segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

NOSSA SEGUNDA CASA











O mato viceja. Era para ser enfeite, para embelezar. Era para acolher com seu gramado, com suas árvores que enfeitam o caminho.

A visão, porém, é outra. E isto é só o início. Difícil não se entristecer com esta imagem. Difícil achar desculpas para tanto descaso. 

Uma frente nada convidativa para quem entra e um caminho que se arrasta entre salas que exalam um ar pouco asseado, com carteiras que resistem ao tempo e a nenhuma manutenção. Passando por sanitários ainda em pior estado, chega-se ao pátio, não coberto, que, igualmente, revela pouco cuidado na sua conservação.

É desolador!

E este é o momento dela. Dia 15 de março ela fará aniversário. Ela que deveria apresentar-se acolhedora, com um aceno sedutor que garantisse um encontro diário proveitoso e enriquecedor para todos os que com ela venham a conviver.

É lá onde o imaginário infantil busca referenciais saudáveis, ainda não obtidos, muitas vezes, na comunidade de onde muitas crianças são originárias.

Mas, que nada!

Está cada vez mais sucateada!

Seus operadores, por outro lado, não mais conseguem viver dignamente com os baixos salários que lhe são oferecidos.

Que tristeza é ter a notícia de que um professor graduado em Pedagogia em São Luís, no Maranhão, tem que ficar batendo na porta de político para conseguir um contrato temporário. E, quando consegue, por 40 horas de trabalho percebe um pouco mais de R$ 1 mil. A reportagem do Jornal Zero Hora, de 10 de fevereiro de 2015, expõe esta vergonha nacional. O que não é diferente por aqui, terra dos gaúchos, em termos de remuneração.

Agora, mais vergonhoso torna-se ainda quando este professor atravessa o Brasil para vir colher maçãs em Vacaria, para obter um ganho bem maior do que como professor, durante os 90 dias em que aqui permanecerá. Explica a decisão pela necessidade, considerando o nascimento de um filho nos próximos meses.

Atentem:

Permanecerá no trabalho de colheita da maçã nos pomares de Vacaria, junto a outros tantos trabalhadores que sequer concluíram o Ensino Fundamental.

Que belo país seria este se Leandro da Silva Sampaio, este seu nome, pudesse atravessar o Brasil para vir aqui trocar experiências com colegas de profissão, em programas governamentais de incentivo à educação continuada, ao aprimoramento de técnicas pedagógicas. Ou se, pelo menos lá na sua terra, tivesse o apoio e remuneração condigna para aperfeiçoar-se e ser um multiplicador de novos saberes junto à escola onde trabalha.

É pedir demais?

Claro que não! É pedir o necessário para ver cumprida a sua vocação: que não é ser colheiteiro de maçãs.

Neste ritmo, no futuro, a falta de professores, que sempre se avizinha a cada início de ano letivo, estabelecer-se-á de forma definitiva, com a inexistência de professores para serem contratados, quanto mais nomeados. Ninguém mais quererá ser professor. 

Leandro confirma a falta de apoio pedagógico para a formação continuada.

Isso vai desanimando, diz ele.





Mas voltemos os olhos para a aniversariante.

Em 2008, a professora Regina visitou uma escola pública estadual em busca de um piano Essenfelder que lá se encontrava, por volta da década de 70, em perfeitas condições. Desta visita nasceu a crônica SAMBA DE UMA NOTA SÓ, publicada em 04/09/2008.

Na verdade, à época da visita, o tal piano já era uma sucata. Apenas algumas teclas ainda estavam intactas. Daí, o título da crônica.

Pois agora, há poucos dias, novamente Regina foi à escola em busca do piano. Não conseguiu vê-lo. Não havia monitores para acompanhá-la. Foi a desculpa. A responsável pela informação, porém, garantiu-lhe que o piano ainda se encontra por lá. E que alguém, talvez algum aluno (não ficou bem claro), tem pensado em trazer mais algum instrumento e formar uma banda. 

Que coisa! Só mesmo um milagre para ele ter resistido seis anos, considerando o estado em que se encontrava, confabulou com seus botões a professora. Milagres existem, porém! Concordo com a professora Regina.



Nos últimos dias, adentrei pelos portões de algumas escolas públicas estaduais e lágrimas brotaram-me dos olhos. É lastimável o estado em que se encontram. E a descrição do que foi visto encontra-se relatado no início desta crônica.

Eu que tenho na lembrança os nomes e as imagens de minhas professoras do Curso Primário, assim chamava-se o Curso Fundamental até a 5ª série, tenho saudade delas: a Ignez Angelina, a Sirlei Barcellos, a Lorena, a Maria Teresinha Tavares e a Edite Santos Gomes, por ordem sequencial, da 1ª à 5ª série.

Agora, a minha escola fotografada por mim em 2011, a Escola Estadual Dr. João Batista de Lacerda, que fez parte da crônica O PAI DOS MEUS BONECOS, publicada em 30/08/11, continua salva das pichações e do aspecto de abandono que encontrei nas demais.

Volto, novamente, neste reinício de ano letivo e a encontro ainda preservada. Serão meus olhos que assim a enxergam? Será que o acolhimento e o prazer do convívio lá encontrados, que pavimentaram minha trajetória, deixaram rastros tão marcantes que me permitem, hoje, ter a mesma emoção ao vê-la? Mesmo tendo sido erguida em seu lugar uma construção de alvenaria, pois ali existia uma das inúmeras brizoletas que vicejavam pela cidade à época?

