O céu azul tornou-se plúmbeo. A chuva parece aproximar-se. Agora, já os pingos descem das alturas. Fazer o quê?
As capas de chuva juntam-se a alguns pertences dentro de sacolas.
Isto, porém, não é empecilho, nem obstáculo que tire a vontade de comparecerem aos estádios de futebol deste país.
Esta paixão repousa em uma necessidade interna de extravasar as emoções retidas por tantos episódios nefastos que acompanham os seres que vivem neste Planeta.
E esta é uma observação que se pode fazer em inúmeros países pelo mundo afora.
Todos, em maior ou menor grau, estão passando por transformações que os tem deixado menos seguros em todos os aspectos.
Embora cada torcedor exerça alguma atividade laboral, ou seja um cidadão aposentado, todos, sem exceção, estão, na atualidade, sob riscos de algum tipo.
Acredito que a forma encontrada para aliviar tantas tensões seja extravasá-las através de momentos em que, junto a amigos, torcem, gritam com a possibilidade de saírem vencedores daqueles embates futebolísticos.
Se assim não acontecer, voltarão aos seus lares com a esperança de que, da próxima vez, isso poderá ser uma realidade.
E a esperança é que torna nosso cotidiano mais ameno e a nossa percepção do mundo mais otimista.
Agora, quando não conseguimos senti-la, diante do quadro político que enfrentamos, o cotidiano tem que ser recheado de muito esporte.
Ele é que nos sustenta psicologicamente, tornando nosso dia a dia menos frustrante e mais esperançoso.
Nossos aplausos a todas as modalidades esportivas, pois possibilitam nos mantermos resguardados daquela descrença que se tem feito presente no nosso cotidiano político.
Ah! Que a nossa Educação, nossa Cultura e nossos Professores voltem a ocupar aquela posição que torna um país relevante em todos os sentidos.
Aos olhos desta observadora, que ora escreve, esta exclamação causa desalento, tristeza e indignação.
Uma exclamação que, algumas décadas atrás, causaria encantamento, um toque de beleza ao conjunto do entorno.
Um gramado verde num jardim em que as hortênsias tinham um lugar privilegiado.
Uma praça próxima cujo verde era a cor que se destacava em meio a bancos.
Ao abrir-se a janela, a imagem oferecida era do céu, do jardim, da praça e das casas dos vizinhos mais próximos.
Não estávamos em um bairro nobre da cidade. Estávamos em uma vila: a Vila Ipiranga.
Por suas ruas destacava-se o calçamento muito bem assentado, a inexistência de depósitos de lixo e um sopro do vento matutino a brindar os passantes que se deslocavam desde o amanhecer.
Quando era o dia de resplandecer um brilho maior, o Sol aparecia despejando alegria a todos aqueles que o observavam.
Uma vila planejada pela reconhecida Urbanizadora Benno Mentz.
As ruas eram, periodicamente, visitadas por equipes enviadas pela Urbanizadora. O lixo era acondicionado em sacos pelos moradores e colocado em frente à residência. Equipes da Prefeitura recolhiam o lixo a cada três dias.
Que época!
Esta é uma exclamação de aplauso àquela época e seus gestores.
Com certeza, também, era uma época de reconhecimento à excelência de uma educação pública com reconhecidos e respeitados professores em todas as áreas de ensino.
E as imagens com as quais, hoje, somos brindados todas as manhãs?
Ao abrirem as janelas, muitos munícipes receberão o impacto de uma sujeira que já se instalou, definitivamente, em nosso dia a dia.
Ela revela o nível de educação e cultura que, atualmente, apresenta-se a quem se detém a observar estas imagens, tornadas corriqueiras.
Um equipamento que veio para auxiliar no trato com o lixo caseiro, mas que expõe sua inutilidade frente ao que se observa diariamente.
Há algum tempo, tínhamos a retirada desse lixo por equipes do DMLU. Tudo se resolvia de forma limpa e efetiva.
