O pátio e a praça sempre foram atrativos para aquela menininha. O gramado e as pequenas árvores faziam par com o bangalô pintado de verde. Pelas ruas, observava que havia muitas árvores, todas esbanjando um verde de variados tons.
Ao amanhecer, um sol radiante despontava no horizonte, enfeitando aquele céu muito azul.
Cores que enfeitaram a infância e que se mantêm na retina até hoje. É um legado que a Natureza deixou na memória visual daquela garotinha.
Talvez, por isso, o dia 19 de novembro, dedicado à Bandeira Nacional e cujas cores são exatamente aquelas que vestiam o olhar daquela garotinha, seja por ela tão reverenciado.
Temos o verde das matas, o amarelo do sol que nos banha intensamente, pois somos um país tropical, somados ao azul que nos cobre e ao branco que simboliza a paz. Todas estas quatro cores devem nortear nossa trajetória.
Se atentarmos para o valor e para o que representam estas quatro cores, veremos que é preciso respeitar o poder advindo da Natureza, desde que haja conscientização e ordem: o que nos trará progresso.
A bandeira, que tremula sob o Hino Nacional Brasileiro, traz aos olhos e ouvidos de quem assiste o sentimento de proteção daquela que nos abriga desde o nascimento e que por nós deve ser reverenciada.
Se por alguns é vilipendiada, estes não nos representam. Devemos amá-la, respeitá-la e envidar todos os esforços para honrá-la.
Ela nos representa como cidadãos, nascidos e criados neste chão pátrio. Um civismo adormecido é o que parece estar existindo.
Investir em escolas que ministrem conteúdos necessários para o bom desempenho futuro do alunado, bem como fazer transitar valores que elevem o amor à Pátria e aos símbolos que a representam, deveria ser obrigação pedagógica dos colégios.
E a Natureza foi pródiga para conosco. Temos que nos orgulhar do que dispomos e do que podemos melhorar para que todos os cidadãos tenham acesso a benefícios que o trabalho proporciona.
O trabalho será o caminho para que o progresso apareça. Claro, desde que a ordem seja mantida para o bem de todos.
A bela letra do Hino à Bandeira é do nosso poeta Olavo Bilac (1865-1918) com música do maestro Francisco Braga (1868-1945).
Nela, há a referência à verdura sem par das matas, ao céu de puríssimo azul, ao esplendor do Cruzeiro do Sul e ao querido símbolo da terra que representa, da amada terra do Brasil.
Considerada pavilhão da justiça e do amor, traz, em sua letra, ínsitas a ordem e a paz (símbolo augusto da paz).
E o Progresso?
A estrofe que segue contempla este vaticínio:
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever.
E o Brasil por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser!
Estas cores, dispostas nesta bandeira, sempre encantaram aquela que, hoje, presta homenagem ao símbolo que nos identifica como cidadãos brasileiros na origem ou mesmo daqueles que buscaram em nossa pátria o reconhecimento de uma nova cidadania.
Este é um olhar cuja emoção de hoje é fruto ainda daquele olhar de criança e, como tal, dispensa a parte histórica que dá outra origem às cores de nossa bandeira. Dados históricos, que remontam séculos passados, revelam que Portugal adotara estas cores como símbolos usados por lá. Colonizados por eles, estas cores foram transferidas até nosso país e adotadas por nós com novos significados a partir da Natureza aqui existente e da índole do nosso povo.
Particularmente, prefiro a letra de Olavo Bilac e a minha memória de criança fazendo parceria com o poeta.
Confessa que já anda meio deslocado. Até já mudou de data.
Nem acontece mais no mês tradicional. Parece quererem que o esqueçam, ou que,
pelo menos, não o queiram com tanta animação.
Os mais abastados, com certeza, escapam para outras paragens
mais tranquilas, quando ele se aproxima.
Os que permanecem pela cidade aproveitam para um descanso
mais espichado. Comodamente instalados, talvez o assistam pela televisão.
Quem não lhe abandona é mesmo o povão. Ah! Os salões das
sociedades, ao que parece, também ainda o curtem.
Sua utilidade fica flagrante junto aos que menos tem. Sua
importância é diretamente proporcional àqueles que pouco tem. Serve ele de
compensação por tantos dias em que se tem tão pouco, em que se é tão menos.
Daí sua extrema importância.
Ele serve para muitos descansarem, outros muitos lucrarem e
muitos milhões sonharem.
E o sonho é necessário. O sonho serve para desafogarmos
mágoas, medos e tensões. Mas, também, serve para projetarmos caminhos possíveis,
alternativas que se mostram ao acordarmos em alguma manhã diferente, de algum
dia diferente.
