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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O PEZINHO


Pois o guri, lá pelos seus quinze anos de idade, era do tipo desconfiado, meio arisco, mais muito observador.


Certa vez, foi dar uma espiada num baile lá pras bandas onde o diabo perdeu as botas. Era um baile daqueles chamados de “cola atada”. Uma coisa que jamais vira antes! O ritmo do vanerão o impressionara, também. Pela fresta da janela, imaginou-se no salão, dando voltas e mais voltas. Lembrou-se do salão paroquial da cidade onde, vez por outra, aconteciam fandangos organizados pelo CTG local. Lá, também, costumava dar uma espiada. Nunca pudera ir, porém. Era seu sonho...


Nos domingos, dia que poderia participar, saía com um tabuleiro a vender doces: imposição de sua mãe. Não levava jeito para vender. Aliás, quando passava, ouvia sempre alguém a fazer gracejos, tipo: “Cuidado com o tabuleiro! Vai cair se balançar demais! Firma o passo!”. Sentia-se observado por todos.

Em casa, não sabia por que a mãe o tratava com certa rispidez. Soube que ela própria escolhera seu nome: Orlando. Sempre achara um nome “forte”.

Passaram-se os anos, e com eles sua inclinação superou até o próprio nome. Sentia-se, lá pela casa dos vinte anos, mais como Orlandinho. Aquele que aprendera a pôr as mesas de um restaurante conhecido na cidade. E como era benquisto pelos fregueses! Circulava entre as mesas, equilibrando bandejas, pratos e copos com graça e desenvoltura. Em passos medidos, atravessava o restaurante de um lado a outro, quase como numa dança ensaiada.

Tornara-se, com os anos, mais solto, mais descontraído. Aqueles tempos de acanhamento, desconfiança e insegurança tinham-se ido. Sua mãe falecera já há algum tempo. Suas duas irmãs, mais velhas que ele, não se preocupavam muito em saber por onde ele andava. Isto, até certo ponto, era bom. Não tinha que estar dando satisfação à família. Esse afastamento, por outro lado, exigia dele certa dose de decisão e a responsabilidade por seus próprios atos. Vez por outra, tinha a sensação de estar solito no mundo.

Foi quando apareceu, no restaurante, o Ângelo. Rapaz mais velho, tipo que china se engraça. Fora contratado, também, como garçom. Era um xiru gentil com todos os fregueses. Passado algum tempo, já formava com Orlandinho um par perfeito. Um, servia com prazer à clientela, circulando por entre as cadeiras, quase como num balé. O outro, um galanteador. Tinha sempre uma palavra de elogio, especialmente às mulheres frequentadoras do estabelecimento.

Agora, o melhor de tudo é que Ângelo gostava de ir a fandangos. Aliás, pertencia à invernada artística do CTG da cidade. Dançar era com ele mesmo. Na dança dos facões, desafiava com garbo. Mas era na chula que demonstrava toda a sua destreza, tirando fininho da lança largada no chão. As esporas chegavam a brilhar e zunir naqueles movimentos viris que, Orlandinho, fascinado, assistira uma vez. Não mais esquecera.

Nessas alturas, a amizade entre os dois já se estabelecera. Uma amizade que preservava as diferenças, sem nenhum problema. Ou seja, cada macaco no seu galho.

E através de Ângelo foi que Orlandinho entrou para o CTG. A sua grande estreia deu-se quando, integrando também a invernada artística, dançou O Pezinho com Mariana.

No outro dia, a prenda foi ter com o Patrão do CTG. Disse a ele que não queria mais fazer par com Orlandinho. Ele não só quase pisara, por várias vezes, nos seus pés, como também ela observara alguns gestos estranhos em Orlandinho. E, chegando mais próximo do Patrão, disse que, durante a dança, pegara Orlandinho segurando, por instantes, a bombacha, enquanto fazia o rodopio. Convenhamos, disse Mariana, que este gesto devia ser mais seu como prenda, do que dele. Além do que, o lenço vermelho, ao redor do pescoço, era mais uma espécie de laçarote, num degradê, puxando para a cor rosa. E por isso não queria mais dançar com ele.

A notícia espalhou-se. Quase que as portas do CTG fecharam-se para Orlandinho. Por sorte, com a intervenção de Ângelo, o amigo Orlandinho permanece, até hoje, no CTG. Não mais na invernada artística, mas no bar, onde faz “uns bicos” quando tem fandango. Quando está em serviço no bar, costuma usar umas alpargatas. São, assim, meio diferentes. Há uma rosinha, pequenininha, minúscula, estampada sobre o peito do pé. Ninguém sabe de onde surgiu aquele calçado. As bombachas são mais justas que o modelo tradicional. 

Agora, o Patrão está de olho nele! Qualquer deslize maior, ele será convidado a retirar-se.

Até já avisou:

“Aqui, o laço do lenço não é laçarote; lenço vermelho não é vermelho degradê; bombacha não é fusô e, principalmente, a montaria oficial continua sendo o cavalo.”

E estamos conversados.



Agora, não sei não!

A coisa anda mais a perigo que minhoca no galinheiro. Facilita o Patrão vai acabar mais arranhado que pau que gato trepa. Qualquer dia, a expressão “sair do armário” cairá em desuso. Ficará no passado.

E o Orlandinho?

No fandango, dançará aquele “vanerão”. Claro, não de cola atada. Que isto não é tradição: é esculhambação.

Ou, quem sabe, um “bugio” meio diferente, aquele que chamam de “bugio do pezinho”, que pode ser apreciado no primeiro vídeo abaixo.

Ah! Mariana também é um nome forte, como ficou demonstrado no vídeo seguinte.



Orlandinho aguarda ansioso estes novos tempos...

