segunda-feira, 5 de agosto de 2013

BEM-VINDO, AGOSTO!



 
 
Para quem nasceu num cinco de agosto, há décadas atrás, este inverno até que não está de assustar. O que surpreende são as diferentes temperaturas que perpassam um único dia desse inverno atual. Havia uma continuidade, que atravessava os invernos de então, sem grandes oscilações. Hoje, vai-se de um extremo a outro, de um frio intenso a temperaturas mais próximas do verão, às vezes, num só dia. 

Tudo, ao que se percebe, anda, assim, como que aos solavancos. E nada quase mais nos surpreende. 

As amizades que, aparentemente são estáveis e definitivas, de repente, não mais o são. Desaparecem, somem com o passar dos anos, restando apenas a lembrança de um rosto que se vai transformando ao longo do tempo, acontecendo de, vez por outra, não se reconhecê-lo mais quando visto em qualquer esquina da cidade.

Tenho a sorte, acho, de manter algumas poucas, é claro, mas que valem ouro. Que se mantiveram ao longo dos anos e que, embora não presentes continuamente, fazem parte daquele rol diminuto que se deve guardar a sete chaves, conforme diz a letra de Milton Nascimento.

Exemplo desse seleto grupo está aquela que me presenteou com um almoço. E eu, quando do convite despretensioso, nem desconfiei dessa intenção.

Que grata surpresa foi para mim! 

Por isso, embora raramente o faça em crônicas, declino aqui o nome da amiga que me comoveu com o seu gesto. Seu nome: Lizete Maestri. Obrigada, amiga!

Agosto para mim é, portanto, um mês cálido. Embora o dia do nascimento tenha sido um dia gélido, ganhei, de imediato, o colo quente e terno de minha mãe. Esse, assim se manteve durante toda a permanência dela junto a mim.

Depois, um longo tempo após, Agosto trouxe o aconchego de uma lareira em companhia de alguém que comigo desfrutou momentos marcantes. Um dia, porém, deparei-me mateando sozinha, ao pé da mesma lareira. As circunstâncias o levaram para o alto. E nesse caminhar do tempo, um dia saiu uma poesia que diz assim:

 
TEU OLHAR


Quisera poder senti-lo novamente:

A leveza das mãos, o olhar malicioso.

É o que vem à mente

Quando lembro de ti, meu ser amoroso.


Quisera desdobrar o tempo

E voltar de mansinho àquele momento

Da sedução e do beijo roubado,

Conquistado, em meneios orquestrados.


Dei-te amor no momento certo.

Dele guardaste sensações tão fortes, 
 
Que nunca mais esqueceste tal instante.

E eu, pra sempre, ganhei teu olhar amante.


Que pena! Talvez, tu possas ainda espiar-me daí.

Porque eu, daqui, procuro, em cada estrela,

De novo, uma vez mais, teu brejeiro olhar.



Para minha alegria, sobraram duas flores: uma filha, que amo sobremaneira, e uma neta, também amada, que é o futuro incerto, porém promissor.  Mereceram, ambas, as poesias que seguem:

 
À ESTRELA MAIOR


És minha obra-prima,

Produção rara de encontrar.

Tens todos os dotes que acaso possas almejar.

E eu, todas as rimas para te encantar.


Vez por outra te sinto mais próxima.

Rejubilo-me com o teu falar.

És mote para o meu cantar.

És vida para meu reiniciar.


Tens esperança no brilho do olhar.

És jovem e justa no agir.

Não te atemoriza o renovado partir,

Nem te assusta o necessário continuar.


És para mim o recomeço,
 
O endireitar do avesso,

O devir que a mim encanta,

A esperança que me abranda.


Teus saberes: com eles quero contar.

Teus valores: deles compartilhar.

Teu futuro: dele participar.

Tua vida: acompanhar.


Se te fui surpreendente no versejar por primeiro,

Quero a emoção expressar por derradeiro.

Amo-te com constância e desvelo.

Vejo-te em mim o tempo inteiro.


E assim, qual estrela a brilhar,

Almejo que comeces a partilhar

Tua luz, teu sentir, teu vibrar,

Com todos aqueles que te sonham conquistar.

