Que arrojada arquitetura! Um verdadeiro mestre a projetou!
Como dois seios, duas semiesferas, colocadas lado a lado, em
posições inversas uma da outra, uma convexa e outra côncava, dão uma visão de
acolhimento.
Uma, à semelhança de um ninho, abriga um expressivo número de
representantes do nosso povo. A outra, menor, mas não menos importante,
protegida pela sua característica convexa, abriga um menor número de indivíduos
que, lá estão, graças também ao nosso voto. Nessas duas Casas, estão abrigadas
todas as espécies de garantias, imunidades, privilégios: um verdadeiro ninho
protetor.
O que acontece no interior dessas fortalezas do poder?
Sequer podemos imaginar.
Quando, porém, vem a lume algum malfeito, vê-se quão
inimaginável é a verdadeira realidade, quão vergonhosos são os meandros do
poder.
Sim, porque, onde há poder, há possibilidade de transgressão
por seus integrantes da ética, da moral e de outros pilares em que se deve
assentar uma sociedade justa, equânime e solidária.
Agora, quando a possibilidade torna-se uma prática
constante, cotidiana, isso depõe contra toda a Instituição. E isso é
gravíssimo. E mais grave ainda se torna quando tais comportamentos perpassam
todos os escalões dessa sociedade.
Pergunta-se:
Como ficam os “modelos”, aí presentes, aos olhos dos mais
jovens?
Como ficam os verdadeiros mestres diante “do
mestre” em maracutaias?
Quando os exemplos de retidão, de honestidade, de integridade
encontram-se diminuídos e definhando a cada dia, o que resta? Um salve-se quem
puder? Será essa a receita?
Quando escândalos acontecem, nessa proporção, são como bombas de efeito devastador e que
deixam à mostra o pedaço mais torpe,
o lado escuro do ser humano, aquele que deve ser abortado por nós.
Que nessa Páscoa, termo que em hebraico (Pessach) quer dizer
passagem,
possamos ultrapassar o desencanto e a descrença nas Instituições.
Que mantenhamos acesa a esperança por dias melhores e a expectativa
do surgimento de lideranças probas, capazes de dar bons exemplos às novas
gerações.
Que renasçamos, num futuro, como uma sociedade de indivíduos
dignos de representá-la. E que, sobretudo, percamos o hábito do famoso
“jeitinho brasileiro”.
Aliás, o Coelhinho da Páscoa assim se manifestou, cantando,
quando perguntado:
Só de
Sacanagem/Brasil Corrupção – Ana Carolina – Ao vivo
À minha cidade! Uma homenagem nesse aniversário de 240 anos
Há muito tempo atrás, cheguei. Tu, aqui, já te encontravas. Com o tempo, teu espaço tornou-se meu mundo, meu porto seguro.
Na Avenida América, dei meus primeiros passos. Na esquina com a Nova York, busquei meus primeiros docinhos na venda que ainda está lá.
De lá saltei para aquela rua chamada Das Caravelas. E tal qual um navio que singra o desconhecido, um dia, saí para o mundo. Que belo lugar fui escolher! O bairro dos meus amores é abençoado até no nome. Traz a pureza de um menino e o Nosso Senhor por guia. Ele é o Bairro Menino Deus. Poder acompanhar o florescer dos jacarandás e dos ipês é acompanhar a própria renovação que se processa na alma a cada nova estação que desponta.
Embora com tanta beleza, não dispenso uma caminhada até o Parque da Redenção, parque da minha infância, da minha juventude e de hoje. Aos sábados e domingos, lá estou. O verde, que entra pelas retinas, traz paz e o que divido com os amigos, chimarreando uma erva boa, reconforta o coração. Vez por outra, pouso o olhar naquele espelho d’água, que é pura poesia. Suspendo o pensamento com a pergunta:
- Espelho, espelho meu! Quem é mais linda do que eu? Reconheço que minha cidade é mais linda e continua, também, alegre. Nesse Porto dos Casais, teu pôr de sol me fascina. Foi aqui, nesse Porto Alegre, que meus sonhos atracaram e que fiz morada desde quando ao mundo cheguei. Por último, só te peço:
- Congela esse teu sorriso, que é tudo pra mim!
Kleiton e Kledir – Deu Pra Ti
Porto Alegre - por portoimagem
Breve História das Capitais Brasileiras
segunda-feira, 5 de março de 2012
POR QUE NÃO UM CONTRAPISO?