Hoje, todo o tipo de lixo é colocado nesses contêineres.
O que é coleta seletiva?
Para que equipes do DMLU continuam buscando o lixo seco ou inorgânico?
Pelo que se observa, tudo é despejado, por todos, nos contêineres.
Ah! E o melhor vem agora...
Há quem entre para dentro dos contêineres e de lá jogue para fora o que vai levar e, também, aquilo que, depois, desiste de levar, deixando tudo para fora do contêiner.
Estes contêineres são equipamentos para uso em comunidades afeitas ao cumprimento de práticas que visam à limpeza das ruas, bem como a um convívio saudável entre os seus moradores.
Ruas conhecidas, de bairros conhecidos, estão entregues à sujeira espalhada em torno desses equipamentos.
A minha Porto Alegre apresenta, hoje, uma imagem visível, por onde encontrarmos estes equipamentos, da sujeira depositada no seu entorno, que se espalha pela rua e, inclusive, pelas próprias calçadas.
Abrir uma janela de frente para a rua, ao amanhecer, é deparar-se com estas novas imagens que só trazem tristeza e desalento para os olhos de quem vê-se diante deste quadro.
A exclamação do título é de absoluta indignação e tristeza.
Neste aniversário de seus 149 anos, gostaria de relembrar um pequeno poema, inserido na crônica CONTINUA SORRINDO, publicada em 22/05/19, cujo título é DESEJO.
Que bom se pudéssemos voltar no tempo e o órgão competente, em dias programados, levaria o lixo seco e o orgânico, depositados pelos próprios moradores em frente às suas residências e retirados por diligentes funcionários, encaminhando tais resíduos para locais previamente adaptados ou construídos para a destinação final. Quem sabe, um dia, ainda possamos abrir a janela e mergulharmos o olhar na árvore que é visitada pelos passarinhos da região e colorirmos o olhar com as flores do jacarandá rosa que enfeitam a calçada, que mais lindas ainda parecem, sob o brilho do sol que banha tudo e todos.
Ou, quem sabe, consigamos, um dia, alcançar um grau de excelência na cultura do convívio em sociedade, onde regras sejam respeitadas.
Para que catadores?
As escolas públicas, nos moldes de décadas passadas, transformariam o futuro destino desses jovens a exercerem atividades mais produtivas, dignas, restabelecendo-se, dessa forma, a importância da educação nesse processo de socialização em prol da cultura de um povo.
Que possamos abrir as janelas e ver a árvore que nos brinda com seu verde, já iluminado pelos raios do Sol que passeiam por entre os seus ramos.
Será puro sonho?
Mario Quintana deixou escrito:
Viver é buscar nas pequenas coisas um grande motivo para ser feliz.
Então, iluminar nosso olhar com imagens, que nos transmitam beleza, paz e a expectativa de que cada amanhecer trará a promessa de um dia melhor para si e para os seus, é de grande valia para cada um de nós que abre a sua janela da casa, bem como aquela outra. Aquela que garante a nossa saúde física, mental e emocional ao cultivar boas imagens e bons pensamentos. Estas imagens, sim, merecem um sinal de exclamação que passa encantamento e esperança em cada amanhecer.