 

 
DA JANELA, O MAR.

Olhinhos brilhando, anjinho parece.

Pela mão pega a vó, vem, vem, vem.

Em frente à janela, o que é que tem?

Dedinho aponta o mar que lá vê.


Eu vejo o mar da janela, vó!

Parece absurdo? Que nada!

É a pura verdade, que nó!

Ficamos a apreciar o mar que nada.


Entre prédios, no horizonte, o mar se movimenta.

Entre nuvens se redesenha a todo o instante.

Plúmbea nuvem uma ponte inventa.

O mar e a terra, em fugaz instante.


Nuvens se alternam: escuras e claras.

Ondas que mudam de lugar, terra que vai e vem.

Mar de nossas lembranças,
 
Que há pouco tivemos a nossos pés.

Férias que já foram.

Que saudade vem!


Como é belo criar, mente sempre errante.

Que fase da vida é possível assim viver?

Todas, quando se sabe a chama manter,

Vestida de indelével fantasia, pura emoção, imaginação...


Qual arco-íris no céu, em dia de sol e chuva,

É como uma tiara a enfeitar o céu dos passarinhos.

Tudo que é, pode não ser, depende dos olhinhos,

De olhares sonhadores, quais amores em noite de lua.


O segredo é simples, como simples são as crianças.

Basta manter sempre um olhar luminoso.

Perseverar no caminho das estrelas.

E nossa criança interior, brilhando, nunca se apagar.


E desse modo, eu e Nicole a tudo assistimos.

Com um olhar sempre novo, o do recriar.

A cada evento, metamorfoseamos o que vemos.

Vivemos, assim, sempre, a nos maravilhar.



Pois, assim, Agosto chegou uma vez mais: renovado e fraterno nas amizades; filial e profundamente amoroso com os muito próximos.

BEM-VINDO, AGOSTO!




Brightman & Carreras – Amigos para Siempre – Friends Forever
 
 
Canção do Amigo – Rui Biriva










segunda-feira, 29 de julho de 2013

DE SURPRESAS



 
O ouro pela prata, a cadeira suntuosa por uma mais simples, o carro blindado pelo abraço direto, menos discursos longos e mais frases curtas, concisas, diretas, mas não desprovidas de profundo significado e de um chamamento direto aos corações de milhões de pessoas que o acompanharam nessa 28ª Jornada Mundial da Juventude. Jornada essa que acolheu uma soma inimaginável de pessoas presentes ao evento e de outros tantos milhões que assistiram, pela televisão, às etapas que se sucederam durante a semana transcorrida na cidade do Rio de Janeiro.

E tudo começou com uma chuva mansa, criadeira, que se estendeu por um tempo, ressurgindo, ao final, o Sol, com cor e luz suficientes, para fazer as sementes relançadas nesse campo de fé, faminto, um bom motivo para renovarem-se. Estavam elas a necessitar de um novo alento, uma espécie de adubo. E tudo isso no meio de comunidades tão diversas, mas também tão iguais na essência que as originou: o amor de Cristo.

E do campo já fertilizado passou-se ao pasto aonde os nossos pastores conduzirão os rebanhos, não se importando com o cheiro das ovelhas, misturando-se a elas, numa alusão clara da necessidade de os clérigos saírem das sacristias para as ruas.

E de igual sorte, que todos, especialmente os jovens, saiam às ruas, quando manifestações ordeiras, de insatisfação, se fizerem necessárias. Ouvir-se-á o brado de quem será o braço trabalhador que, logo ali adiante, sustentará a nação e suas instituições. Não menos importante será o grito daquele que já não se pode levantar mais, bem como o daquele outro que ainda dá os primeiros passos.

Esses últimos foram, insistentemente, relembrados pelo Papa Francisco.

Numa sociedade economicista, palavras dele, há o descarte dos que não produzem, a saber: os muitos jovens e os idosos.

