sábado, 21 de março de 2015

RENOVAÇÃO


















Renovar é reinventar-se. É assistir ao espetáculo do chão atapetado pelas flores recém-caídas dos jacarandás da rua onde moro. É saber que este tapete se renovará, por primeiro, em novas flores exuberantes e em um novo tapete de rua no próximo Outono.

Com tantas datas a serem comemoradas no mês de março, é difícil escolher apenas uma para se comentar. Com certeza, porém, todas contêm o aspecto da renovação. Não só porque serão novamente comemoradas no ano seguinte, mas porque implicam num contínuo desejo de melhora daquilo que se está a homenagear.

Quem não quererá melhorar a situação das florestas e da água no planeta?

Para isso, porém, não basta elegerem-se os dias 21 e 22 de março para tais comemorações.

Aliás, se não cuidarmos desses dois fundamentais bens da humanidade, os nossos futuros Outonos não serão tão belos quanto os de hoje. Os jacarandás, talvez, nem mais depositem suas flores sobre os passeios porque, quem sabe, nem mais floresçam para nos dar este espetáculo.

E a nossa cidade, esta jovem de 243 anos, precisa se reinventar para que continue ainda jovem por mais 243 Outonos.

Temos que cuidar das poucas áreas de mata nativa de que ainda dispomos. Isto é absolutamente urgente.

E o nosso Guaíba? O nosso Arroio Dilúvio? Tanto se tem falado e tão pouco se tem feito.

Em A HORA É AGORA!, crônica publicada em 02/01/14, fiz referência a outra crônica, de nome RS + 25 – OH, GAIA! HAVERÁ SAÍDA?, publicada em 04/07/12, onde o vídeo anexado demonstra o que foi feito no Arroio Cheong Gye Cheon, em plena cidade de Seul, capital da Coreia do Sul.

Na mesma crônica, outro vídeo apresenta estudos iniciais feitos pela parceria UFRGS/PUC, onde as Universidades colocam todo o seu aparato humano e tecnológico à disposição dos gestores públicos, para que se leve adiante essa proposta de despoluição do Arroio Dilúvio. Tais vídeos são bastante elucidativos para a resolução de problemas como a despoluição e o cuidado com os mananciais, criando-se com estas medidas um forte apelo ao turismo na região.

Em outra crônica, À BEIRA DE UM RIO, publicada em 27/08/14, fiz uma reflexão sobre a situação do nosso Guaíba, de todos os demais rios que o compõem e dos arroios que desembocam nestes rios. A poluição hídrica é um fato gravíssimo.



Embora diante de tantas mazelas que nos cercam, é preciso ser feliz.

Não é nem preciso comemorá-la na data de 21 de março, dia dedicado a ela.

É preciso, porém, vivenciá-la diariamente. Renovando-se cada um de nós a cada amanhecer.

Na crônica UMA BUSCA DIÁRIA, publicada em 26/03/14, a felicidade é descrita como a capacidade de encantamento, de entrega, de emoção e paixão pela vida. Instantes do dia que o transformam para além do trivial, embora, como escrevi, esse aspecto contenha elementos significativos na busca de instantes em que a felicidade pode ser, também, ali encontrada. 

Como as marés, ela vem e vai. O importante é que esse movimento se estabeleça com constância. E cabe a cada um de per si captar, pelo menos, um instante diário em que o espírito, que é amor, possa sentir com o coração o poder de amar. A felicidade, neste momento, inundará aquele ser amoroso que detém o poder divino de fazer-se feliz, porque filho do Criador.

O aprendizado da felicidade requer um exaustivo trabalho do sentir. É pela capacidade de sentir que nos tornaremos mais próximos do outro e descobriremos o valor maior que representamos para nós mesmos e para o conjunto. Por isso, o embate é constante e necessita de um compromisso diário.

Torçamos para que os amanheceres sejam mais plenos e fraternos. Que novos caminhos se abram a todos que acreditam num olhar amoroso para consigo e para com o outro.

Aí estará depositada a semente da felicidade. Dela surgirá uma colheita digna de quem a plantou. 

E renovar-se será o propósito diário, a cada amanhecer...








Felicidade – Marcelo Jeneci






sábado, 14 de março de 2015

EXALTAÇÃO!











