terça-feira, 21 de fevereiro de 2012










PALMAS AOS DESTAQUES!
             UM VIVA A TODOS NÓS, BRASILEIROS!


Com os pezinhos suspensos no ar, de frente para o mar, a imagem da emoção desafiando a força das águas. A desproporção é para quem vê a imagem por inteira, não para quem está a pular. É uma bela imagem.

Não tão bela é aquela outra de um cidadão, em destaque, de meia-idade, empunhando um guarda-chuva, em atitude de desafio ao pelotão formado em defesa... Do que mesmo?


Fonte: Jornal Zero Hora - 10/02/2012
Fonte: Jornal Zero Hora - 13/02/2012



Belíssima é a imagem de um jovem de 20 anos, Davi Junior dos Santos Pereira, servente de uma empresa terceirizada pela Infraero, que, ao encontrar uma nécessaire no chão do aeroporto, levou-a para a central de achados e perdidos. Por não abri-la, nem sabia o que continha. Pois lá estavam R$ 24.000,00. A sua declaração à repórter dá conta da importância da educação adquirida em casa, com os pais. Assim expressou-se:


-“Se tivesse oportunidade, faria tudo de novo. Não era meu. Cresci com esse ensinamento do meu pai.”

Esclareça-se que o pai de Davi, e de mais oito filhos, morador do bairro Mathias Velho, em Canoas, é vendedor de picolé em Porto Alegre.

Que grande desafio seria esse para qualquer jovem que não tivesse bem plantada a semente da honestidade, da retidão de caráter, da noção do que não é seu.

E que outro grande desafio enfrentam os jovens músicos, todos com idade entre onze e dezoito anos, que compõem a Camerata Ivoti, formada por 24 músicos do Instituto de Educação Ivoti. Suas apresentações na Europa, já pela quarta vez, têm surpreendido por uma sempre impecável escolha do repertório e excelência na execução das obras. Tudo adquirido através de uma educação de qualidade.

Agora, e quem leva, este ano, o Estandarte de Ouro?

Será este um desafio menor?

Quem consegue, por quatro dias, deixar-se embalar pela ilusão, pela criação, pelo desfile de cenários e roupas, construídos, por vezes, com dificuldade, pelo molejo das ancas, pelo samba dançado ao som de uma bateria competente?

Quem consegue manter em alta essa espírito carnavalesco que só por aqui existe? Somente um povo extremamente alegre, sonhador, otimista. Mas um autêntico lutador nos demais restantes dias do ano.

O desafio maior é manter-se assim... Assim como?

Assim como só um brasileiro sabe ser...

Um ser abençoado, um apaixonado pela vida. Alguém que mereceria bem mais do que tem.

Aliás, a 1ª escola de samba da nossa Capital, fundada em 1939, ainda sem a disposição em alas, chamava-se “Loucos de Alegria”.

Afinal, a alegria é o combustível da brincadeira e faz parte do nosso eu criança. Que assim se deve manter durante o Carnaval e após ele. Pois, nada melhor do que cultivarmos esse lado para enfrentarmos os outros dias do ano.

Então, que se mantenha a alegria, um desafio e tanto, e que se cobre dos poderes constituídos a retidão dos caminhos a percorrer pela nação brasileira.

Porque não só de circo vive o homem...





Em tempo:
Um brinde com o excelente vinho da serra gaúcha ao Estado Maior da Restinga, bicampeã do Carnaval de Porto Alegre, com o samba-enredo:
*Da mitologia à realidade, a Tinga de Taça na Mão! Vinhos do Brasil, sinônimo de qualidade, saúde, prazer e prosperidade.
Refrão do samba:
*Faz bem pra alma e pro coração. Deixa o meu samba te embriagar. Um sentimento sem moderação. Eu sou Restinga.