José, um conhecido pedreiro do bairro, sempre alertava para
a importância de um contrapiso. Lembro dele dizendo que, numa obra, qualquer
que fosse, o contrapiso era de grande importância. Ainda mais nos últimos
tempos em que aparecera o porcelanato, revestimento que exigia que o tal
contrapiso de concreto, no caso, estivesse dimensionado para as cargas a
suportar. E, ainda mais, com alguns tipos de porcelanato exigia-se a aplicação do contrapiso e a espera
por 28 dias de cura. E também, se possível, do aguardo de seis meses para a
execução do concreto.
Quer dizer, um negócio bem planejado e relativamente
demorado. Isso tudo para construções novas.
Por outro lado, em edificações antigas, o trabalho era ainda
mais cuidadoso. Havendo alguma imperfeição no contrapiso, seria necessário
demolir, refazer e curar novamente, aguardando-se um tempo razoável para o
efetivo assentamento do porcelanato.
E continuava ele acrescentando detalhes sobre a maneira
correta de construir um contrapiso, descendo a minúcias. Um trabalho a ser
feito por quem entende do riscado. Somente após este trabalho preparatório, com
uma base bem feita, é que o piso poderia ser assentado, finalmente.
Vejam, então, a importância de um contrapiso.
É verdade! Tudo na vida mede-se pela base em que as coisas
ou as pessoas se assentam. Uma base sólida é fundamental. Fica-se pensando nas
crianças e jovens que necessitam desse lastro para se desenvolverem bem. A
partir do instante em que necessitarem de uma educação formal, surgirá a figura
de um educador. As séries iniciais são de uma importância inquestionável. Seus
artífices estarão construindo um contrapiso para o que vier, posteriormente, a
se assentar. E o que vem após?
A sedimentação, dia a dia, mês a mês, ano a ano, do que for
sendo apre(e)ndido, compartilhado com o grupo e experienciado, individual e
coletivamente. E, novamente, a figura do educador dessa nova etapa será de
fundamental relevância.
Então, um piso sobreposto a um contrapiso, ambos capazes de
transformar um jovem em um adulto/cidadão, útil a si e à sociedade, digno representante
da raça humana.
Fica-se, então, a perguntar:
-Que piso é este?
-Por que não transformá-lo em um contrapiso?
Da seguinte forma: Para
as séries iniciais o tal valor. Para as demais um piso digno, numa proporção
compatível com a titulação do educador. Nesse caso, não falemos de valor
porque, com certeza, ainda estará abaixo do salário inicial de outros
profissionais, com títulos de doutores.
Então, tomemos como
contrapiso o ofertado, porque é o mínimo que um profissional de Nível Médio
deveria receber por ser um educador.
Quanto à situação dos professores: é injusta, incorreta,
indigna.
Sem entrar em detalhes, e sem discorrer sobre os
dispositivos constitucionais que tratam da matéria no que diz respeito aos
recursos destinados à Educação, bem como os percentuais estabelecidos nos
orçamentos dos entes federados, o próprio Supremo Tribunal Federal já
determinou o que deve ser feito.
O que mais cabe?
Manter a esperança, a fé em Deus e, sobretudo, continuar
firme em busca do sonho acalentado de ver-se reconhecido e dignamente
remunerado pelo relevante serviço prestado à sociedade.
E tentar passar isso aos jovens, que estão a assistir tal
vilipêndio, tal ignomínia. Eles que não almejarão dedicar-se ao ensino. Eles que,
com certeza, não serão futuros professores.
Quem restará para essa tão nobre tarefa?
Em tempo:
Bah! Lembrei que...
Hoje em dia, uma parcela expressiva de professores do Ensino
Fundamental tem Especialização e até Mestrado.
Merecerão este contrapiso vergonhoso?
A peleia é por um piso digno.
Afinal, muitos já são titulados desde a sua atuação no
contrapiso das primeiras letras.
Leia, também, trechos (Capítulo 5) do livro de Augusto Cury,
NUNCA DESISTA DOS SEUS SONHOS.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
PALMAS AOS DESTAQUES!
UM VIVA A TODOS NÓS,
BRASILEIROS!
Com os pezinhos suspensos no ar, de frente para o mar, a
imagem da emoção desafiando a força
das águas. A desproporção é para quem vê a imagem por inteira, não para quem
está a pular. É uma bela imagem.