Tudo já está nas enciclopédias e todas dizem as mesmas coisas. Nenhuma delas nos pode dar uma visão inédita do mundo. Por isso é que leio os poetas. Só com os poetas se pode aprender algo novo.
                                         (Do Conhecimento, Caderno H, p. 165)


Mário Quintana, de forma irônica e com senso de humor, trata o fazer poético, que era mestre, como uma força poderosa de enriquecimento do conhecimento: pela simples visão inédita do mundo, como afirma.
Assim, digo eu, é possível aprender que uma lua pode revirar os olhinhos ou desviá-los só para não constranger o casal que está amando, como em:





Esta lua é tão viva, tão partícipe, tão antiga, que já faz parte do olhar de quem com ela tem parceria.
Assim como vivas são as imagens do trecho extraído de DELÍRIOS de Manoel de Barros:

Eu estava encostado na manhã como se um pássaro à toa estivesse encostado na manhã. Me veio uma aparição: Vi a tarde correndo atrás de um cachorro. Eu teria 14 anos. Essa aparição deve ter vindo de minhas origens. Porque nem me lembro de ter visto nenhum cachorro a correr de uma tarde. Mas tomei nota desse delírio. Esses delírios irracionais da imaginação fazem mais bela a nossa linguagem.
E ainda:

Sapo é um pedaço de chão que pula”. 
Até as pedras da rua choravam”.


Gabriel Perissé, em seu livro A ARTE DA PALAVRA, páginas 119 e 120, diz a certa altura:

“O escritor é um ser humano. Sente o divino prazer de ser humano. Um ser humano comum. Que pega ônibus. Que fica na fila de um banco. Mas carregando uma luz... iluminando essa fila, o que nela existe de kafkiano, de cruel, de cômico, de insensato, de sugestivo... iluminando os episódios corriqueiros que acontecem dentro de um ônibus. E essa luz torna o ônibus mais ônibus, mais real, tão real que chega a ser surreal... Mais impressionantemente real do que podemos perceber na nebulosa rotina do dia a dia”.

E, mais adiante:

“O que ilumina é a convicção. A convicção de que há uma força simbólica na realidade, nas palavras, e que essa força, percebida, identificada, oferece novo alento à nossa vida”.

E esta palavra, cuidadosamente buscada, metaforicamente usada, é que fornecerá estilo, tornando-se este eterno.

Shakespeare, no trecho que segue, exalta a metáfora, tão usada pelos poetas. Com certeza, é ela quem dá precisão à linguagem poética.


(do livro A Poesia – Uma Iniciação à Leitura Poética – Armindo Trevisan, páginas 236 e 237)


Diante do que já foi exposto, acredito que esteja plenamente justificado o título desta crônica. Uma EXALTAÇÃO, neste dia 14 de março, à arte de poetar e um aplauso a todos aqueles que a este ofício se dedicam.

VIVA O DIA NACIONAL DA POESIA!

 Sintam-se motivados com as sugestões que seguem:
“Eu acho que todos deveriam fazer versos. Ainda que saiam maus, não tem importância. É preferível, para a alma humana, fazer maus versos a não fazer nenhum. O exercício da arte poética representaria, no caso, como que um esforço de autossuperação. É fato consabido que esse refinamento do estilo acaba trazendo necessariamente o refinamento da alma”.
 (Mário Quintana, Caderno H, p. 24 – trecho extraído do epigrama A POESIA É NECESSÁRIA)


ME ENSINA A ESCREVER, composição de Oswaldo Montenegro, incentiva-nos quando diz que não sabe se o poema é bonito, mas sabe que precisa escrever




Me Ensina a Escrever – Oswaldo Montenegro 







domingo, 8 de março de 2015

ATÉ QUANDO?











A cena que segue existiu e é recente. Acabou virando um conto. 

VIAGEM SEM VOLTA é um alerta àquelas mulheres que buscam o convívio como prazer em encontros fortuitos com outras mulheres em igual situação existencial, de pura carência afetiva. É tão absurda esta constatação que parece ficção. A luta pela própria identidade é ainda anterior ao alcance de níveis educacionais satisfatórios, às oportunidades de trabalho em postos de direção, bem como à igualdade de remuneração salarial com os trabalhadores homens.

A cena abaixo descrita é a realidade transformada em ficção. Aliás, a ficção tem um pé, às vezes dois, na realidade que nos cerca.

Então, vamos lá!



Chegam devagar. O banco, vazio, os recebe. Lado a lado, acomodam-se. Não se falam. Ele, olhar perdido, é um estranho ao lado da companheira. Nada parece interessar. Ela, vez por outra, fala algo.

Que pena! Não dá pra ouvir. Do banco ao lado, Helena observa o casal. Têm aproximadamente a mesma idade. São diferentes, porém. No olhar feminino há mais luz, mais brilho, mais vida. Acompanha com visível interesse o entorno. O rapaz que panfleta alcança um pedaço de papel colorido com alguma propaganda. Ela, habilidosa, de imediato vai construindo um barquinho. Um barquinho de papel, aprendido na infância. Timidamente, mostra ao companheiro. Ele olha com olhos de absoluta indiferença. Ela, por sua vez, fala palavras que se perdem por entre as árvores da praça onde se encontram. 