Aguardemos: todos nós.







Bugio do Chico – Os Serranos 




Adeus Mariana – Oswaldir e Carlos Magrão 






segunda-feira, 12 de agosto de 2013

NO EMBALO POSITIVO DA GLOBALIZAÇÃO



 
 
Os cantos são diferentes, os timbres mais ainda. As vestimentas e os seus acessórios revelam povos também diferenciados. Culturas e tradições de pontos diversos do Planeta revelam-se aos olhos do mundo. Que privilégio é, hoje, poder assistir, via Internet, on line ou em vídeos, desde os recantos mais distantes, apresentações de canto e dança que demonstram a variedade de etnias, línguas e todo um conjunto de características próprias de povos tão diferentes, mas que se tornaram tão mais próximos.

E essa proximidade faz com que vejamos quão parecidos somos todos, na essência. Esse é um caminho sem volta e, talvez, o único que trará a paz tão almejada.

As questões sociais que nos cercam, tão parecidas com os de outros irmãos, e que a todos afligem, demonstram a similitude da caminhada. Praças e parques tomados por manifestantes possibilitam uma constatação igual para todos: a de que algo não está bem. Somos vistos e vemo-nos nos outros. Isso é um aspecto positivo da globalização. Claro que o conhecimento, através da Educação, é que nos possibilitará discernir o que subjaz a uma manifestação ou a uma revolta. Quais as verdades? Onde há possibilidade de engodo?

Agora, a infindável gama de tradições e culturas de povos diferentes também é, hoje em dia, amplamente mostrada, via Internet. E isso também é um aspecto positivo da globalização. Assistir a apresentações folclóricas de outros países é profundamente enriquecedor e possibilita um intercâmbio de diferentes visões de mundo. Todos terão, consequentemente, possibilidade de preservar o que é seu, mostrando ao outro.

Seria o que se passou a chamar de “globalização do local”. Na verdade, temos hoje instrumentos para criar vídeos, por exemplo, que nos permitem pegar a nossa própria cultura e fazer um upload dela para o mundo. Isso é uma força poderosa na preservação das tradições locais. Quem não quer mostrar suas danças, seus cantos, sua cultura ao outro? Isso, inclusive, fomenta o turismo.

Aliás, essa expressão “globalização local” foi cunhada pelo indiano Indrajit Banerjee, Secretário-Geral do Centro Asiático de Informação e Comunicação de Mídias (AMIC) e ph.D. em Comunicações pela Sorbonne, sendo, ainda, professor em uma Universidade de Cingapura.

São palavras de Banerjee:

“Alguém poderia pensar que a globalização na Ásia significaria se tornar inglês, mas esse não é o caso. O mercado da diáspora significa que você tem jornais internacionais e canais de TV e rádio internacionais completamente baseados em línguas locais. Isso é o que eu chamo de globalização do local. Não é o global que vem e nos envolve. É o local que se torna global”.

 
 
Dito isto, é com alegria que recebi de um colega um vídeo, transcrito abaixo, onde pude relembrar os aniversários na casa de minha avó paterna, natural de Berlim, em que uma amiga sua, de nome Frau Hesse, cantava lindas canções tirolesas, com o característico falsete de voz.

Aliás, na Áustria atual, estão revivendo as apresentações de canto tirolês, pois os turistas visitam a região não apenas pelas belas paisagens, mas muito em especial por esse tradicional canto, que andava meio esquecido.

 
Por aqui, próximos a nós, temos o folclore argentino, muito semelhante ao gaúcho, como se pode observar no vídeo que segue.


 

Chula Malambo – Integración Gaúcha – Brasil/Argentina
 
 

Então, que ressurja a Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, em sua 37ª edição que, por algum tempo, também esteve esquecida, conforme afirmou Júlio Cézar Benites Teixeira, Presidente dessa edição. Disse ele:

“A nuvem pesada que ameaçava a Califórnia, agora, descansa no horizonte longínquo e dá lugar à lua cheia que emite raios prateados e fluidos positivos nos dando a garantia de sucesso”.

O CTG Sinuelo do Pago, promotor do maior festival nativista desses pagos, considerado patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul, levará, novamente, à frente esse evento que acontecerá em Uruguaiana, nos dias 6, 7 e 8 de dezembro do corrente ano.

Já há, inclusive, a confirmação da presença do Ballet Brandsen, da Argentina, (vídeo anexo), reconhecido internacionalmente, que abrilhantará ainda mais essa Califórnia.

Aliás, Califórnia, do hispano-americano, significa corrida de cavalos em que tomam parte mais de dois parelheiros ou, também, competição, festival, conforme registra o Dicionário Gaúcho Brasileiro de João Batista Alves Bossle, edição 2003, p.109.

Será, com certeza, um sucesso essa 37ª edição da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, como também o foram as anteriores, desde o distante ano de 1971.


Diante dessa perspectiva de “globalização do local”, não podemos deixar de, nesse embalo positivo, apresentarmos ao mundo o que temos de melhor nas tradições do Rio Grande do Sul.

E já que servimos (numa extensão das façanhas) de modelo a toda a Terra, mantenhamos essa tradição mostrando aos povos dos mais distantes rincões do mundo a riqueza cultural que preservamos e que nos faz tão diferentes deles, porém ainda irmãos.
 
 
 
 
Show fantástico na Suíça
 
 
 
Tirol Folclore – Innsbruck, Áustria
 
 
 

Ballet Brandsen –ATC (1992) – Malambo
 
 
   
 
 
 
 Grupo Rodeio – 03 – Danças Tradicionais Gaúchas
 
 
 
 Grupo Rodeio – 05- Chula
 


 
 Gaúchos pelo mundo