Não tão bela é aquela outra de um cidadão, em destaque, de meia-idade, empunhando
um guarda-chuva, em atitude de desafio
ao pelotão formado em defesa... Do que mesmo?
Fonte: Jornal Zero Hora - 10/02/2012
Fonte: Jornal Zero Hora - 13/02/2012
Belíssima é a imagem de um jovem de 20 anos, Davi Junior dos
Santos Pereira, servente de uma empresa terceirizada pela Infraero, que, ao
encontrar uma nécessaire no chão do aeroporto, levou-a para a central de
achados e perdidos. Por não abri-la, nem sabia o que continha. Pois lá estavam
R$ 24.000,00. A sua declaração à repórter dá conta da importância da educação
adquirida em casa, com os pais. Assim expressou-se:
-“Se tivesse oportunidade, faria tudo de novo. Não era meu.
Cresci com esse ensinamento do meu pai.”
Esclareça-se que o pai de Davi, e de mais oito filhos,
morador do bairro Mathias Velho, em Canoas, é vendedor de picolé em Porto
Alegre.
Que grande desafio
seria esse para qualquer jovem que não tivesse bem plantada a semente da
honestidade, da retidão de caráter, da noção do que não é seu.
E que outro grande desafio
enfrentam os jovens músicos, todos com idade entre onze e dezoito anos, que
compõem a Camerata Ivoti, formada por 24 músicos do Instituto de Educação Ivoti.
Suas apresentações na Europa, já pela quarta vez, têm surpreendido por uma
sempre impecável escolha do repertório e excelência na execução das obras. Tudo
adquirido através de uma educação de qualidade.
Agora, e quem leva, este ano, o Estandarte de Ouro?
Será este um desafio
menor?
Quem consegue, por quatro dias, deixar-se embalar pela
ilusão, pela criação, pelo desfile de cenários e roupas, construídos, por
vezes, com dificuldade, pelo molejo das ancas, pelo samba dançado ao som de uma
bateria competente?
Quem consegue manter em alta essa espírito carnavalesco que
só por aqui existe? Somente um povo extremamente alegre, sonhador, otimista. Mas
um autêntico lutador nos demais restantes dias do ano.
O desafio maior é
manter-se assim... Assim como?
Assim como só um brasileiro sabe ser...
Um ser abençoado, um apaixonado pela vida. Alguém que
mereceria bem mais do que tem.
Aliás, a 1ª escola de samba da nossa Capital, fundada em
1939, ainda sem a disposição em alas, chamava-se “Loucos de Alegria”.
Afinal, a alegria é o combustível da brincadeira e faz parte
do nosso eu criança. Que assim se deve manter durante o Carnaval e após ele.
Pois, nada melhor do que cultivarmos esse lado para enfrentarmos os outros dias
do ano.
Então, que se mantenha a alegria, um desafio e tanto, e que se cobre dos poderes constituídos a retidão
dos caminhos a percorrer pela nação brasileira.
Porque não só de circo vive o homem...
Em tempo:
Um brinde com o excelente vinho da serra gaúcha ao Estado
Maior da Restinga, bicampeã do Carnaval de Porto Alegre, com o samba-enredo:
*Da mitologia à
realidade, a Tinga de Taça na Mão! Vinhos do Brasil, sinônimo de qualidade,
saúde, prazer e prosperidade.
Refrão do samba:
*Faz bem pra
alma e pro coração. Deixa o meu samba te embriagar. Um sentimento sem
moderação. Eu sou Restinga.
Gravações do
samba-enredo – Carnaval 2012 – TV Restinga na WEB
Camerata Ivoti em
Koblenz – Concerto para 2 violinos e Orquestra – 1º Movimento – Johann
Sebastian Bach
Camerata Ivoti em
St. Wendel – Milonga para as Missões
Camerata Ivoti em
Genebra (Suíça) em 05/02/08 – Suíte Antiga – 1º Movimento – Minueto - Alberto
Nepomuceno
Sonata para Cordas –
4º Movimento – O Burrico de Pau – Antonio Carlos Gomes
Camerata Ivoti na
Europa – Programa Bom Dia Rio Grande - de 09/02/12
Nem só de circo
(diversão, futebol, etc) vive o homem
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
EL SAPUCAY
O dedo escorrega, por acaso, sobre o botão do controle
remoto. E eis que surge uma grata surpresa: um festival. Um festival
transmitido, ao vivo, pela Televisão Educativa do Estado do Rio Grande do Sul.