O tempo muda em qualquer tempo. Não somos os responsáveis por essas mudanças. A Natureza, a que estamos submetidos, é aquela personagem que muda a vestimenta do céu que nos cobre. E é bom que assim seja, pois se em nossas mãos estivesse essa capacidade, talvez, fôssemos manipulados por aqueles que dominassem esse poder. Exatamente como ocorre com o foco das notícias que invadem nossos lares. Recebemos, passivamente, uma avalanche de imagens em que são expostas todas as fragilidades humanas, os efeitos deletérios de atos que comprometem a vida em sociedade, que contribuem para um cotidiano desafiador no sentido de que não se repitam ações discriminatórias, desabonatórias, de atitudes que subvertem os bons valores, aqueles que nos dignificam como seres humanos. Tudo isto é apresentado, reiteradamente, em detalhes com as cores da notícia filmada, fotografada, veiculada em whats. Dissimulação, traição, desvios de bens, valores e condutas são uma constante em nosso noticiário. Afinal, a notícia existe para ser divulgada, cabendo a quem detém essa atividade fazê-la chegar, em detalhes, aos ouvintes, leitores ou telespectadores. Agora, o que causa indignação é que se criem programas onde esses comportamentos sejam rotulados de entretenimento. Assistir reality shows é querer redimensionar, vestindo com roupagem de espetáculo, o que deveria ser abominado e, jamais, apresentado como divertimento. Sem entrarmos na esfera dos filmes com cenas violentas, sugeridos como diversão, porque a realidade cinematográfica prende-se, no momento, também, ao que o cotidiano apresenta de perverso, os reality shows trazem, igualmente, altas doses de comportamentos reveladores da índole malévola de seus participantes. Seria isto entretenimento? Ou será que a mesma matéria dos noticiários é, sob nova roupagem, apresentada como entretenimento? Será que perdemos o bom senso de buscar aquilo que se sobreponha aos malfeitos diários e apenas nos divertimos com o digladiar de oponentes, numa “batalha” pela supremacia de um sobre o outro? Ou será que isto está nos sendo imposto, pois se verificou que perdemos a emoção pelo belo, pela imagem que transmite paz, pela empatia com o nosso semelhante que nem mais observamos? Ah! Até o próprio ritmo e letras, que dizem ser música, são apresentados por indivíduos de dentro de automóveis e captados por celulares que, também, registram, por vezes, a exposição de armas como símbolo de poder. É, porém, ainda um alento ver algumas poucas emissoras reservarem seus espaços, não apenas para as notícias diárias, mas, também, para a cultura. Entrevistas com educadores, filósofos, bem como outros profissionais, que oportunizam diálogos que nos fazem refletir, contribuindo, dessa forma, com o desenvolvimento da cultura em nossa sociedade. Senhores, somente a EDUCAÇÃO poderá nos retirar desse atoleiro em que nos encontramos. Ela é capaz de alavancar nossa sociedade no sentido de que nos tornemos melhores cidadãos, mais exigentes, mais perceptivos, mais seletivos e muito mais ordeiros, éticos e admiradores de programas que nos elevem e nos motivem a, cada vez mais, tornarmos realidade a nossa evolução na escala do bom cidadão. Esta “reality” entre nós e aqueles que conosco convivem, sim, valerá a pena ser desfrutada.
Uma euforia tomou conta de todos. De repente, parece que foi ontem. Novamente, uma necessária pausa instalou-se.
Quem não precisa de uma pausa?
O Carnaval existe para isso.
Uma pausa para esquecer, para cantar, para requebrar, para deixar levar-se pelos variados ritmos que nos identificam como um povo alegre e festeiro.
Multidões dançando e cantando ao som de ritmos bem nossos. O Carnaval de rua, cada vez mais, recupera sua importância. Um cantor levando multidões a cantar, a acompanhar o ritmo com o próprio corpo, com as mãos, com os pés.
Parece que não é mais suficiente assistir, de uma arquibancada, ao desfile de sua escola de samba.
Não! Decididamente, não!
É preciso pular, dançar. Ter ao lado outro igual a si. Fazer par.
Uma pausa para o virtual. Pular ao lado de outro, ouvir sua voz, fazer evolução para encantar a si e ao outro. Uma pausa para o encantamento. Uma pausa para o esquecimento.
Como encantar-se sendo cercado por tantos problemas?
Não é para qualquer um.
É uma possibilidade, porém, para um cidadão brasileiro. Neste sentido, somos privilegiados. Criatividade é conosco. Isto traz junto uma capacidade de superação frente aos problemas cotidianos.