Que lástima não poder ouvir! Helena fica a conjecturar sobre pensamentos e sentimentos transbordantes daquela cena. Com certeza, haverá tantas coisas pra falar. Tanta vida! Helena navega mais além e imagina que aquela senhora acostumou-se a sentir prazer em doses esporádicas. Lembra-se de si própria quando regava as plantas, que se espalhavam pelo apartamento, encontrando nisso única fonte de prazer: o prazer do encontro com o outro. Não importando que o outro fosse uma planta ou, como agora, um barquinho de papel. 

Com esses pensamentos, Helena vê aproximar-se outro casal de idades aproximadas.

A mulher adianta-se e vem cumprimentar a conhecida: aquela do barquinho. O homem, por seu turno, mantém-se à distância. Depois, muito lentamente, aproxima-se. As mulheres, a esta altura, já conversam animadamente. Parecendo sentir-se obrigado, o recém-chegado cumprimenta com a cabeça e troca umas poucas palavras com o cidadão: aquele do olhar perdido.



Helena observa o entusiasmo com que as duas mulheres conversam. Parecem sugar uma da outra toda a seiva de que ainda dispõem. Parecem alimentar-se de “pura vida”. É comovente observar-se esse esforço mútuo.



Porém, aproxima-se o companheiro da “loquaz visitante” e sinaliza o fim do encontro: com um olhar e um toque no braço.

Visivelmente contrariada, a mulher encerra a conversa. Lança, ainda, um muxoxo para a amiga, que sorri. Que vontade de “quero mais”!

Ele, afastando-se, encara a mulher que, prontamente, despede-se e o acompanha. E lá se vão... Lado a lado, mudos.

No banco da praça, o barquinho, nas já enrugadas mãos, permanece. Com carinho, a senhora completa a última dobra.

Em frente, no laguinho, outro barquinho navega: daqui pra lá, de lá pra cá. Vai e volta...

Que pena! Esse não navega mais. Atracou no banco. Sucata virou.

Helena observa o casal que se levanta. Por sua vez, acredita que ainda haja tempo e força para lançar o seu próprio barco e virar timoneira.

O sino da igreja próxima desperta Helena para o instante que se foi.

Do seu banco, ainda enxerga o barquinho de papel. Resta caído no chão, levado pelo vento.

Não há mais tempo. Eis o retrato de uma viagem sem volta.

Que pena! 



Que sejam cada vez mais raras, pelo menos em nosso meio, as cenas reveladoras da sujeição evidente que reconhecemos em tantas situações do nosso cotidiano, bem como os maus tratos e agressões costumeiramente noticiadas.

Lutemos para que o ser capaz de gerar seja um ser liberto, com identidade própria e com liberdade necessária para amar e ser amada.

Que o poema abaixo sirva de alerta para “essa coisa de marcar” que só ao gado é imposto.

Dia 8 de março: um dia de ALERTA.







Mujer Coraje – Ivan Lins 





terça-feira, 3 de março de 2015

DE RECUOS E AVANÇOS











Qual a hora certa para avançar ou recuar?

Aquela que amanhece cinzenta?

Aquela em que o sorriso alaranjado, lá no horizonte, prenuncia um dia gostoso de saborear desde os primeiros raios de sol?

Há pouco, uma amiga poetisa confidenciou-me que está há bastante tempo sem escrever. Recuou, não entendi bem o motivo.

Na verdade, se muitos eventos estiverem acontecendo, mais inspiração deve haver. Afinal, ela brota de dentro. E, bem lá dentro, tudo repercute e tende a ser devolvido com a vestimenta do belo ou do menos feio. 

Afinal:





O médico Dráusio Varella informa que nós, seres animais, não fomos feitos para o exercício. O movimento, na verdade, só é buscado em três situações:

1- Obter satisfação sexual (sexualidade)

2- Conseguir alimento (alimentação)

3- Sobreviver (enfrentamento ou fuga)


Portanto, se quisermos implantar uma rotina de exercícios físicos só se apelarmos para uma “disciplina militar”, segundo ele.

Daí, muitos recuam. Só há avanços, se houver disciplina na realização das ações propostas.



Outro amigo observou, dias atrás, que, descendendo nós dos símios, trouxemos o hábito do furto. Isto já faria parte da espécie.

Neste particular, com certeza, houve avanços. A dissimulação, a hipocrisia e o transvio de obrigações e valores avançaram ao longo do tempo. E o recuo parece quase impossível.



E a linguagem?

Estaria avançando ou recuando na proposta de comunicação entre seres dotados de capacidade intelectiva?

A poesia, a prosa poética ou mesmo o texto narrativo bem elaborado sobreviveriam frente àquilo que George Orwell, em seu livro 1984, chamou de Novilíngua? Vale a pena a leitura deste livro. Percebe-se sua atualidade, embora escrito em 1948.