Reportagens:


Fonte: Jornal Zero Hora - 12/02/2012
Fonte: Jornal Zero Hora - 13/02/2012





Notícia:







Vídeos:



Gravações do samba-enredo – Carnaval 2012 – TV Restinga na WEB 

Camerata Ivoti em Koblenz – Concerto para 2 violinos e Orquestra – 1º Movimento – Johann Sebastian Bach

Camerata Ivoti em St. Wendel – Milonga para as Missões 

Camerata Ivoti em Genebra (Suíça) em 05/02/08 – Suíte Antiga – 1º Movimento – Minueto - Alberto Nepomuceno

Sonata para Cordas – 4º Movimento – O Burrico de Pau – Antonio Carlos Gomes 

Camerata Ivoti na Europa – Programa Bom Dia Rio Grande - de 09/02/12

Nem só de circo (diversão, futebol, etc) vive o homem













terça-feira, 7 de fevereiro de 2012













EL SAPUCAY

O dedo escorrega, por acaso, sobre o botão do controle remoto. E eis que surge uma grata surpresa: um festival. Um festival transmitido, ao vivo, pela Televisão Educativa do Estado do Rio Grande do Sul. Mais precisamente o 22º Festival de Chamamé e o 8º Festival do Mercosur, em Corrientes, que reuniu, este ano, os três países que cultuam este ritmo latino-americano: Argentina (Corrientes), Brasil e Paraguai.

Foram várias noites de apresentações. No palco, as mais diversas expressões artísticas. Um desfile de cantores, músicos, bailarinos, todos dando o melhor de si para representar o país de origem. E o Brasil esteve bem representado com grupos aqui do Sul e, também, de Mato Grosso do Sul.

Que o chamamé seja por nós, gaúchos, apreciado não é novidade. Que, agora, também lá para as bandas de Mato Grosso seja tocado, já é algo mais novo. Promovem eles, inclusive, um festival regional do chamamé. Pois até São Paulo tem um grupo que toca chamamé, o conhecido Barra da Saia, composto por belas mulheres que se apresentam tocando e cantando chamamés.

Agora, a novidade seria mesmo se houvesse a divulgação na mídia de evento cultural do porte desse Festival.

Isso realmente seria uma grande novidade. Mas, parece, estamos longe disso.

Deveríamos festejar esse congraçamento de raças, costumes, culturas, países, todos irmanados em torno de um ritmo, uma poesia, um sapucay forte a unir a América Latina.

Com certo enfado ou, digamos mesmo, nojo de assistir a tantos programas de baixo nível, que prestam um desserviço à educação e à cultura como um todo, deslizei o dedo e descobri, por acaso, que ainda sobra alguma coisa de útil para se assistir, sozinho ou em família.

Claro que a Televisão Educativa cumpre seu papel ao retransmitir esse tipo de programa.

E as demais emissoras cumprem que papel? Informar, dirão muitos. Isso é correto. Na maior parte das vezes, porém, apresentam programas que visam manter seus assistentes cativos de cenas e malfeitos que já fazem parte de seu cotidiano.

 Assim, contribuem para tornar seus assistentes mais ignorantes do que já são. Uma massa de manobra, sem capacidade de crítica, é o que almejam?

Então, é isso! Para que divulgar programas que acrescentam valores, como os de irmandade, congraçamento, união, respeito!

Carecemos de uma diversão saudável, sim.

Por que continuar reforçando, através de programas televisivos, os elementos mais sombrios de que é composto o ser humano. Todas as suas fraquezas, todo um viés de atitudes negativas, que perpassam o ser humano, são reforçadas, diariamente, através de novelas e de programas os mais diversos.

Fique claro que não se pretende a alienação, a fuga, o desconhecimento das mazelas dos indivíduos e da sociedade como um todo. Basta acompanhar o noticiário para se ter uma visão clara do que ocorre.

A função da informação é exatamente essa: informar. Agora, por que tenho que transpor para a tela todas essas mazelas dando uma feição, o que é pior, de algo glamoroso, algo compensador. Isso traz um reforço constante da falta de valores éticos e morais de que a sociedade deveria envergonhar-se. Nada justifica essa realimentação diária. E aqui não estamos a falar de programas humorísticos. Esses debocham, escancaram as ações mais torpes com escárnio, com ironia, com humor. Porém, não as glamorizam, não as tornam passíveis do desejo de uma massa deseducada e falha de valores. Também não estamos falando de moralismo.