Acho mesmo que o lugar, o espaço, o território que se palmilha, dia a dia, fica como que amalgamado ao nosso ser de tal forma que revivemos as emoções, boas ou más, quando, novamente, lá pisamos. E que bom que foi uma passagem tão marcada por boas lembranças.

A atual fotografia desta escola, abaixo colocada, prova que ela continua bela e, com certeza, de grande importância para os alunos que hoje nela estudam e os que virão a seguir.

Como diz a letra da música SOU A ESCOLA, cuja autoria não consegui descobrir, num vídeo publicado por Domingos Ramalho, português, em 20 de maio de 2013, é na escola que se constrói o futuro e é ela a nossa segunda casa.

E o seu refrão diz bem da importância de uma criança para a escola que vai acolhê-la nos seus primeiros passos como futuro ser pensante, reflexivo e construtor de vivências. Ali, naquele espaço mágico, surgirão seres que farão história, socialmente e individualmente falando, construindo um país melhor para si e para todos.



Minha saudação à NOSSA SEGUNDA CASA, a ESCOLA, no seu dia!

Meu desejo que ela cumpra seu papel neste reinício de ano letivo.

E a certeza de que ela me serviu de alicerce para a minha história pessoal.





Sou a Escola 


Reportagem:  



Escola Estadual Dr. João Batista de Lacerda 




quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

MAIS AZUL!











Que verão mais estranho!

Todo dia, ou quase todos, meus olhos observam pesadas nuvens, por todos os lados, acompanhando o amanhecer. Em meio a alguns raios de Sol, tímidos, como a se desculpar por essa intromissão sempre tão buscada por quem divide com ele a energia necessária para o cumprimento de rotinas, por vezes, enfadonhas.

A cor cinza acompanha os movimentos que pairam nos olhos de quem, ainda, consegue deter-se a olhar o céu que nos obseva. Nós, os caminhantes que buscamos a indicação de como estará o humor do irmão Sol. O que não acontece com quem não desgruda do celular. Este não vê nada, nem mesmo o automóvel nos seus calcanhares.

Ao longo do dia, tudo pode se transformar, rapidamente, confirmando o azedume de quem acordou cinza e que já se transformou em chumbo, com pingos grossos que despencam do alto.

Muitas vezes, a chuva desiste de se jogar das nuvens. Fica por lá, guardando rancores. Isto não deve ser legal para ela. Nem para nós, acredito. Resolve, então, pintar de cinza o cenário, só para incomodar. E assim permanece o dia todo.

Onde estão as cores do amanhecer?

Ultimamente, os dias têm acordado de cara amarrada, com aquele ar de enfado.

Nuvens ameaçadoras espalham-se por todos os lados. Eu diria que muitos mais do que 50 tons de cinza, centenas de tons de cinza, na acepção literal da palavra, apropriam-se do céu todos os dias.

E é com este humor diferente do habitual que o nosso verão tem transcorrido. Para quem estava acostumado a verões com dias ensolarados, belos, o céu manda dizer que os seus moradores não estão mais para brincadeira. As coisas por lá andam diferentes do que eram há tempos atrás. A turbulência instalou-se e nós que dormimos em berço esplêndido, nos acordamos, todos os dias, um pouco mais preocupados. 

Afinal, parece que TODO DIA O DIA NÃO QUER RAIAR O SOL DO DIA, como diz a letra da música TODO CARNAVAL TEM SEU FIM de Marcelo Camelo, um dos integrantes da banda Los Hermanos, conforme vídeo abaixo.

Por sinal, durante a semana do Carnaval, a situação tem sido a mesma.

A manhã acorda de mau humor. Lá pelas tantas, ouve-se um arrastar de cadeiras e o conflito está formado. Deságuam-se todos os impropérios guardados.

Ao final do dia, a paz retorna, o sol abre um sorriso novamente e o céu todo feliz desfila o seu azul, cobrindo com seu manto todos os cantos até aonde a vista alcança.

Mal comparando, é tudo parecido com os festejos de Momo. Estes liberam todas as frustrações, os desejos e os sonhos, transformando-os em pura beleza, para, logo em seguida, retornarem seus foliões à vida tediosa, esquecida por um breve tempo. Ao findar os quatro dias, volta-se à realidade. O Carnaval é quem faz seus seguidores tornarem-se nobres, sendo tão populares em sua origem: a chamada nobreza popular, que faz tão bem. Não nos enganemos, porém.

Cecília Meireles expressou muito bem este sentimento de volta à realidade, quando escreveu:




Este período que a tudo e a todos transforma, porém, dura uma vez ao ano, apenas.

Já o nosso céu tem-se ocupado, diariamente, com mudanças radicais. Do feio, do instável, da cara azeda a um belo encerrar-se do dia com um Sol sorridente já quase pronto para deitar-se: sempre no fim do dia.

Depois de muito pensar, acho que descobri a razão para este proceder.

Ele, o Sol, enfeita o céu e libera toda a energia positiva ao final do dia para que guardemos na retina a esperança do raiar de um novo dia: mais prazeroso, mais estável e, quem sabe, repleto de boas surpresas.