George Orwell


Na Novilíngua, considerava-se a redução dos vocabulários por si só como um objetivo desejável, e não era permitida a sobrevivência de palavras das quais se pudesse prescindir. A finalidade da Novilíngua não era aumentar, mas diminuir a extensão do pensamento, finalidade que poderia ser atingida pela redução do número de palavras ao mínimo. (p.288)

Segundo o autor do livro, a adoção definitiva da Novilíngua dar-se-ia lá pelo ano de 2050. Estamos ainda a caminho.


E o duplipensar? O que seria?

O duplipensar queria dizer a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias e aceitá-las ambas. Dizer mentiras deliberadas e nelas acreditar piamente, esquecer qualquer fato que se haja tornado inconveniente, e depois, quando de novo se tornar preciso, arrancá-lo do olvido o tempo suficiente à sua utilidade, negar a existência da realidade objetiva e ao mesmo tempo perceber a realidade que se nega – tudo isso é indispensável. Mesmo no emprego da palavra duplipensar é necessário duplipensar. Pois, usando-se a palavra admite-se que se está mexendo na realidade; é preciso um novo ato de duplipensar para apagar essa percepção e assim por diante, indefinidamente, a mentira sempre um passo além da realidade. (p.206)


Acredito, dado o exposto, que não mais estamos falando de avanços e sim de recuos.

Ah! Deixa pra lá... Afinal, isto é só ficção!


E a Inteligência Artificial?

O físico britânico Stephen Hawking acredita que os esforços para criar máquinas pensantes podem significar o fim da raça humana. Disse ele:





“Quando a inteligência artificial for completamente desenvolvida pelos seres humanos, ela pode progredir por si mesma, e se redesenhar a um ritmo cada vez maior.






Segundo ele, os humanos, possuindo lenta evolução biológica, não poderão competir com estas máquinas, sendo por elas substituídos.

Seria isto um avanço ou recuo?

Em 05/03/13, publiquei a crônica UFA! onde aparecem exemplos de como está se tornando gutural a forma escrita, bem como a falada, ou melhor, cantada. 

Estaremos avançando ou recuando na forma como nos comunicamos?

São os novos tempos?

É a velocidade das coisas e fatos que estará nos fazendo engolir partes do discurso?

Já quase não nos comunicamos. Ou melhor, nos comunicamos por símbolos, através de máquinas. Qualquer dia, falar ao vivo e em cores será coisa do passado.

Com certeza, a Inteligência Artificial trabalhará muito mais veloz e de modo mais perfeito com um universo de símbolos do que os humanos poderiam fazer frente. Há um forte risco de sermos substituídos. Stephen Hawking tem razão.


E se nós próprios nos tornássemos máquinas ambulantes? Com chips implantados para as diversas funções poderíamos voltar a vagar pelas savanas, sem compromissos com nada. Num absoluto “dolce far niente”. Na hora da alimentação, apertaríamos um botão de alguma máquina especializada para este fim e saltaria de lá uma barrinha, sintética, de cereais que conteria todos os nutrientes necessários à sobrevivência. O sexo seria virtual e só para o prazer, pois a função principal estaria bloqueada. E a terceira necessidade, apontada pelo Dr. Dráusio, a de fugir ou lutar pela sobrevivência, não teria mais sentido, pois andaríamos aos magotes pelas savanas. Todos iguais, com necessidades prontamente atendidas ao apertar de um botão: no seu próprio corpo.

E a mente, o pensamento, a emoção?

Ui! Que coisa mais démodé!

Afinal, o duplipensar acabaria com este sacrifício de ter disposição e capacidade para pensar a fundo em alguma coisa. Para que liberdade intelectual, se não seria mais necessário possuir intelecto.

Seria isto um avanço ou um recuo?

Orwell sinalizou o ano de 2050 como o ano em que a Novilíngua estaria completamente implantada. Hawking não previu data para as máquinas nos substituírem.

Apenas como exercício de futurologia, descrevemos acima o novo ser, já transformado em máquina, tendo os elementos de sujeição ao sistema, imaginado por Orwell, contribuído para este novo ser.

E apenas para percebermos a complexidade destes novos tempos, o reconhecido psiquiatra Augusto Cury deu nome à torrente de informações ininterruptas que estressam e desgastam o cérebro, chamando-a de Síndrome do Pensamento Acelerado ou SPA.

Esta aceleração do pensamento impediria o desenvolvimento de funções da inteligência como, por exemplo, o ato de refletir, expor ideias, exercer o pensamento com consciência crítica e não apenas com uma visão maniqueísta.

Isto sem falar que uma mente hiperexcitada determina a morte precoce do tempo emocional. Aquele que nos permite conversar sentados num banco à sombra de uma árvore. Aquele em que acompanhamos o desenvolvimento das flores no jardim, quando se curte este jardim.

O “eu” estaria tornando-se embotado, perdendo a sua capacidade de escolha consciente, de crítica, de dúvida ou de estabelecer relações.