Esquece-se de que os muito jovens são o futuro, são a esperança de contínuo desenvolvimento de uma sociedade, de uma nação. E de que aos velhos cabe transmitir a experiência de quem já viveu etapas de vida, cujos ensinamentos não se tornam obsoletos, porque tratam não da moderna tecnologia, mas de condutas humanas que de vem ainda continuar repousando em valores éticos, morais e sociais. Ainda vigoram o escutar, o dar os meios e o cuidar desses mais jovens, para que não sejam manipulados. 
 
Numa alusão à Torre de Babel, narração bíblica de um reino no qual os homens importavam-se mais com a queda de um tijolo, o que era uma catástrofe, do que com a queda de um homem, o Papa desenvolve o pensamento seguinte.
 
Reportando-se aos dias atuais, disse o Papa, comparando ao que ocorria naqueles idos, quando, hoje, baixam três ou quatro pontos na Bolsa: isso vira notícia. Agora, os milhões de famintos, aqueles que têm sede, aqueles que não têm moradia, nem educação ou saúde adequada: isso não gera notícia de impacto. Quando muito, digo eu, é notícia no meio de outras tantas.

 
 
Surpresas que foram se somando como a de carregar a sua própria valise para aonde vai. E por que não?

Ou a de optar por residir na Residência de Santa Marta e não no Palácio Apostólico, também conhecido como Palácio do Vaticano, local onde viveria solitariamente. Como afirmou, é preferível estar cercado por pessoas, almoçar junto a clérigos, bispos e leigos que lá se hospedam, do que comprometer a sua higidez psíquica: ele que é um comunicador, em essência.

Prega a cultura do encontro entre as religiões, mantendo com o rabino Skorka antiga e sólida amizade. Por saber que, ao final, todos os caminhos levam ao Altíssimo, seja qual nome tenha. E quem nos confere equilíbrio entre o ser e o ter, higidez física e mental é, sem dúvida, o ser Criador de todas as coisas.

Essa cultura do encontro repousa na aproximação de pessoas de diversos credos, de etnias diversas, de diversos matizes de pensamento, bem como de diversos tempos de civilização. Tudo devendo concretizar-se num cotidiano pacífico, respeitadas as diferenças. Perpassando sempre o acolhimento, pois, não sendo assim, a exclusão é inevitável. E será danosa a todos os envolvidos. O diálogo, portanto, é essencial. Sabe-se da importância da inclusão digital e de seu uso ético, porém nada substituirá o contato humano.

Surpreendente, igualmente, a vitalidade do Papa Francisco que, com 76 anos, cumpriu de forma irreparável uma maratona de compromissos, sempre com uma expressão de alegria e espontaneidade constantes, guardando o semblante de reserva e meditação quando o momento assim exigia. Um autêntico representante da Companhia de Jesus que, só agora após 400 anos de existência, faz um Papa que, também, é o 1º latino-americano a ocupar o pontificado.

Um homem do povo, torcedor do San Lorenzo, clube de futebol fundado em 1908, no bairro de Almagro, em Buenos Aires, apreciador de chimarrão e um educador aos moldes dos padres jesuítas, pois foi mestre de noviços.

Na Missa do Envio, último compromisso junto aos fiéis, conclama os jovens a irem, sem medo, servir, conforme lição de Santo Inácio de Loyola. Aquele que evangeliza, recebe evangelização, assim como quem transmite alegria, torna-se mais alegre. Com entusiasmo e criatividade tudo é possível. A Jornada Mundial da Juventude, criada por João Paulo II, cujo lema é “Ide e fazei discípulos entre as nações”, ao que parece, motivou os milhões de pessoas que a ela assistiram.

Pelos depoimentos posteriores ao evento, acredita-se que a saudade a que o Papa referiu-se seja recíproca.

O pedido do Papa Francisco, de que rezem por ele, ressoou profundamente na alma do povo brasileiro que, como se sabe, transita muito bem com o Altíssimo, pois é sua imagem e semelhança. Permanecerá, com certeza, a postos para qualquer dificuldade com que o Papa se defronte.

 
 
E, qualquer coisa, já sabe, as porteiras desses pagos estarão abertas.

Venha, Papa Francisco, matear com a gauchada.

