de tudo.




E, agora, um haicai pra Aninha comemorar este já tão distante O PÁTIO, guardado na lembrança, mas ainda presente no seu universo lúdico: como se fosse hoje.





Bicho Gente – Kleiton e Kledir