Uma pausa, portanto, é necessária, é desejável, é aguardada durante um ano inteiro. E, depois de instalada, quem quer voltar?
Haja fôlego para tanto gingar, tanto pular, tanto cantar...
Ah! Quanta diversidade, tantos Brasis, mas somos todos brasileiros. Que sorte!
A nossa pausa anual reforça esta nossa característica, que é única: a alegria. A alegria de conseguirmos extrair tanto de uma única pausa anual.
É uma lástima que um povo tão criativo e alegre não tenha a sorte de possuir governantes a sua altura.
Somos trabalhadores, sim. Não somos vagabundos. Aquele cidadão, já idoso, continua a passar assobiando, todas as manhãs, pela minha rua. Puxa um carrinho com materiais recolhidos pelo bairro. Descarrega o conteúdo em um depósito que o encaminha para uma firma de reciclagem. Ele faz parte da história de meu bairro.
Assim, também, o Carnaval faz parte da história e da cultura brasileira.
Através dos sambas-enredos de nossas escolas de samba, a história desse país é recontada. Por vezes, mais real e verdadeira. Mesmo estando sob o manto da beleza, não é suficiente para encobrir os momentos mais dramáticos. Mesmo querendo denunciar fatos, situações e tragédias anunciadas, este povo consegue revestir com suavidade e beleza o que, num primeiro impacto, foi chocante e dilacerador.
Que belo povo!
Oxalá, consigamos manter pausas que nos aliviem e, ao mesmo tempo, nos unam para o desfrute de momentos alegres e criativos.
Afinal, pausas servem para que as emoções aflorem. E nós, seres humanos, somos por elas constituídos.
E é bom quando podemos demonstrá-las de forma criativa e agregadora.
Desejar mais o quê?
Que nossas pausas sejam mais de encantamento do que de alívio. Que oportunizem atos criativos ao invés de apenas serem momentos de descompressão. Que as mãos encontrem outras para o cumprimento afetivo e de solidariedade. Que as pausas deste tipo sejam permanentes em cada encontro.
Que o olhar perdido, no azul do céu, seja uma pausa em nosso viver diário. E que, mesmo sob chuva intensa, enxerguemos, através da vidraça, a importância dela como equilíbrio da Natureza e como espelho que representa nossas próprias lágrimas.
Acredito, firmemente, que o ano, que nos separa desta pausa tão aguardada, seja preenchido por encontros que nos aproximem mais de movimentos culturais que, também, são momentos de ruptura com os males que nos afligem, pois o horizonte se amplia nos possibilitando sonhar.
Afinal, o nosso Machado de Assis, afirmava que “a arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal”. (livro “Iaiá Garcia”, Editora Ática, SP, 1998)
Acredito que a cultura, num sentido amplo, é a mola propulsora para a melhora pessoal e da sociedade que nos cerca. Que mais pausas surjam para que exercitemos o poder de reflexão, pois somente dessa forma sairemos do atoleiro em que nos encontramos.
Este corte valeu a pena. Foi um corte metafórico e sensual: inesquecível.
Agora, quando Dona Isaura deu-se conta de que suas mãos estavam muito enrugadas, assustou-se. Seu invólucro parecia já não valer grande coisa, dizia ela. Mas, como era uma mulher de fibra e batalhadora, enxugou as lágrimas e procedeu a um inventário de suas realizações e, para sua surpresa, readquiriu sua autoestima, considerando a importância do que resgatou de sua memória. Também chegou à conclusão de que o importante não é o invólucro, mas o conteúdo. E cortou, pela raiz, aquela sensação de menos valia.
Outro corte que valeu ter sido dado. Também ele gerou um recomeço interno, inesquecível: um divisor de águas.
Estes são cortes metafóricos que se dão muito bem com a poesia e com nossas vivências interiores que, via de regra, também se tornam poesia.