Segundo o Dr. Cury, a geração da era da indústria do lazer é a mais triste de que se tem notícia. A emoção genuína estaria sendo empobrecida por uma mente hiperexcitada. A emoção/contemplação, que o filósofo francês Michel Lacroix tão bem descreve como sendo aquela que nos permite usufruir o sabor do mundo, estaria com os dias contados.


Recuaremos ou avançaremos?

Tudo é uma questão de enfoque.

Avançaremos como espécie, ainda atenta, por temer o desconhecido, recuando no desenvolvimento da inteligência artificial?

Recuaremos, involuindo como espécie, ao seguir avançando por este caminho veloz e tentador? 


Acredito que, no ano de 2050, não se concretizarão as previsões de Orwell. Muito menos a transformação do homem em máquina. Bem antes, o homem recobrará a razão e nos veremos ainda como seres com as mesmas necessidades básicas descritas pelo Dr. Dráusio, porém menos predadores. O que será muito bom, pois ainda teremos a possibilidade de avançar em busca da imagem e semelhança com o Criador, reconstruindo um novo homem: mais atento e zeloso da importância da sua espécie.

Não esqueçamos que uma máquina é uma máquina.

Ela tem a mão do Homem sobre ela.

E o Homem?

Tem a mão de Deus sobre ele.




Aliás, FÉ EM DEUS, na voz de Diogo Nogueira, é o que nos motiva e dá alento nesta caminhada rumo aos novos tempos, bastante incertos.






Fé em Deus – Diogo Nogueira 





segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

NOSSA SEGUNDA CASA











O mato viceja. Era para ser enfeite, para embelezar. Era para acolher com seu gramado, com suas árvores que enfeitam o caminho.

A visão, porém, é outra. E isto é só o início. Difícil não se entristecer com esta imagem. Difícil achar desculpas para tanto descaso. 

Uma frente nada convidativa para quem entra e um caminho que se arrasta entre salas que exalam um ar pouco asseado, com carteiras que resistem ao tempo e a nenhuma manutenção. Passando por sanitários ainda em pior estado, chega-se ao pátio, não coberto, que, igualmente, revela pouco cuidado na sua conservação.

É desolador!

E este é o momento dela. Dia 15 de março ela fará aniversário. Ela que deveria apresentar-se acolhedora, com um aceno sedutor que garantisse um encontro diário proveitoso e enriquecedor para todos os que com ela venham a conviver.

É lá onde o imaginário infantil busca referenciais saudáveis, ainda não obtidos, muitas vezes, na comunidade de onde muitas crianças são originárias.

Mas, que nada!

Está cada vez mais sucateada!

Seus operadores, por outro lado, não mais conseguem viver dignamente com os baixos salários que lhe são oferecidos.

Que tristeza é ter a notícia de que um professor graduado em Pedagogia em São Luís, no Maranhão, tem que ficar batendo na porta de político para conseguir um contrato temporário. E, quando consegue, por 40 horas de trabalho percebe um pouco mais de R$ 1 mil. A reportagem do Jornal Zero Hora, de 10 de fevereiro de 2015, expõe esta vergonha nacional. O que não é diferente por aqui, terra dos gaúchos, em termos de remuneração.

Agora, mais vergonhoso torna-se ainda quando este professor atravessa o Brasil para vir colher maçãs em Vacaria, para obter um ganho bem maior do que como professor, durante os 90 dias em que aqui permanecerá. Explica a decisão pela necessidade, considerando o nascimento de um filho nos próximos meses.

Atentem:

Permanecerá no trabalho de colheita da maçã nos pomares de Vacaria, junto a outros tantos trabalhadores que sequer concluíram o Ensino Fundamental.

Que belo país seria este se Leandro da Silva Sampaio, este seu nome, pudesse atravessar o Brasil para vir aqui trocar experiências com colegas de profissão, em programas governamentais de incentivo à educação continuada, ao aprimoramento de técnicas pedagógicas. Ou se, pelo menos lá na sua terra, tivesse o apoio e remuneração condigna para aperfeiçoar-se e ser um multiplicador de novos saberes junto à escola onde trabalha.

É pedir demais?

Claro que não! É pedir o necessário para ver cumprida a sua vocação: que não é ser colheiteiro de maçãs.

Neste ritmo, no futuro, a falta de professores, que sempre se avizinha a cada início de ano letivo, estabelecer-se-á de forma definitiva, com a inexistência de professores para serem contratados, quanto mais nomeados. Ninguém mais quererá ser professor. 

Leandro confirma a falta de apoio pedagógico para a formação continuada.

Isso vai desanimando, diz ele.





Mas voltemos os olhos para a aniversariante.

Em 2008, a professora Regina visitou uma escola pública estadual em busca de um piano Essenfelder que lá se encontrava, por volta da década de 70, em perfeitas condições. Desta visita nasceu a crônica SAMBA DE UMA NOTA SÓ, publicada em 04/09/2008.