Mais precisamente o 22º Festival de Chamamé e o 8º Festival do Mercosur, em
Corrientes, que reuniu, este ano, os três países que cultuam este ritmo
latino-americano: Argentina (Corrientes), Brasil e Paraguai.
Foram várias noites de apresentações. No palco, as mais
diversas expressões artísticas. Um desfile de cantores, músicos, bailarinos,
todos dando o melhor de si para representar o país de origem. E o Brasil esteve
bem representado com grupos aqui do Sul e, também, de Mato Grosso do Sul.
Que o chamamé seja por nós, gaúchos, apreciado não é
novidade. Que, agora, também lá para as bandas de Mato Grosso seja tocado, já é
algo mais novo. Promovem eles, inclusive, um festival regional do chamamé. Pois
até São Paulo tem um grupo que toca chamamé, o conhecido Barra da Saia,
composto por belas mulheres que se apresentam tocando e cantando chamamés.
Agora, a novidade seria mesmo se houvesse a divulgação na
mídia de evento cultural do porte desse Festival.
Isso realmente seria uma grande novidade. Mas, parece,
estamos longe disso.
Deveríamos festejar esse congraçamento de raças, costumes,
culturas, países, todos irmanados em torno de um ritmo, uma poesia, um sapucay
forte a unir a América Latina.
Com certo enfado ou, digamos mesmo, nojo de assistir a
tantos programas de baixo nível, que prestam um desserviço à educação e à
cultura como um todo, deslizei o dedo e descobri, por acaso, que ainda sobra
alguma coisa de útil para se assistir, sozinho ou em família.
Claro que a Televisão Educativa cumpre seu papel ao
retransmitir esse tipo de programa.
E as demais emissoras cumprem que papel? Informar, dirão
muitos. Isso é correto. Na maior parte das vezes, porém, apresentam programas
que visam manter seus assistentes cativos de cenas e malfeitos que já fazem
parte de seu cotidiano.
Assim, contribuem
para tornar seus assistentes mais ignorantes do que já são. Uma massa de
manobra, sem capacidade de crítica, é o que almejam?
Então, é isso! Para que divulgar programas que acrescentam
valores, como os de irmandade, congraçamento, união, respeito!
Carecemos de uma diversão saudável, sim.
Por que continuar reforçando, através de programas televisivos,
os elementos mais sombrios de que é composto o ser humano. Todas as suas
fraquezas, todo um viés de atitudes negativas, que perpassam o ser humano, são
reforçadas, diariamente, através de novelas e de programas os mais diversos.
Fique claro que não se pretende a alienação, a fuga, o
desconhecimento das mazelas dos indivíduos e da sociedade como um todo. Basta
acompanhar o noticiário para se ter uma visão clara do que ocorre.
A função da informação é exatamente essa: informar. Agora,
por que tenho que transpor para a tela todas essas mazelas dando uma feição, o
que é pior, de algo glamoroso, algo compensador. Isso traz um reforço constante
da falta de valores éticos e morais de que a sociedade deveria envergonhar-se.
Nada justifica essa realimentação diária. E aqui não estamos a falar de
programas humorísticos. Esses debocham, escancaram as ações mais torpes com
escárnio, com ironia, com humor. Porém, não as glamorizam, não as tornam
passíveis do desejo de uma massa deseducada e falha de valores. Também não
estamos falando de moralismo.
Os meios de comunicação têm um papel primordial no reforço
de valores positivos, criados e cultivados na família e sedimentados através de
uma educação formal de qualidade.
Está na hora de dar uma espiada, “uma espiadinha”, em
programas que elevam o nível cultural do cidadão. Temos aqui incluídos as
entrevistas, os programas de debates sobre os mais diversos temas, todos
atuais, as audições de grupos, bandas, as releituras de livros, etc. Um
verdadeiro arsenal de matérias e uma plêiade de profissionais a expor ideias,
conceitos, tendências. Tudo visando ao aprimoramento do conhecimento do cidadão
comum.
Isso não dá IBOPE?
Os profissionais da comunicação sabem que isso dá IBOPE,
sim. Temos como exemplo próximo o Programa Conversas Cruzadas que obteve o
prêmio de Melhor Programa da Televisão, no ano de 2011, no Estado (Prêmio
Press). Isso se deveu, em parte, pela grande audiência, constante, que os
telespectadores dispensam ao programa.