Cortes que registram rupturas com situações-limite em relacionamentos insustentáveis. Cortes que só nos fazem bem. Cortes que nos abrem novos caminhos a serem trilhados. Cortes que melhoram e reforçam o nosso conteúdo, porque o invólucro não é o principal.
Agora, como podemos entender cortes de verbas na preservação da nossa cultura? Naquilo que representa um patrimônio não somente nacional, mas também da humanidade?
Mais uma vergonha nacional soma-se a outras tantas. O Museu Nacional é apenas mais um na lista, agora, daqueles que já foram consumidos pelo fogo.
É desalentador saber que cantores, bandas e outros nomes da esfera artística recebem polpudas verbas para que usem na montagem de shows.
Agora, museu é lugar só de velharia, dirão alguns.
Pra que memória? Pra que pesquisa?
Os antepassados “já eram”...
Como podemos nos desenvolver como cidadãos conscientes de nossa importância hoje, vivenciando o século 21, se não mantivermos a nossa memória viva, conhecendo a nossa trajetória neste planeta desde remotas eras?
Foi com comoção que assistimos à devastação do Museu Nacional em chamas.
Algum culpado? Não.
Foi uma fatalidade!
E, ainda, para maior vergonha foi aceitar doações em dinheiro, de países estrangeiros, para reconstruir-se o que jamais poderá ser reconstruído. Claro que a contribuição dos cientistas e estudiosos, no levantamento das pouquíssimas peças que restaram, sempre é válida.
Neste caso, como os outros citados no início, o invólucro não é o importante. Suas paredes não são o repositório da história da humanidade.
O importante era o CONTEÚDO: um verdadeiro tesouro.
Um tesouro que exigia PRESERVAÇÃO CONSTANTE.
Assim como cada um de nós possui um tesouro interno, que tem que ser preservado, porque o invólucro não é o principal.
O principal é o conteúdo.
E este conteúdo do Museu Nacional está EXTINTO PARA SEMPRE.
Este “CORTE” foi fatal; este DESCASO, INACEITÁVEL E INESQUECÍVEL.
Aquele ursinho vive ainda na lembrança de todos que viram aquela lágrima, escorrendo daquele olhinho entristecido pela despedida de tão belo evento que foram os Jogos Olímpicos, realizados em Moscou, em 1980.
Misha jamais será esquecido. Como todo ursinho, aquele da nossa infância, era gracioso, fofinho. Criado, à época, pelo ilustrador de livros infantis Victor Chizhikov. Era composto por um vasto mosaico de coreógrafos que levantavam e abaixavam placas coloridas em movimentos perfeitamente sincrônicos, causando aquela imagem de uma lágrima a escorrer.
Dessa maneira afetiva é que costumamos guardar, na memória, as mascotes dos eventos esportivos.
Da mesma forma, desde 1966, as Copas do Mundo, organizadas apela FIFA, contam com uma mascote.
Das 14 mascotes que acompanham a História das Copas do Mundo, 7 delas foram animais, a saber:
1966 – (Inglaterra) – Willie, um leão – símbolo da Grã-Bretanha;
1994 – (USA) – Striker, um cachorro;
1998 – (França) – Footix, um galo azul de cabeça vermelha;
2006 – (Alemanha) – GoleoVI e Pille – um leão e sua bola falante;
2010- (África do Sul) – Zakumi, um leopardo;
2014 – (Brasil) – fuleco, um tatu-bola;
2018 – (Rússia)- zabivaka, um lobo.
Significado desse nome em russo: Aquele que marca o gol.
Convenhamos que a nossa escolha de um animal como mascote recaiu sobre um ser que não foi feito para ataque. Sabe muito bem é enrolar-se e travar. Quando se sente ameaçado, fecha-se na forma de uma bola, tornando-se vulnerável ao ataque de qualquer predador.
Descrição esta relatada na crônica E AGORA, TATU?, publicada em 9 de julho de 2014, no blog www.quetalessatche.com.br.
Naquele resultado desastroso, o coitado do tatu-bola foi absolvido por falta de provas.
