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domingo, 12 de maio de 2019
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
UMA PAUSA PARA O ENCANTAMENTO
Não importa se os dias são corridos, se acabo enxergando
apenas semáforos, pedestres que se acotovelam pelas ruas, se espremem nos
coletivos, ou se esbarram em shoppings e supermercados. Se pouco vejo os
familiares ou se já nem os tenho mais.
Diante desse quadro, preciso, isso sim, é cultivar a
emoção/contemplação, a emoção/sentimento. Aquela que foi a própria essência do
estilo clássico. Aquela que abre passagem para a vida interior.
Michel Lacroix, filósofo e professor francês, autor do livro
O Culto da Emoção, discorre sobre os
tipos de emoção existentes.
Classifica a emoção/choque como a que nos acompanha nos dias
atuais. E ela apenas serve para nos chocar, sem nos dar nada em troca.
Tampouco, torna-nos mais colaborativos. Apenas assistimos à miséria e ao
extremo oposto como meros consumidores. Nossas sensações, nossas experiências
excitantes, a partir dessas cenas, não têm um objetivo maior e principal. Por
outro lado, a sensibilidade do sentir contemplativo exige muito mais. Exige
tempo para que se transforme em um sentimento. Esse é um norte a alcançar.
E nós, seres humanos, somos seres com sentimentos. Nossas
emoções originárias são fornecidas por situações reais que nos cercam.
Aquelas outras, modernamente criadas por técnicas em que o
espetáculo é o choque, a perturbação, a perda de referenciais, não parecem
levar o indivíduo a alcançar o nível de contemplação que o enriquecerá
interiormente. Sem ter a percepção aguçada para o real que o circunda,
tornar-se-á um mero consumidor de videogames, de músicas violentas, daqueles
programas televisivos desprovidos de conteúdo, de filmes em 3D, de uma
realidade virtual cujo cenário é prodigioso, mas onde a imaginação torna-se
supérflua. Tudo muito atordoante.
E que futuros adultos estarão a formar-se?
Quem terá, daqui pra frente, sentidos tão aguçados a ponto
de ouvir o barulho de folhas secas caírem sobre um chão compacto, de um pátio
existente lá na distante infância?
E o cheiro de terra molhada prenunciando chuva próxima?
E o barulho das folhas ao vento?
E os olhos acompanhando o pisca-pisca das luzes enfeitando a
árvore natalina?
E o Papai Noel que, diziam, chegava na calada da noite?
E os brinquedos?
Estavam sob a árvore na manhã seguinte.
Tudo como num passe de mágica.
Segundo Michel Lacroix:
“O eu não é rico por si mesmo, mas pelo que retira do mundo, por sua
colheita emocional, sua disponibilidade ardorosa”.
“A verdadeira interioridade zomba da interioridade”.
E mais adiante:
“A vida interior requer a disponibilidade e a atenção para o mundo”.
“Precisa ser revitalizada pela exterioridade”.
“De certo modo, ela é o prolongamento dessas impressões, a condensação
dessas emoções refinadas que continuam a ressoar em nós, depois de seu objeto
haver desaparecido”.
Precisamos da realidade que nos cerca, porque o virtual é
apenas um descolamento do sentir/contemplação para uma emoção que choca,
constrange, amedronta ou excita. O essencial, porém, torna-se amorfo, sem uso,
ensimesmado, incapacitado diante do outro e frente ao mundo. E o essencial é o sentimento/emoção,
aquele que obtemos ao pousar os olhos em outro par de olhos, ao apreciar um pôr
do sol, ao vivo e em cores, ao abraçar fisicamente, não virtualmente, um amigo,
ao observar o pouso suave de um pássaro sobre a árvore da praça. Ainda, só para
lembrar, como estamos tão próximos do Natal, é montar a árvore, embora já não
um pinheiro verdadeiro, mas ainda tangível, que se pode tocar, aos moldes
daquela que ainda povoa nossas lembranças.
A árvore virtual, tão moderna, sinceramente, não sei se as
crianças lembrar-se-ão dela quando chegarem à velhice. E a vida interior,
talvez, esteja mais pobre quando dela mais precisarem.
Por ora, usufruamos desse tempo de Natal para fazermos uma
pausa. E com os olhos brilhando, continuemos nos encantando com lembranças tão
gratas.
Pois, como afirma Lacroix:
“A alma não extrai nada de seu próprio fundo: é fabricada com belezas
externas”.
“Longe de ser autossuficiente, é apenas a sombra projetada pelo mundo”.
“É uma lanterna mágica na qual se projetam as imagens externas,
acompanhadas por suas vibrações emocionais”.
E o virtual, convenhamos, passa bem longe disso.
Esse é um campo que obscurece nossa sensibilidade,
deixando-nos à mercê de uma emoção excitada, desvinculada do outro,
integralmente artificial e egocêntrica.
E o Natal pede mais!
Agora, por outro lado, o mundo virtual do computador faz
parte do nosso dia a dia. Se atividades forem bem conduzidas por pais e
educadores e repassadas aos pequenos na hora exata, podemos, quem sabe, salvar
a emoção/sentimento, entre tantas outras oferecidas. Talvez, consigamos
livrá-los do pensamento massificado da grande manada.
Afinal, como diz Toquinho, na música Mundo da Criança, o
mundo da criança é abençoado. E, talvez, estejamos vendo fantasmas onde não
haja sequer mais indivíduos para assustarem-se com esses espectros. Pois nem
mais saberão o que é um fantasma!
O Mundo da Criança – Toquinho
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