Agora, cabe aos detentores dos meios de comunicação atentar
para isso. Mas parece que não há interesse num novo modelo que busque aprimorar
o gosto do telespectador.
Enquanto isso não ocorre, soltemos um sapucay de revolta,
que anda preso na garganta. Um sapucay que ecoava entre os índios guaranis,
demonstrando um chamamento a uma postura guerreira. Hoje, ainda audível, nas
apresentações de chamamés.
Que esse sapucay de chamamento alerte para o perigoso
caminho de uma sociedade desprovida de referenciais positivos. Restando a ela
apenas a dissimulação, a mentira, a falsidade, o engodo, a vantagem levada às
últimas consequências. Tudo regado a muito álcool. E o sucesso, ao final, do(a)
concorrente mais... Deixa pra lá...
Mergulhe o olhar no muro. Extraia dali o que vê e bem mais:
o que sente.
Depois da inundação, nada será como antes. Desaparecerão
todos. Restará apenas concreto e muita água. Água sem vida: nem dentro, nem no
entorno. Nem as lendas e histórias sobreviverão sem seu principal personagem: o
rio. Um rio sem mais identidade. Um rio que terá morrido. Sobrará apenas uma
imensa quantidade de água amorfa, sem saliências, declives, sombras. Suas
margens não servirão mais para descanso de conhecidos frequentadores, nem suas
entranhas tomadas por parceiros que nele transitam há muito tempo. Séculos de
convivência respeitosa, entre o rio e aqueles ditos “selvagens”, é o que existiu.
E agora? Para onde irão?
O muro está lindo. Fica nos fundos da Escola Estadual
Presidente Roosevelt, local que servia de dormitório para moradores de rua.
Ainda há restos de pertences deles por lá. Talvez, à noite, voltem a dormir por
ali. Afinal, o lugar está mais bonito. E esses já são civilizados. Não são
selvagens, mas precisam também daquele rio, ali retratado, pelo bem do
ecossistema do país. Aliás, necessitam, bem antes, de um lugar para dormir. E
esse ficou bem mais agradável. No silêncio da madrugada, talvez ouçam o canto
de algum pássaro que se perdeu muro adentro, levado pelo som da floresta, ali
evocada, que só ele consegue ouvir.
Toda arte é rica ao ponto de sensibilizar, fazer pensar,
desnudar, questionar. E essa, de rua, mais ainda. Ela esbarra direto no
cidadão, sem precisar esperar que ele a visite. Ela está ali, numa esquina
qualquer.
Pois é, um rio sempre impressiona. São suas águas que nos
atraem. Afinal, vivemos por um período em águas calmas, aconchegantes, um
verdadeiro fluido denso onde nos abrigamos até despertarmos para o mundo. Nós
próprios somos constituídos de aproximadamente setenta e cinco por cento de
água.
Por isso o muro nos impacta. E esse rio, de nome Xingu,
parece pedir socorro.
Agora, há outro muro que nos emociona. É o muro da Avenida
Mauá, pois ali repousa parte da história de nossa cidade. Ou melhor, é o Rio
Guaíba e suas plácidas águas retratadas num painel de mais de cem metros de
comprimento. Que bela imagem!
Já que não podemos tê-lo junto a nós, mergulhemos o olhar
nessa imagem virtual. Precisamos dela.
É claro que, com a revitalização do Cais Mauá, conseguiremos
desfrutar desse encanto, bem mais próximo, em bares ou no próprio píer.
Aqueles, porém, que usarem a avenida como trajeto diário,
têm o direito de, pelo menos virtualmente, sentirem-se acompanhados por tão
ilustre criatura.
Aliás, o Criador o que estará pensando das suas obras?
Do Xingu, do Guaíba...
E da Belo Monte?
Bem, essa não é obra sua. Deve ser do Outro.
E como na história bíblica, o Outro deve ser controlado,
combatido, para que não prospere.
O que o leitor acha?
Parabéns aos autores do Coletivo, os artistas/grafiteiros
Emir Sarmento, Cusco Rebel, Lidia Brancher, Seilá Pax e Pablo Etchepare.
Parabéns, igualmente, ao artista plástico Leandro Selister que,
de forma virtual, interveio na paisagem nos relembrando a beleza do lugar onde
moramos.
Parabéns à idealizadora, ao curador do projeto, aos patrocinadores
e aos demais artistas que participam do Artemosfera, edição 2011.