Agora, a Rússia, anfitriã desta Copa do Mundo, escolheu um lobo. Informaram, porém, que é um lobo com características humanas, isto é, um lobo antropomórfico. Ele competia com um tigre e um gato. Acabou ganhando. Desconfio que, também, sob a capa de um animal que está em perigo de extinção, seja um verdadeiro predador, carnívoro que é, pronto para o ataque. A sua figura antropomórfica, equilibrando uma bola sobre a cabeça, dá a ela uma graciosidade que é “puro disfarce” da sua capacidade de ataque. Agora, para piorar, o nome dado a ele, isto é, Zabivaka, significa “aquele que marca o gol”.
É! Os russos escolheram muito bem a sua mascote. A ideia é que, não se surpreendam, a Rússia possa levar a Taça.
E, desta vez, o lobo será elevado à condição de animal fundamental na conquista. As provas do sucesso da atuação da equipe russa serão divididas com este exemplar da espécie animal: representativo de quem luta pela conquista de sua presa.
Esperamos que “a presa” não seja aquela equipe cujo símbolo é por demais sonoro, mavioso, encantador: um verdadeiro pássaro canoro.
Não ouso escrever seu nome.
Claro que, se isso vier a acontecer, ela, a ZEBRA, será eleita a Rainha dos Animais.
Aguardemos...
Por ora, o nosso aplauso aos bois-bumbás de Parintins, capital nacional do bumbá, no Estado do Amazonas. Local onde ocorre, anualmente, o Festival Folclórico de Parintins que comemora a diversidade e a resistência cultural daquela região.
Desfilam, no Bumbódromo, os bois-bumbás Garantido e Caprichoso. Pelo segundo ano consecutivo, o Boi Caprichoso venceu nas três noites do Festival.
É o boi-bumbá, figura folclórica da Amazônia, que mantém vivo os rituais indígenas, as crenças, as festas típicas, o conjunto de valores diferenciados, unidos todos na preservação da cultura local.
E este espetáculo, transmitido pela TV Cultura, é um exemplo de que se pode buscar e encontrar a identidade de muitos Brasis espalhados por todo o território nacional. Transmitir estas imagens é papel relevante de uma emissora de televisão atenta ao culto e à transmissão de nossas tradições. O que nos insere na cultura civilizatória global.
Pode tirar da tomada. Pode soltar os tamancos. Pode esticar
os pés. Relaxe, pois é hora disso.
E nesta terça-feira, depois de uns dias meio nublados, ela
voltou. Num céu azul, no final da tarde, lá está ela, novamente, crescente.
Apenas um fio, ainda. Da janela, sentada em uma cadeira, Bia estica o corpo
para vê-la melhor.
Por quatro dias, o envolvimento foi total. Pra quem não
sabe, Bia está voltando, como tantos outros, da avenida. Não só acompanhou o
bloco carnavalesco de seu bairro, dando força para o pessoal como, também, e
principalmente, desfilou na sua escola do coração.
Ela e outros tantos milhões de pessoas divertiram-se,
sonharam, se energizaram para enfrentar as dificuldades que surgirem ao longo
do ano. Nesse período, o do Carnaval, enquanto alguns curtiram o Oscar,
milhares sucumbiram em guerras, ou, ainda, resistem às atrocidades que
persistem nos milhares de conflitos pelo Planeta.
Por aqui também os homicídios se somaram aos latrocínios,
aos assaltos, aos furtos, aos acidentes ocasionados pelo excesso de velocidade,
às fraudes, aos desvios de toda a ordem, aumentando as estatísticas que
amedrontam, que nos tornam, a cada dia, menos seguros.
Oxalá nunca chegue até nós a matança indiscriminada de uma
guerra ou mesmo de uma revolução que se alimenta dos mais indefesos, daqueles
que servem de bucha de canhão para apetites sempre discutíveis.