DEIXA EU BRINCAR DE SER FELIZ, refrão da letra da música acima referida, é o que o Carnaval propõe. É o que também propõe este nosso céu, a cada final de tarde, com o Sol mostrando seu sorriso e o céu reivindicando todo o azul que é a sua marca maior.

Tudo a nos acenar para um novo amanhecer.

Quem sabe consigamos ser felizes de verdade, não apenas de brincadeira.

Estou pensando em sair à rua para reivindicar a minha quota de azul.

Por que não?

Afinal, no Carnaval vale tudo!

Inclusive sonhar acordado!




PS:

Só pra contrariar e com medo do meu protesto, as forças do tempo deram uma trégua. E eis o azul pairando sobre nós todos, porto-alegrenses, neste amanhecer deste último dia de Carnaval.

Como diz o ditado:

Quem espera, um dia, alcança. Aliás, de desejos e sonhos é feito o Carnaval.

Ah! O verão, hoje, redimiu-se. Pelo menos, neste belo amanhecer de um feriado tão tradicional.

Aproveitemos!

Epa! Acho que me enganei.

É meio da tarde e a briga instalou-se lá por cima. Devem ter exagerado na cerveja. Chove bastante na tarde desta 3ª feira de Carnaval. Pelo menos, no bairro onde moro.

Ah! Ia esquecendo de dizer que a chuva agora é por bairros. No seu, pode não ter chovido.

Até o próximo Carnaval!



E só para finalizar:

O amanhecer desta Quarta-Feira de Cinzas está MAIS AZUL do que nunca. No meu bairro, pelo menos. 

Acho que isto já é provocação!

É! Não se atreva a falar do tempo.

Nunca!

Viu?





Todo Carnaval tem seu Fim – Los Hermanos




quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

DÊ UM ZUM!











Você consegue perceber o que escorre pela calçada até o meio-fio? Aquela mistura fétida, da cor do azeviche, com restos de comida que forma um veio que se espraia pela calçada e que, finalmente, alcança o meio-fio daquela rua? Amanhã, quem sabe, o tal veio será visto em outra calçada, próxima desta de agora. Ou, na mesma.

Não desvie o olhar. Dê um zum!

Observe os detalhes da cena. Acompanhe de onde parte o veio.

Existe logo ali um pé, descalço, magro, que se confunde com o líquido espesso, escurecido, fétido. Ele é parte de um ser humano que sobre a calçada, junto à parede, jaz inerte sob o efeito de alguma droga.

É pena que o zum não tenha um tanto de magia e que pudesse recuar no tempo e fornecer alguma outra cena que, talvez, explicasse o motivo daquele ser estar ali jogado. E são tantos em tantos lugares, já por tanto tempo.

O DNA é o mesmo, mas os lugares de origem são diversos. E será este último dado relevante no processo que se desencadeou até atingir a cena da calçada?

Não, necessariamente. De comunidades que sobrevivem de restos, mesmo aí temos seres que ascendem. O meio é importante, a genética, também. Há algo, porém, que se instala quando da formação de alguns seres e que deposita sobre eles um perfil psicológico diferenciado. São marcas que se impõem, mais fortes do que o ambiente que os cercam, tornando-os mais aguerridos, mais batalhadores.

Seres oriundos de uma mesma família reagirão de forma diversa às vicissitudes que a vida vai impondo. Alguns membros marcados pela violência doméstica zarparão sem temor mundo afora, buscando melhores condições de vida. Outros quedarão sem rumo. Arrastarão, pelos dias que se sucederem, a desesperança, o medo, a rejeição que, muitas vezes, se autoimpuseram. Para estes caberá o olhar atento da comunidade e o apoio de instituições de Estado que buscarão encaminhar os que quedaram pelo caminho, atropelados pelos infortúnios de origem.

Uma comunidade carente necessita de apoio de órgãos criados para realizar este trabalho. O objetivo é evitar que mais indivíduos se arrastem por calçadas e viadutos, levando seus parcos pertences, disputados entre si.

Para os que já fizeram a rua de morada, faz-se necessário o recolhimento para Unidades de Recuperação, pois depois de certa involução na escala social, nada mais é possível fazer-se sozinho. A recuperação deverá ser feita dentro de instituição mantida com o dinheiro público, fruto dos NOSSOS IMPOSTOS, arrecadados e direcionados com HONESTIDADE por quem detém esta tarefa, visando ao BEM DE TODOS: ao BEM DA CIDADE, por ser ela uma célula única que a todos contém.

O objetivo maior deve ser evitar que mais criaturas se espalhem pelas calçadas, num ritmo cada vez mais veloz, direcionando todos os esforços para que elas se tornem úteis, capazes de sobreviverem de forma digna. O trabalho, em todas as esferas da sociedade, deve ser fomentado como único meio de preservar a autoestima, sendo o motor propulsor para uma socialização com ganhos para todos os moradores da cidade.

É utópico? Talvez!

Agora, está mais do que na hora de que algo aconteça nesta direção. É absolutamente necessário ter a esperança de mudança.

E é a própria utopia que dará origem ao movimento de constante caminhar na solução dos problemas.