Os meios de comunicação têm um papel primordial no reforço de valores positivos, criados e cultivados na família e sedimentados através de uma educação formal de qualidade.

Está na hora de dar uma espiada, “uma espiadinha”, em programas que elevam o nível cultural do cidadão. Temos aqui incluídos as entrevistas, os programas de debates sobre os mais diversos temas, todos atuais, as audições de grupos, bandas, as releituras de livros, etc. Um verdadeiro arsenal de matérias e uma plêiade de profissionais a expor ideias, conceitos, tendências. Tudo visando ao aprimoramento do conhecimento do cidadão comum.

Isso não dá IBOPE?

Os profissionais da comunicação sabem que isso dá IBOPE, sim. Temos como exemplo próximo o Programa Conversas Cruzadas que obteve o prêmio de Melhor Programa da Televisão, no ano de 2011, no Estado (Prêmio Press). Isso se deveu, em parte, pela grande audiência, constante, que os telespectadores dispensam ao programa.

Agora, cabe aos detentores dos meios de comunicação atentar para isso. Mas parece que não há interesse num novo modelo que busque aprimorar o gosto do telespectador.

Enquanto isso não ocorre, soltemos um sapucay de revolta, que anda preso na garganta. Um sapucay que ecoava entre os índios guaranis, demonstrando um chamamento a uma postura guerreira. Hoje, ainda audível, nas apresentações de chamamés.

Que esse sapucay de chamamento alerte para o perigoso caminho de uma sociedade desprovida de referenciais positivos. Restando a ela apenas a dissimulação, a mentira, a falsidade, o engodo, a vantagem levada às últimas consequências. Tudo regado a muito álcool. E o sucesso, ao final, do(a) concorrente mais... Deixa pra lá...

Tudo na telinha, ano após ano.







Apertura del Festival de Chamamé – 2012 

Festival de Chamamé 2012

Chamamecero – Neto Fagundes


Soy El Chamamé – Canto da Terra


Alma Serrana – Pot-pourri de chamamé

 
Chamamé – Merceditas – Gicela Mendez Ribeiro y Barra da Saia ao vivo em São Leopoldo

 
Soy El Chamamé – Shana Müller


Buenas e M’Espalho – Eco do Sapucay


Galpão Nativo – Entrando no M’bororé – Elton Saldanha 





segunda-feira, 9 de janeiro de 2012












UM OLHAR... 
                       UM OLHARTE...

Mergulhe o olhar no muro. Extraia dali o que vê e bem mais: o que sente.

Depois da inundação, nada será como antes. Desaparecerão todos. Restará apenas concreto e muita água. Água sem vida: nem dentro, nem no entorno. Nem as lendas e histórias sobreviverão sem seu principal personagem: o rio. Um rio sem mais identidade. Um rio que terá morrido. Sobrará apenas uma imensa quantidade de água amorfa, sem saliências, declives, sombras. Suas margens não servirão mais para descanso de conhecidos frequentadores, nem suas entranhas tomadas por parceiros que nele transitam há muito tempo. Séculos de convivência respeitosa, entre o rio e aqueles ditos “selvagens”, é o que existiu. E agora? Para onde irão?

O muro está lindo. Fica nos fundos da Escola Estadual Presidente Roosevelt, local que servia de dormitório para moradores de rua. Ainda há restos de pertences deles por lá. Talvez, à noite, voltem a dormir por ali. Afinal, o lugar está mais bonito. E esses já são civilizados. Não são selvagens, mas precisam também daquele rio, ali retratado, pelo bem do ecossistema do país. Aliás, necessitam, bem antes, de um lugar para dormir. E esse ficou bem mais agradável. No silêncio da madrugada, talvez ouçam o canto de algum pássaro que se perdeu muro adentro, levado pelo som da floresta, ali evocada, que só ele consegue ouvir.