Assistindo a alguns programas sobre comunidades, em que o
samba é o principal elo de agregação, observa-se o cunho social que ali se encontra
alinhado à simples diversão de compor e cantar.
Pessoas de profissões diversas, credos diferentes, todos
reunidos num abraço que preserva uma cultura, que se impôs e se mantém. Graças
ao trabalho de membros dessa mesma comunidade, a cultura do samba tem
perpassado gerações.
E isso é o que mantém milhares de comunidades pelo país
afora agregadas e, espiritualmente, fortes para os desafios que são constantes
e diários. Seres gregários precisam de outros iguais para sentirem-se mais
seguros e felizes, embora as carências materiais ainda persistam.
Para os que não carecem de bens materiais nessa mesma
proporção, talvez, seja difícil entender o porquê da tão grande importância de
uma comunidade que se reúne para cantar, tocar, curtindo momentos de
descontração. Claro, há quem descontraia, sozinho, ouvindo Beethoven.
O fato é que é imprescindível que se guardem momentos para
esse recarregar de baterias. Logo ali adiante, essa energia será bastante
necessária.
Lembrei-me de um cidadão português, padrinho de um casal de
brasileiros, na véspera do casamento, que disse, com sotaque característico,
perguntado sobre onde andavam os noivos: “estão a recarregar as baterias”.
Digressão à parte, o importante é creditar a esses encontros
de samba e ao próprio Carnaval essa função de energização do corpo, da mente,
dos sonhos, da vida que nos exige, a cada dia, mais força, para que a esperança
se mantenha firme e forte.
E essa energia é tudo de bom!
E com ela virá a crença em dias melhores, com mais
tolerância, mais fraternidade, porque o barco é um só e já está se tornando
pequeno diante de tanta tecnologia. O que parece estar longe de nós pode, a
qualquer momento, nos envolver de forma comprometedora à nossa sobrevivência.
Por ora, curtamos as nossas rodas de samba e o nosso
Carnaval, que também é cultura.
Ah! A lua ainda está lá. Agora, um fio bem mais brilhante.
Anoiteceu.
Confessa que já anda meio deslocado. Até já mudou de data.
Nem acontece mais no mês tradicional. Parece quererem que o esqueçam, ou que,
pelo menos, não o queiram com tanta animação.
Os mais abastados, com certeza, escapam para outras paragens
mais tranquilas, quando ele se aproxima.
Os que permanecem pela cidade aproveitam para um descanso
mais espichado. Comodamente instalados, talvez o assistam pela televisão.
Quem não lhe abandona é mesmo o povão. Ah! Os salões das
sociedades, ao que parece, também ainda o curtem.
Sua utilidade fica flagrante junto aos que menos tem. Sua
importância é diretamente proporcional àqueles que pouco tem. Serve ele de
compensação por tantos dias em que se tem tão pouco, em que se é tão menos.
Daí sua extrema importância.
Ele serve para muitos descansarem, outros muitos lucrarem e
muitos milhões sonharem.
E o sonho é necessário. O sonho serve para desafogarmos
mágoas, medos e tensões. Mas, também, serve para projetarmos caminhos possíveis,
alternativas que se mostram ao acordarmos em alguma manhã diferente, de algum
dia diferente.
Serve também o sonho para vestirmos uma fantasia majestosa e
nos sentirmos reis. Afinal, um cetro e uma coroa não são para qualquer um. E
esse sonho nos impele à construção de toda uma estória que, com começo, meio e
fim, nos contará a vida, a obra, as façanhas, as supertições e todo o acervo
humano, conquistado por séculos, tudo junto, contado e cantado numa única
noite.
É! O reinado dura pouco. Mas, o quanto é importante!
E não é de circo que se está a falar. É de identidade, de
participação, de superação, de sublimação para fatos importantes, não
resolvidos, que se apequenam, frente ao espetáculo daquela noite. Ou se
agigantam, dependendo do enfoque social trazido à cena.