Porque lhe digo:

Aqui, de medo ninguém vive, tchê.
 
 
 
 
Hino Oficial JMJ Rio 2013 – “Esperança do Amanhecer”
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

MOMENTO PROPÍCIO


   
Em termos globais, o atual momento apresenta-se em ebulição. São insatisfações de toda a ordem, expressas por aqueles que ainda podem se manifestar. Aqueles que apresentam força, ânimo e condições, embora precárias muitas vezes, têm saído às ruas. A falência das instituições, criadas pela própria sociedade, é visível pelos quatro cantos do mundo. Raríssimas são as zonas de relativo conforto mundo afora. A ganância, a inépcia, o roubo institucionalizado, a desfaçatez, a hipocrisia, o engodo, os desvios de caráter e de recursos são evidentes até em lugares, anteriormente, impensáveis para a prática de tais manobras.

Cidades abarrotadas por pessoas e veículos são uma constante. Já se observa, em alguns lugares do Planeta, um retorno de jovens ao meio rural, deixando suas profissões de origem para aventurar-se onde, ao que parece no momento, as chances de emprego são maiores. O desemprego assola muitos países europeus. Os Estados Unidos já apresentam esse desastroso quadro em alguns estados americanos.

E aqui não estamos a falar daqueles miseráveis que vivem em abrigos ou em barracas, alimentando-se por conta de organizações humanitárias que lhes alcançam alimentos. E também não estamos a falar dos sobreviventes de todas as inúmeras guerras e conflitos, que os mutilaram de forma irreversível, e que se arrastam pelos monturos daquilo que foi uma urbe.

 
Retirar forças de onde para tanta desgraça?

Como continuar sorrindo diante de tudo isso?

Mas ter fé é preciso. E é preciso, porque isso nos ilumina e nos impulsiona. E podemos, assim, dar as mãos e agir, sonhando com dias melhores.

Aos jovens atuais grandes desafios vislumbram-se. O preparo técnico não será suficiente, pois os problemas, que afetam a sociedade, ultrapassam as fronteiras da zona de conforto que todos buscam. Será necessário um novo pacto de solidariedade, de cooperação entre todos, de abolição de ranços étnicos, religiosos, de crenças e de preconceitos de todo o tipo.

O Planeta cada vez menor em termos de distâncias aproxima-nos de forma inquestionável. E aquilo que a teoria afirma de que o que acontece lá, num cantão da Ásia, repercute por aqui: é absolutamente correto.

Diante desse quadro preocupante, caberá aos jovens encontrarem os caminhos para a revolução que se impõe. Uma revolução sem armas, uma revolução do encontro, da solidariedade, da pregação de novas ideias e soluções para os problemas que afligem a todos.
 
Por isso, acredita-se que a viagem do Papa Francisco ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude, criada por João Paulo II, vem em boa hora.

A presença de milhões de peregrinos, de todos os cantos do Planeta, em cerimônias que se sucederão, deve servir para que esses jovens transformem-se em sementes multiplicadoras em seus locais de origem.

E está mais do que na hora de os governantes, que vierem a ser escolhidos por esses jovens, entenderem que o modelo atual faliu, desmoronou. Os sistemas políticos tradicionais também faliram. E que não sejam esses novos governantes, novamente, cooptados para a manutenção de guerras que se arrastam por décadas com a mortandade de milhões de seres humanos.

E que, igualmente, não compactuem, em transações vergonhosas, com a destruição do meio ambiente como um todo.

Nesse aspecto, todos sairão perdendo, inclusive os próprios vendilhões dessas riquezas
naturais.

A verdade é que o que está em derrocada são os próprios valores morais e éticos desse ser humano que anda por aí.

Devemos resgatar, com urgência, os cinco conhecidos valores humanos universais que são a Verdade, a Ação Correta, o Amor, a Paz e a Não Violência. Subdividindo-se cada um desses valores em outros subvalores ou valores relativos, apenas para exemplificar alguns deles, teríamos:

VERDADE – honestidade, coerência, justiça, reflexão, etc.