Que haja força e boa vontade em nossa aldeia para que se consiga direcionar, por outros caminhos, milhares de carentes a arrastar-se pelo lixo.

Que uma conscientização crescente da comunidade proteste por direitos e garantias a ela sonegados.

Caso contrário, não será nem mais preciso dar um zum. Você, leitor, não conseguirá mais desviar o olhar, porque a calçada estará tomada. As ruas, os parques e os canteiros, também.

Ou, quem sabe, você também tão espoliado não terminará como estes seus irmãos, menos afortunados: na calçada.

Agora, se falarmos daqueles grupos bem menores, quero crer, mas extremamente danosos, o dos corruptíveis e o dos corruptores, eles não mais estarão por aqui, neste momento, para contar a história de ERA UMA VEZ UM PAÍS RICO ................................................................................................................

Ah! Esqueça o zum!

Tudo terá se agigantado. Seus olhos não mais precisarão deste auxílio.



Sinceramente, quero acreditar, ainda, que aquela calçada, que conheço tão bem, possa conter, num futuro não muito longínquo, apenas os restos de chuva com as flores do jacarandá da esquina. E que a água depositada no meio-fio seja de um tom violáceo, que nem as flores do mesmo jacarandá.

Segundo Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, a vida é suportável se nela for introduzida não apenas a utopia, mas a poesia, ou seja, a intensidade, a festa, a alegria, a comunhão, a felicidade e o amor. Há o êxtase histórico, que é um êxtase amoroso coletivo.



De ambas, utopia e poesia, Mário Quintana entende muito bem. 

Eis, sua receita:




Agora, o samba MENOR ABANDONADO, cantado por Zeca Pagodinho, espelha bem a realidade que nos cerca e aquilo que pode ser feito para mudá-la.



Já o poeta Manuel Bandeira com seu poema O BICHO dá-nos um choque de realidade, quando verseja: 





Fiquemos com os dois primeiros exemplos. São um alento e um alerta para que não se torne corriqueira a última cena, embora Manuel Bandeira a tenha descrito na década de 40. 

Há que não se perder a esperança, porém.




Samba - Menor Abandonado – Zeca Pagodinho





quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

TUDO A VER




Combinar elementos desconexos exige certo grau de coragem. Para quem escreve este é, talvez, um desafio constante que anima a criatividade, tão necessária para que o texto atinja o seu objetivo com um diferencial. 

Quando os assuntos são cotidianos, rotineiros, escrever sobre eles pode significar apenas informar, comunicar. E a carga emocional, que os acompanha, é repassada sem nenhuma vestimenta que os tornem menos dramáticos, aflitivos, desconcertantes. E nem poderia ser diferente. Este é o objetivo de informar: relatar, sem devaneios, o que se passa.

Diante de tantas questões aflitivas que nos cercam, caberá a quem escreve por prazer escolher os assuntos e abordá-los sob as cores de uma prosa poética, ou de pura poesia. O leitor terá com este exercício de leitura uma visão mais próxima do essencial que é ver mais longe, que é ver o invisível, quem sabe, relacionando seu viver de forma mais abrangente e iluminada pela comunhão com os demais indivíduos, todos alcançados pelas mesmas questões.

Diante da grave questão energética, sob a iminência da falta de luz, transcrevo abaixo uma saída poética para o problema, que Mário Quintana não autorizaria usá-la de forma tão ingênua, sendo ela tão mais profunda do que uma simples falta de luz. Eis seu pensamento:



Delícia de fechar os olhos, por um instante e assim ficar, sozinho, fabricando escuro... sabendo que existe a luz!

(Caderno H, p.178)



Este escuro independe da luz, que, por sua vez, não depende de qualquer fonte de energia.

A luz do amanhecer, porém, está presente no dia a dia. É dádiva a nós oferecida, é um presente do Criador.

Contudo, quando o irmão Sol vai descansar, ficamos perdidos na escuridão. 

Quem sabe voltamos à época do fogo para iluminar os caminhos?

Talvez, um archote. O que é isto? Uma tocha. Coisa muito antiga!

Melhor um lampião. É mais romântico!

Os lampiões fizeram parte das nossas casas no século 19. Iluminavam bem mais do que as velas. Sobre eles muitos poetas debruçaram sua criatividade. Para apenas despejar sua prosa poética ou, muitas vezes, para tornar o tema motivo de preocupação com o social, como demonstram o texto de Mário Quintana e o poema de Jorge de Lima, que seguem:







Um dia, porém, esta luz começou a relacionar-se com aquela outra metade que decretaria para sempre sua dependência a ela: a água.

E a luz, que dependera do óleo de peixe ou baleia ou ainda do querosene para se fazer presente, achou por bem romper com um velho relacionamento e investir numa fonte jovem, inesgotável e cheia de charme: a água. Esta, por sua vez, corria despreocupada por todo o território, mantida abundante por obra da natureza e pela mão do Criador que abria as comportas sempre que necessário.

E era tanta água correndo mundo afora que a gastança se instalou. Águas que se desfaziam em cachoeiras, que se insinuavam por banhados, que deslizavam pelas pedras dos riachos, que formavam os rios, as praias, que se perdiam nos mares. Era muita gente desfrutando de um bem tão atraente, precioso e tão marcadamente necessário a qualquer ser vivo.