Quando se escolhe um
escritor para homenagear, que é da terra, cujas personagens forjadas são
criaturas conhecidas nacionalmente e que traduzem tipos e formas de pensar,
característicos do povo onde estão inseridas, é tudo de bom!
E é isso que a vermelho e branco, a Escola Imperadores do
Samba, leva para a avenida no próximo dia 4 de março.
A Velhinha de Taubaté, coitada, já desaparecida, estará,
porém, presente na avenida para lembrar-nos do grau de decepção que sofreu,
depois da crise do mensalão, entregando os pontos, tenho certeza, antes da
hora. Ela que sempre acreditava nos “governos”, quaisquer governos,
apresentando sempre uma posição favorável a eles, instituídos, impostos,
conduzidos, negociados ou eleitos.
Por outro lado, a socialite ravissante Dora Avante, ou
Dorinha, graças a Deus, continua firme e forte, aparecendo de quando em vez com
a Tati Bitati, destilando, através de seu discurso, a ironia sarcástica de seu
genial criador.
Já Ed Mort, antigo detetive particular, sempre sem dinheiro,
com seu famoso “escri”, de escritório, em Copacabana, cercado de baratas e do
famoso rato Voltaire, deixa saudades.
E as Cobras, famosa coletânea de tiras, publicada em 1997,
de circulação em alguns jornais brasileiros, que tinham como personagens o
famoso Queromeu, o corrupião corrupto (tão atual!), além das lesmas Flexa e
Shirley e o não menos famoso Durex, sempre a favor do governo em vigor!
E pra fechar o espetáculo o Analista de Bagé, figura
caricata de um gaúcho metido a psicanalista. Sempre acompanhado por Lindaura,
sua assistente, pronta a ajudá-lo em “todas” as causas e por “todos os meios
imagináveis e inimagináveis”. Aprende-se com ele que o principal remédio para
os males e dores subjetivas é o conhecido “joelhaço” que, aplicado no lugar
correto, faz o vivente esquecer as dores “menores”, deixando, “de vez”, de
frescura. Agora, se for mulher o paciente, as técnicas serão outras,
aprendidas, acredita-se, atrás dos galpões.
Ora, depois dessa promessa de desfile, com criador e
criaturas fazendo o espetáculo, a pergunta inicial pode ser devolvida com outra
pergunta para esse senhor, já bastante idoso, que se chama Carnaval.
Para que serves? Deixe que eu responda.
Para que o povo armazene forças para matar um leão por dia,
para que não perca a esperança frente aos embates que se seguem pelo ano afora,
para que mantenha a autoestima em alta, para que o bom humor não o abandone,
para que o sorriso do filho possa significar a esperança de dias melhores, para
que saiba da sua força na transformação, para melhor, das instituições e para
que saiba reivindicar, dentro da legalidade e da ordem, os seus direitos de
cidadão.
Tudo, da mesma forma, como faz nos desfiles: interpretando
os personagens da sociedade, cuidando da formação das alas, controlando o tempo
despendido para cada evolução, desfilando no ritmo fornecido pela bateria, não
atravessando o samba, compreendendo e respeitando as regras que o desfile
exige.
Tudo para aprender a percorrer a avenida no compasso das
batidas do coração, com segurança e coragem, rumo a uma melhor condição social
que passa, necessariamente, pela correta interpretação do que o cerca.
E isso só se consegue com educação e cultura.
E o Carnaval é um pouco disso tudo.
Mas não é tudo. Há, ainda, um longo caminho a percorrer.
Por ora, armazenemos um tanto de energia nesse dia 4 de
março, pois os dias, que se seguem, prometem.
Parabéns à Escola de Samba Imperadores do Samba e ao seu
escolhido, o nosso Luis Fernando Veríssimo, para tema do samba-enredo desse
Carnaval de 2014.
Um bom Carnaval a todos!
Clipe Oficial do samba-enredo da Escola de Samba Imperadores do Samba para 2014