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domingo, 25 de fevereiro de 2018

POR ONDE ANDARÁS?




Um cheiro fétido vindo de um líquido, que escorre pela calçada, tornou-se algo habitual, trivial. A chuva, prestes a cair, levará tal cena.

Puxadinhos, nos vãos das pontes, brincam de casinha e lá criam raízes.

Em cada esquina, expõem-se pelo chão, como se mesas fossem, produtos sem origem, sem nome, com aparentes donos a fornecer uma aparente licitude à atividade.

Um contêiner revisitado, a cada noite, e habilmente mantido aberto com uma pequena fresta por onde o ar e os sonhos se misturam. Ou os pesadelos?

Paredes escaladas que atestam que os desafios superados devem elevar a autoestima de quem os enfrentam: para o mal ou até para uma queda fatal.

Grades energizadas, câmeras: tudo para parecer mais seguro. Assistimos, porém, que chegar à janela também se tornou perigoso.

E o que acontece pelas ruas? Ultrapassaram-se todos os limites.

Chega!

Para que continuar?

Todos já sabem quais providências tomar, quais medidas a curto, médio e longo prazo devem fazer parte integrante de um plano de governo sério, ético, não suscetível à corrupção.

O cotidiano tornou-se algo incerto, elevado em seu grau máximo.


Como tomar banhos de lua?

Como deitar-se sob um guarda-sol apenas ouvindo o som do mar: sem preocupar-se com o entorno?

Como voltar, calmamente, a pé para casa depois de assistir, no nosso Gigantinho, a um espetáculo?

Como permanecer na praça próxima até o escurecer, aproveitando a companhia das árvores, o canto dos pássaros e a conversa com os irmãos da vizinhança?

Relatos de conhecidos dão conta de que, em sítios próximos à Capital, não é mais possível permanecer no pátio após cair a noite.

De onde fazer brotar a esperança se não temos mais o amparo de nossa mãe amada com a qual nos identificamos. Afinal, somos seus filhos.

Os relatos constantes de violência e as cenas que os acompanham, veiculados pelos meios de comunicação, embaçam nossos olhos já cansados, já ressequidos de tantas lágrimas derramar.

Estamos conectados com todas essas mazelas. Largados, porém, não ao sabor de suaves ondas, mas de tsunamis diários e constantes.

Como um remédio ruim de tomar, a informação tem que ser recebida como uma arma poderosa e única que permite que nos tornemos alertas e prontos à defesa pessoal ou da Pátria.

E é esta mesma palavra, trazida pela informação, que também pode nos salvar, vestida de poesia ou de prosa poética. Ela, que é escrita, falada, declamada e musicada, pode ser nossa salvação para que não entremos num processo de descrença em tudo e em todos.

Agora, o poeta porto-alegrense Félix Xavier da Cunha, nascido em 16 de setembro de 1833, patrono da Cadeira 3 da Academia Rio-Grandense de Letras, escreveu o soneto SETE DE SETEMBRO, transcrito abaixo, que, infelizmente, nos dá uma medida do tamanho do problema que ainda nos aflige e que assola o nosso país. 


De qualquer maneira, acredito ainda que ela, a palavra escrita, possa nos trazer um equilíbrio mente/corpo: tão necessário nesses dias atuais.

Enquanto isso, aguardemos que nossa Pátria/Protetora ressurja de onde estiver, sob qualquer vestimenta, e que nossa flâmula mantenha os dizeres que existem desde sua criação: ORDEM E PROGRESSO.




Notas:
  1. Soneto transcrito, em sua redação original, do livro Seleta em Prosa e Verso de Alfredo Clemente Pinto, 56ª edição, 1982, p.266.
  2. Título da crônica inspirado no primeiro verso do samba-enredo da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, campeã do Grupo Especial no Carnaval de 2018, no Rio de Janeiro.




 Beija-Flor 2018 - Letra e Samba






 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012













EL SAPUCAY

O dedo escorrega, por acaso, sobre o botão do controle remoto. E eis que surge uma grata surpresa: um festival. Um festival transmitido, ao vivo, pela Televisão Educativa do Estado do Rio Grande do Sul. Mais precisamente o 22º Festival de Chamamé e o 8º Festival do Mercosur, em Corrientes, que reuniu, este ano, os três países que cultuam este ritmo latino-americano: Argentina (Corrientes), Brasil e Paraguai.

Foram várias noites de apresentações. No palco, as mais diversas expressões artísticas. Um desfile de cantores, músicos, bailarinos, todos dando o melhor de si para representar o país de origem. E o Brasil esteve bem representado com grupos aqui do Sul e, também, de Mato Grosso do Sul.

Que o chamamé seja por nós, gaúchos, apreciado não é novidade. Que, agora, também lá para as bandas de Mato Grosso seja tocado, já é algo mais novo. Promovem eles, inclusive, um festival regional do chamamé. Pois até São Paulo tem um grupo que toca chamamé, o conhecido Barra da Saia, composto por belas mulheres que se apresentam tocando e cantando chamamés.