Toda arte é rica ao ponto de sensibilizar, fazer pensar, desnudar, questionar. E essa, de rua, mais ainda. Ela esbarra direto no cidadão, sem precisar esperar que ele a visite. Ela está ali, numa esquina qualquer.

Pois é, um rio sempre impressiona. São suas águas que nos atraem. Afinal, vivemos por um período em águas calmas, aconchegantes, um verdadeiro fluido denso onde nos abrigamos até despertarmos para o mundo. Nós próprios somos constituídos de aproximadamente setenta e cinco por cento de água.

Por isso o muro nos impacta. E esse rio, de nome Xingu, parece pedir socorro.

 Agora, há outro muro que nos emociona. É o muro da Avenida Mauá, pois ali repousa parte da história de nossa cidade. Ou melhor, é o Rio Guaíba e suas plácidas águas retratadas num painel de mais de cem metros de comprimento. Que bela imagem!

Já que não podemos tê-lo junto a nós, mergulhemos o olhar nessa imagem virtual. Precisamos dela.

É claro que, com a revitalização do Cais Mauá, conseguiremos desfrutar desse encanto, bem mais próximo, em bares ou no próprio píer.

Aqueles, porém, que usarem a avenida como trajeto diário, têm o direito de, pelo menos virtualmente, sentirem-se acompanhados por tão ilustre criatura.

Aliás, o Criador o que estará pensando das suas obras?

Do Xingu, do Guaíba...

E da Belo Monte?

Bem, essa não é obra sua. Deve ser do Outro.

E como na história bíblica, o Outro deve ser controlado, combatido, para que não prospere.

O que o leitor acha?









Parabéns aos autores do Coletivo, os artistas/grafiteiros Emir Sarmento, Cusco Rebel, Lidia Brancher, Seilá Pax e Pablo Etchepare.









Parabéns, igualmente, ao artista plástico Leandro Selister que, de forma virtual, interveio na paisagem nos relembrando a beleza do lugar onde moramos.









Parabéns à idealizadora, ao curador do projeto, aos patrocinadores e aos demais artistas que participam do Artemosfera, edição 2011.




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*Segue abaixo a manifestação dos artistas sobre a publicação acima:



"puxa sonia! que legal!!!
muuuuito obrigado de coração!
realmente nossa mensagem foi passada com amor. 
tudo de bom pra ti!!!
keep strong!!!"

Cusco Rebel - Alexandre Cravo




"Oi Sonia
Te agradeço muito o email e o texto também. Esse trabalho foi especial para mim.
Coloquei no meu Facebook, o link para o teu Blog.
Um grande abraço"

Leandro Selister




terça-feira, 20 de dezembro de 2011











UM NOVO ANO

Que 2012 nasça tal qual cada um de nós: em meio a muita expectativa e augúrios de felicidade.

De vida curta, é verdade, apenas doze meses, mas que podem trazer plenas realizações a quem se dispuser a enfrentar os percalços que, porventura, surgirem nesse intrincado labirinto que é a nossa vida: dia a dia, mês a mês, ano a ano.

Afinal, essa vida breve é imprescindível para que alcancemos um novo ano, ao findar este.

Todos são breves, são de curta existência. Ai de nós, porém, se não contássemos com esse vaivém, com esse apagar-se e acender-se. Tudo apenas para efeitos de contagem, para que não nos percamos num turbilhão inexplicável, dada a nossa pequenez.

Um tempo perene... Uma luz eterna...

Depositemos nessa luz nossa fé, nossa esperança e vida: nosso hoje e o nosso amanhã.

Que o olhar infantil ainda possa embalar sonhos frente à estrela que brilha no topo de uma árvore de Natal. Ela que, lá, nos parece tão grande, que nos faz tão pequeninos, quando ainda o somos. Ela que, bem depois, vista no céu, nos faz menores ainda, embora até já sejamos adultos. Sua luz nos encanta, nos atrai, nos faz sonhar.

 É tarefa nossa persegui-la. Embora nem precisássemos desse esforço. Pois, na verdade, somos seres de luz: brilhando em maior ou menor intensidade. O tamanho do brilho é que nos exigirá maior empenho.