Pois é! Toda esta água vem do céu e ao céu volta, segundo o poema CANTO DOS ESPÍRITOS SOBRE AS ÁGUAS, de Johann Wolfgang Von Goethe, do livro Poemas.




Percebe-se de um bom tempo para cá que esta água não mais está vindo do céu na mesma proporção de sempre. O movimento cíclico está desajustado. O homem vem cometendo tantos desatinos como o desmatamento, o desvio de cursos d’água e a própria poluição, rompendo, desta maneira, a cadeia virtuosa capaz de nos manter autossuficientes de um bem essencial para a nossa sobrevivência.

A partir deste desajuste, a dobradinha luz/água, ultimamente, anda discutindo a relação. Parece que nada será como antes.

A luz reclama que a água não lhe serve mais com aquela dedicação de antes. A água, por sua vez, diz que a culpa é daqueles que da luz necessitam e que se metem na relação, não ajudando em nada. Pelo contrário, destroem os ecossistemas o que acaba acarretando um desgaste, já visível, nesta relação.

Aliás, a água até sugeriu que a luz dê um tempo. Quem sabe ela vai buscar uma nova relação, que lhe dê melhor energia, para continuar iluminando os caminhos.

Embora não pareça, elas têm tudo a ver. Elas sabem disso.

E só para manter acesa uma luz no fundo do túnel, a água promete que vai continuar colaborando por mais um tempo. 

Agora, já disse para a luz avisar aos seus dependentes para maneirarem com a destruição que vem acarretando tantos problemas para ela, a água. E manda uma advertência:

Se bobear, não vai sobrar nem para tomar, quanto mais para iluminar.

Cadê a chuva?

Aliás, como já disse o poeta:

A alma do Homem é como a água: do céu vem, ao céu sobe.



É! O Criador parece que anda dificultando este vaivém, o da água, tão essencial a nossa sobrevivência. Não tem aberto as comportas lá de cima tão facilmente. E nós somos os responsáveis. 

Para perceber a importância desta dádiva da natureza, assistam aos vídeos que seguem. Um, que usa da poesia, o outro, didático, que explica a comunhão entre o casal água e luz nos bons tempos: aqueles da fartura.




Planeta Água – Guilherme Arantes


Kika – De Onde Vem a Energia Elétrica 





quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

TEM QUE SER POSSÍVEL











Nunca o volume foi tão intenso e danoso quanto nos últimos tempos. A quantia de desastres naturais ou aqueles ocasionados pelo próprio homem é alarmante. Embora com a ciência e a tecnologia ao nosso lado, produtos da especialização humana, parece que estamos ainda deficitários no nosso viver diário. De ambas auferimos maior comodidade, mas não o aumento da sensibilidade. A impressão que fica é que o nosso físico beneficiou-se, mas o espírito está cada vez mais perdido. E somos especialíssimos, pois dispomos de algo que fala mais forte: os sentimentos. E é na parte incorpórea ou sensível do ser humano, o nosso espírito, o lugar onde eles repousam.

Os sentimentos, por sua vez, valem-se dos sentidos para expressarem-se. O que estará acontecendo então com os sentimentos?


Os sentidos, pelo que se tem notícia, estão cada vez mais aguçados. A resposta, porém, dada por eles está diminuída de sentimentos.

Estará nosso espírito, então, diminuindo de importância frente ao físico?

Não, claro que não!

O espírito faz parte da criação de algo maior, que transcende a nossa própria origem. Portanto, parece ser eterno.

Diante desta constatação, acredito ser possível alterar o padrão negativo que solapa nossos melhores sentimentos. 

Aos milhões e milhões de seres que se veem constrangidos pelas barbáries, atrocidades, cataclismos, devastações, promovidos pela banda podre da humanidade e pelo grito da natureza, resta adotar uma postura fraterna e de cooperação desinteressada que se espalhe como círculos concêntricos, tal qual aquela pedra jogada na água, gerando ações positivas num mar de ações deletérias. Tudo para que se quebre o padrão negativo que nos assola já há algum tempo.

Está na hora de homens e mulheres voltarem a ser mais sensíveis. 

Não se está a falar aqui daquelas emoções da montanha-russa, despencando, ou do jogar-se do penhasco abaixo seguro por uma corda. Estas são as emoções-choque na classificação de Michel Lacroix, reconhecido filósofo francês.

Fala-se aqui da emoção-contemplação que, por conseguinte, cria em nós, segundo ainda o filósofo, a capacidade de usufruir o sabor do mundo. Enquanto a primeira, a emoção-choque, nos ajuda a sobreviver no mundo, ligando-se ao corpo em ação, a segunda liga-se ao coração receptivo.



E é exatamente esta emoção, ligada ao sentimento, que estamos perdendo. Nos últimos tempos, tem havido uma exacerbação da primeira, a emoção-choque, demonstrando, no meu entender, um retrocesso na evolução da espécie. Convenhamos que a sobrevivência, no início dos tempos, era pura emoção-choque, conforme classificação exposta.

Será que evoluímos?

Claro que sim.

Caberá a nós, seres pensantes, dosar melhor os avanços que a tecnologia nos trouxe. Ela veio para nos ajudar, para nos conectar com mais facilidade. Nada, porém, que passe pela possibilidade de que tal melhoria substitua o sentimento que se extrai de um olhar, ao vivo e em cores.

