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quinta-feira, 30 de março de 2023

terça-feira, 14 de setembro de 2021

FESTEJEMOS...



Todos os dias devem ser festejados.

Quem tem olhos que se perdem no infinito do céu, no acompanhar dos pingos de chuva que cai sobre a vidraça, no passeio de uma praça ou, até na calçada, ao ver uma formiguinha carregando o seu alimento, estes momentos serão preciosos porque despertarão o que somente os poetas sabem quando aflora. Daí a certeza de que todos os dias são belos porque deles poderão nascer poemas. Poemas que, ao serem lidos por alguém, poderão despertar-lhe para a beleza que é a Vida. E a Vida é um constante ressurgir, como o poema que segue.
 
 
*Obteve o 1º lugar, na categoria POESIA, no Concurso da FECI/2008.

 
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

SEM SINAL... SERÁ?


Apontam para o alto. Espalham-se pelos telhados. Todos os tamanhos e tipos são vistos. Por vezes, não captam. Mas o bem-te-vi canta ao lado, empoleirado próximo. Faz coro com outro bem-te-vi que responde ao sinal. De repente, outros cantos respondem aos bem-te-vis. São outros pássaros cantores que, alvoroçados, iniciam as suas próprias conversas sonoras. Todos em perfeita harmonia. Todos sinalizando uma comunicação perfeita. Todos emitindo e recebendo sinais, numa conversa que tem hora para iniciar e para acabar, pois existe um tempo para tudo: não só para conversar, mas, também, para calar.

Que beleza ouvi-los! São perfeitos neste mister. Não precisam de forças alheias a eles próprios. O amanhecer e o cair da noite são sinais suficientes para que se inicie uma conversa rotineira. Esta é uma observação sobre os pássaros “cantores”, habitantes das grandes cidades. São seres independentes que se equilibram num parapeito qualquer, num vão estreito de uma marquise, emitindo sinais a outros de sua espécie sem dificuldade alguma.

Que inveja perceber que somos, diferentemente deles, tão pobres neste diálogo saudável com os de nossa espécie.

O nosso “sem sinal”, atualmente, inviabiliza praticamente tudo. Ele impede de nos atualizarmos com o mundo. E o que é pior: com o vizinho que mora ao lado, no mesmo bairro. Está ficando difícil viver “sem sinal”. Quando isto ocorre, todos ficam como baratas tontas, sem saber como andam as coisas.

Como andam as coisas? Sem sinal, não somos mais nada. Com sinal, somos mais um com sinal. Apenas isto.

Mas somos tantos! Somos milhões! Melhor seria se fôssemos menos. Que estultice. Ops! Que vocábulo mais em desuso!

Somos milhões porque assim deve ser. Temos que perpetuar a espécie. Afinal, quanto mais gente estiver ligada em termos globais, melhor para o planeta e para seus habitantes.

Desde que haja sinal, é claro. Mas ele se vai com tanta facilidade, deixando multidões perdidas, desacostumadas ao abraço amigo e solidário do vizinho ao lado.

Aliás, quem é o vizinho ao lado?

Quanto mais sinal, mais conexão com o mundo. E o vizinho ao lado?

A informação chega, em avalanche, de todos os cantos do globo.

É avassaladora a sua chegada até nós. É um verdadeiro tsunami que não nos permite decodificar devidamente todo o conteúdo de que se compõem tais informações. Em todo o caso, o sinal cumpriu o seu papel: permitiu o tsunami invadir todos os cantos do globo. O pior é que esta enxurrada é formada por notícias pouco amenas e saudáveis. Como ficar imune a tantos problemas!

Ao que tudo indica, nos últimos tempos, não se vislumbra sinal algum para o enfrentamento de questões que pipocam pelo globo afora. Aliás, o sinal anda fraco para estas questões.

Será que isto é sinal de que andamos perdendo batalhas e tornando-nos mais fragilizados frente a este mar de catástrofes, insanidades, tragédias humanas, corrupção, malfeitos de todo o tipo?

Sinal dos tempos, dirão muitos. Que tempos? Não deveríamos nos ter aprimorado? Afinal, o sinal que nos possibilita a informação de todos os cantos do mundo, serve pra quê? Só para nos informar?

Quem dá as cartas continua sendo aquela matilha de “iluminados” que transita pelas esferas do poder avassalador da ambição? Ou seremos todos cúmplices, mesmo aqueles de fato “iluminados” pelo conhecimento, mas que se omitem ou se rendem?

Agora, há quem, mesmo com o sinal, opte pelo “off-line”.

Será uma boa prática?

É possível que signifique, num certo sentido, “poder”: aquele que isola, que não se compromete, que não se importa com o outro.

Pode ser, também, aquele momento de trégua para voltar os olhos para o bem-te-vi pousado sobre o poste de luz.

Pode ser a necessidade do silêncio, sinal que alimenta o nosso interior e nos obriga a refletir sobre a importância de nós próprios, dos que nos cercam e da nossa caminhada diária. Ela, que independe de sinal.

Com esta reflexão, talvez, consigamos nos assemelhar ao bem-te-vi, aquele que responde ao sinal do chamado do companheiro de espécie. Ele é o próprio sinal. Sejamos como ele. Exerçamos a capacidade que nos distingue dos demais seres vivos, inclusive do belo bem-te-vi. Que o nosso sinal seja a fala, a comunicação interpessoal, o olhar, o abraço, o bom-dia, a solidariedade. Que a tão útil informação seja digerida (decodificada) e transformada em ingredientes para ações conjuntas. Que o conhecimento se espalhe como um sinal de educação, no sentido lato, que a todos ilumina e que serve de transformação para tempos, aparentemente, tão obscuros.