Que ela nos guie pela vida afora e nos conduza, por fim, ao infinito.

Por ora, aguardemos o revezamento que se aproxima.

O ano que finda passará o bastão.

E um clarão iluminará o novo ano que surge.

Um 2012 cheio de luz para todos.





sábado, 17 de dezembro de 2011











ORAÇÃO NA MANJEDOURA

Tão pequenino, ali posto.
Rosto de anjo, Nosso Senhor!
Aconchega-me no teu amor.
Sou também um menino
E preciso de ti, a cada dia, a cada noite,
Para vivo me manter.

Dialogo contigo, meu guia e Senhor!

Para que deposites em mim
Novos sonhos, ainda infantis, por que não?
Se deles vivo a cada dia de um novo ano?

Reserva, uma vez mais, muitos amores.
Afasta de mim os dissabores.
Guarda minha vida para novos albores.
Porque já é Natal!
Porque sou ainda um homem/menino!







Clique apenas uma vez para ver o vídeo





sábado, 12 de novembro de 2011











O ENCANTO QUE SE RENOVA


A imagem trago na retina.

A menininha se esgueira por entre as prateleiras e logo surge com um livro infantil. Senta-se no degrau que havia na antiga Livraria do Globo, entrada pela Rua José Montaury, bem no meio da loja.

Sofregamente, começa a leitura, virando as folhas com relativa rapidez. Por vezes, se detém em uma ou outra página, olhando com atenção as gravuras que acompanham a história. Já sabe ler. É um encanto vê-la absorta daquela maneira. Bem antes que eu faça as compras necessárias, lá está, novamente, ela com outro livro. Eu que também pretendia comprar algum livro para ela, nem sei mais qual devo adquirir. Aqueles já lidos, não há mais interesse. Então, juntas, eu e minha filha, escolhemos outro para ler “em casa”.

Assim é que se criam leitores: oportunizando-se o acesso aos livros.

Agora, lá pela década de 30, em Santa Maria, a avó dessa menininha já possuía o amor pela leitura. Embora tivesse apenas frequentado as séries iniciais do Curso Primário, teve acesso, à época, a uma biblioteca pertencente a um famoso médico da cidade.

Junto à janela, sob a luz do luar (a energia elétrica andava racionada), pois só dispunha da noite para desfrutar desse prazer, ela, que criava os irmãos mais jovens, pois a mãe falecera precocemente, leu obras universais. SONIA OU O CALVÁRIO DO POVO RUSSO, romance em fascículos, de Ivan Kossorowsky, versão portuguesa de Alfredo Castro, foi apenas uma delas.

Eu, que vim bem depois, fui registrada com o nome de Sonia, em razão do nome da heroína do referido romance.

Que importância tem os livros em nossa vida!

Anos mais tarde, já frequentando o Curso de Letras, tive que ler inúmeros livros. Autores brasileiros e portugueses foram revisitados por nós, alunos, ao longo do curso. E nesse período, minha mãe, que se acostumara a ler por prazer, manteve essa necessidade ao longo de toda a minha graduação. Lembro, com clareza, dela lendo, por inteiro, livros como o Chapadão do Bugre, de Mário Palmério, Vidas Secas, de Graciliano Ramos, Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa e tantos outros autores nacionais e também portugueses.

Que magia há por trás do ato de ler!

Abeberar-se no texto, jogar-se com o autor, de cabeça, nas paisagens descritas, nas cenas comoventes, ver-se desnudo, de repente, a partir de traços psicológicos desenvolvidos pelos personagens, é uma experiência indescritível. Deparar-se com trechos que aguçam nossos sentidos, que nos levam a sentir aromas, cheiros, calor ou frio, a quase enxergar ou ouvir, tal a força da descrição, é muito prazeroso.

A palavra é o instrumento que nos diferencia: que nos faz humanos. Apenas nós temos esse privilégio. Podemos expressar, através dela, todos os nossos sentimentos, sejam quais forem eles. O nosso balbucio prepara-nos para a expressão maior: a articulação de palavras que comporão nosso arsenal no ato da comunicação interpessoal.