Se o mundo das notícias, por exemplo, carrega nas cenas de destruição, nós, no universo que nos cerca, por autossobrevivência, temos que recorrer a uma emoção-contemplação, como antídoto. Pousar o olhar sobre um pé de jacarandá florido, escutar a chuva batendo no telhado, trocar balbucios com o pequenino que nos acena quando cruzamos próximo, sentir a grama sob os pés, mesmo estando calçado, pois o caminhar torna-se fofo e por aí afora... Oferecer aos nossos sentidos aquilo que despertará nossos melhores sentimentos, nossas melhores emoções.

Agora, extrair da cena abaixo valores, que nos classifiquem como espécie humana evoluída, está cada vez mais difícil.

“Num automóvel, o motorista e mais dois ocupantes, todos no celular, estão conectados ao mundo, mas não entre si.” 

“Eventualmente, dois dos ocupantes balbuciam algo entre si.” 

“Nada mais do que isto.”

“O motorista, a cada sinaleira em vermelho, digita algo no celular.”

“Não há entre os ocupantes conversa alguma.”

“Os olhares dos dois ocupantes concentram-se nas telas e o motorista no trânsito, quando o carro está em movimento.”


Pois é! Por enquanto, pois em breve os carros não precisarão de motoristas. É o que preconiza a robótica para os próximos anos.

O que Nicholas Carr discorre no seu livro A Geração Superficial – O que a Internet está fazendo com os nossos cérebros – vale uma leitura.

No mundo de 2001, imaginado por Stanley Kubrick, a mensagem final aponta para uma máquina como sendo uma personagem humana. E se nossa dependência para a compreensão do mundo for mediada por uma máquina, então nos tornaremos seres com inteligência artificial.

Isto até pode acontecer.

Agora, ser inteligente é uma coisa. Ser sensível, ter sentimentos é outra. Estaremos realizando tarefas com eficiência robótica, destituídos totalmente de emoções, de sentimentos. Seremos robôs de carne e osso.

Confesso que isto é alarmante. Quero crer, porém, que ainda é possível mudarmos o padrão com equilíbrio, discernimento e muita sensibilidade para temperar tudo, qualidades que os robôs, acredito, nunca possuirão.

É preciso acordar. Isto tem que ser possível.



Por ora, melhor é desembarcarmos do tal automóvel. Pegar a cuia de chimarrão e ir matear com os vizinhos do edifício em frente. Todos sentados, comodamente, em bancos no meio do jardim. E olha que não são apenas os aposentados que frequentam tais bancos. Há quem, depois do trabalho, jogue conversa fora nos mesmo bancos, com ou sem chimarrão. Claro, com o celular no bolso, pois vá que alguém ligue. E esta é a sua função principal.

Agora, posso afiançar que ninguém permanece falando ao celular, sentado no banco. Sou olheira! Ali, o papo e o olho no olho são as coisas preferidas.



O pequeno poema O ENCONTRO, de Mário Quintana, dá uma visão da importância do olhar.




Pablo Neruda, por sua vez, versejou, de forma apaixonada, a importância de um olhar. Vejamos: 



Ou, quem sabe, ESSE SEU OLHAR, composição de Antônio Carlos Jobim, nos convença de que os olhares trocados entre dois seres humanos, que já, muitas vezes, são difíceis de serem entendidos, conforme a letra do festejado autor, jamais poderão ser substituídos, com êxito, por qualquer olho robótico. Nem mesmo por olhos humanos via skype. JAMAIS!

E se ainda o leitor não estiver convencido, acompanhe a letra de PELA LUZ DOS OLHOS TEUS, composição de Vinícius de Moraes e Toquinho, para definitivamente esquecer os robôs. Eles jamais poderão cumprir a importante missão de amar. Nem mesmo pelo olhar.




Esse Seu Olhar – Antônio Carlos Jobim/Kamille Carvalho Huebner(intérprete) e Cadú Carvalho (violão)


Pela Luz Dos Olhos Teus – Vinícius de Moraes e Toquinho/Tom Jobim e Miúcha(intérpretes)





quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

DO TACAPE AO DRONE














Das savanas pouco restou. Da espécie, que lentamente foi-se erguendo, surgiram seres das mais diversas características. Tudo de acordo com as condições climáticas do lugar em que a espécie foi se desenvolvendo. O instinto animal preponderante foi a marca de sobrevivência e perpetuação. Quem diria que depois de milênios as armas de destruição seriam o brinquedo favorito de mentes distorcidas que desqualificam o adjetivo civilizatório. E o que é pior! Mentes privilegiadas insuflando, fomentando e se locupletando de ações cruentas e bestiais: tudo em prol do poder.

Nos primórdios, o enfrentamento se resumia à força física. No braço, com o auxílio de um pedaço de osso qualquer, de uma pedra ou de um tacape, íamos ganhando território, as presas e as fêmeas à disposição.

Estamos bem mais sofisticados hoje. Depois de passarmos pela infantaria, cavalaria, pela artilharia com bombas, foguetes e mísseis, de maior ou menor potencial destrutivo, chegamos aos drones. Aniquilamos alvos escolhidos a quilômetros de distância, sem risco para os pilotos encarregados do massacre. É a tecnologia servindo aos propósitos mais vis, estando já em uso pelas forças de repressão, indistintamente.