Este é, com certeza, o único sinal que nunca se vai, que nunca se perde nas nuvens.

E quem sabe com ele consigamos evitar os males que nos afligem, numa escala diminuta, mas que se pode propagar como as ondas que se espalham mar afora.



Esta imagem, como sinal, vale a pena.

Qualquer outro será, apenas, acessório.





Sinal dos Tempos - Heróis da Resistência











segunda-feira, 31 de agosto de 2015

UM POUCO MAIS... UM POUCO MENOS...


Nem sempre é questão de escolha. Ou, quem sabe, seja de escolha única e última pra não sucumbir, pra empurrar o destino para não sei onde, pra não sei quando. Um movimento alternativo entre jazer quieto, escondido. Ou lançar-se ao desconhecido, como possibilidade única de agarrar-se ao que restou, ao que ainda persiste vibrando e que impulsiona na aventura de viver, de conseguir continuar a viver, mesmo que apenas seja uma sobrevivência.

Um pouco mais de coragem é preciso.

Um pouco menos de medo.

O caminho é por aqui. A fronteira é logo ali.



Quem de terras distantes vem, vem para reafirmar sua condição de um ser que veio ao mundo para viver, para sonhar, para lutar, se for preciso. Mas, sobretudo, para exercer o direito de existir até que o tempo bata à sua porta e o leve a ultrapassar o umbral. O caminho nem é preciso buscar. Ele se estende, como um tapete, ao natural, pela ação do tempo.

Um pouco mais de fé é preciso.

Um pouco menos de descrença em si e no outro é necessário. Para tanto, caminhos alternativos devem ser buscados para que a caminhada se prolongue com êxito.



Há quem, porém, venha de uma terra, de um mundo imaginário que apenas existe no pensamento negativo de seu autor.

Para esses um pouco mais de iluminação é preciso.

Um pouco menos de trevas, assombros e fantasmas é necessário. O caminho, porque interno, é solitário. Mas, quando alcançada a luz, é plenamente gratificante porque os fantasmas dissipam-se, possibilitando o voo para a liberdade interior.

É preciso muito mais determinação, muito mais disciplina, muito mais conhecimento de si próprio.

E um pouco menos de competição com o outro. É reconhecer-se, ao fim e ao cabo, iluminado pela ação DELE.



A fronteira, que o separa do nada para o existir, pode não ser apenas uma miragem. Pode tornar-se algo concreto, visível, até palpável.

Um ninho que acolhe não é exatamente um acampamento que abriga. Mas um acampamento pode vir a tornar-se um ninho. E isto só depende de quem acolhe.

É preciso um pouco mais de solidariedade. E um pouco menos de egoísmo.

E o Ninho do Pássaro, em Pequim, acaba de nos presentear com imagens de atletas, oriundos de países paupérrimos, que primeiro competiram consigo próprios para agora competirem com outros e, ao final, darem-se as mãos: porque o esporte une. Assim como a música, como a poesia. Elas não têm cor, nem cheiro, nem raça, nem crença, nem ideologia.

Elas têm tudo o que de melhor o ser humano produz. Elas são a expressão da interioridade de cada um de nós. E esta é uma dádiva que todos recebem, indistintamente.

Aceitemos que a fronteira está próxima. Depende de nós. Para que a ultrapassemos e atinjamos melhores dias, todo o esforço é bem-vindo.



Recebamos o irmão que foge em busca de sobrevivência, direito indiscutível e inalienável de todo e qualquer ser humano.

Recebamos, com um aplauso ensurdecedor, aqueles que, de territórios de extrema pobreza, se sobressaem, apresentando suas melhores performances, alcançando premiações em competições internacionais.

Recebamos a nós próprios com carinho e enlevo, ao alcançarmos a paz interior que nos fará melhores para nós mesmos e para os outros.

Um pouco mais de luz nas relações.

Um pouco menos de visões estereotipadas, pois somos únicos e insubstituíveis.

Daí, fazermos diferença no coletivo.

E o coletivo é o futuro.

Um pouco mais de diálogo.

Um pouco menos de intolerância.

Lembremos que a capacidade de comunicar-se, através da palavra, é inesgotável. Façamos uso dela até a exaustão. Porque melhor a exaustão pela palavra do que o enfrentamento pela força bruta.



Aliás, quando usada na plenitude, nem se precisaria mais dela, porque, olho no olho, chegaríamos à comunhão. Poderíamos, após, até emudecer para, apenas, ficarmos saboreando-a como versejou Carlos Drummond de Andrade no poema A Palavra, em “A Paixão Medida”, publicado a seguir.

E nós, seres humanos, detentores do poder da palavra, deveríamos usá-la para nos tornarmos ainda mais humanos durante os momentos de dificuldade por que passam seres iguais a nós. É o que prega a música Ser Humano, interpretada por Zeca Pagodinho, quando diz:

- Você tem sempre uma palavra de consolo.

- Fica sem jeito se deixar alguém na mão.



E vai por aí...









Música Ser Humano interpretada por Zeca Pagodinho