Na verdade, à época da visita, o tal piano já era uma sucata. Apenas algumas teclas ainda estavam intactas. Daí, o título da crônica.

Pois agora, há poucos dias, novamente Regina foi à escola em busca do piano. Não conseguiu vê-lo. Não havia monitores para acompanhá-la. Foi a desculpa. A responsável pela informação, porém, garantiu-lhe que o piano ainda se encontra por lá. E que alguém, talvez algum aluno (não ficou bem claro), tem pensado em trazer mais algum instrumento e formar uma banda. 

Que coisa! Só mesmo um milagre para ele ter resistido seis anos, considerando o estado em que se encontrava, confabulou com seus botões a professora. Milagres existem, porém! Concordo com a professora Regina.



Nos últimos dias, adentrei pelos portões de algumas escolas públicas estaduais e lágrimas brotaram-me dos olhos. É lastimável o estado em que se encontram. E a descrição do que foi visto encontra-se relatado no início desta crônica.

Eu que tenho na lembrança os nomes e as imagens de minhas professoras do Curso Primário, assim chamava-se o Curso Fundamental até a 5ª série, tenho saudade delas: a Ignez Angelina, a Sirlei Barcellos, a Lorena, a Maria Teresinha Tavares e a Edite Santos Gomes, por ordem sequencial, da 1ª à 5ª série.

Agora, a minha escola fotografada por mim em 2011, a Escola Estadual Dr. João Batista de Lacerda, que fez parte da crônica O PAI DOS MEUS BONECOS, publicada em 30/08/11, continua salva das pichações e do aspecto de abandono que encontrei nas demais.

Volto, novamente, neste reinício de ano letivo e a encontro ainda preservada. Serão meus olhos que assim a enxergam? Será que o acolhimento e o prazer do convívio lá encontrados, que pavimentaram minha trajetória, deixaram rastros tão marcantes que me permitem, hoje, ter a mesma emoção ao vê-la? Mesmo tendo sido erguida em seu lugar uma construção de alvenaria, pois ali existia uma das inúmeras brizoletas que vicejavam pela cidade à época?

Acho mesmo que o lugar, o espaço, o território que se palmilha, dia a dia, fica como que amalgamado ao nosso ser de tal forma que revivemos as emoções, boas ou más, quando, novamente, lá pisamos. E que bom que foi uma passagem tão marcada por boas lembranças.

A atual fotografia desta escola, abaixo colocada, prova que ela continua bela e, com certeza, de grande importância para os alunos que hoje nela estudam e os que virão a seguir.

Como diz a letra da música SOU A ESCOLA, cuja autoria não consegui descobrir, num vídeo publicado por Domingos Ramalho, português, em 20 de maio de 2013, é na escola que se constrói o futuro e é ela a nossa segunda casa.

E o seu refrão diz bem da importância de uma criança para a escola que vai acolhê-la nos seus primeiros passos como futuro ser pensante, reflexivo e construtor de vivências. Ali, naquele espaço mágico, surgirão seres que farão história, socialmente e individualmente falando, construindo um país melhor para si e para todos.



Minha saudação à NOSSA SEGUNDA CASA, a ESCOLA, no seu dia!

Meu desejo que ela cumpra seu papel neste reinício de ano letivo.

E a certeza de que ela me serviu de alicerce para a minha história pessoal.





Sou a Escola 


Reportagem:  



Escola Estadual Dr. João Batista de Lacerda 




quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

MAIS AZUL!











Que verão mais estranho!

Todo dia, ou quase todos, meus olhos observam pesadas nuvens, por todos os lados, acompanhando o amanhecer. Em meio a alguns raios de Sol, tímidos, como a se desculpar por essa intromissão sempre tão buscada por quem divide com ele a energia necessária para o cumprimento de rotinas, por vezes, enfadonhas.

A cor cinza acompanha os movimentos que pairam nos olhos de quem, ainda, consegue deter-se a olhar o céu que nos obseva. Nós, os caminhantes que buscamos a indicação de como estará o humor do irmão Sol. O que não acontece com quem não desgruda do celular. Este não vê nada, nem mesmo o automóvel nos seus calcanhares.

Ao longo do dia, tudo pode se transformar, rapidamente, confirmando o azedume de quem acordou cinza e que já se transformou em chumbo, com pingos grossos que despencam do alto.

Muitas vezes, a chuva desiste de se jogar das nuvens. Fica por lá, guardando rancores. Isto não deve ser legal para ela. Nem para nós, acredito. Resolve, então, pintar de cinza o cenário, só para incomodar. E assim permanece o dia todo.

Onde estão as cores do amanhecer?

Ultimamente, os dias têm acordado de cara amarrada, com aquele ar de enfado.