Mais tarde, se mantivermos um contato amiúde, o mais cedo possível, com a palavra escrita, sentiremos prazer no ato de ler. E quem sabe, alguns se tornem até escritores. Se essa vocação não se fizer presente, restará, sem dúvida, o amor pela leitura. E, com certeza, uma maior capacitação no ato da escrita.




Alice, só torna-se ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS a partir do momento em que ouve a irmã lendo um livro, adormece e sonha. O buraco profundo, onde cai, a leva a um local mágico onde tudo é possível acontecer. A história termina com o acordar de Alice, descobrindo ter sido tudo um sonho. Lá, nas profundezas da nossa mente, estão abrigados todos os nossos sonhos.

O PEQUENO PRÍNCIPE sabe que “num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo”. Utilizando-se dessa assertiva, acreditamos que aquela pessoa, que se acostumou a privar com os livros, terá neles um amigo constante que, muitas vezes, poderá substituir um amigo de carne e osso. Isso está bem claro no comportamento daquela jovem da década de 30, ávida de leituras, carente de tempo, de amigos, de futuro. Afinal, era preciso voar, mesmo que em sonhos: libertar-se.

Ainda lembrando a raposa, de O PEQUENO PRÍNCIPE, diz ela que “o essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração”. Sabemos que o início do desenvolvimento intelectual de uma criança é muito delicado. Ela captará pela palavra, pelas gravuras, pelos desenhos, a magia do texto, que é invisível, mas que lhe possibilitará ver com o coração.

Em GRANDE SERTÃO: VEREDAS, Riobaldo diz, a certa altura, “o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior.”

No fio condutor do tempo, com as leituras que se sucederem, teremos essa comprovação. E assim, conforme vamos nos definindo, e isso parece não ter fim, assim também vamos, através das leituras de livros, nos modificando a cada nova compreensão que obtemos, a cada releitura.

E nesse moto-contínuo, aprendemos a tarefa de “criar laços”. Com quem? Com os livros, pois neles está a nossa necessidade maior, que é abastecer nosso ser com o que de melhor nós, humanos, dispomos: nossa capacidade de criar. Criar novas realidades, recriar o que já existe, descobrir-se e redescobrir-se a cada nova leitura.

E essa tarefa, com certeza, começa desde cedo.

Preservemos o encantamento com a palavra, com os livros, com nossas humanas histórias.

Que esse encanto se renove a cada olhar deitado sobre as páginas de um livro: uma possibilidade renovada de um novo olhar sobre as coisas, sobre as gentes do mundo. Que ele nos auxilie na busca de nós mesmos e no encontro do conhecimento.



E a imagem da menininha, surgindo com um livro na mão, volta uma vez mais.

E eu, novamente, suspendo a cena no olhar e saúdo os livros e os eventos que os consagram.

sábado, 15 de outubro de 2011











O BRILHO NOS OLHOS


Olhar, todos olham. Enxergar, alguns poucos conseguem. É desses que se vai falar.

Nada de estranhamento com o outro. O outro sou eu. Se eu o enxergo assim, será bem mais fácil entendê-lo e me fazer entender.

Quem tem essa capacidade, já ganhou a metade do caminho da empreitada. Estamos a falar do ato de ensinar ou da troca de conhecimento, num sentido mais amplo, atitude moderna e condizente com a figura do professor. Principalmente, do professor dos dias atuais.

E a outra metade?

Pois essa é a metade mais difícil. Porém, embora difícil, observa-se que muitos a possuem. Ela requer criatividade, jogo de cintura, performances diferenciadas, uma mise-en-scène digna de um bom ator. E isso nem sempre requer recursos tecnológicos, tão escassos, porque não dizer inexistentes, em nossas escolas públicas estaduais. Precisa-se, sim, de muita criatividade e de um componente que completa essa outra metade. Precisa-se sentir amor no fazer, paixão no executar, entusiasmo no criar e alto desempenho na entrega do produto. O produto, aqui referido, é o saber.