Serve também o sonho para vestirmos uma fantasia majestosa e
nos sentirmos reis. Afinal, um cetro e uma coroa não são para qualquer um. E
esse sonho nos impele à construção de toda uma estória que, com começo, meio e
fim, nos contará a vida, a obra, as façanhas, as supertições e todo o acervo
humano, conquistado por séculos, tudo junto, contado e cantado numa única
noite.
É! O reinado dura pouco. Mas, o quanto é importante!
E não é de circo que se está a falar. É de identidade, de
participação, de superação, de sublimação para fatos importantes, não
resolvidos, que se apequenam, frente ao espetáculo daquela noite. Ou se
agigantam, dependendo do enfoque social trazido à cena.
Quando se escolhe um
escritor para homenagear, que é da terra, cujas personagens forjadas são
criaturas conhecidas nacionalmente e que traduzem tipos e formas de pensar,
característicos do povo onde estão inseridas, é tudo de bom!
E é isso que a vermelho e branco, a Escola Imperadores do
Samba, leva para a avenida no próximo dia 4 de março.
A Velhinha de Taubaté, coitada, já desaparecida, estará,
porém, presente na avenida para lembrar-nos do grau de decepção que sofreu,
depois da crise do mensalão, entregando os pontos, tenho certeza, antes da
hora. Ela que sempre acreditava nos “governos”, quaisquer governos,
apresentando sempre uma posição favorável a eles, instituídos, impostos,
conduzidos, negociados ou eleitos.
Por outro lado, a socialite ravissante Dora Avante, ou
Dorinha, graças a Deus, continua firme e forte, aparecendo de quando em vez com
a Tati Bitati, destilando, através de seu discurso, a ironia sarcástica de seu
genial criador.
Já Ed Mort, antigo detetive particular, sempre sem dinheiro,
com seu famoso “escri”, de escritório, em Copacabana, cercado de baratas e do
famoso rato Voltaire, deixa saudades.
E as Cobras, famosa coletânea de tiras, publicada em 1997,
de circulação em alguns jornais brasileiros, que tinham como personagens o
famoso Queromeu, o corrupião corrupto (tão atual!), além das lesmas Flexa e
Shirley e o não menos famoso Durex, sempre a favor do governo em vigor!
E pra fechar o espetáculo o Analista de Bagé, figura
caricata de um gaúcho metido a psicanalista. Sempre acompanhado por Lindaura,
sua assistente, pronta a ajudá-lo em “todas” as causas e por “todos os meios
imagináveis e inimagináveis”. Aprende-se com ele que o principal remédio para
os males e dores subjetivas é o conhecido “joelhaço” que, aplicado no lugar
correto, faz o vivente esquecer as dores “menores”, deixando, “de vez”, de
frescura. Agora, se for mulher o paciente, as técnicas serão outras,
aprendidas, acredita-se, atrás dos galpões.
Ora, depois dessa promessa de desfile, com criador e
criaturas fazendo o espetáculo, a pergunta inicial pode ser devolvida com outra
pergunta para esse senhor, já bastante idoso, que se chama Carnaval.
Para que serves? Deixe que eu responda.
Para que o povo armazene forças para matar um leão por dia,
para que não perca a esperança frente aos embates que se seguem pelo ano afora,
para que mantenha a autoestima em alta, para que o bom humor não o abandone,
para que o sorriso do filho possa significar a esperança de dias melhores, para
que saiba da sua força na transformação, para melhor, das instituições e para
que saiba reivindicar, dentro da legalidade e da ordem, os seus direitos de
cidadão.
Tudo, da mesma forma, como faz nos desfiles: interpretando
os personagens da sociedade, cuidando da formação das alas, controlando o tempo
despendido para cada evolução, desfilando no ritmo fornecido pela bateria, não
atravessando o samba, compreendendo e respeitando as regras que o desfile
exige.
Tudo para aprender a percorrer a avenida no compasso das
batidas do coração, com segurança e coragem, rumo a uma melhor condição social
que passa, necessariamente, pela correta interpretação do que o cerca.
E isso só se consegue com educação e cultura.
E o Carnaval é um pouco disso tudo.
Mas não é tudo. Há, ainda, um longo caminho a percorrer.
Por ora, armazenemos um tanto de energia nesse dia 4 de
março, pois os dias, que se seguem, prometem.
Parabéns à Escola de Samba Imperadores do Samba e ao seu
escolhido, o nosso Luis Fernando Veríssimo, para tema do samba-enredo desse
Carnaval de 2014.
Um bom Carnaval a todos!
Clipe Oficial do samba-enredo da Escola de Samba Imperadores do Samba para 2014