AÇÃO CORRETA – ética, dever, honradez, integridade, etc.

AMOR – caridade, igualdade, generosidade, compaixão, etc.

PAZ – tolerância, tranquilidade, contentamento, auto-aceitação, etc.

NÃO VIOLÊNCIA – valor absoluto, porque é o respeito a si mesmo, a todos os demais seres, coisas e leis naturais. É o espírito vencendo e se sobrepondo à natureza instintiva animal.

São esses fundamentos morais e espirituais da consciência humana que nos levarão à verdadeira prosperidade de nós próprios, individualmente, da nação e do mundo.

Essa percepção traz em si a chave para abrirmos, conforme vislumbra o Papa Francisco, através da juventude, uma janela para um futuro mais solidário e fraterno.

 
O Papa Francisco, pelo seu histórico, tem habilidade e perspicácia suficientes, além de carisma, para conduzir essa juventude que clama pelo fortalecimento de sua fé e de seus ideais.

E uma juventude assim conduzida só poderá dar bons frutos e ser uma excelente propagadora de um novo tempo.


Que venha o Papa Francisco! Ele que é argentino e que aprecia um bom chimarrão.

Agora, atenção! Mira, mira!

Nós, aqui do Sul, já tivemos a visita de outro Papa que se tornou gaúcho: ucho, ucho.

E que agora já é BEATO!

Quem sabe o Papa Francisco dá uma esticada até aqui embaixo.

MAS BAH!
 
 
 
Assistam, a seguir, como a gauchada do Grupo Estância Divina pretende aquerenciar-se junto ao Patrão Velho.
 


Grupo Estância Divina – Santo de Bota
 
 

 Grupo Chimarruts – Em Busca da Fé (clique aqui para ver a letra)
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

DAS MARÉS



 
 
 Com um movimento que vem e que vai, espera-se, a cada ciclo, uma nova chegada e um novo recuo, intermitente, aos olhos de quem observa e acompanha tal movimentação. Ela não é de hoje, ela é de sempre. O que muda é a sua força, sua intensidade, conforme a posição dos astros, ao longo dos tempos. Das marés não se pode prescindir. Elas são o próprio inspirar e expirar que se faz gigante, quando tratamos de Planeta. Nossos mares sabem bem como fazê-lo. Embora a produção das marés resulte de um mecanismo relativamente simples, que é o movimento oscilatório da massa líquida dos oceanos produzida pela atração gravitacional do Sol e da Lua, as marés manifestam-se de maneira extremamente complexa e muito variável, segundo o lugar onde ocorrem. Seu ritmo e amplitude estão ligados não somente à posição relativa da Terra, do Sol e da Lua, que se modificam a cada dia, como também às irregularidades do contorno e das profundidades das bacias oceânicas de determinado lugar. Daí, às vezes, serem diurnas, semidiurnas, como também mistas.

Mas isso para nós, que apenas observamos o mar como meros espectadores, são apenas detalhes.

O que interessa mesmo é observar o mar aproximando-se, com aquela imagem grandiosa, quase assustadora, e vê-lo encolher-se, num movimento de quase humildade. É uma respiração bem mais perceptível que a nossa, convenhamos.

Desde sempre, ao que sabemos, isso acontece.

Há algo de novo de um tempo para cá, porém.

Suas águas parecem estar mais revoltas, mais violentas nesse seu expirar constante. As águas dos mares estão, a cada dia, querendo mais mostrar sua força, achegando-se bem além dos limites antes atingidos.

O que mais preocupa, porém, é a constatação de que quando ele inspira, recuando como a natureza determina, escancara a podridão nele lançada e que o está transformando em um celeiro de dejetos e não mais de vida.

O que fazer com essa sujeira toda?


Nós, por nossa vez, também respiramos exatamente num ciclo, porém infinitamente mais curto e também carregado de lixo que expelimos através do gás carbônico.

Pois, Amanda, que adora olhar o mar, vive se comparando a ele, porque também ela inspira e expira para manter-se viva. Ao inspirar busca ar puro. Pois é!