Hoje, mais do que nunca, um saber compartilhado.  Diante de um grande desempenho, os aplausos da plateia vêm ao natural. A emoção despertada revela o objetivo alcançado. O brilho nos olhos tem que ser comum a todos os participantes do ensino-aprendizagem. A época do professor sentado em uma mesa, colocada em um degrau acima do nível da sala, terminou.

Aqueles antigos professores não eram ruins. Pelo contrário, tive excelentes mestres que relembro com carinho e admiração pelos conteúdos que me ensinaram. Porém, os tempos são outros e a tecnologia à disposição desses alunos, em casa, por exemplo, exigem do professor um desempenho diferenciado, atualizado e o mais próximo possível desse aluno. Sua tarefa é levá-lo, usando das ferramentas atuais, a refletir sobre o seu uso, visando à construção de conceitos. Lembremos que tão-somente a máquina não é suficiente no ensino-aprendizagem. Ainda temos, pelo menos por ora, a figura do professor como elemento necessário, não dispensável. A máquina ainda somente serve: não substitui.

Lembro com saudade de Arlindo Heinen, Miguel Lamela Nogueira (Professores de Língua Portuguesa), Lázaro Moraes de Andrade (Professor de Matemática), João Maria Day Peixoto (Professor de Geografia), Marlene Cândida S. T. Segóvia (Professora de História), Arno Antonio Lise (Professor de Ciências), Enéas Augusto de Aguiar Almeida (Professor de Língua Inglesa), Lorena Soeiro (Professora de Língua Francesa), Yolanda Maria Rosa (Professora de Educação Física). Esses são apenas alguns deles. A todos eles meu tardio agradecimento.

Ainda, muito tempo após esses primeiros mestres, o Professor Carlos Jorge Appel, Professor de Literatura, no Curso de Pós-Graduação, também foi importante. Quando lia alguns textos literários, percebia-o, por vezes, visivelmente emocionado.

Agora, como um professor/ator não posso deixar de mencionar o Professor Édison de Oliveira, excelente professor de Gramática e Literatura, no saudoso Curso Pré-Vestibular Mauá. Esse professor foi decisivo para mim. Um modelo a ser seguido. Um modelo, inclusive, para os dias atuais. Criativo, envolvente, carismático, cheio de humor e, antes de tudo, um profissional competente na sua área de atuação.

Como se vê, a tarefa de um professor é árdua, mas é bela. Eu diria que é sublime.

Pena que nossos governantes não coloquem essa profissão, a de professor, no topo das carreiras bem remuneradas. Afinal são eles que preparam, ao longo dos anos, alunos para as mais diversas profissões e para ocupantes, inclusive, das carreiras de Estado. A Educação formal está nas mãos desse profissional. Daí sua importância. A sua formação deveria ser um compromisso do Estado Brasileiro. A partir daí, a ascensão na carreira dar-se-ia pelo desempenho constatado por avaliadores comprometidos com as questões educacionais. A fiscalização impor-se-ia aos seus membros como a outros de qualquer carreira. Se os professores tivessem esse respaldo, essa distinção no tratamento, teríamos, com certeza, por extensão, condições de trabalho adequadas a esse nobre mister.

Utopia? Pode ser que seja.

Segundo Eduardo Galeano, conhecido escritor e jornalista uruguaio, ela serve exatamente para que nós não deixemos de caminhar. Eu acrescentaria que ela existe para que não deixemos de caminhar em busca da excelência do ser e do fazer.



E o brilho nos olhos?
Por enquanto é o que se tem. Que aqueles que o possuem, persistam na profissão.
O olhar do aluno iluminando-se, quando o professor fala, é, por ora, a melhor recompensa – e única.
Minha homenagem a eles nesse Dia dos Professores.



Assistam, abaixo, dois vídeos que apresentam professores de Escolas Públicas Estaduais em seu trabalho cotidiano. Percebe-se neles, claramente, o sentido da expressão “fazer com amor”.

1-      Andreo Luis Bolwerk – Professor de Geografia




2-      Dilson Correa – Professor de Artes