Como prenunciava Mário Quintana no seu FUTURÂMICA:

E haverá uma época em que se fabricarão bombas atômicas especializadas, especializadíssimas, meu caro senhor, e tão sutis que no princípio não se notará coisa nenhuma... até que um dia alguém descobrirá que se acabaram, por exemplo, todos os tenores de banheiro, todas as imitadoras de Berta Singerman, todos os poetas comemorativos, todas as oleografias do Marechal Deodoro proclamando a República!

(Caderno H- p.161)



O mundo globalizado do século XXI tornou-o plano, como afirma Thomas L. Friedman. Graças aos avanços da tecnologia e da comunicação vivemos todos absolutamente conectados, o que apenas reforça a nossa participação, senão como espectador, mas, também, como partícipe de todos os eventos, positivos ou negativos, que varrem o planeta, cotidianamente.

Isto é bom, porém alarmante e desafiador.

Alarmante, porque estamos à mercê de quaisquer ações tresloucadas que ocorram.

Desafiador, porque devemos manter uma visão otimista do amanhã. E está cada vez mais difícil mantê-la.

Estamos cercados. De um lado, os de direita; do outro, os de esquerda.

O poeta Luiz Coronel dá a sua versão poética da ESQUERDA & DIREITA:






Será o centro um “poder sem utopia, ao sabor dos ventos?”

E os totalmente radicais? E os suicidas em nome de uma causa?

Em quais lados estarão?

Quem sabe ao seu lado, ao nosso lado...


O mundo está precisando de homens e mulheres de boa vontade, independentemente de que lado estejam ou de qual religião professem.

Somos diferentes uns dos outros. Temos idiossincrasias muito particulares, observáveis mesmo entre membros de uma mesma família. Nossas origens são diversas e nossos valores, igualmente.

E a beleza está na diversidade e na capacidade de convivência pacífica. Para tanto, deve haver respeito ao outro. Ensinamentos que partem da própria célula familiar e de uma escola aberta ao diálogo e a valores formadores do caráter de cada indivíduo.

Sendo todos nós originários da mesma espécie, com um DNA caracterizadamente humano, deveremos ter nossos direitos e deveres resguardados pela sociedade em que estamos inseridos, independentemente da origem geográfica de cada um. O que se observa, no entanto, é que a exclusão de certos grupos pode levá-los a servirem de massa de manobra, desvirtuando capacidades que seriam mais bem aproveitadas na sociedade em que buscaram abrigo. Iguais oportunidades de estudo e trabalho seria, por certo, uma solução. 

E o que estará acontecendo aos que estão em suas comunidades de origem? Para que servirão os drones por lá? Para intimidar? Para aniquilar? Para desestabilizar? Para abrir caminhos à sanha predatória? Para espoliar riquezas? E tudo com o aval dos poderosos da região.

É! Estamos longe de uma solução pacífica e proveitosa para todos os lados.

Mesmo assim, o otimismo não deve ceder ao desalento.


Agora, segundo o poeta Mário Quintana, TRÊS COISAS nos acompanham de há muito:

Todas as antigas civilizações – por mais isoladas umas das outras, no tempo e no espaço – sempre começaram descobrindo três coisas: a poesia, a bebida e a religião.

(Caderno H – p.156)


Quanto à bebida, devemos bebê-la com moderação!

Quanto à religião, a leitura da crônica dispensa comentários.

Quanto à poesia, o próprio Quintana dá a resposta quando escreve POESIA & MAGIA, ressaltando o aspecto mágico, que faz parte do nosso ser e que encontra guarida na sua leitura:


A beleza de um verso não está no que diz, mas no poder encantatório das palavras que diz: um verso é uma fórmula mágica.

(Caderno H – p.59)


Se todas as antigas civilizações descobriram e consequentemente pautaram seu comportamento em cima de uma religião, então, cabe, aqui, fazer uma exortação a que A ÁRVORE DOS POEMAS, também de Quintana, continue dando poemas. Pois, para onde irão as almas, se acaso a árvore suspender a produção?



Agora, só para atualizarem-se, assistam ao vídeo que segue e onde drones (robôs) tocam instrumentos musicais.

Quanto à música drone, dita de estilo minimalista, vou poupá-los.

Ninguém merece!

E o tacape?

- Credo! Que coisa mais retrô!





Flying Robot Rockstars 







quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

CUIDADO! FIQUE ATENTO!












Pois, em 2013, o papo era de sedução!


A cobra foi recebida com todas as honras. Houve até quem escrevesse e publicasse, em 10/01/13, a crônica SALVE O ANO DA SEDUÇÃO!

Lá, no início do ano, falou-se bastante da Serpente Água, ela que regeu o referido ano pelo Calendário Chinês.

Por incrível que pareça a cobra prenunciava coisas boas, pelo menos para quem estava envolvido na tarefa de seduzir, encantar. De resto, o saldo não foi dos melhores. Sendo ela do tipo Água, escorreu pelos dias daquele ano sem se deixar pegar em erros, isto é, não deixando rastros. E o que é pior: não melhorou a saúde no Brasil, ela que é o símbolo que identifica a Medicina e o próprio SAMU. O SUS, portanto, também não se beneficiou pela passagem dela por aqui. Quem ler a crônica entenderá melhor a analogia.