Quando inspira, ela, diferentemente do mar, não desnuda o que é nocivo. Isso acontecerá quando expirar, momento em que jogará no meio ambiente o lixo acumulado dentro de si, o nosso conhecido gás carbônico.

Então, para entender o pensamento de Amanda, temos:

1- Mar e suas marés:
 
a) inspiração=sujeira à mostra

b) expiração=volumosas águas que se espalham, cada vez mais, terra adentro; 

 
2- Amanda:
 
a) inspiração= busca pelo ar puro                                             

b) expiração=sujeira invisível

 
 
Como Amanda é uma jovem sonhadora e preocupada com o meio ambiente, consigo própria e com os outros, anda, ultimamente, num dilema. Tem ido pouco às praias que costumava frequentar, para não assistir a esse vai e vem das águas que se tornou algo preocupante, de beleza discutível hoje e um termômetro que está a mostrar os riscos que corremos todos, quanto ao equilíbrio do Planeta.

Como também é uma jovem inteligente, uma leitora atenta e que faz parte de uma massa crítica, não da manada, já percebeu que tudo na vida é cíclico.

Por isso, a cada manhã, quando lê, ouve ou fica sabendo através de terceiros, que mais um escândalo revelou-se, não mais se surpreende.

Tudo é verdadeiramente cíclico, inclusive a sujeira, que perpassa muitas transações, negociatas, favores. São como os dejetos que o mar revela, isto é, visíveis e comprováveis: mais dia, menos dia.

E assim sempre foi ao longo dos tempos. Apenas, hoje é quase instantânea a sua percepção.

A diferença está, mais ou menos, de acordo com as marés, isto é, dependem do lugar onde ocorrem.
 
Em alguns lugares, as punições são exemplares. Em outros, há que se ter paciência e esperar a maré mais propícia, aquela que expõe os dejetos totalmente a olho nu, para que, só então, se tomem as medidas cabíveis, isto é, aquelas que, talvez, num prazo bem looooongo, possam surtir os efeitos que se buscava desde o início do seu conhecimento.

Amanda, que também é uma jovem otimista, espera que a maré baixa impulsione, na maré alta, a que uma verdadeira maré humana invada a praça. Pois o que se observa é uma crescente maré de insatisfação!

 
 
E enquanto se aguarda a maré adequada, assistam ao vídeo abaixo. Parem e pensem, que nem Zeca Pagodinho.

Ou, então, deixem-se levar pela Maré Mansa, na voz, também mansa, de Simone.





Parei e Pensei – Zeca Pagodinho - Clique aqui para ver a letra 
 
 
 
Maré Mansa – Simone








 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

DE TEMPOS EM TEMPOS









Tal qual águas revoltas, que irrompem do fundo do oceano em fúria avassaladora, tal qual lava incandescente que brota do fundo da terra, despejando aquilo que não era mais suportável, o povo, igualmente, de uma praça, de um espaço público qualquer, irrompe explodindo sua inconformidade, sua insatisfação. Isto se dá quando suas necessidades chegam a um nível crítico e há a percepção nítida de um total desrespeito ao seu clamor.

Nos fenômenos da natureza é imprevisível, na maior parte das vezes, evitar-se tais cataclismos. Um vulcão que começa a trabalhar, um tsunami que chega avassalando o que tem pela frente, um furacão ou um terremoto que se formam, aleatoriamente, são fenômenos inevitáveis.

Agora, quanto aos agrupamentos humanos, os indicativos de violência em massa são bem mais fáceis de serem percebidos e evitados.

Originariamente começam lentamente, em pontos diversos de uma cidade, em diferentes regiões do país, portando cartazes onde expressam sua indignação, mas ainda movimentos dentro da lei e da ordem instituídas. Estamos falando, é claro, de povos civilizados, vivendo em pleno século XXI. Suas reivindicações, quando explodem em violência, ocorrem porque já o tinham sido exaustivamente apresentadas, ao longo de anos, aos que os representam. Não esqueçamos que somos civilizados, vivemos num Estado Democrático de Direito e estamos no século XXI. Tudo muito moderno! A tecnologia está a serviço desse homem: é o que se propaga.