Agora, a novidade seria mesmo se houvesse a divulgação na mídia de evento cultural do porte desse Festival.

Isso realmente seria uma grande novidade. Mas, parece, estamos longe disso.

Deveríamos festejar esse congraçamento de raças, costumes, culturas, países, todos irmanados em torno de um ritmo, uma poesia, um sapucay forte a unir a América Latina.

Com certo enfado ou, digamos mesmo, nojo de assistir a tantos programas de baixo nível, que prestam um desserviço à educação e à cultura como um todo, deslizei o dedo e descobri, por acaso, que ainda sobra alguma coisa de útil para se assistir, sozinho ou em família.

Claro que a Televisão Educativa cumpre seu papel ao retransmitir esse tipo de programa.

E as demais emissoras cumprem que papel? Informar, dirão muitos. Isso é correto. Na maior parte das vezes, porém, apresentam programas que visam manter seus assistentes cativos de cenas e malfeitos que já fazem parte de seu cotidiano.

 Assim, contribuem para tornar seus assistentes mais ignorantes do que já são. Uma massa de manobra, sem capacidade de crítica, é o que almejam?

Então, é isso! Para que divulgar programas que acrescentam valores, como os de irmandade, congraçamento, união, respeito!

Carecemos de uma diversão saudável, sim.

Por que continuar reforçando, através de programas televisivos, os elementos mais sombrios de que é composto o ser humano. Todas as suas fraquezas, todo um viés de atitudes negativas, que perpassam o ser humano, são reforçadas, diariamente, através de novelas e de programas os mais diversos.

Fique claro que não se pretende a alienação, a fuga, o desconhecimento das mazelas dos indivíduos e da sociedade como um todo. Basta acompanhar o noticiário para se ter uma visão clara do que ocorre.

A função da informação é exatamente essa: informar. Agora, por que tenho que transpor para a tela todas essas mazelas dando uma feição, o que é pior, de algo glamoroso, algo compensador. Isso traz um reforço constante da falta de valores éticos e morais de que a sociedade deveria envergonhar-se. Nada justifica essa realimentação diária. E aqui não estamos a falar de programas humorísticos. Esses debocham, escancaram as ações mais torpes com escárnio, com ironia, com humor. Porém, não as glamorizam, não as tornam passíveis do desejo de uma massa deseducada e falha de valores. Também não estamos falando de moralismo.

Os meios de comunicação têm um papel primordial no reforço de valores positivos, criados e cultivados na família e sedimentados através de uma educação formal de qualidade.

Está na hora de dar uma espiada, “uma espiadinha”, em programas que elevam o nível cultural do cidadão. Temos aqui incluídos as entrevistas, os programas de debates sobre os mais diversos temas, todos atuais, as audições de grupos, bandas, as releituras de livros, etc. Um verdadeiro arsenal de matérias e uma plêiade de profissionais a expor ideias, conceitos, tendências. Tudo visando ao aprimoramento do conhecimento do cidadão comum.

Isso não dá IBOPE?

Os profissionais da comunicação sabem que isso dá IBOPE, sim. Temos como exemplo próximo o Programa Conversas Cruzadas que obteve o prêmio de Melhor Programa da Televisão, no ano de 2011, no Estado (Prêmio Press). Isso se deveu, em parte, pela grande audiência, constante, que os telespectadores dispensam ao programa.

Agora, cabe aos detentores dos meios de comunicação atentar para isso. Mas parece que não há interesse num novo modelo que busque aprimorar o gosto do telespectador.

Enquanto isso não ocorre, soltemos um sapucay de revolta, que anda preso na garganta. Um sapucay que ecoava entre os índios guaranis, demonstrando um chamamento a uma postura guerreira. Hoje, ainda audível, nas apresentações de chamamés.

Que esse sapucay de chamamento alerte para o perigoso caminho de uma sociedade desprovida de referenciais positivos. Restando a ela apenas a dissimulação, a mentira, a falsidade, o engodo, a vantagem levada às últimas consequências. Tudo regado a muito álcool. E o sucesso, ao final, do(a) concorrente mais... Deixa pra lá...

Tudo na telinha, ano após ano.







Apertura del Festival de Chamamé – 2012 

Festival de Chamamé 2012

Chamamecero – Neto Fagundes


Soy El Chamamé – Canto da Terra


Alma Serrana – Pot-pourri de chamamé

 
Chamamé – Merceditas – Gicela Mendez Ribeiro y Barra da Saia ao vivo em São Leopoldo

 
Soy El Chamamé – Shana Müller


Buenas e M’Espalho – Eco do Sapucay


Galpão Nativo – Entrando no M’bororé – Elton Saldanha