O saldo foi apenas reforçar a ideia, exposta no início da crônica, de que ela continua dona do pedaço, desde que o casal foi jogado lá de cima, como castigo pela desobediência.



E mais um ano irrompeu.

Desta vez, chegava ele: o cavalo. E era o Cavalo de Madeira, aquele que se reveza de 60 em 60 anos. A crônica A HORA É AGORA!, publicada em 02/01/14, trazia a esperança de que, pelo menos por estes pagos, o ano seria de realizações.

Considerando o cavalo como signo regente, seria a hora e a vez da gauchada começar a transformar a própria realidade. Ele nos oferecia a força e o impulso para a execução de tantos projetos que não saíam do papel.

À época, a crônica mencionava várias obras de grande importância para a capital dos gaúchos.

Ao que parece, deixamos o cavalo passar encilhado. E nada aconteceu.



Pois, agora, acredito que a vaca foi pro brejo.

O ano de 2015, regido pelo carneiro, segundo o Calendário Chinês, será um ano mais calmo, o que não quer dizer mais seguro. O carneiro, dizem, é o patrono das artes. Portanto, ótimas ideias deverão aflorar. O bicho, porém, vai precisar de uma ajudinha, pois tem dificuldade em tornar as coisas concretas, sozinho. Nada que não se possa resolver. Aliás, quem não precisa de auxílio nestes tempos atuais!

O ano será para fazer as coisas sem grande pressa, pois o dinheiro estará curto e os investimentos, infelizmente, todos eles serão arriscados. Como tudo estará mais lento, talvez, haja uma tendência ao desânimo. Portanto, deverá preponderar uma visão de longo prazo.

Agora, segundo os conhecedores do tal calendário, o ano de 2015 será o ano do Carneiro de Madeira, que também acontece de 60 em 60 anos e que regeu o ano de 1955, período em que houve até a decretação do Estado de Sítio no Brasil. Por um breve espaço de tempo, é claro. Só para as coisas se acomodarem.

Também, só para relembrar, aconteceu no final do mês de julho daquele ano, a chamada super onda polar. O território brasileiro, como um todo, não apenas a Região Sul, sofreu baixíssimas temperaturas, algumas negativas, recordes registrados oficialmente pelo INMET.

Na verdade, o que mais preocupa quem não entende de calendário chinês, mas assiste, cotidianamente, ao ato de roubar e pedir, de forma institucionalizada ou não, é a permanência de tais comportamentos num ano tipo Carneiro.

Gente, o bicho não é confiável!

Sabe, por acaso você, o que sejam “marradas”?

Pois é! Elas vêm de berço. Estão no DNA do carneiro. Servem para fazer valer a posição de macho dominante. Por viverem em bandos, há a necessidade de um comandante. Daí os cutucões com os chifres, as cabeçadas, as marradas. E o melhor será aquele que melhor souber usar as marradas no adversário. Elas é que determinarão a hierarquia de dominação.

Sendo este o esporte favorito do carneiro, nunca lhe passe a mão sobre a cabeça. Nem para lhe acariciar. O bicho receberá o gesto como sinal de provocação. Nesta hora, saia da frente, pois lá vêm marradas pra todos os lados.

E não pense você que isto é tudo. Às vezes, parecendo estar vencido ou desinteressado, retorna com ímpeto maior ainda: isto em pelejas com outros machos.

É! O animal é perigoso!

Portanto, fique atento este ano. Todo o cuidado será pouco. O bicho não é confiável. Jamais lhe dê as costas. 

Isto, talvez, explique o conselho dado pelo Calendário Chinês para o ano do Carneiro. Diz ele que é preciso tomar cuidado para não confiar demais em pessoas recém-conhecidas, pois se corre o risco de que haja exploração das carências de alguns indivíduos mais sensíveis por pessoas de má índole.



Bem, afora estas recomendações e desejando que não se repitam eventos já ocorridos há 60 anos, o ano de 2015 acena com a esperança: mola propulsora de todos os dias de cada novo ano.

Ela, que acredito ser infinita, nos lembra que a soma dos números que compõem o ano de 2015 totaliza o algarismo 8.

Em berço esplêndido, ele restará deitado, lembrando o símbolo do infinito () a nos conclamar que sejamos esperançosos e que plantemos a semente da mudança, lentamente, porém de forma determinada e responsável. Afinal, o ano vai requerer muita responsabilidade sobre nossas ações individuais. Tudo o que plantarmos, com certeza, vamos colher. As possibilidades serão infinitas. Há futuro, porém o tempo para plantá-lo é agora.

Portanto, sigamos de MÃOS DADAS, com esperança, conforme versejou o poeta Carlos Drummond de Andrade:




Mantenhamos, como último recurso, na ausência de algum sinal de mudança, o costume do nosso chimarrão, que tem a cor e o sabor da esperança. E, também, como imagem de uma esperança maior ainda a figura da criança, pois ela traz um futuro no olhar, como diz a letra de AINDA EXISTE UM LUGAR, composição de Miguel Marques e Ivo Brum, na voz de Wilson Paim, transcrita no vídeo abaixo. 

Acreditemos na letra. 



É o que sobra!




Ainda Existe Um Lugar – Wilson Paim