Mas e quando falta a esse homem o básico para que ele se desenvolva?

Não aquele básico ao rés do chão, mas o básico no atendimento de suas necessidades, aquilo que se reserva a um ser humano, digno por representar a espécie humana e não digno por representar a casta, isto é, os melhores aquinhoados.

Essa massa, que incomoda, clama por direitos expressos em cartazes que portam quando se aventuram em passeatas, por esses rincões afora.

Tudo muito básico, muito claro, muito verdadeiro e perfeitamente realizável.

Nada de discursos, pois disso todos já estão fartos.

O que fazer? Todos sabem.

Como fazer? Todos, também, sabem.

Quem vai fazer? Aqueles que nos representam.

Rezemos para que esse povo permaneça na praça, lugar que é dele, a reivindicar aquilo que lhe é devido.

Povo alegre, bem humorado, trabalhador: um povo feliz.

Pena que seus representantes estejam, de longa data e de forma escancarada, nos últimos tempos, a pisotear, de forma deslavada, direitos fundamentais que não repousam somente na liberdade, mas no exercício da cidadania como indivíduos que têm direito a uma saúde, educação e segurança dignas e efetivas. Que suas cidades tenham transporte público de qualidade. Que haja uma política efetiva de preservação do meio ambiente, das riquezas minerais, de seus mananciais. E por aí afora...

A pauta de reivindicações está nas ruas, na Internet. O rosário de pedidos é grande, mas não maior do que a fila de zeros do imposto recolhido aos cofres públicos por esses mesmos indivíduos que estão nas ruas: os milhões de contribuintes.


Atentem para o amarelo piscante!

Gestão correta do dinheiro público e tolerância zero aos seus desvios, em qualquer esfera de poder. Mecanismos efetivos de fiscalização e punição exemplar aos transgressores.

Diante dessas medidas, todos começarão a pensar, duas vezes, antes de cometerem ilícitos.

Caso contrário, a movimentação das massas pode explodir.

Mas, diferentemente dos fenômenos naturais, tudo ainda pode ser evitado.

Oremos!

 
 

Enquanto isso, ouçamos VAI PASSAR, de Chico Buarque, que confirma a alegria de um povo, embora venha sendo ludibriado e arrastado como massa de manobra há tempos. Essa música pode ainda embalar a leitura de um poema de Castro Alves, chamado O POVO AO PODER que, entre seus versos, destaca-se aquele que diz:

A PRAÇA É DO POVO/COMO O CÉU É DO CONDOR.


Aliás, Caetano Veloso, em sua canção UM FREVO NOVO, utiliza-se dos versos do poeta Castro Alves, quando canta A Praça Castro Alves é do povo/como o céu é do avião.Já Carlos Drummond de Andrade faz uma paródia irônica quando responde ao verso de Castro Alves, dizendo:

Não, meu valente Castro Alves, engano seu.
A praça é dos automóveis. Com parquímetro.
 
 
 
 
Chico Buarque – Vai Passar
 
 




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

BEM MAIS QUE 0,20 CENTAVOS!














O olhar desolado, por vezes aflito, suplicante na maior parte do tempo. Poucos chegarão de forma diversa dessa. Poucos conseguirão manter-se dignamente após tantos anos de trabalho e contribuição aos órgãos competentes. Expliquemos melhor para entender a imagem.

Esse é o caso de Dona Mariazinha. Pessoa que trabalhou por anos a fio, perfazendo regularmente o tempo para a aposentadoria. Seus últimos vinte anos de trabalho passaram-se junto a um conhecido laboratório de análises clínicas dessa Capital. Era excelente datilógrafa, cumpria suas atribuições com assiduidade e responsabilidade, sendo elogiada pelos chefes.

Essa senhora, hoje com 83 anos de idade, contribuiu, regularmente, durante todo o tempo de trabalho exigido por lei para se aposentar sobre o valor de quatro (04) salários-mínimos. Aposentou-se, efetivamente, ganhando quatro (04) salários-mínimos. À época, era um valor razoável. Aliás, como hoje também o é. Sendo ela solteira e sem filhos, o que percebia satisfazia suas necessidades, considerando que não pagava aluguel, pois vivia na casa de um irmão.