Nuvens ameaçadoras espalham-se por todos os lados. Eu diria que muitos mais do que 50 tons de cinza, centenas de tons de cinza, na acepção literal da palavra, apropriam-se do céu todos os dias.

E é com este humor diferente do habitual que o nosso verão tem transcorrido. Para quem estava acostumado a verões com dias ensolarados, belos, o céu manda dizer que os seus moradores não estão mais para brincadeira. As coisas por lá andam diferentes do que eram há tempos atrás. A turbulência instalou-se e nós que dormimos em berço esplêndido, nos acordamos, todos os dias, um pouco mais preocupados. 

Afinal, parece que TODO DIA O DIA NÃO QUER RAIAR O SOL DO DIA, como diz a letra da música TODO CARNAVAL TEM SEU FIM de Marcelo Camelo, um dos integrantes da banda Los Hermanos, conforme vídeo abaixo.

Por sinal, durante a semana do Carnaval, a situação tem sido a mesma.

A manhã acorda de mau humor. Lá pelas tantas, ouve-se um arrastar de cadeiras e o conflito está formado. Deságuam-se todos os impropérios guardados.

Ao final do dia, a paz retorna, o sol abre um sorriso novamente e o céu todo feliz desfila o seu azul, cobrindo com seu manto todos os cantos até aonde a vista alcança.

Mal comparando, é tudo parecido com os festejos de Momo. Estes liberam todas as frustrações, os desejos e os sonhos, transformando-os em pura beleza, para, logo em seguida, retornarem seus foliões à vida tediosa, esquecida por um breve tempo. Ao findar os quatro dias, volta-se à realidade. O Carnaval é quem faz seus seguidores tornarem-se nobres, sendo tão populares em sua origem: a chamada nobreza popular, que faz tão bem. Não nos enganemos, porém.

Cecília Meireles expressou muito bem este sentimento de volta à realidade, quando escreveu:




Este período que a tudo e a todos transforma, porém, dura uma vez ao ano, apenas.

Já o nosso céu tem-se ocupado, diariamente, com mudanças radicais. Do feio, do instável, da cara azeda a um belo encerrar-se do dia com um Sol sorridente já quase pronto para deitar-se: sempre no fim do dia.

Depois de muito pensar, acho que descobri a razão para este proceder.

Ele, o Sol, enfeita o céu e libera toda a energia positiva ao final do dia para que guardemos na retina a esperança do raiar de um novo dia: mais prazeroso, mais estável e, quem sabe, repleto de boas surpresas.

DEIXA EU BRINCAR DE SER FELIZ, refrão da letra da música acima referida, é o que o Carnaval propõe. É o que também propõe este nosso céu, a cada final de tarde, com o Sol mostrando seu sorriso e o céu reivindicando todo o azul que é a sua marca maior.

Tudo a nos acenar para um novo amanhecer.

Quem sabe consigamos ser felizes de verdade, não apenas de brincadeira.

Estou pensando em sair à rua para reivindicar a minha quota de azul.

Por que não?

Afinal, no Carnaval vale tudo!

Inclusive sonhar acordado!




PS:

Só pra contrariar e com medo do meu protesto, as forças do tempo deram uma trégua. E eis o azul pairando sobre nós todos, porto-alegrenses, neste amanhecer deste último dia de Carnaval.

Como diz o ditado:

Quem espera, um dia, alcança. Aliás, de desejos e sonhos é feito o Carnaval.

Ah! O verão, hoje, redimiu-se. Pelo menos, neste belo amanhecer de um feriado tão tradicional.

Aproveitemos!

Epa! Acho que me enganei.

É meio da tarde e a briga instalou-se lá por cima. Devem ter exagerado na cerveja. Chove bastante na tarde desta 3ª feira de Carnaval. Pelo menos, no bairro onde moro.

Ah! Ia esquecendo de dizer que a chuva agora é por bairros. No seu, pode não ter chovido.

Até o próximo Carnaval!



E só para finalizar:

O amanhecer desta Quarta-Feira de Cinzas está MAIS AZUL do que nunca. No meu bairro, pelo menos. 

Acho que isto já é provocação!

É! Não se atreva a falar do tempo.

Nunca!

Viu?





Todo Carnaval tem seu Fim – Los Hermanos




quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

DÊ UM ZUM!











Você consegue perceber o que escorre pela calçada até o meio-fio? Aquela mistura fétida, da cor do azeviche, com restos de comida que forma um veio que se espraia pela calçada e que, finalmente, alcança o meio-fio daquela rua? Amanhã, quem sabe, o tal veio será visto em outra calçada, próxima desta de agora. Ou, na mesma.

Não desvie o olhar. Dê um zum!

Observe os detalhes da cena. Acompanhe de onde parte o veio.

Existe logo ali um pé, descalço, magro, que se confunde com o líquido espesso, escurecido, fétido. Ele é parte de um ser humano que sobre a calçada, junto à parede, jaz inerte sob o efeito de alguma droga.

