Pode tirar da tomada. Pode soltar os tamancos. Pode esticar
os pés. Relaxe, pois é hora disso.
E nesta terça-feira, depois de uns dias meio nublados, ela
voltou. Num céu azul, no final da tarde, lá está ela, novamente, crescente.
Apenas um fio, ainda. Da janela, sentada em uma cadeira, Bia estica o corpo
para vê-la melhor.
Por quatro dias, o envolvimento foi total. Pra quem não
sabe, Bia está voltando, como tantos outros, da avenida. Não só acompanhou o
bloco carnavalesco de seu bairro, dando força para o pessoal como, também, e
principalmente, desfilou na sua escola do coração.
Ela e outros tantos milhões de pessoas divertiram-se,
sonharam, se energizaram para enfrentar as dificuldades que surgirem ao longo
do ano. Nesse período, o do Carnaval, enquanto alguns curtiram o Oscar,
milhares sucumbiram em guerras, ou, ainda, resistem às atrocidades que
persistem nos milhares de conflitos pelo Planeta.
Por aqui também os homicídios se somaram aos latrocínios,
aos assaltos, aos furtos, aos acidentes ocasionados pelo excesso de velocidade,
às fraudes, aos desvios de toda a ordem, aumentando as estatísticas que
amedrontam, que nos tornam, a cada dia, menos seguros.
Oxalá nunca chegue até nós a matança indiscriminada de uma
guerra ou mesmo de uma revolução que se alimenta dos mais indefesos, daqueles
que servem de bucha de canhão para apetites sempre discutíveis.
Assistindo a alguns programas sobre comunidades, em que o
samba é o principal elo de agregação, observa-se o cunho social que ali se encontra
alinhado à simples diversão de compor e cantar.
Pessoas de profissões diversas, credos diferentes, todos
reunidos num abraço que preserva uma cultura, que se impôs e se mantém. Graças
ao trabalho de membros dessa mesma comunidade, a cultura do samba tem
perpassado gerações.
E isso é o que mantém milhares de comunidades pelo país
afora agregadas e, espiritualmente, fortes para os desafios que são constantes
e diários. Seres gregários precisam de outros iguais para sentirem-se mais
seguros e felizes, embora as carências materiais ainda persistam.
Para os que não carecem de bens materiais nessa mesma
proporção, talvez, seja difícil entender o porquê da tão grande importância de
uma comunidade que se reúne para cantar, tocar, curtindo momentos de
descontração. Claro, há quem descontraia, sozinho, ouvindo Beethoven.
O fato é que é imprescindível que se guardem momentos para
esse recarregar de baterias. Logo ali adiante, essa energia será bastante
necessária.
Lembrei-me de um cidadão português, padrinho de um casal de
brasileiros, na véspera do casamento, que disse, com sotaque característico,
perguntado sobre onde andavam os noivos: “estão a recarregar as baterias”.
Digressão à parte, o importante é creditar a esses encontros
de samba e ao próprio Carnaval essa função de energização do corpo, da mente,
dos sonhos, da vida que nos exige, a cada dia, mais força, para que a esperança
se mantenha firme e forte.
E essa energia é tudo de bom!
E com ela virá a crença em dias melhores, com mais
tolerância, mais fraternidade, porque o barco é um só e já está se tornando
pequeno diante de tanta tecnologia. O que parece estar longe de nós pode, a
qualquer momento, nos envolver de forma comprometedora à nossa sobrevivência.
Por ora, curtamos as nossas rodas de samba e o nosso
Carnaval, que também é cultura.
Ah! A lua ainda está lá. Agora, um fio bem mais brilhante.
Anoiteceu.
A RECARGA, POR ORA, ESTÁ CONCLUÍDA.
Troca de Energia/Samba de Coração - Péricles
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