Acontece que Dona Mariazinha foi envelhecendo. Seu irmão, que lhe auxiliava, veio a falecer antes dela. E ela, após algum tempo, percebeu que sua aposentadoria definhava a cada ano. E a diferença aumentava entre o que iniciara ganhando e aquilo que, agora, vinha percebendo mês a mês.

E a sua estupefação chegou ao clímax quando verificou que um dia, de não sei que ano, porque coisas desse tipo é preciso esquecer para não desabar, ela recebeu, no final de um mês, a quantia de um (1) salário-mínimo.

Já com a saúde abalada, com dificuldades para caminhar e alimentar-se, não mais tendo o irmão para socorrê-la, uma sobrinha resolveu assumir a posição de seu tio, irmão de Dona Mariazinha.

E essa contribuinte do INSS passou a viver em clínicas. Sua aposentadoria, de um (1) salário mínimo, não é suficiente para a compra dos remédios e das fraldas de que faz uso. A tal sobrinha de Dona Mariazinha paga a clínica e uma cunhada cobre o valor que excede do salário-mínimo para as referidas compras.

Agora, o dramático é que Dona Mariazinha se hoje ganhasse os quatro (04) salários-mínimos para os quais contribuiu e que efetivamente iniciou ganhando, teria tido condições de pagar SOZINHA a clínica onde se encontrava até a poucos dias atrás. Restaria aos parentes apenas uma contribuição para o complemento necessário de suas despesas.

Calculando:

Preço da clínica onde se encontrava: R$ 2.450,00

Valor da aposentadoria, mantidos os (04) salários-mínimos: R$ 2.712,00

CONCLUSÃO: Sobrariam R$ 262,00 para ainda colaborar na contribuição dos demais parentes, que aportariam o que faltasse para suprir as necessidades.



Seu olhar aflito, por ter nova mudança de clínica, é perfeitamente compreensível e desesperador. Há tantas outras pessoas em condições semelhantes, de verdadeira miserabilidade. Com essa aposentadoria de (01) salário-mínimo não precisaria ter ela contribuído sobre (04) salários, durante tantos anos. O mais sensato, correto e justo, no seu caso, teria sido ter contribuído apenas sobre o mínimo, pois é o que lhe sobrou hoje. Ou, se estivesse na informalidade, bastaria ter aguardado a idade prevista de 65 anos, comprovada a impossibilidade de prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua família, conforme prevê o art. 203, inciso V, da Constituição Federal, e requerido esse tal salário-mínimo.

O fato é que as modificações que estão a acontecer em nada tem melhorado a discrepância entre a contribuição paga durante a vida laboral e a contraprestação do Estado no gerenciamento de tais recursos e na destinação correta e atualizada de valores descontados, ao longo do tempo, de milhões de aposentados.

Após anos, constata-se o logro em que caíram milhões de aposentados.

Ocorreu, de verdade, uma expropriação de seus haveres.

Isso é uma vergonha nacional.


O poeta Luiz Coronel, patrono da Feira do Livro de 2012, sintetiza, através do poema SALÁRIO MÍNIMO, extraído do livro Um Querubim de Pantufas, exatamente como abaixo transcrito, as agruras de quem dele vive.

Diante dessa triste constatação, deveriam todos os aposentados, espoliados que foram, levantar cartazes onde se leriam os valores a que têm direito, levando-se em conta suas aposentadorias no exato momento de sua obtenção.

No caso de Dona Mariazinha, o seu cartaz estamparia a quantia de R$ 2.034,00, que é o que lhe tiraram ao longo do tempo. Para ela que, hoje, ganharia quatro (04) salários-mínimos, faltam-lhe exatamente R$ 2.034,00.


Para Dona Mariazinha a briga é por

                                                                                                BEM MAIS QUE 0,20 CENTAVOS!









Vanera do Aposentado – Os 3 Xirus

 
Pobre Aposentado – Bezerra da Silva  
 
 

Mêlo dos Aposentados