É pena que o zum não tenha um tanto de magia e que pudesse recuar no tempo e fornecer alguma outra cena que, talvez, explicasse o motivo daquele ser estar ali jogado. E são tantos em tantos lugares, já por tanto tempo.

O DNA é o mesmo, mas os lugares de origem são diversos. E será este último dado relevante no processo que se desencadeou até atingir a cena da calçada?

Não, necessariamente. De comunidades que sobrevivem de restos, mesmo aí temos seres que ascendem. O meio é importante, a genética, também. Há algo, porém, que se instala quando da formação de alguns seres e que deposita sobre eles um perfil psicológico diferenciado. São marcas que se impõem, mais fortes do que o ambiente que os cercam, tornando-os mais aguerridos, mais batalhadores.

Seres oriundos de uma mesma família reagirão de forma diversa às vicissitudes que a vida vai impondo. Alguns membros marcados pela violência doméstica zarparão sem temor mundo afora, buscando melhores condições de vida. Outros quedarão sem rumo. Arrastarão, pelos dias que se sucederem, a desesperança, o medo, a rejeição que, muitas vezes, se autoimpuseram. Para estes caberá o olhar atento da comunidade e o apoio de instituições de Estado que buscarão encaminhar os que quedaram pelo caminho, atropelados pelos infortúnios de origem.

Uma comunidade carente necessita de apoio de órgãos criados para realizar este trabalho. O objetivo é evitar que mais indivíduos se arrastem por calçadas e viadutos, levando seus parcos pertences, disputados entre si.

Para os que já fizeram a rua de morada, faz-se necessário o recolhimento para Unidades de Recuperação, pois depois de certa involução na escala social, nada mais é possível fazer-se sozinho. A recuperação deverá ser feita dentro de instituição mantida com o dinheiro público, fruto dos NOSSOS IMPOSTOS, arrecadados e direcionados com HONESTIDADE por quem detém esta tarefa, visando ao BEM DE TODOS: ao BEM DA CIDADE, por ser ela uma célula única que a todos contém.

O objetivo maior deve ser evitar que mais criaturas se espalhem pelas calçadas, num ritmo cada vez mais veloz, direcionando todos os esforços para que elas se tornem úteis, capazes de sobreviverem de forma digna. O trabalho, em todas as esferas da sociedade, deve ser fomentado como único meio de preservar a autoestima, sendo o motor propulsor para uma socialização com ganhos para todos os moradores da cidade.

É utópico? Talvez!

Agora, está mais do que na hora de que algo aconteça nesta direção. É absolutamente necessário ter a esperança de mudança.

E é a própria utopia que dará origem ao movimento de constante caminhar na solução dos problemas.

Que haja força e boa vontade em nossa aldeia para que se consiga direcionar, por outros caminhos, milhares de carentes a arrastar-se pelo lixo.

Que uma conscientização crescente da comunidade proteste por direitos e garantias a ela sonegados.

Caso contrário, não será nem mais preciso dar um zum. Você, leitor, não conseguirá mais desviar o olhar, porque a calçada estará tomada. As ruas, os parques e os canteiros, também.

Ou, quem sabe, você também tão espoliado não terminará como estes seus irmãos, menos afortunados: na calçada.

Agora, se falarmos daqueles grupos bem menores, quero crer, mas extremamente danosos, o dos corruptíveis e o dos corruptores, eles não mais estarão por aqui, neste momento, para contar a história de ERA UMA VEZ UM PAÍS RICO ................................................................................................................

Ah! Esqueça o zum!

Tudo terá se agigantado. Seus olhos não mais precisarão deste auxílio.



Sinceramente, quero acreditar, ainda, que aquela calçada, que conheço tão bem, possa conter, num futuro não muito longínquo, apenas os restos de chuva com as flores do jacarandá da esquina. E que a água depositada no meio-fio seja de um tom violáceo, que nem as flores do mesmo jacarandá.

Segundo Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, a vida é suportável se nela for introduzida não apenas a utopia, mas a poesia, ou seja, a intensidade, a festa, a alegria, a comunhão, a felicidade e o amor. Há o êxtase histórico, que é um êxtase amoroso coletivo.



De ambas, utopia e poesia, Mário Quintana entende muito bem. 

Eis, sua receita:




Agora, o samba MENOR ABANDONADO, cantado por Zeca Pagodinho, espelha bem a realidade que nos cerca e aquilo que pode ser feito para mudá-la.



Já o poeta Manuel Bandeira com seu poema O BICHO dá-nos um choque de realidade, quando verseja: 





Fiquemos com os dois primeiros exemplos. São um alento e um alerta para que não se torne corriqueira a última cena, embora Manuel Bandeira a tenha descrito na década de 40. 

Há que não se perder a esperança, porém.




Samba - Menor Abandonado – Zeca Pagodinho